polenta com milho fresco & legumes picantes

No verão é a época de comer milho fresco. Recebo milho orgânico na cesta semanal e faço a festa. Essa polenta foi improvisada, mas ficou absolutamente deliciosa. Tanto que refiz. Não tenho as quantidades exatas, mas debulhei 4 espigas de milho, coloquei no liquidificador com umas 4 xícaras de água e processei. Deu mais ou menos 8 xícaras de líquido. Coloquei esse liquido numa panela e deixei ferver. Então coloquei bem devagar 1 e 1/2 xícara de milho de polenta e deixei cozinhar uns 5 minutos em fogo baixo. Tem que tampar porque espirra. Temperei com sal e joguei pedacinhos de queijo cremoso vegano, feito de castanha de caju. Esse milho de polenta é de cozimento rápido, então essa comida fica pronta num instante.

Para os legumes, use o que tiver. Eu usei cenouras, tomate, abobrinha e cebola roxa. Acrescente azeitonas verdes. Numa tigela misture:

1 colher de sopa de páprica doce
1 pitada de pimenta vermelha em pó
1/4 de colher de chá de cominho em pó
2 colheres de sopa de azeite
1 colher de chá de xarope de bordo [maple] ou outro liquido doce
sal a gosto

Coloque os legumes nessa mistura e deixe marinar por uns minutos.

Coloque um pouco de azeite numa frigideira e salteie os legumes em fogo médio por uns 10 minutos. Se precisar acrescente um pouco de água. Os legumes devem ficar num molhozinho. Para servir, coloque a polenta nos pratos e por cima uma porção generosa dos legumes refogados.

dias quentes & dias tórridos

Quando minha mãe morreu perdi imediatamente a vontade de comer e na sequência a vontade de cozinhar e de tirar fotos. Tudo o que eu mais faço e gosto. Fui voltando aos pouquinhos, comendo, cozinhando, fotografando e fazendo pequenos passeios pela região. No geral até que tive um verão bem agitado. Tive não, ainda estou tendo, pois neste momento em que escrevo está 46 graus celsius. Sim, QUARENTA E SEIS! Tivemos muitas heat waves neste verão, mas essa está sendo a pior, a mais longa e brutal. Por causa do calor, andei acelerando minha produção de fermentados e nas últimas semanas andei fermentando muitas frutas. Elas ficam deliciosas assim, boas pra comer com iogurte de coco no café da manhã. Também voltei a fazer pão e andei refazendo algumas receitas antigas, até adaptei uma receita que não era vegana e deixei ela melhor. Muito do que fiz neste verão foi me livrar de coisas que não significavam mais nada pra mim e entrei numa onda de limpeza. Doei toneladas de roupas, livros, sapatos, pratos, copos, reciclei zilhões de papéis, limpei, reusei, troquei, mudei. Aqui neste blog decidi arquivar todas as receitas com carne, frango e porco. Deixei as com peixes e ovos—até eu mudar de ideia. Muitas dessas receitas tinham históriazinhas pessoais anexadas, mas decidi que não valia a pena deixar nada apenas pela história. Porque minha maneira de ver o mundo mudou muito. Então foi tudo, receita com história e sem história. Não quero mais que esse blog ajude as pessoas a cozinharem com esses ingredientes. E aos poucos a vida vai ficando realmente mais simples e mais leve. Senti um alivio enorme quando me desfiz de uma quantidade absurda de roupas que vinha acumulando e guardando há anos, porque algumas tinham memória afetiva e outras porque eu realmente acreditava que ainda iria usar. Trabalhando em casa por tempo indefinido, não preciso mais ter tanta coisa. Acredito que é assim que vamos evoluindo, olhando pro passado sem melancolia ou saudade, planejando um futuro que faça mais sentido pra quem somos agora.

a dona da receita


Essas fotos são do inicio da década de 90, provavelmente 1993. Nessas fotos minha mãe tinha 60 anos, a idade que eu tenho hoje. Na época eu morava no Canadá e ela queria me mostrar o restaurante natural na praia, onde eles tinham almoçado. O efeito que essa foto dela sentada na frente do prato com arroz integral fez em mim, não tenho como explicar. Tive essa foto fixada na geladeira da minha cozinha canadense por muitos anos. Lembrei disso porque minha mãe sempre foi uma inspiração pra mim. Ela morreu no dia 30 de maio com 89 anos.

Estávamos sentadas na cozinha da casa dela numa tarde calorenta de outono em Campinas, tomando um lanchinho e ela me disse que tinha tido um sonho enquanto descansava—os períodos em que ela dormia durante o dia devido à fadiga da doença. Ela contou que no sonho ela estava andando numa praia e a areia era cheia de pedrinhas que machucavam o seus pés. Ela queria alcançar o meu irmão, que estava mais à frente com outra pessoa que ela não reconheceu, mas as pedrinhas a impediam de chegar até eles.

Menos de dois meses depois de eu ter voltado das férias que passei com ela, as pedrinhas já não a incomodam mais. Espero que ela tenha chegado no Carlos Augusto e que a outra pessoa seja o Carlos Eduardo, meu pai. E que essa metade da nossa família esteja agora junta.

