cepallas ou crispelas
[da tia Miquelina]

Uma das tradições de Natal na minha família sempre foi fazer e comer as cepallas. Minha mãe faz essa receita, da Miquelina, sua tia-avó. As cepallas [ou crispelas] são flores fritas, feitas de massinha aromatizada com anisette, depois polvilhadas com açúcar de confeiteiro e servidas regadas de mel. Esse doce tem gosto de infância pra mim e essa foi a primeira vez que fiz a receita herdada e guardada com todo cuidado pela minha mãe. Percebi que outras famílias italianas de diferentes regiões têm doces similares, com outros nomes. Não achei nada com nome similar nas receitas de doces natalinos da Basilicata, então pode ser que esses nomes tenham sido abrasileirados. Essa receita rende bastante cepallas. Elas crescem durante a fritura.

1/2 quilo de farinha de trigo
1 colher de sopa de manteiga sem sal amolecida
5 ovos caipiras
2 cálices de anisette [ou outra bebida de anis]
1 colher de chá de fermento em pó
1 pitada de sal

Misturar todos os ingredientes e amassar bem, como se estivesse fazendo massa de macarrão. Cortar a massa em pedaços e passar na máquina de macarrão até o número 5 apenas. Cortar asa tiras com um cortador de massa [usei um pra fazer risoles] e dobrar em circulo, apertando a massa para formar as pétalas das flores. Frite em óleo bem quente, escorra para um prato forrado com papel. Salpique com açúcar de confeiteiro e guarde em caixas ou latas com tampa. Sirva com mel.

köftes — bolinhos turcos de lentilha vermelha

koftes

Essa foi a primeira receita que marquei pra fazer no livro Oklava: Recipes from a Turkish-Cypriot kitchen da chefe Selin Kiazim. Fui até Sacramento, nos mercados mediterrâneos, para comprar a pasta picante de pimentão e o trigo bulgur fininho. No final fiz essa receita de peixe primeiro, porque sou assim enrolada. Os köftes me lembraram os kibes, porque a autora diz que pode ser feito com carne de carneiro. Mas eles não são fritos, são servidos assim só modelado. As lentilhas vermelhas são cozidas com os temperos, imagino que a carne de carneiro também. Fica um prato maravilhoso para se servir em dias super quentes de verão, como entrada ou prato principal naqueles dias que não dá vontade de comer nada. Achei os bolinhos incrivelmente saborosos, mas fiz só metade dessa receita, porque achei de 30 bolinhos iriam ser demais. Pra nós dois metade da receita deu bem e sobrou para “já te vis”. Substitua a pasta de pimentão por outra pasta de pimenta se não achar a turca. Se não encontrar o bulgur fino, moa o mais grosso, para obter um trigo mais delicado.

faz de 25 a 30 bolinhos
200 ml de azeite
2 cebolas picadas
1 colher de chá de cominho em pó
1 colher de chá de páprica doce defumada
2 colheres de sopa de pasta picante de pimentão [um ingrediente turco chamado açi biber salçasi substitua por outro tipo de pasta de pimenta]
450 gr de lentilha vermelha lavada com água fria
275 gr de trigo bulgur moído fino [se não achar o fino, moa o grosso num moedor de café ou no processador de alimentos]
1 e 1/2 maços de cebolinha fatiadas bem fino
1 maço de salsinha fresca picada
1 maço de alface Romaine
Sal a gosto

Aqueça o azeite numa panela, adicione a cebola e cozinhe por uns 10 minutos, até que elas fiquem translúcidas. Adicione o cominho, a páprica e a pasta picante de pimentão e cozinhe por mais 1 minuto. Adicione as lentilhas lavadas e escorridas, misture bem. Cubra com água até 2 cm acima das lentilhas. Deixe ferver, reduza para fogo baixo e cozinhe por uns 20 minutos. Desligue o fogo e adicione o trigo bulgur. Misture bem tampe a panela. Deixe descansar por 30 minutos.

