panqueca de farinha de grão-de-bico [com feijão moyashi germinado]

Não entendo por que as receitas veganas chamam de omelete essa panquequinha de farinha de grão-de-bico. Não tem nada a ver com omelete, nem textura, nem nada. É uma panqueca, aceitem e sigam em frente. Eu gosto de fazer essas panquecas e salpicar como feijão moyashi germinado. Essa receita faz uma panqueca pra uma pessoa:

1/4 xícara de farinha de grão-de-bico
1/3 xícara de água
1/4 colher de chá de curcuma
1 colher de sopa de levedura nutricional [nutritional yeast]
1/4 de colher de chá de fermento em pó
1/4 colher de chá de sal

Eu gosto de misturar a farinha e a água e deixar descansar por algumas horas, ou mesmo de um dia para o outro, pra fermentar um pouco. Mas pode ser feito tudo na hora mesmo, mistura todos os ingredientes, coloca numa frigideira com azeite ou óleo aquecido, salpica com o feijão moyashi germinado, frita de um lado, vira, frita do outro. Serve com ervas picadas, uma salada, pode colocar um molho preferido por cima, as variações são infinitas.

quibe cru [vegano]

Peguei a dica dessa receita numa edição da Revista dos Vegetarianos que pego na minha biblioteca pública [eles têm revistas em português!]. Fiz mais ou menos à olho, usei 1 xícara de bulgur [o trigo pra quibe] e 2 xícaras de tomate batido no liquidificador. Deixar de molho de um dia pro outro. No dia seguinte o trigo vai ter absorvido todo o tomate, daí é só temperar com sal, pimenta do reino moída na hora, pimenta da jamaica [também chamada de pimenta síria ou allspice], folhas de hortelã e de salsinha picadinhas e azeite. Sirva com salada de alface e gotas de limão pingadas na hora. Não mostrei na foto, mas depois acrescentei um pouco de picles de cebola roxa na hora de servir. Achei ótimo. Esse picles de cebola é aquele que faz rápido, com vinagre/água, sal e açúcar.

Nunca gostei de quibe cru com carne, porque pra mim comer carne crua era mais do que bizarro. Mas essa versão vegana é absolutamente deliciosa e tem até um pouco da textura do quibe cru [pelo que vagamente me lembro] só que sem a parte que me repugnava. Achei deliciosa!

bolinho de banana [com casca]

Procurando uma foto no meu iphone achei o print dessa receita da Juliana Gomes que devo ter pego no instagram dela. Tudo que ela faz é prático. Uma pena que aqui não acho banana prata, tive que usar a nanica mesmo. E as nanicas talvez sejam um pouco maiores que as pratas, mas achei que os bolinhos ficaram ótimos. Comemos acompanhados por chá.

4 bananas prata com casca [usei 4 nanicas orgânicas]
[quanto mais maduras as bananas, melhor]
1 xícara de aveia em flocos
1 xícara de leite vegetal o ou água
1/3 xícara de açúcar mascavo
1/4 de xícara de óleo vegetal [usei de abacate]
1 colher de sopa de vinagre + 1 colher de chá de bicarbonato de sódio
Canela a gosto

Pré-aqueça o forno em 220C/430F. Lave as bananas, corte as pontinhas pretas. No liquidificador bata as bananas com casca picadas, o leite vegetal ou água, o açúcar e o óleo até formar um creme liso e uniforme. Acrescente a aveia e bata mais um pouco. Adicione então o vinagre e o bicarbonato e misture levemente. Despeje um pouco de massa em forminhas e asse por cerca de 35 minutos. Espere esfriar completamente para desenformar.

bhajis de brócolis & coco

Esses bolinhos são fritura, mas ficam maravilhosos. Se quiser pode tentar assar também, talvez dê certo. Ainda não tentei. Peguei a receita numa revista vegana inglesa, que empresto da biblioteca pública da minha cidade. Já fiz muitas receitas dessas revistas que ficaram mais ou menos, mas essa ficou muito boa e repetirei. Pode usar outros legumes, acrescentar fatias de cebola. O céu é o limite.

óleo vegetal para fritar [uso o de semente de uva]
260g [2 e 1/3 xícaras] de farinha de grão de bico [besan]
1/4 colher de chá de bicarbonato de sódio
1 colher de chá de sementes de ajwain
[se não tiver substitua por cominho, ou erva doce, ou omita]
1 colher de chá de sementes de mostarda
2 dentes de alho esmagados
15 folhas de curry cortadas em fatias finas
[pode usar uma erva fresca ou omitir]
2 colheres de chá de coentro em pó
2 colheres de chá de cominho em pó
¼ colher de chá de pimenta vermelha em pó
2 colheres de sal
300ml [1 e 1/4 xícaras] de água com gás
Suco de 1 limão
200g [2 xícaras] de brócolis
os talos e floretes cortados em pedaços pequenos
30g [1/2 xícara] de flocos/chips de coco seco
2 colheres de sopa de coentro fresco picado
O seu chutney ou raita favorito para servir

Aqueça uns 5 cm de óleo em uma panela funda.