Minha mãe foi um fenômeno. Viveu uma vida intensa, do jeito que ela queria, fez tudo o que quis, nunca desistiu, nunca disse não consigo. Enterrou a mãe, o pai, os cinco irmãos, muitos amigos e familiares, o marido e o filho. Ela disse uma vez pra minha irmã—um dia meu corpo vai dizer, chega Odette! E esse dia chegou. Ela estava doente há mais de três anos, já era paciente paliativa. Estava frágil como um cristal, mas continuava, dentro do possível, com a vida normal dela. Fazia 3 tipos de aula de ginástica, tinha encontros do grupo de estudos de logosofia, para o qual ela estudava e traduzia textos. E fazia toda a administração da casa, resolvia os quiprocós burocráticos, deixou tudo ajeitado pra que ninguém ficasse estressado.

No dia da morte dela, ela foi dirigindo ao mercado pela manhã, almoçou, à tarde foi ao oculista, voltou pra casa, colocou a chave do carro no ganchinho da cozinha, disse “Cheguei Osmarina” e caiu. Achamos que ela morreu quase instantaneamente. Como toda morte deveria ser, sem sofrimento, sem hospital, sem tubos, sem perder a independência. Foi uma morte meio de surpresa, mesmo já sendo algo esperado. Minha mãe não quis causar alvoroço. Deixou apenas esse vazio que nunca mais vai ser preenchido. 🤍

bolinho de lentilha & batata com molho de tahine

Eu peguei o hábito de ler revistas emprestadas da biblioteca pública. A da minha cidade oferece infinitas revistas sobre todos os assuntos e de todos os cantos do mundo. Tem até revistas brasileiras. Eu leio tudo que me passa pela frente sobre veganismo e a Inglaterra é o país que pareia com os EUA em quantidade de revistas sobre esse assunto. Daí que acabo coletando muitas receitas. Mas as das revistas inglesas nem sempre funcionam pra mim. Essa foi exceção. Esses bolinhos ficaram bem gostosos!

para os bolinhos:
1 colher de chá de azeite extra virgem
1 chalota picada [ou a parte branca da cebolinha]
1 batata descascada e cortada em cubos
2 dentes de alho picados
2 colheres de chá de gengibre fresco picado
1 colher de chá de açafrão da terra/ curcuma em pó
3 copos de água
1 xícara de lentilhas vermelhas lavadas
1/2 colher de chá de cada sal marinho
Pimenta do reino moída na hora a gosto
2 colheres de farinha de grão de bico
> > se não tiver farinha de grão de bico, use farinha de trigo integral ou de mandioca

para o molho:
1/2 xícara de tahine
1 limão espremido
3 colheres de sopa de mostarda Dijon
3-4 colheres de sopa de água
2 colher de chá de mel cru
1 colher de chá de sal marinho
1 colher de chá de açafrão da terra/ curcuma

Numa panela em fogo médio alto coloque o azeite. Adicione a chalota[ou cebolinha] e cozinhe por 3 minutos. Adicione a batata, o alho, o gengibre e açafrão. Refogue por 5 minutos. Adicione a água, as lentilhas, o sal e a pimenta do reino e cozinhe com a panela tampada por 5 minutos. Retire a tampa e deixe cozinhar em fogo baixo por 12 a 15 minutos, ou até que a água tenha evaporado. Deixe esfriar por 10 minutos.

Pré-aqueça o forno a 425°F/220°C e forre uma assadeira com papel vegetal.

Junte a farinha de grão de bico à mistura de batata e lentilha e amasse bem até formar uma massa. Molde os bolinhos, coloque na assadeira e asse por 12 minutos, até eles ficarem dourados.

Enquanto os bolinhos assam prepare o molho misturando todos os ingredientes.

Sirva os bolinhos sobre uma salada, com o molho por cima.

pannacotta de leite de coco infuso em folha de figo

Meu filho me enviou o link para o tiktok desse moço e escarafunchando nas receitas, vi essa que achei super interessante.  Eu tinha folhas de figo secas e eliminei as flores. Fiz com o leite de coco feito em casa, mas acho que ele fez com leite de coco de lata, porque a pannacotta dele ficou mais densa. Se eu refizer, vou usar leite de coco de lata.

3 xícaras de leite de coco
1 pacotinho de agar-agar [mais ou menos 1/2 colher de sopa]
Adoçante da sua preferência––eu usei um açúcar de laranja, que sobrou das laranjinhas cristalizadas
1 colher de chá de baunilha em pasta ou em pó, ou as sementinhas, se tiver. pode também colocar um splash de baunilha líquida
3 ou 4 folhas de figo secas

Coloque o leite, açúcar, baunilha numa panela. Deixe quase ferver, adicione as folhas de figo, e deixe em infusão por algumas horas ou de um dia para o outro. Depois coe para remover as folhas, retorne o leite pra panela, acrescente a agar-agar e deixe ferver por 1 min. Remova do fogo, coloque em tacinhas e leve à geladeira para esfriar. Na hora de servir decore com as frutas que tiver em casa, no meu caso eu tinha morangos e physalis.