Corte 3 ramos de cebolinha em diagonal e deixe de molho em água fria. Coloque a mistura de lentilhas e bulgur numa vasilha grande, deixe esfriar um pouco e tempere com sal. Pique o resto das cebolinhas e a salsinha e coloque na mistura. Sove a mistura por uns 10 minutos ou coloque numa batedeira com a pá e bata até formar uma bola. Forme bolinhos com essa massa. Arrume numa travessa com as folhas de alface, as cebolinhas cortadas na transversal [escorra da água gelada], folhas de salsinha e fatias de limão. Sirva, usando as folhas de alface para enrolar os bolinhos, salpique com as ervas, pingue suco de limão e aproveite!

koftes koftes

hambúrguer de feijão preto [com queijo cheddar]

burger-blackbeans

Fiz mais uma receita de hambúrguer vegetal, este dica da minha amiga Sally. Mudei duas coisinhas, primeiro moendo todo o feijão e segundo, usando queijo cheddar mais uma pimenta jalpeño para substituir o queijo pepper jack que eu não tinha. Desta vez senti firmeza para fritar os hambúrgures e eles ficaram uma delícia!

faz 4 porções
1/2 xícara de aveia
1 lata [450gr] de feijão preto, escorrido e lavado
1 ovo caipira grande [*1 colher de sopa de mostarda, pra ficar vegano]
1 colher de chá de cominho em pó
Sal Kosher a gosto
1/2 xícara de queijo pepper jack ralado [*usei o cheddar branco, pode usar tofu ralado ou outro queijo vegaetal, pra ficar vegano]
1 pimenta jalapeno picadinha
1 cebolinha grande picada
2 colheres de sopa coentro fresco picado
1 colher de sopa de azeite de oliva

Coloque a aveia em um processador de alimentos e pulse três vezes para moer. Adicione metade dos feijões e pulse umas 6 vezes até virar uma pasta grossa. Nessa parte, eu coloquei todo o feijão ao invés de só metade. Adicione o ovo, o cominho, e 1/2 colher de chá de sal e processe por cerca de 1 minuto. Transfira a mistura de feijão para uma tigela grande. Misture os feijões restantes [no meu caso não precisou], o queijo, a cebolinha e coentro fresco.

Forre uma assadeira com papel vegetal ou alumínio e unte levemente com óleo. Com as mãos molhadas forme os hambúrgueres e coloque sobre a forma. Eu uso um aro de metal, encho com a massa, pressiono e removo o aro cuidadosamente. Leve à geladeira por uns 15 minutos para deixar os hambúrgueres mais firmes. Nessa parte eu decidi colocar os hambúrgueres no congelador pelo mesmo tempo. Achei que eles ficaram bem firmes para fritar, o que pude fazer sem medo dos bolinhos se espatifarem.

Coloque azeite numa frigideira e aqueça bem. Coloque os hambúrgueres e frite dos dois lados, virando com cuidado. Remova da frigideira e coloque sobre uma travessa forrada com papel absorvente. Sirva como quiser. Eu quis servir acompanhado de batata doce assada no forno e salada de tomate e ervilha fresca.

bolo de cenoura & nibs de cacau [com cobertura de chocolate]

bolo de cenoura

Outro dia fiquei com vontade de comer o bolo de cenoura brasileiro, o amarelinho com cobertura de chocolate. Por aqui essa versão não existe, só há aquela com nozes, passas e cobertura de cream cheese. Prefiro esse nosso, bolo de cenoura da minha infância. Fui procurar receitas e é basicamente a mesma coisa, com pequenas variações. Quis fazer um bolo um pouco mais rústico, usar um pouco de farinha de trigo integral e gastar um açúcar de coco que eu tinha guardado. Fiz essa daptação. Não fica um bolo super amarelinho, mas ficou muito bom. A cobertura de chocolate é uma que eu já fiz várias vezes, em outras receitas aqui no blog.