Enquanto isso coloque a farinha, o bicarbonato de sódio, sementes de ajwain e  de mostarda, o alho amassado, as folhas de curry, temperos em pó, pimenta e sal em uma tigela grande e mexa para combinar. Despeje a água com gás e bata até obter uma massa lisa com a consistência de creme. Adicione o suco de limão e bata novamente para combinar.

Adicione o brócolis, o coco seco e o coentro à tigela e mexa para envolver tudo na massa.

Com cuidado coloque colheres de sopa da mistura de bhaji no óleo quente em partes  e cozinhe por 2 minutos até dourar, depois vire e cozinhe do outro lado por mais 2 minutos. Retire com uma escumadeira para um prato forrado com papel toalha para absorver o excesso de óleo. Repita até esgotar toda a mistura.

Sirva quente com chutney ou raita para mergulhar os bhajis.

Eu servi com um chutney cru e rápido que faço sempre, de improviso:
Bato no liquidificador bastante coentro fresco, suco de limão, coco ralado, sal, uma pimenta jalapeño ou outra disponível, um adoçante natural, como xarope de tâmara ou de bordo, um pouco de água e um pouco de azeite, se quiser. Fica bom sem azeite também. Bate tudo, põe numa vasilha e serve.

bolo de amêndoa & pêssego
[ou amêndoa & figos]

Desde que nos mudamos pra Woodland que pego ovos numa fazendinha aqui perto de casa. Eles têm uma produção pequena e eu pago antecipadamente, como uma CSA. Eu parei de comer ovos em 2018, mas pego meia dúzia semanalmente pro Uriel, porque ele ainda come. Só que mesmo sendo meia-dúzia, tem ocasiões que sobram ovos e então eu procuro alguma receita para não desperdiçá-los. Esse bolo foi a conjunção dos ovos sobrando e frutas de verão abundantes, que ficam muito gostosas em bolos assim. Fiz com figos e depois com pêssegos e ambas ficaram deliciosas. Quero deixar essa receita aqui, para ficar arquivada e quem quiser fazer poder aproveitar. Gosto de receitas assim que usa apenas uma tigela, poucos ingredientes, fica pronta rapidamente e ainda arrasa Péris in Chammas!

2 colheres de sopa de suco de limão fresco
1/4 xícara de mel, nectar de agave ou xarope de bordo
1/4 xícara de azeite extra virgem
2 ovos caipiras grandes
Uma pitada de sal
1 e 1/2 xícaras de farinha de amêndoa moída fina
1 e 1/2 colher de chá de fermento em pó
1 pêssego grande fatiado
[ou 8-10 figos frescos]

Aqueça o forno a 350°F/176°C. Unte uma forma de bolo redonda com azeite e forre o fundo com papel manteiga ou vegetal. Em uma tigela grande misture o suco de limão, o mel ou outro líquido adoçante, o azeite, os ovos e o sal. Adicione a farinha de amêndoa e o fermento. Misture delicadamente até combinar bem os ingredientes. Despeje a massa na forma preparada e cubra com fatias de pêssego [ou de figo]. Asse por cerca de 30 minutos, até que o topo esteja dourado e o centro esteja firme. Transfira o bolo para uma grade e deixe esfriar. Passe uma faca ao redor da borda da forma, inverta o bolo em uma travessa e deixe esfriar completamente antes de servir.

salada de tomate com molho morno de manjericão & alcaparras

Um dos sinais de que o verão está chegando ao fim, é o gradual desaparecimento dos tomates. E os que ainda resistem vão ficando meio sem gosto. Então corri nestas duas últimas semanas para aproveitá-los ao máximo. Última chance! Para fazer essa salada usei uma receita da revista Bon Appétit e ajustei pro meu gosto, isto é, veganizei. Ficou muito boa, enquanto conseguir comprar tomates gostosos vou repetí-la.

