o Chucrute e os tomates

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Estou literalmente atolada neles novamente, como acontece todo verão. Ganhei um saco de tomates fresquinhos da horta do meu amigo e estou animadíssima, pensando como vou usá-los. O negócio é que estarei almoçando e jantando sozinha por um tempo, pois o Uriel está no Brasil. Minha horta, por outro lado, está numa entresafra. Um dos pés de tomate parece estar com alguma doença. Mas isso não quer dizer que a colheita se encerrou. Ainda escreverei bastante sobre as amadas frutinhas!
* os tomatinhos réplicas de pitangas gigantes fizeram parte do menu do meu jantar de ontem e preciso dizer—foram os melhores que já comi neste verão.

pasta? sim, pasta!

Morar numa cidade universitária me traz grandes vantagens, como poder conhecer muita gente legal de vários cantos do mundo que vêm aqui para estudar ou trabalhar. Mas por outro lado tem a desvantagem que é ter que, de vez em quando, superar a melancolia que acompanha as despedidas. Chegou a hora de dizer good bye para uma amiga muito querida, que vai fazer muita falta no meu círculo de relacionamentos. Como todos os nossos rituais de despedida incluem comida, quis fazer um almoço para ela. Eu já tinha combinado com um amigo italiano que adora cozinhar, que iríamos fazer uma macarronada. Eu estava muito curiosa para observar as técnicas dele no preparo da massa e do molho. Colocamos os nossos planos em prática.

Usamos ovos fresquíssimos, farinha de trigo orgânica, semolina e toneladas de tomates orgânicos maduríssimos. Cozinhei os tomates um dia antes e passei pela peneira para obter alguns litros de purê. No dia seguinte começamos a função cedo. Eu e a Charlene trabalhamos duro como assistentes dedicadas do comandante da cozinha, o chef Luigi. Fizemos macarrão e três tipos de molho para dezoito comensais. Aprendi muita coisa legal com esse romano, que é do nosso time de apreciadores da comida simples, feita com capricho e com ingredientes da melhor qualidade. Ele fez o macarrão bem grosso. Passou a massa umas dez vezes pela espessura um, e depois cortou em tiras de fettucini. Nunca tinha comido o macarrão grosso assim e achei muito bom. Os molhos foram feitos de uma maneira incrivelmente simples. Eu perguntava pra ele—vai pôr isso? vai pôr aquilo? E a resposta era sempre—não, o molho de tomate italiano é muito simples. Perguntei sobre o manjericão e fui aconselhada a adicionar no final do cozimento do molho, mas aconteceu que na correria das arrumações de mesa e detalhes finais das preparações, o manjericão não entrou na dança. E pra falar a verdade, nem fez falta.

Ficamos conversando em volta da mesa até as seis da tarde. Só não ficamos mais tempo porque era domingo e a segunda-feira nos aguardava impaciente e exacerbada. Foi um almoço delicioso, tanto pela comida e bebida, quanto pela companhia. Uma despedida à altura da nossa convidada especial, a amiga que vai deixar saudade.

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** fotos extras AQUI

Molho ao Sugo
Refogar duas cenouras cortadas em cubos e uma cebola picadinha num pouquinho de óleo vegetal. Pode pôr um pingo de azeite. Uma coisa que eu sempre soube sobre cebola e alho é que quando se usa a cebola, não se usa o alho e vice-versa. O Luigi só reafirmou esse ponto. Quando a cenoura estiver molinha, vai acrescentando o purê de tomate, que eu fiz fresco, usando quilos de tomates. Mas o Luigi deu a dica de misturar metade de purê de tomates frescos com metade de tomates em lata. Refogar essa mistura até o molho reduzir em 1/3 e ficar bem grosso. Acrescentar um pouco de sal grosso. Pode pôr manjericão no final, mas nós esquecemos de colocar e ninguém reparou. No final, eu acrescentei um tomate grande inteiro, picado. Segundo o Luigi, a casca do tomate dá um sabor especial ao molho. Esse molho é daqueles que não pode ser desperdiçado e exige fartura de pedaços de pão, para limpar os pratos e as panelas.

Molho de Tomate com Aliche
Nessa versão do molho de tomate, faz tudo igual ao molho ao sugo e acrescenta-se filés de aliche/achovas durante o cozimento. Como eu não tinha mais nenhuma latinha de aliche, usei uma pasta de aliche que eu às vezes uso para pôr em molho de saladas. Esse molho foi o meu favorito!

