Confundida pelo clássico AM/PM acreditei por alguns dias que iriamos passar a virada do ano dentro de um avião da American Airlines. Felizmente percebi a tempo que nosso voo sairia de São Paulo às 12:15am do dia 31 de dezembro de 2013, o que me proporcionou tempo de sobra para chegar em Woodland, tomar um banho, ir ao supermercado comprar ingredientes, preparar uma panela de lentilhas com linguiça e servir com pão fresquinho e queijos e uvas brancas de sobremesa. Essa foi a nossa ceia de reveillon, que foi devorada às seis da tarde. Não somos tão fortes como pensamos, pois às oito horas já estavamos dormindo e só fomos acordados uns minutos antes da meia noite pela festa dos vizinhos e o som de alguns rojões pipocando no horizonte, nos beijamos e abraçamos deitados mesmo, desejamos “feliz ano novo” um pro outro, eu lembro de ter dito “esse vai ser um ano MUITO BOM”, viramos para o lado e continuamos a dormir. No dia seguinte, já mais revigorada, fiz o almoço do ano novo que consistiu de uma salada de alface e um gratinado de bacalhau. Mas não foi qualquer salada, nem qualquer bacalhau, foi algo especial. E devoramos com gosto. Vai ser muito bom este ano de 2014, não vai? Sim, vai ser um ano incrívelmente bom!
[»em seguida, as receitas]
Autor: Fer GuimaraesRosa
lombo de porco assado
com leite e sálvia
Essa foi a primeira receita que vi assim que abri o novo livro da Alice Waters—The Art of Simple Food II. E foi a primeira que preparei. Essa não é uma receita inédita, nunca vista, mas foi a primeira vez que fiz e gostei imensamente do resultado. A carne fica muito macia, até eu que não sou a maior fanzoca da carne de porco achei muito gostoso. Servi com polenta, como a autora sugere. Fiz uma polenta taragna misturada com mascarpone que ficou bem cremosa e fez um par perfeito com a carne macia.
No dia anterior tempere mais ou menos 1 quilo de carne de lombo de porco com sal e pimenta do reino moída na hora. Coloque num recipiente fechado na geladeira. Remova o lombo temperado da geladeira pelo memos uma hora antes de começar a preparar a receita. Coloque 2 colheres de sopa de azeite ou manteiga numa panela robusta. Frite o lombo dos dois lados e remova para um prato. Reserve. Na mesma panela adicione 1 colher de sopa de manteiga, 5 dentes de alho e 5 folhas grandes de sálvia fresca. Cozinhe por uns minutos até o alho ficar macio. Coloque o lombo já frito de volta na panela com o alho e sálvia e adicione 4 xícaras de leite integral e 2 tiras da casca de um limão removida [sem a parte branca] com uma faca afiada ou descascador de legumes. O leite deve cobrir apenas 2/3 do porco. Quando o leite começar a ferver abaixe o fogo no mínimo e deixe cozinhar por umas 2 horas. Cheque de vez em quando para ver se não precisa adicionar mai leite. Esse molho de leite vai coalhar, não entre em pânico! Quando a carne estiver pronta, remova da panela e deixe o molho reduzir mas um pouco. Corte o porco em fatias e siva com o molho por cima. Decore com folhas de sálvia se quiser.
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batata doce assada
[com pimenta & limão]
Desde 2009 que eu tenho The Flavor Bible na minha estante e vira e mexe eu o uso para me inspirar com idéias de como casar diferentes ingredientes. Esse livro é ótimo ajudante na composição de saladas, como essa de batata doce. Assei as batatas sem pensar e planejar nada antes e fiquei olhando pra elas sem saber que direção tomar.
The Flavor Bible then came to the rescue! E me deu a ideia de temperar as batatas assadas e já frias com flocos de pimenta vermelha, raspinhas da casca e suco de um limão tahiti. Para finalizar, uma pitada de sal Maldon, um fio de azeite e tchandan—essa combinação ficou simplesmente o fino da Bossa!
mini berinjelas com missô
Me entusiasmei exageradamente quando vi um monte de mini berinjelas na banquinha de uma familia de produtores asiáticos no Farmers Market de Woodland e comprei mais do que deveria e precisava. Sorte a minha que achei essa receita que acabou funcionando muito bem com essas berinjelas minúsculas. Depois refiz essa mesma receita depois usando as longuetes berinjelas japonesas.