1/2 xícara de azeite extra virgem
1 chalota grande cortada em rodelas finas
2 dentes de alho em fatias finas
3/4 colher de chá flocos de pimenta vermelha
2 colheres de sopa de alcaparras escorridas
1 xícara de folhas de manjericão [roxo ou verde]
450 gr de tomates
2 colher de sopa vinagre de vinho tinto
sal Kosher
Raspas de 1/2 limão [*não usei]

Numa panela pequena, em fogo médio, coloque o óleo e cozinhe nele a cebola, o alho e os flocos de pimenta vermelha, mexendo ocasionalmente, até que a cebola e o alho comecem a dourar, uns 7 a 9 minutos. Retire do fogo e coloque as alcaparras e o manjericão.

Misture os tomates com vinagre e uma pitada de sal em uma tigela média. Transfira para uma travessa e despeje o molho quente por cima. Rale as raspas de limão por cima e polvilhe com mais sal, se quiser.

carne de jaca verde no molho de castanha de caju

Essa era uma receita antiga do Chucrute feita com frango. Ela foi arquivada, mas decidi fazer um revamp e veganizá-la. Ficou ótima! Na verdade, ficou muito melhor. Fiz com carne de jaca verde, que aqui compramos em lata, conservada na salmoura.

1 cebola média
2 colheres de sopa de tomate em purê [não é o concentrado – eu bati uns tomates no liquidificador]
50g ou 1/2 xí­cara de castanha de caju
1 colher de sobremesa de alho em massa [eu usei em dentes]
1 colher de sobremesa de garam masala [eu fiz o meu e tenho pronto]
1 colher de sobremesa de pimenta vermelha em pó
1/4 colher de sobremesa de açafrão da terra, cúrcuma, em pó
1 colher de sopa de suco de limão
1 colher de sobremesa de sal
1 colher de sopa de iogurte natural [usei o de coco]
2 colheres de sopa de óleo
2 colheres de sopa de coentro fresco picadinho
1 colher de sopa de uvas passas currants [são as bem pequenas]
280 gr de carne de jaca verde desfiada com as mãos [usei uma lata]
2 xí­caras de cogumelos frescos picados
1 1/4 xícaras de água

Num processador de alimentos coloque a cebola cortada em pedaços e moa por um minuto. Acrescente o tomate em purê, as castanhas, o garam masala, o alho, a pimenta, o limão, o açafrão da terra, o sal e o iogurte junto com a cebola moí­da. Misture bem por um minuto e meio.

Numa panela aqueça o óleo, coloque o fogo em médio e coloque a jaca desfiada. Refogue por uns minutos. Acrescente os cogumelos picados e refogue por mais uns minutos. Adicione a mistura dos temperos. Frite por dois minutos. Quando a misturar estiver mais ou menos cozida, acrescente metade do coentro, as passas, a água e deixe ferver. Tampe a panela e cozinhe em fogo baixo por dez minutos. Quando molho estiver bem grosso retire da panela, salpique com o restante do coentro e sirva com arroz basmati branco ou outro arroz que tiver. Eu tinha arroz integral.

polenta com milho fresco & legumes picantes

No verão é a época de comer milho fresco. Recebo milho orgânico na cesta semanal e faço a festa. Essa polenta foi improvisada, mas ficou absolutamente deliciosa. Tanto que refiz. Não tenho as quantidades exatas, mas debulhei 4 espigas de milho, coloquei no liquidificador com umas 4 xícaras de água e processei. Deu mais ou menos 8 xícaras de líquido. Coloquei esse liquido numa panela e deixei ferver. Então coloquei bem devagar 1 e 1/2 xícara de milho de polenta e deixei cozinhar uns 5 minutos em fogo baixo. Tem que tampar porque espirra. Temperei com sal e joguei pedacinhos de queijo cremoso vegano, feito de castanha de caju. Esse milho de polenta é de cozimento rápido, então essa comida fica pronta num instante.

Para os legumes, use o que tiver. Eu usei cenouras, tomate, abobrinha e cebola roxa. Acrescente azeitonas verdes. Numa tigela misture:

1 colher de sopa de páprica doce
1 pitada de pimenta vermelha em pó
1/4 de colher de chá de cominho em pó
2 colheres de sopa de azeite
1 colher de chá de xarope de bordo [maple] ou outro liquido doce
sal a gosto

Coloque os legumes nessa mistura e deixe marinar por uns minutos.