200 gr de cenouras cortadas em rodelas finas
1 xícara de óleo vegetal [*usei o de semente de uva]
4 ovos caipiras
1 xícara de açúcar mascavo [*usei o de coco]
1 e 1/2 xícaras de farinha de trigo comum
1/2 xícaras de farinha de trigo integral
1 colher de sopa de fermento em pó
Um punhado de cacau nibs

Pré-aqueça o forno a 400ºF /200ºC. Unte uma forma de bolo com óleo e polvilhe com farinha de trigo ou com açúcar. No copo do liquidificador coloque as fatias de cenoura, o óleo e os ovos e bata em velocidade alta por 3 minutos. Numa vasilha peneire juntos todos os ingredientes secos e misture com um batedor de arame. Acrescente o creme de cenouras, mexendo com uma espátula, até a massa ficar completamente homogênea. Junte as nibs de cacau. Despeje na forma preparada e leve ao forno por 20 minutos. Abaixe a temperatura do forno para 356ºF/ 180ºC e asse por mais 20 minutos. Quando o bolo estiver completamente cozido por dentro, remova do forno e deixe esfriar um pouco. Desenforme num prato e deixe esfriar completamente. Enquanto o bolo esfria, faça a cobertura de chocolate.

cobertura de chocolate
Raspas da casca de 1 laranja
1/4 de xícara de suco de laranja
100 gr de chocolate amargo [70 a 72%] picado
2 colheres de chá de azeite de oliva extra- virgem frutado
1/4 colher de chá de extrato de baunilha
1/8 colher de chá de sal fino

Combine as raspas, suco da laranja e chocolate em uma panela pequena. Cozinhe em fogo baixo até que o chocolate comece a derreter. Retire do fogo e mexa até que o chocolate esteja completamente derretido. Misture o azeite, a baunilha e o sal. Despeje numa tigela de vidro e deixe esfriar à temperatura ambiente durante 20 a 25 minutos. Misture algumas vezes com um batedor de arame antes de usar. Despeje sobre o bolo e alise com uma espátula.

hambúrguer de lentilha

hamburger de lentilha

Adoro testar esse tipo de receita, que substitui a carne por grãos. Por muitos anos eu comprei hamburgers vegetarianos, que é um produto que abunda por aqui, até que um dia eu decidi ler a lista dos ingredientes. Nunca mais comprei. Mesmo os mais orgânicos e naturebas. Não vale a pena e fazendo em casa fica muito melhor. Esse era para ser bolinhos, mas eu fiz como hamburger. Os primeiros, cozinhei na chapa da churrasqueira, porque estava com pressa e não queria esperar meia hora pros hamburgers assarem. Guardei o resto da massa na geladeira, coberto com filme plástico, e no dia seguinte assei o restante no forno. Essa receita faz uma quantidade grande, então congelei alguns para levar na marmita. Achei que os que fiz na churrasqueira ficaram mais úmidos, no forno eles ficam mais secos, então é bom servi-los com um molhinho, pesto, ou chimichurri. Eu usei uma mostarda com whiskey e jalapeño que eu tinha na geladeira. Esses hamburgers de lentilha ficam extremamente saborosos!

2 xícaras de lentilhas
1/4 de xícara mais 2 colheres de sopa de azeite
1 cebola grande picada
2 cenouras picadas
2 talos de salsão picados
1 dente de alho picado
1 colher de sopa de tomilho fresco picado
2 colheres de chá de sal
3 colheres de sopa de extrato de tomate
250 gr de cogumelos fatiados
2 ovos caipiras grandes [*usar 2 colheres de sopa de mostarda pra ser vegano]
1/2 xícara de queijo parmesão ralado [*omitir se quiser vegano]
1/2 xícara de farinha de pão [*usei panko]
1/2 xícara de salsinha picada
1/4 de xícara de nozes finamente picadas

Combine as lentilhas e 2 litros de água em uma panela média e leve para ferver em fogo alto. Reduza o fogo e cozinhe até que as lentilhas estejam macias, mas não desmanchando, por cerca de 25 minutos. Escorra as lentilhas e deixe esfriar.