1/2 xícara de azeite de oliva
6 dentes de alho cortados em fatias finas
500 gr de missô moro [feito de cevada— eu usei o feito de arroz integral]
2 berinjelas japonesas grandes cortadas em pedaços
Óleo vegetal para fritar
Suco de limão
Coloque o azeite e o alho em fatias em uma panela. Coloque em fogo médio-alto e frite, agitando panela ocasionalmente até que o alho fique dourado. Retire do fogo e transfira para uma tigela. Adicione o missô, misture bem com o alho frito e reserve.
Corte as berinjelas em pedaços enviesados. Adicione um dedo de óleo vegetal numa panela grande, aqueça em fogo médio-alto e adicione berinjela. Frite até elas ficarem meio crocantes por fora e macias no centro, por 1 a 2 minutos. Transfira para um prato forrado com uma toalha de papel para escorrer.
Esprema suco de limão sobre berinjela e transfira para uma tigela grande. Adicione 3 colheres de sopa da mistura de missô com o alho [guarde o restante do misô restante em um recipiente hermético e em local refrigerado] Misture. Sirva imediatamente.
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panna cotta de chocolate branco [com pickles de nectarina]
Dei apenas uma bocadinha na sobremesa que o Uriel pediu no restaurante Lincoln em Portland e fiquei obstinada em tentar fazer a receita em casa. Assim que cheguei de viagem fui pra cozinha e fiz. Para a panna cotta eu apenas preparei uma receita básica e acrescentei o chocolate branco. Para o pickles de nectarina achei uma receita bem fácil na web e mandei bala. Só omiti a saba porque não deu tempo de correr atrás. Apesar disso a minha sobremesa-cópia ficou idêntica à original. Absolutamente deliciosa!
para a panna cotta:
1 xícara de creme de leite fresco
1 xícara de leite integral
1 fava de baunilha
1 envelope [7g] de gelatina em pó sem sabor
1 barra de 120 gr de chocolate branco
1 colher de sopa de açúcar
Numa panelinha coloque o creme de leite, a fava de baunilha e as sementes [corte a fava ao meio, raspe as sementes com uma faca], 1 colher de sopa de açúcar e o chocolate branco picado. Leve ao fogo médio e mexa até o chocolate derreter completamente. Enquanto isso coloque o leite numa outra vasilha e salpique a gelatina por cima. Despeje o creme de leite quente por cma do leite com a gelatina. Bata com um batedor de arame até a gelatina dissolver completamente. Coloque numa forma molhada ou em ramequins e leve à geladeira até firmar.
para o pickles:
1/2 xícara de vinagre de vinho branco
3/4 xícara de açúcar
1 pau de canela
1/4 colher de chá de sementes de cominho
1/4 colher de chá de sal
4 nectarinas cortadas em fatias
Coloque todos os ingredientes, exceto as nectarinas, para ferver em uma panela média. Coloque as nectarinas num recipiente resistente ao calor e despeje sobre elas a mistura quente de vinagre. Deixe esfriar, cubra e leve à geladeira até a hora de servir.
cobbler de tomate & cheddar
Na volta da nossa viagem ao Oregon, paramos já na Califórnia para almoçar num restaurante super gostoso em Redding. Lá peguei a edição da Edible do condado do Shasta-Butte. Nela tinha essa receita, que fiz para o final de semana quando enchi novamente a minha cozinha com tomates. A receita original pedia queijo gruyère, mas eu troquei pelo cheddar. Usei uma mistura de tomates coloridos. Ficou muito bom!
para a massa:
1 e 1/4 xícaras de farinha de trigo
1/2 colher de chá de sal
1/2 colher de chá de açúcar
1/2 xícara de queijo cheddar [ou gruyère] ralado
8 colheres de sopa de manteiga sem sal, gelada e cortada em pedaços pequenos
2 a 3 colheres de água gelada
Em um processador de alimentos, misture a farinha, sal, açúcar, queijo e manteiga. Pulse até formar uma farofa grossa. Adicione água gelada um pouco de cada vez até que formar uma massa . Amasse em uma bola, depois achate num disco. Leve à geladeira e deixe gelar por meia hora.