Coloque um pouco de azeite numa frigideira e salteie os legumes em fogo médio por uns 10 minutos. Se precisar acrescente um pouco de água. Os legumes devem ficar num molhozinho. Para servir, coloque a polenta nos pratos e por cima uma porção generosa dos legumes refogados.

dias quentes & dias tórridos

Quando minha mãe morreu perdi imediatamente a vontade de comer e na sequência a vontade de cozinhar e de tirar fotos. Tudo o que eu mais faço e gosto. Fui voltando aos pouquinhos, comendo, cozinhando, fotografando e fazendo pequenos passeios pela região. No geral até que tive um verão bem agitado. Tive não, ainda estou tendo, pois neste momento em que escrevo está 46 graus celsius. Sim, QUARENTA E SEIS! Tivemos muitas heat waves neste verão, mas essa está sendo a pior, a mais longa e brutal. Por causa do calor, andei acelerando minha produção de fermentados e nas últimas semanas andei fermentando muitas frutas. Elas ficam deliciosas assim, boas pra comer com iogurte de coco no café da manhã. Também voltei a fazer pão e andei refazendo algumas receitas antigas, até adaptei uma receita que não era vegana e deixei ela melhor. Muito do que fiz neste verão foi me livrar de coisas que não significavam mais nada pra mim e entrei numa onda de limpeza. Doei toneladas de roupas, livros, sapatos, pratos, copos, reciclei zilhões de papéis, limpei, reusei, troquei, mudei. Aqui neste blog decidi arquivar todas as receitas com carne, frango e porco. Deixei as com peixes e ovos—até eu mudar de ideia. Muitas dessas receitas tinham históriazinhas pessoais anexadas, mas decidi que não valia a pena deixar nada apenas pela história. Porque minha maneira de ver o mundo mudou muito. Então foi tudo, receita com história e sem história. Não quero mais que esse blog ajude as pessoas a cozinharem com esses ingredientes. E aos poucos a vida vai ficando realmente mais simples e mais leve. Senti um alivio enorme quando me desfiz de uma quantidade absurda de roupas que vinha acumulando e guardando há anos, porque algumas tinham memória afetiva e outras porque eu realmente acreditava que ainda iria usar. Trabalhando em casa por tempo indefinido, não preciso mais ter tanta coisa. Acredito que é assim que vamos evoluindo, olhando pro passado sem melancolia ou saudade, planejando um futuro que faça mais sentido pra quem somos agora.

a dona da receita


Essas fotos são do inicio da década de 90, provavelmente 1993. Nessas fotos minha mãe tinha 60 anos, a idade que eu tenho hoje. Na época eu morava no Canadá e ela queria me mostrar o restaurante natural na praia, onde eles tinham almoçado. O efeito que essa foto dela sentada na frente do prato com arroz integral fez em mim, não tenho como explicar. Tive essa foto fixada na geladeira da minha cozinha canadense por muitos anos. Lembrei disso porque minha mãe sempre foi uma inspiração pra mim. Ela morreu no dia 30 de maio com 89 anos.

Estávamos sentadas na cozinha da casa dela numa tarde calorenta de outono em Campinas, tomando um lanchinho e ela me disse que tinha tido um sonho enquanto descansava—os períodos em que ela dormia durante o dia devido à fadiga da doença. Ela contou que no sonho ela estava andando numa praia e a areia era cheia de pedrinhas que machucavam o seus pés. Ela queria alcançar o meu irmão, que estava mais à frente com outra pessoa que ela não reconheceu, mas as pedrinhas a impediam de chegar até eles.

Menos de dois meses depois de eu ter voltado das férias que passei com ela, as pedrinhas já não a incomodam mais. Espero que ela tenha chegado no Carlos Augusto e que a outra pessoa seja o Carlos Eduardo, meu pai. E que essa metade da nossa família esteja agora junta.

Minha mãe foi um fenômeno. Viveu uma vida intensa, do jeito que ela queria, fez tudo o que quis, nunca desistiu, nunca disse não consigo. Enterrou a mãe, o pai, os cinco irmãos, muitos amigos e familiares, o marido e o filho. Ela disse uma vez pra minha irmã—um dia meu corpo vai dizer, chega Odette! E esse dia chegou. Ela estava doente há mais de três anos, já era paciente paliativa. Estava frágil como um cristal, mas continuava, dentro do possível, com a vida normal dela. Fazia 3 tipos de aula de ginástica, tinha encontros do grupo de estudos de logosofia, para o qual ela estudava e traduzia textos. E fazia toda a administração da casa, resolvia os quiprocós burocráticos, deixou tudo ajeitado pra que ninguém ficasse estressado.

No dia da morte dela, ela foi dirigindo ao mercado pela manhã, almoçou, à tarde foi ao oculista, voltou pra casa, colocou a chave do carro no ganchinho da cozinha, disse “Cheguei Osmarina” e caiu. Achamos que ela morreu quase instantaneamente. Como toda morte deveria ser, sem sofrimento, sem hospital, sem tubos, sem perder a independência. Foi uma morte meio de surpresa, mesmo já sendo algo esperado. Minha mãe não quis causar alvoroço. Deixou apenas esse vazio que nunca mais vai ser preenchido. 🤍