Lendo um capítudo de Serve it Forth da maravilhosa M. F. K. Fisher, onde ela descreve refeições feitas com amigos, pequenos grupos de seis no máximo, me lembrei com tristeza de alguns desfortunados jantares sociais que fiz na minha casa. Tirando a comida, preparada com carinho e esmero, todo o resto estava errado e o gosto que ficou foi amargo. Aprendi a lição e concluí com quase certeza que de todas as as refeições que fiz em família foram as melhores, sem comparação. Fisher diz que bons començais devem ter o desejo de permanecer sentados à mesa por muitas horas, mesmo no caso da refeição servida ter sido a mais simples – salada, pão, queijo, vinho. Essa façanha eu sempre consegui em almoços e jantares de família. Agora também com a nossa família agregada – americana e norueguesa. Esse é um conforto que substitui a lembrança daquelas migalhas na toalha branca de linho, o copo e a garrafa de vinho na mesa de madeira escura e riscada, a pilha de pratos que foram presente de casamento no buffet da sala.
Mês: setembro 2006
livros, livros, livros!
Eu fico super inspirada quando leio os textos de história da culinária escritos pela Gorete. Outro dia deixei um comentário pra ela, dizendo que qualquer hora iria até a Biblioteca Pública de San Francisco pra ver o que eu poderia achar sobre história e comida. Cacilda, eu sou uma pessoa bem cabeça de ventoinha mesmo…. Dirigir até San Francisco ou pegar o trem, para ir à biblioteca? For Pete’s sake, se liga Fezoca!
Eu trabalho ao lado de uma super duper biblioteca acadêmica. Moro perto também. Passo em frente da Biblioteca da UC Davis quatro vezes por dia. Já frequentei muito essa parada, quando fiz classes na universidade. E como staff, posso retirar livros a la vontê. O que eu estava pensando? E o que eu estou esperando!!
Já fiz um search no website por “culinary”, “cookery” e “gastronomy” e fiquei até com lágrimas nos olhos com os resultados. Toneladas de livros, coisas novas, antigas, reliquias, em diversas línguas, sobre todos os assuntos possíveis relacionados à comida. O problema agora é onde vou arrumar tempo pra fazer uma visita à biblioteca. E onde vou arrumar tempo para ler todos os livros que vou achar por lá. Estou numa confa. Não que eu esteja reclamando. Nada disso!
pasta de verão
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Saí do trabalho me sentindo tão cansada. Pedalei minha bicicleta com um baita esforço. Achei que tinha pegado um “bug” de gripe. Me senti tão pesada e desanimada que sinceramente não sei como consegui fazer um jantar decente.
Quando estou assim no limite, minha opção é sempre um macarrão. Usei a última abobrinha na geladeira. E alguns dos zils tomates. Um pouco do mação de basilicão. Juntei tudo e improvisei uma receita inspirada numa que li em algum lugar – não lembro onde.
Cozinhe o macarrão em bastante água fervendo temperada com sal e uma folha de louro. Enquanto o macarrão cozinha, corte a abobrinha em fatias finas, corte os tomates ao meio, pique folhas de basilicão, esmague uns quatro dentes de alho assado, tempere tudo com sal e pimenta do reino. Escorra o macarrão e misture com a abobrinha, tomate e ervas. Esquente um tanto de azeite numa panelinha – não esquente muito – e jogue sobre o macarrão. Misture bem, cubra com queijo ralado. Sirva-se a vontade!
* vejo esse macarrão feito em muitas versões, pode substituir a abobrinha por outro legume, o basilicão por outra erva, acrescentar azeitonas pretas, e o alho assado por alho cru – pra quem tiver coragem!
os verdinhos vão secar
Eu uso as ervas frescas o quanto posso. Mas não é possível consumir tanto, então todo final de verão começo a secá-las. Seco o basilicão, o orégano, o tomilho, o hortelã, o alecrim, a sálvia e o que mais aparecer. O bom é que, vivendo num clima seco, eu não preciso fazer nada para secar as verdinhas. É só abandoná-las por uns dias em cima de um prato, num canto qualquer. Depois moer as folhas com as mãos mesmo e ensacar ou envidrar o produto que será usado nos meses de inverno.
com o limão, faça uma limonada
um verdadeiro milagre
Nos meus primeiros meses como staff do programa de controle integrado de pestes [IPM], levei muitos sustos. Vejam só, eu sou uma web developer e fui contratada para me dedicar full-time à este web site gigantesco, que é mantido pelo Departamento de Agricultura dos EUA, UC Davis, UC Berkeley, UC Riverside, o condado de Yolo e outras entidades. É um programa importantíssimo e utilíssimo, tanto para os fazendeiros do estado, quanto para as pessoas comuns que mantém uma horta ou um jardim. O IPM divulga informação científica para ajudar no controle das pragas, dando prioridade para gerenciamentos biológicos, culturais e orgânicos, aconselhando o uso de químicos somente em último caso, observando e cuidando também para não poluir o meio-ambiente e as redes de água.
Bom, quando coloquei as mãos pela primeira vez nas páginas que monto e mantenho, já tive um chocante encontro inicial de primeiro grau com as pestes da cultura do milho. Passei muito tempo levando sustos horríveis, fazendo caretas, pondo a língua pra fora e me contorcendo toda de arrepio e nojo na frente do meu monitor. Eu não imaginava – realmente, que inocência – que existissem tantas pragas atacando a nossa comida! Achava que o pior que poderia acontecer era uma geada ou uma seca. E eu só conheci até agora as pestes que atacam a produção agrícola da Califórnia. Um IPM do país ou do mundo seria um completo circo de horrores!