Coloque 1/4 xícara de azeite numa frigideira grande e refogue a cebola, as cenouras, o salsão, o alho, o tomilho e o sal fogo médio-alto, mexendo sempre, até que os legumes estejam macios e começando a dourar. Adicione o tomate e continue a cozinhar, mexendo por uns 3 minutos. Adicione os cogumelos e cozinhe, mexendo por mais 15 minutos, ou até que todo o líquido seja absorvido. Transfira a mistura para uma tigela grande e deixe esfriar completamente. Então junte as lentilhas à mistura de legumes. Adicionar os ovos, o queijo parmesão, a farinha de pão, salsinha e nozes. Misture tudo muito bem com as mãos e leve à geladeira por 25 minutos.

Pré-aqueça o forno a 400ºF/ 205ºC. Forre uma assadeira com papel vegetal ou alumínio e regue com as 2 colheres de sopa restantes de azeite. Faça os bolinhos e coloque na assadeira preparada. Leve ao forno e asse por 30 minutos. Deixe esfriar um pouco antes de servir.

molho de salada da Delfina

delfina-salad-dressing

Fomos almoçar na casa dos nossos amigos Steven & Heg e eles serviram uma salada deliciosa, o molho me chamou a atenção. Perguntei e o Heg disse que era o molho da Insalata Tricolore da Pizzeria Delfina, um segredo finalmente revelado. Fui atrás dessa receita e desde então tem sido o meu molho favorito, faço um montão, coloco num vidro com tampa e levo pro trabalho, trago de volta, coloco em tudo, fica uma delícia!

1 chalota pequena finamente picada
1/4 xícara de suco de limão
Raspas da casca do limão
1/8 xícara de vinagre de champanhe
1 xícara de de azeite
Kosher sal e pimenta do reino moída na hora a gosto

Misture a chalota picada, as raspas e suco de limão e o vinagre e deixe marinar por 5 minutos. Adicione sal e pimenta. Lentamente adicione o azeite, batendo vigorosamente com um batedor de arame. Quando estiver bem emulsificado, está pronto para ser usado.

geléia de limão rosa

Uma coisa é você crescer vendo todo mundo ao seu redor fazer algo na cozinha. Outra coisa é você tentar fazer algo sem nunca ter visto ninguém fazer. Minha amiga, uma budista nascida e criada numa fazenda no Idaho, me deu um vidro de geléia de limão feita por ela. Quando eu pedi a receita, ela disse, ah é muito fácil! É só cortar os limões, remover as sementes, deixar tudo misturado na geladeira de um dia pro outro, depois cozinhar até o termómetro chegar em 220ºF e tchan dan! Ela me mandou o link para uma receita similar, depois me trouxe o livro de onde ela tirou a receita que fez. Eu comprei uma versão pra mim, e como tinha uma sacola cheia de limões rosa doados por um colega, decidi que faria a marmalade. Não foi tão simples assim. Primeiro fiquei mais de 1 hora em pé na cozinha cortando os limões, separando as membranas e as sementes. Depois rodei  cidade debaixo de chuva pra achar um termômetro. Comprei um que não era o ideal. Daí inventei de fazer a geléia enquanto fazia o almoço de domingo. Cozinhar pode ser estressante se você não tiver certeza do que está fazendo. Como a minha amiga do Idaho, que cresceu vendo a mãe, a avó, as tias, as vizinhas fazendo geléia, eu cresci vendo a minha mãe fazer macarrão. Na massa de macarrão sou craque, porque sei todos os passos e como tudo deve se comportar.  Mas geléia, só mesmo aquelas improvisadas de cozinhar a banana ou o morango com qualquer quantidade de açúcar ou inventar moda. Nunca fiz nada do jeito certo, nunca fiz o processo de esterilizar e  vedar os vidros. Sei que tem uma técnica, só não sei qual é.  No domingo fiz malabarismos com várias tarefas, preparei o almoço, fiz macarrão. E fiz a geléia, que cozinhou, cozinhou e,  naquele minuto em que me distraí, passou do ponto. Achei que tinha dado tudo errado, chorei pitangas me achando um fracasso, reclamei muito, me dei chicotadas morais, mas quando fui olhar, tinha ficado mais ou menos como deveria ficar. A geléia ficou um pouco escura, queimou um pouco no fundo, cozinhou uns minutos além da conta, mas solidificou e até que ficou gostosa. Farei de novo? Sim. Mas desta vez, com a experiência de quem aprendeu algumas lições com os erros. A licão mais importante é que não se deve fazer geléia ao mesmo tempo em que prepara o frango, faz o molho de tomate, faz a massa pro macarrão, faz a salada, assobia e chupa cana.