para o recheio:
1 quilo de tomates cerejas ou tomates grandes cortados em cubos
[* eu fiz uma mistura de vários tipos de tomates]
1/3 xícara de farinha de trigo
1 colher de chá de sal
1e 1/2 colheres de chá de açúcar
Pimenta do reino moída na hora a gosto
1/2 xícara de manjericão picado
2 colheres de sopa de azeite
1 cebola descascada e cortadas em cubos
3 dentes de alho descascados e fatiados
1/4 xícara de queijo ralado
Em uma tigela grande, misture os tomates, farinha, sal, pimenta, açúcar e manjericão. Em uma panela refogue em fogo médio a cebola e o alho no azeite por cerca de 4 minutos, em seguida, adicione aos tomates. Despeje essa a mistura em um refratário fundo. Estenda a massa no tamanho da forma que for usar. Coloque sobre a forma com os tomates dentro e sele bem as bordas. Faça cortes na massa para sair o ar quente durante o cozimento, coloque sobre uma assadeira. Polvilhe com o queijo e leve ao forno pré-aquecido a 375ºF/ 190ºC por cerca de 30 minutos. Remova do forno e deixe descansar por 10 minutos antes de servir.
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Bunk Sandwiches — Portland
O Bunk sandwiches foi outra dica que peguei da revista Sunset e que talvez não tivesse encontrado ou me tocado, se não soubesse de antemão que era um lugar legal. É um pequeno corredor, um “hole in the wall” que não oferece nenhum atrativo a primeira vista. É um bom lugar para um lanche rápido. Escolhe-se o sanduiche e se quiser alguns acompanhamentos de um menu escrevinhado no alto da parede, senta e espera a bandeja chegar—forrada com papel, contendo o sanduiche e chips de batata. Nós pedimos uma salada de folhas verdes também. Me senti muito audaciosa nesse dia e pedi um sanduiche cubano de barriga de porco, presunto, queijo suiço, pickles e mostarda, que estava bom. Mas invejei muito a escolha vegana do Uriel, que veio com hummus de cenoura assada, pimentão vermelho chamuscado, azeitonas, pepino e molho tzatziki e que estava delicioso. Pena que não deu pra voltar e experimentar outros recheios. Não dá pra se exigir tal façanha num passeio como esse limitado pelo tempo.
Pittock Mansion — Portland
No segundo dia em Portland fomos visitar uma mansão histórica que fica numa linda área de mata em cima de um morro. A Pittock Mansion foi contruída em 1914 pelo pioneiro e enpreendedor Henry Pittock. Nascido na Inglaterra, Pittock imigrou para a Pennsylvania e em 1853 com 19 aos pegou uma daquelas carruagens que levava famílias e aventureiros para desbravar o oeste. Pittock chegou ao Oregon, onde começou a trabalhar num jornal do qual acabou dono depois de alguns anos. A casa super moderna, apresentando uma mistura dos estilos inglês, francês e turco, dá uma visão panorâmica maravilhosa da cidade de Portland, com vista para todas as montanhas ao redor. Não posso negar que uma das coisas que eu mais gosto de fazer e que mais me entretem é visitar casas antigas. Essa me fez voltar na sala de jantar e cozinha ums mil vezes. Não é uma casa ostensiva, mas é bem ampla e confortável, com um engenhoso sistema de aquecimento e de intercom. Eles não mantinham muitos empregados e contratavam diaristas. Dá pra ver a lavanderia, a area de geladeira que era separada da cozinha, a despensa, a área do mordomo com ármários com as louças. Nem tudo na casa é original da família, pois quando a casa foi vendida na década de 60 muita coisa se perdeu. Mas quando um objeto ou móvel é original tem um pequeno cartãozinho com o logo da mansão alertando. No andar de cima fiquei muito impressionada com o quarto montado numa espécie de varanda, arejado o suficiente para ajudar os enfermos com a tuberculose, uma doença bem comum na época. E com os banheiros, absolutamente modernésimos, com chuveiros super high-tech. Não fotografei a casa por fora, porque ela estava em obras. Visitamos também a casinha do caseiros [últimas duas fileiras de fotos] que achei uma gracinha, com a cozinha mais fofa do mundo. A casinha tem dois andares e está também cuidadosamente preservada. Seguindo o guia você aprende não somentes fatos sobre a família que viveu lá, mas também sobre a cidade. Os jardins da mansão são maravilhosos e dá pra passar muitas horas lá, dentro e fora, também num pequeno museu montado no subsolo da casa, onde se faziam as festas e hoje mantém um acervo de rádios, vitrolas, gramofones, fonógrafos, televisões e outras fontes de entretenimento audio-visuais.