Molho de Manteiga com Sálvia
Esse molho é ridiculamente fácil. Derreta a melhor manteiga que você puder comprar numa frigideira e coloque folhas de sálvia fresca. Deixe pegar o gosto. Desligue o fogo rápido, pra manteiga não queimar. Ela deve ficar clara. Não precisa sal, pimenta, nada.

frutos da alta temporada

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Não consigo resistir à essa tomatada toda. Onde quer que eu vá, lá estão eles—lindos, suculentos, reluzentes, perfumados, em todos formatos e nos mais variados tons de vermelho e amarelo. É a alta estação dos tomates. O pico da colheita. Fico completamente encantada e acabo levando pra casa o que acho interessante, como esses heirlooms especiais, um rajado de laranja e vermelho e outro em formato de pitanga.

torta de pêssego, polenta e tomilho

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Adorei a idéia dessa torta, que me conquistou por causa dessa mistura bem interessante de ingredientes—polenta, tomilho, limão e pessêgo. Resolvi fazer para um almoço que tivemos em casa no domingo. Ficou bem diferente e não decepcionou. Foi a primeira vez que usei tomilho numa receita doce e agora fiquei realmente entusiasmada.

Peach and Thyme Polenta Tart
massa:
1 xícara de farinha de trigo
1/2 xícara de polenta/cornmeal
1/4 xícara de açúcar
1/4 colher chá de sal
2/3 xícara de manteiga (11 colheres de sopa), gelada e cortada em cubinhos
1 ovo batido
recheio:
1 xícara de creme de leite fresco
10 raminhos de tomilho fresco [usei o tomilho limão]
1 limão amarelo
3 gemas de ovos
1/4 xícara de açúcar
Uma pitada de sal
5 pêssegos bem firmes cortados em fatias bem finas
farofa:
5 framos de tomilho fresco
2 colheres de sopa de polenta/cornmeal
1 colher de sopa de açúcar

Misture a farinha, polenta, sal e açúcar. Usando os dedos ou um processador, vá acrescentando a manteiga à mistura, até conseguir uma mistura grossa. Misture o ovo e forme uma bola. Embrulhe em plástico e deixe na geladeira por pelo menos 45 minutos.
Com um descascador de legumes, remova a casca amarela do limão, tomando cuidado para não descascar a parte branca. Coloque o creme de leite numa panela e leve ao fogo. Deixe chegar ao ponto de fervura e desligue o fogo. Acrescente as cascas do limão e os dez ramos de tomilho. Tampe e deixe em infusão por pelo menos 30 minutos.

Pré-aqueça o forno em 400ºF/205ºC. Quando a massa estiver bem gelada, abra e forre uma forma redonda de fundo removível com ela. Deixe descansar por uns minutos e então leve ao forno por uns 8 minutos, até que ela fique levemente dourada. Retire do forno e deixe esfriar. Abaixe a temperatura do forno para 325ºF/162ºC.

Passe o creme de leite por uma peneira para remover as cascas do limão e os ramos de tomilho. Numa vasilha bata bem as gemas, o açúcar e a pitada de sal. Acrescente o creme de leite e bata bem.

Prepare a farofa, misturando as folhinhas de tomilho [remova dos galhos delicadamente com os dedos], a polenta e o açúcar. Misture bem e acrescente pingos de água com cuidado, vá mexendo com os dedos ou um garfo, até formar uma farofa.

Arrange os pêssegos na forma sobre a massa, começando pelo centro e formando uma flor, as fatias se sobrepondo. Coloque o molho por cima dos pêssegos, salpique com a farofa e leve ao forno por mais ou menos 40 minutos, até os pêssegos ficarem macios e o creme ficar firme. Retire do forno, deixe esfriar e desenforme. Espere mais ou menos uma hora para servir. Eu servi no dia seguinte.

oridoko

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Oridoko—uma variedade japonesa de tomate incrívelmente doce, que eu recheei com queijo mascarpone e queijo de cabra com ciboulettes e assei. Servi com um couscous de queijo que é muito simples. Foi feito com 1 xícara de couscous, 1 1/2 de água fervendo, um fio generoso de azeite e sal marinho a gosto. Quando o couscous tiver absorvido toda a água, misture 1/2 xícara de queijo parmesão ralado e afofe com o garfo. É isso.