Adaptado da receita de Meyer Lemon Marmalade do livro Food in Jars da Marisa McClellan. Essa receita é bacana porque usa a pectina natural do limão, contida nas membranas e sementes, para engrossar a geléia. E ela fica bem firme, parece até que se usou gelatina. E só tem realmente limão! Como toda marmalade, o resultado fica um pouquinho amarguinho. O limão rosa é muito mais acido que o meyer, mas eu mantive a mesma quantidade de açúcar. Achei que ficou perfeito.

1 e 1/2 quilos de limões orgânicos [*usei o limão rosa]
860 gr de açúcar

Lave bem os limões e seque. Com uma faca afiada corte as extremidades de cada limão. Corte ao meio e em gomos, remova a medula interna e as sementes e reserve numa tigela. Corte cada gomo de limão em fatias finas. Eu segui o conselho da minha amiga Amanda e coloquei os gomos com a lâmina de fatiar do processador de alimentos. Se quiser fatias maiores, faça a mão com a faca. Em uma tigela grande combine as fatias de limão e 400 gr de açúcar. Mexa bem. Faça um “pacote de pectina” usando um pedaço de gaze ou cheese cloth. Coloque no centro as membranas brancas, partes cortadas das pontas e as sementes que foram removidas dos limões. Amarre as pontas para fazer um saquinho. Adicione este pacote de pectina na tigela com as fatias de limão e o açúcar. Leve à geladeira por um período mínimo de 6 horas ou até 48 horas.

Remova a tigela da geladeira e coloque em uma panela grande, juntamente com o pacote de pectina. Adicione os 460 gr de açúcar restante e junte  1 litro de água.  Leve para ferver em fogo alto, mexendo sempre com uma espátula antiaderente. Deixe ferver por 30 a 50 minutos e use um termômetro para verificar quando a geléia atingir 220ºF/105ºC. Quando a geléia chegar a essa temperatura e se mantiver assim por um minuto, mesmo se for mexida, desligue o fogo. Coloque a geléia nos vidros, fazendo a esterilização de acordo. Eu não fiz. Usei algumas jarras Weck, que são boas pra manter conservas na geladeira, e congelei outros dois vidros. Da próxima vez vou tentar aprender a vedar os vidros da maneira certa. Será minha meta pra 2017!

calzoni di ceci
[pasteizinhos de grão-de-bico]

No Natal eu quis quis refazer algumas comidas que eu comia na casa dos meus pais. Era inevitavelmente um carneiro assado e uma panela de cabrito à caçadora. Falei com a minha mãe sobre isso e fui atrás de uma receita pro cabrito. Foi então que tive o choque da minha vida—o cabrito é o filhote da cabra, um baby goat! Era isso que comíamos no Natal, um bebê! Fiquei tão aparvalhada, não conseguia me conformar. Alguém me disse que alguns cabritos são malvadinhos e que tinha certeza de que eu tinha comido um deles e não um dos fofinhos. Na verdade eu mal comia o cabrito, eu gostava mesmo era do molho, com tomate e vinho, onde eu molhava o pão. As recordações dessas comidas ficarão, mas a realidade é que não posso mais com isso de comer esses bichos fofinhos. Acabei fazendo um prato com bacalhau, que nunca foi uma tradição na minha família. Mas para os doces não tinha nenhum animal envolvido. Nós sempre tínhamos as crispelas—flores feitas de massinha, fritas e cobertas com açúcar de confeiteiro e mel; e os pasteizinhos recheados de grão-de-bico, que eram os meus favoritos. Fui buscar receitas, tinha que ser uma tradicional da Basilicata, a região na Itália de onde veio toda a família da minha mãe. Procurei muito e achei essa aqui que se encaixou mais ou menos no que eu queria. Na receita da minha mãe não ia chocolate derretido, apenas chocolate em pó [usávamos aquele da caixinha dos Frades]. Como vi muitas, mas muitas receitas de todos os cantos da Itália, percebi que algumas usavam castanhas portuguesas outras grão-de-bico. Talvez a versão com o grão-de-bico fosse a mais barata.  É uma ideia genial e fica gostoso demais. Fiz mais de cem pasteizinhos, dei um pouco para as minhas vizinhas, outro pouco pro Gabriel, eu e o Uriel comemos a beça e eu pude matar as lombrigas que me atormentavam há dezenas de anos!