Pok Pok — Portland
Não sou muito boa planejando passeios e viagens, mas dessa vez fui um pouco mais organizada e usei como guia de Portland este pdf disponibilizado pela revista Sunset e algumas dicas da revista Food & Wine. Nem é necessário dizer isso, mas se você for fazer uma pesquisa rápida de onde comer em Portland, o comentadíssimo, bacaníssimo e modernérrimo Pok Pok vai estar sempre entre os primeiros. E com toda razão. No nosso primeiro dia saímos da Powell’s Books e fomos almoçar nesse pequeno restaurante tailandês, que era um dos lugares que eu queria e precisava checar na cidade. O restaurante começou numa pequena casinha e foi ampliado por causa do sucesso e demanda. A paixão do chef Andy Ricker pela cozinha tailandesa elevou o pequeno lugar à categoria cult & melhor do país. Além do Pok Pok original em Portland, hoje o restaurante tem uma filial em New York. Chegamos já era mais de 2pm e ainda tivemos que esperar 30 minutos. Você chega, dá seu nome para a recepcionista e espera. Há um bar, mesas fora e dentro. Fiquei torcendo para sentarmos fora, pois achei tudo lá dentro muito escuro apesar do ar condicionado, ausente no lado de fora.
O restaurante é bem simples e rústico, com pratos, travessas e copos de plástico, mesa forrada com oleado. O serviço é super gentil e eles respondem com a maior paciência a toda e qualquer pergunta. Eu tinha algumas, especialmente sobre as bebidas. Me apaixonei por uma bebida de fruta e vinagre. Experimentei a de ruibarbo e não consegui desviar meu foco dessa super ideia. Já tinha lido sobre os vinagres na bebida, mas nunca tinha provado. Fiquei louca e em breve escreverei mais sobre isso. A água que eles servem também é especial, vem numa jarrona e tem um gostinho diferente, pois é aromatizada com folhas de pandanus como é feito comumente na Tailândia. Tive um pouco de dificuldade para escolher o que comer no Pok Pok, porque sou uma picky eater de lascar a lenha e o menu tem coisas muito diferentes, ovo e carne de porco misturados com outros ingredientes. No final escolhi algo seguro [para mim] e gostei muito. Uma salada, uma linguiça com ervas. e arroz de coco O Uriel comeu um frango com vários molhinhos e salada de mamão verde. Não sei por que não pedimos sobremesa. Eu tinha planos de ir em outro lugar, mas não deu certo. Estávamos cansados e fazia muito calor. Acabamos indo para o hotel, mas o Pok Pok não saiu mais do meu pensamento, fiquei querendo voltar lá para me aventurar com outros pratos e ingredientes. »pok pok é a onomatopeia em versão tailandesa para o barulhinho que o amassador faz no pilão quando se esta moendo as ervas.
picolés de figo com balsâmico
e banana com peanut butter
Antes de sair para nossa viagem ao Oregon, passei um dia tentando usar todos os ingredientes, i.e. zilhões de frutas e legumes, que tinha na cozinha. Para usar uns figos frescos e umas bananas fiz esses picolés, que ficaram excepcionais!
figo com balsâmico
6 figos
1 colher sopa de manteiga
1 xícara de iogurte natural
Nectar de agave [ou outro adoçante] a gosto
1 splash de vinagre balsâmico—usei um de figo & tangerina
Numa frigideira derreta a manteiga e frite os figos cortados pela metade. Deixe os figos esfriarem e coloque no liquidificador com os outros ingredientes. Forma e congelador.
banana com peanut butter
2 bananas
1 colher sopa de manteiga
1 xícara de leite de amêndoas [ou outro leite]
2 colheres de sopa de manteiga de amendoim
Numa frigideira derreta a manteiga e frite as bananas cortadas de comprido. Deixe as bananas fritas esfriarem e coloque no liquidificador junto com os outros ingredientes. Forma e congelador.