A primeira coisa que me passou pela cabeça quando fui apresentada aos horroríveis insetos, ácaros, doenças, ervas daninhas, coisas vertebradas e invertebradas foi – putsz, ter uma salada ou um cozido na nossa mesa é um verdadeiro milagre, pois temos que primeiro lutar bravamente contra todas essas pragas! Meu marido rolou de rir quando me ouviu falar isso, porque ele está cansado de saber quem são os purulentos e cascorentos que infestam os nossos campos e pomares. Eu precisei de um bocado de tempo para digerir essa informação, abismada com o quanto nós humanos temos também que rebolar para poder nos alimentar. Felizmente somos mais fortes e mais inteligentes, senão com certeza nosso menu teria apenas dois itens: sopa de pedra e pão de areia.
o figo é fresco
Ganhei um monte de figos mission colhidos no quintal da minha amiga Jean. Pensei em fazer uma receita com eles. Fiquei animada. Depois pensei melhor e NHAC… Resolvi comer todos eles assim frescos. E comi! Eu adoro figo. Se tiver que escolher entre morango, pêssego, manga, cereja ou figo, eu fico com o figo.
Aqui a receita que eu não fiz:
Figo Fresco com Queijo de Cabra e Lavanda
8 figos mission frescos – eles são os pequenos, mais escuros
2 colheres de sopa de queijo mascarpone
1/4 xícara de queijo de cabra amolecido
1/4 colher de chá de flores de lavanda secas
1/2 colher de sopa da mel
Coloque os figos cortados ao meio numa travessa. Misture os queijos, as flores e o mel. Coloque uma colher dessa mistura em cima de cada metade de figo.
o dedo caolho
Queridos amigos e amigas que me lêem. Se vocês têm um olho bom para os detalhes, com certeza já perceberam a minha tendência para fazer typos e erros banais em frases. Não quero dar uma de sonsa e deixar todo mundo pensando que fugi da escola. A verdade é… bem, a verdade é… cof cof… a verdade é que eu NÃO SEI DATILOGRAFAR! Cato milho com um dedo só e olho para o teclado enquanto escrevo. É um péssimo hábito enraizado, coisa de gente turrona que sempre se recusou a aprender o bê-á-bá do teclado. E não insistam em dicas, não sugiram cursos online, porque eu não vou fazer, não vou fazer, não vou e pronto! Só queria explicar por que eu faço tantos errinhos.
Mas não bastasse ser dedológrafa, ainda ando meio cegueta. Preciso de óculos para ler e não uso, porque não gosto, me irrita, me dá tontura. Isso tudo somado ao fato de que escrevo a maioria – não todos – os meus textos num pequeno laptop, onde eu perco muito em visualização. Isso tudo tem me deixado imensamente preocupada. Será que vou virar um velhinha [velhona] cheia das teimosias, ameaçando os incautos com um guarda-chuva pontudo quando confrontada, com o batom borrado, uma meia de cada cor em cada pé, achando sempre que tem razão e escrevendo receitinhas de canja de galinha e bolo de cenoura cheias de teupos… tiupos… tiupos… TYPOS?
Bolo rápido de polenta com limão e tomilho
Estava com essa receita engatilhada desde que recebi a edição de setembro da revista Martha Stewart Living. De hoje não podia passar, então me meti a assar um bolo, mesmo estando meio cansada e pensando em ir logo pra cama ver filmes e [tentar] ler um pouquinho da minha pilha de livros. O título da receita em inglês diz pão, mas o resultado é um bolo bem compacto com uma textura bem leve e úmida. O sabor dominante é de limão e o cornmeal contribui com a crocância. Está difícil parar de comer!
Polenta quick bread with lemon and thyme
3/4 xícara [1 1/2 tabletes] de manteiga sem sal amolecida
1/3 xícara de farinha de trigo
3/4 xícara de açúcar
1 colher de sopa de raspas de limão [amarelo]
2 colheres de sopa do suco de um limão [amarelo]
3 ovos grandes
1 colher de sopa da tomilho fresco
1 xícara de cornmeal [um fubá um pouco mais grosso – mas acho que fubá funciona bem]
1 colher de chá de fermento em pó
3/4 colher de chá de sal grosso
1/4 xícara de pine nuts [pinoles] tostados
Pré-aqueça o forno em 325ºF/165ºC. Unte buma forma de pão com manteiga e polvilhe com farinha de trigo. Na batedeira coloque a manteiga e o açücar e bata em velocidade média por 3 minutos, até formar um creme bem claro. Acrescente as raspas do limão e misture por mais um minuto. Vá adicionando os ovos um a um e batendo. Adicione o suco de limão e o tomilho. Adicione a farinha, o cornmeal, o fermento e o sal e misture bem. Coloque 2/3 das pine nuts. Coloque a massa na forma untada, salpique com o resto das pine nuts e asse por 50 minutos. Deixe esfriar numa grade.
norwegian toast
Inspirada na Reidun, a sogra do meu filho, que é uma norueguesa do balacobaco, fiz um toast para meu snack de domingo à noite. Uma fatia de pão preto tostado, uma camada finíssima de mostarda, fatias grossas de queijo Jarlsberg, fatias grossas de tomate temperado com sal, pimenta do reino e um fio de azeite. Pra comer com garfo e faca, acompanhado de uma cerveja encorpada.