stuck outside of mobile with the memphis blues again

Meus gatos são indoors, isto é, eles não saem na rua. Nem mesmo no quintal. Os motivos são basicamente segurança e saúde. Gatos indoors são mais limpos e mais saudáveis, vivem mais anos. O Misty não pode sair também porque ele é um gato indefeso—ele foi “declawed”, teve suas garras removidas cirurgicamente pelo seu primeiro dono. Essa prática, considerada cruel na maior parte do mundo, ainda é feita aqui com a maior naturalidade. O Roux não pode sair porque ele é uma criatura esbaforida e não é muito inteligente. Ele é imaturo e meio bobo, um amoreco total, mas tem suas limitações. Quando eu o adotei, tive que prometer que não iria deixá-lo sair. Estou cumprindo como posso. Mas ele é um gato e é curioso. Se der mole, ele casca fora.
Sexta-feira é dia de faxina na minha casa. O pessoal da limpeza já foi avisado desde o primeiro dia, que os gatos não podem sair. Mas ontem algo aconteceu. Cheguei em casa às 5 pm e fui primeiro checar a limpeza, pois eu sou bem chatonilda e olho tudo nos micro-detalhes. Liguei a máquina de lavar roupa, falei olá pro Misty, que sempre vem me recepcionar e só depois de uns quinze minutos que parei em frente a porta de vidro que dá para o quintal e vi um gato familiar trancado do lado de fora, todo assustado, encolhido, com os pelos sujos de folhagem. Era o Roux!

Alguém deixou ele sair. Com certeza foram varrer o quintal e deixaram a porta aberta e ele, enxerido que só, escapuliu. Foi muita sorte ele não ter saído pra rua, pois atrás da minha casa tem um shopping center super movimentado. E também foi sorte ele não ter pulado a cerca, pois meus dois vizinhos têm cachorros. Baita susto! Esse Roux….

pesto de sementes de abóbora e coentro

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Para um jantar ultra-rápido e ultra-simples, fiz o pesto de sementes de abóbora da Ana. Usei macarrão integral. Ficou um bocado mais leve que a maioria dos pestos que já provei.

1 xícara (chá) de sementes de abóbora (das verdes)
1 maço de coentro (só as folhas)
1 xícara (chá) de queijo parmesão ralado na hora
1 colher (sopa) de suco de limão [*esqueci de usar]
2 dentes de alho [*não usei]
Sal a gosto
Pimenta-do-reino a gosto [*não usei]
Azeite de oliva a gosto

Torre as sementes de abóbora em uma frigideira. Mexa constantemente até ficarem meio douradinhas, cerca de 3 ou 4 minutos. Coloque no processador com os outros ingredientes. Pulse até triturar bem (algumas pessoas preferem com mais textura, menos triturado) e acrescente azeite de oliva pelo bocal até atingir a consistência desejada, mais espesso ou mais ralo. Misture ao macarrão bem quente e sirva com queijo ralado.

batendo na mesma tecla

Tenho falado como uma matraca emperrada para todos que tenham a disposição de me ouvir, que eu percebo claramente um movimento muito forte de retorno à maneira tradicional e normal de se produzir e consumir alimentos. Já bati na tecla dos ovos orgânicos e fertilizados, que os produtores não conseguem suprir a procura e também na do leite cru, que está mais cotado que whiskey não falsificado em tempo de Lei Seca.

Raising poultry the new-old way— o artigo do San Francisco Chronicle comenta a demanda por frango criado da maneira antiga, solto no terreiro, ciscando. A matéria se concentra na fazenda Soul Food, que cria pastured chickens aqui pertinho, em Pleasant Valley. Um dos clientes dessa fazenda é o restaurante Chez Panisse, em Berkeley. Alice Waters, co-fundadora do Chez Panisse, foi a precursora desse movimento dos alimentos frescos, locais, naturais e orgânicos aqui nos EUA.

Mas o frango não basta ser certificado orgânico, tem que ter nascido e crescido normalmente, ciscado e rolado na poeira. Muitas fazendas orgânicas seguem as regulamentações, mas os frangos nunca viram a luz do sol. Eu acredito que as fazendas sustentáveis são o futuro. O artigo do SFC admite que o frango caipira ainda custa mais caro, mas se o consumidor pudesse ver como ele é criado, nem iria pensar em preço. Pois como escreveu a minha musa M.F.K. Fisher em How to Cook a Wolf—prefiro comer apenas uma pequena porção de um ingrediente de qualidade, do que me empanturrar de um montão de porcaria.