para a massa:
400 gr de farinha de trigo
1 xícara de azeite de oliva
1 xícara de vinho branco [*usei o anisete, licor de anis]
50 gr de açúcar
1 ovo caipira

para o recheio:
1 quilo de grão-de-bico.
500 gr de chocolate meio-amargo
50 gr de cacau em pó
1/2 xícara de anisete ou vermute [*usei anisete]
1 xícara de mel
1 colher de chá de extrato de baunilha.

Coloque todos os ingredientes para a massa numa vasilha e misture bem até obter uma massa bem homogênea e macia. Pode usar a batedeira com a pá. Deixe a massa descansar por uma hora.

Cozinhe o grão-de-bico que foi deixado previamente de molho até ficarem macios. Ou use os de lata ou caixa, já cozidos. Coloque o grão-de-bico no processador de alimentos e pulse até obter uma massa. Derreta o chocolate em banho-maria e adicione ao grão-de-bico, juntamente com o cacau em pó, o licor, o mel e a baunilha. Pulse para incorporar.

Abra a massa com um rolo, corte discos usando a borda de um copo e coloque em cada disco um pouquinho do recheio. Dobre a massa e feche selando as bordas com os dentes de um garfo. Frite os pasteizinhos em bastante óleo quente. Decore com açúcar de confeiteiro ou com gotas de mel. Guarde um um recipiente com tampa.

geléia de tomate [a moda marroquina]

No meu trabalho a conversa gira na maioria do tempo em volta do assunto comida. Acabei adquirindo uma falsa reputação que me recuso a aceitar—a de que sou uma foodie, uma gourmet. Tem gente que até diz que sou uma chef, quero desintegrar no ar de tanta vergonha. Tudo isso por causa das minhas marmitas. Noutro dia decidiram ressuscitar um evento dos tempos antigos, uma competição de geléias feitas com as ameixas da árvore abundante do quintal de alguém. A organizadora, que é diretora de um setor de comunicação, veio correndo falar comigo. Eu me recusei a fazer geléia pras pessoas julgarem, porque não tenho esse espirito competitivo, nem tenho experiência suficiente fazendo conservas. Mesmo assim ela não largou do meu pé e eu então me ofereci pra ser juíza. No meio tempo ela apareceu na minha frente com essa geléia de tomate estilo marroquino que ela faz há anos e queria que eu experimentasse e desse a minha opinião. Me deu um vidrinho e eu fui pra casa com aquela infeliz missão, me sentindo um tantinho pressionada. E se eu não gostar? Pior, e se o negócio for uma bomba incomível? Sou dessas criaturas pessimistas. Acabei levando uma rasteira bem dada quando abri o vidro incrivelmente bem selado e espalhei um pouquinho da geléia numa bolacha. Que coisa maravilhosa! Adorei as especiarias e o limão, que eu consegui morder pedacinhos! Voltei pra falar com ela:

—então, o que vai ser? você vai me dar a receita ou me vender mais desses vidros?

Ela se recusou a me passar a receita, fazendo um charme, como se fosse dona do segredo do túmulo do rei Tutankamon. Minha reação foi bem simples—FINE! a internet existe pra isso mesmo, vou achar uma receita parecida e fazer eu mesma!