sopa de tomate, missô e gergelim

Essa receita é do livro da Anna Jones – A Modern Way to Cook. Fiz num sábado à noite e ficou um jantarzinho bem simples e rápido, porém nutritivo e aconchegante, bom pra uma noite fria. Como no inverno aqui não rola tomate, usei toda a quantidade de tomates em lata. Uso uma marca muito boa, orgânica, daqui da Califórnia.

para a sopa:
4 cebolinhas verdes
óleo de coco ou azeite
500 g de tomates maduros
1 lata pequena de tomate picado
2 colheres de sopa de pasta de missô vermelho
1 colher de sopa de tahine
Sal marinho

para o molho:
1 colher de sopa de mel líquido [ou xarope de bordo]
1 colher de tahine
1 colher de sopa de pasta de missô
Suco de 1/2 limão
4 colheres de sopa de sementes de gergelim
Um punhado de coentro fresco

Encha uma chaleira de água e leve ao fogo, deixe ferver.

Pique as cebolinhas verdes e adicione-as à panela com um pouco de óleo de coco ou azeite. Aumente o fogo para médio e mexa de vez em quando por alguns minutos até começar a dourar. Corte os tomates frescos ao meio ou em quatro e adicione-os à panela. Adicione os tomates enlatados, encha a lata com água fervente e despeje na panela também, em seguida, adicione o missô, misture bem e deixe a panela alcançar o ponto de fervura.

Enquanto a panela ferve, faça a cobertura. Misture o mel ou bordo, o missô, o tahine e o suco de limão. Torre as sementes de gergelim em uma frigideira até dourar e pique o coentro. Assim que a sopa ferver, ela está pronta. Retire do fogo, adicione o tahine e bata bem no liquidificador, adicionando um pouco de sal se necessário. Na minha não precisou.

Sirva a sopa com uma colherada do molho de missô e mel, salpique por cima as sementes de gergelim e o coentro picado.

pudim de chocolate & earl grey


Outro dia sentada no sofá olhei para uma pilha de livros no chão, embaixo da mesa de centro e puxei um deles—A Modern Way to Cook, da Anna Jones. Dali tirei essa receita deliciosa, que fica tão festiva e delicada, que nunca, never, jamé, se você não contar, ninguém vai imaginar que tal maravilhosidade chocolatuda é feita com tofu!

1/2 xícara de água fervente
1 colher de chá de chá Earl Grey solto ou 1 saquinho
300 gr de tofu orgânico sedoso, escorrido [use o tofu mais molinho que achar, o firme não vai funcionar]
1 colher de chá de extrato de baunilha
100 gr de chocolate bem escuro, pelo menos 70% cacau
1/4 xícara de xarope de bordo [maple syrup]
Sementes de uma baga de baunilha
Sal em flocos ou chocolate em raspas pra decorar

Adicione a água fervente a uma xícara e coloque o chá em infusão por 30 minutos para obter um sabor bem forte e agradável.

Enrole o tofu em uma toalha limpa ou folhas de papel e pressione-o para eliminar o máximo de líquido possível. Transfira para um processador de alimentos. Adicione o chá e a baunilha e processe até ficar homogêneo.

Coloque os pedaços de chocolate e o xarope de bordo em uma tigela refratária em água fervente e deixe derreter, mexendo até ficar homogêneo. Adicione ao processador de alimentos com a mistura de tofu e chá. Processe em alta até ficar macio e sedoso.

Transfira o pudim para 4 ramequins, tigelas ou copos de sobremesa festivos e leve à geladeira por algumas horas para obter uma consistência de pudim mais espessa. Para servir, polvilhe com o sal ou raspas de chocolate ralado.

sopa de cogumelo & missô

Vi essa receita no instagram do Origem Temperos. Eles têm uns produtos que parecem maravilhosos e fazem muitas receitas usando o missô. Essa eu adaptei um pouco e usei o missô de grão-de-bico. Eu tinha trazido muitos cogumelos pra casa, do meu voluntariado no Food Bank. Sequei a maioria deles e fiz essa sopa com os cabinhos—que eu sempre removo e reuso em caldo, e alguns cogumelos. Ficou uma sopa muito deliciosa!

Refogue uma cebola numa mistura e azeite e manteiga. Junte os cogumelos picados e refogue mais um pouco. Adicione um caldo de legumes ou mesmo água [foi o que fiz] e deixe cozinhar uns minutos. Coloque tudo no liquidificador, acrescente umas 2 colheres de sopa de missô de grão-de-bico, uma xícara de leite vegetal [usei o de aveia] e bata bem até formar um creme. Pode voltar pra panela pra esquentar levemente se precisar, mas não deixe ferver pra não perder as propriedades do missô. Sirva com ervinhas frescas. Eu servi com cebolinha picadinha e meus desidratados de cogumelos, que quebrei com as mãos por cima da sopa.

Os cogumelos desidratados apenas fatiei e coloquei no desidratador por 8 horas, mas eles podem ser feitos no forno bem baixo. Uma parte sequei ao natural e outra temperei com uma mistura de shoyo, gengibre fresco ralado, suco de limão, mirin, e um pouco de cebolinha picada.