Coincidentemente apareceram uns tomates heirlooms na cozinha do meu trabalho e eu [obviamente] peguei um montão. A moça da geléia me olhou com ceticismo quando eu disse que iria usar aqueles tomatões. Ela disse, tem que ser com os cerejas, mas eu não quis ouvir. Eu e mais dois colegas fizemos a geléia naquele final de semana. Quando eu coloquei todos os ingredientes na panela entrei meio em pânico, porque os tomatões soltaram MUITA água. Minha geléia cozinhou por muito mais tempo do que o esperado, mas atingiu o ponto. Eu recomendo fortemente que se use o tomate cereja. As geléias dos meus colegas não vingaram. A minha ficou bem parecida com a da moça que não quis passar a receita. Ficou deliciosa! Usei muitos tomates, dobrei a receita. Já comemos dois vidros, congelei outros dois. Ainda não aprendi como selar as conservas do jeito que eles fazem aqui, pra poder guardar fora da geladeira. Um dia chegarei lá.

Essa geléia é picante e doce, com um toque meio acido e vai muito bem com queijos. Comi com diversos tipos, dos cremosos como o de cabra, até os mais duros e fortes como o manchego. Faz um tostex maravilhoso, acompanha lentilha, couscous, frango, o que a imaginação mandar.

120 gr de gengibre fresco descascado
1/2 xícara de vinagre de maçã
1 quilo de tomate cereja
1 xícara de açúcar mascavo
1 limão cortado em fatias finíssimas, depois picado
1 colher de chá de canela em pó
1/2 colher de chá de cravo em pó
1 colher de chá de cominho em pó
1 colher de chá de sal kosher
½ colher de chá de pimenta do reino moída na hora

Coloque o gengibre e vinagre no processador de alimentos e triture bem. Transfira para uma panela robusta. Adicione os tomates, o açúcar e os limões fatiados. Ligue o fogo alto e cozinhe por 15 minutos. Adicione as especiarias, reduza o fogo e deixe cozinhar, mexendo sempre, até a mistura reduzir e engrossar. Quando a geléia estiver pronta, coloque em potes esterilizados e guarde bem fechado na geladeira ou congele.

salada de milho grelhado, com abacate, tomate & molho de limão

salada de milho

Essa salada foi a minha última refeição antes de começar um jejum pré-operatório que durou quase 24 horas [fiz uma operação de varizes, nada sério!]. Ficou absolutamente deliciosa e eu comi muito [hahahaha!]. Mudei apenas o fato de que grelhei as espigas de milho e a pimenta poblano na churrasqueira. Estava muito calor pra ligar o forno naquele dia.

5 espigas de milho
1 pimenta poblano cortada em pedaços pequenos
1/2 cebola roxa cortada em fatias finas
1 abacate cortado em cubos pequenos
1/2 xícara tomates cereja cortados ao meio ou em quatro
2 colheres de sopa de suco de limão verde, Tahiti
1/2 colher de chá de mel
Pimenta Cayenne ou Aleppo a gosto
1/4 xícara de azeite extra virgem
Sal kosher e pimenta do reino moída na hora a gosto
Um punhado de folhas de manjericão e hortelã frescas

Pré-aqueça o broiler e coloque a grade do o forno no segundo nível. Descasque o milho e corte os grãos com uma faca. Adicione a pimenta poblano picada e a cebola roxa cortada. Misture com uma colher de chá de azeite e tempere com sal e pimenta. Transfira para uma assadeira forrada com papel vegetal ou uma frigideira grande. Grelhe o milho, poblano e cebola vermelha por 3 a 5 minutos, sacudindo a panela algumas vezes ou até que fiquem carbonizados em alguns pontos, mas não deixe cozinhar demais. Retire a mistura do forno, adicione o abacate e grelhe por um minuto ou dois mais. Pode pular essa parte e colocar o abacate apenas no final, sem aquecer. Para fazer vinagrete de limão misture o suco de limão, o mel e pimenta vermelha [usei a Aleppo], adicione lentamente no azeite extra virgem, mexendo até ficar bem emulsionado. Tempere com sal a gosto. Transferir a mistura de milho para uma travessa, adicione os tomates cereja, as folhas de hortelã e manjericão, regue com o vinagrete de limão e sirva imediatamente.