guess who’s [not] coming to dinner?

Quando vi a receita dos pãezinhos assados da Cris, fiquei animadíssima, pois ela especificava um importante detalhe: a massa não precisava ser sovada, nem esperar crescer. Ah, tava pra mim! Cheguei em casa e fiquei uma meia hora zanzando pra lá e pra cá na cozinha—como eu SEMPRE faço—abrindo e fechando a geladeira, os armários e murmurando palavras sem nexo como, e agora, o que vou fazer, será o benedito? Felizmente me lembrei a tempo da receita da Cris e resolvi mandar bala. Parecia facílima, sem erro.
Separei os ingredientes e estava misturando tudo com cuidado para não esquecer nada quando ouvi um toctoctoc na porta de vidro do quintal. Era a minha inqulina, que às vezes aparece pra dizer oi. Abri a porta correndo e ela foi entrando, já tirando o casaco e ficando à vontade – percebi que iria ter uma auto-convidada para o jantar. Consegui ainda misturar outros ingredientes quando o telefone tocou—era o Uriel avisando que não viria jantar. Tive então certeza que teria uma convidada pro jantar…
Resolvi que os pãezinhos iriam ser recheados com salame e queijo. Pensei que a massa seria de enrolar, mas acho que fiz alguma coisa errada pois a massa ficou mole e acabei colocando na forma de muffins com uma colher. Apesar de feinhos, eles assaram bem e cresceram. Minha inquilina já estava quase roubando um, quando eu sugeri que comessemos decentemente na mesa.

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Arrumei a mesa e sentamos para comer os pãezinhos recheados, que não rechearam muito bem, acho que seria melhor misturar o recheio na massa. Mas eles ficaram com uma textura de bolinho bem fofinhos. Comemos acompanhados de uma salada simples, temperada com a maravilhosa Flor de Sal. Como acho que não acertei fazer esses pãezinhos desta vez, decidi que vou tentar de novo!

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Minha inquilina adorou tudo, disse que estava delicioso, maravilhoso, fora do comum – ela é assim exagerada! Comeu um pãozinho de queijo com marmelade e outro de salame, mesmo não gostando de salame. Outstanding.

uma grandona simpática

Vi no The Amateur Gourmet um link para uma compilação de frases da Julia Child, feita pela revista Esquire em 2000. Adorei as tiradas da espirituosa cozinheira. Vou listar aqui as que fizeram a minha cabeça e com as quais concordei.

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Julia Child aos 88 anos
Foto do NY Times
  • Being tall is an advantage, especially in business. People will always remember you. And if you’re in a crowd, you’ll always have some clean air to breathe. [*Julia tinha quase 1,90m!]
  • I’m awfully sorry for people who are taken in by all of today’s dietary mumbo jumbo. They are not getting any enjoyment out of their food.
  • Moderation. Small helpings. Sample a little bit of everything. These are the secrets of happiness and good health.
  • Drama is very important in life: You have to come on with a bang. You never want to go out with a whimper. Everything can have drama if it’s done right. Even a pancake.
  • I don’t think about whether people will remember me or not. I’ve been an okay person. I’ve learned a lot. I’ve taught people a thing or two. That’s what’s important. Sooner or later the public will forget you, the memory of you will fade. What’s important are the individuals you’ve influenced along the way.
  • Always remember: If you’re alone in the kitchen and you drop the lamb, you can always just pick it up. Who’s going to know?

fagioli toscano

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Comigo acontece assim: eu leio uma receita, muitas vezes sem ilustração e fico encantada! Pode ser pela maneira de preparar ou pelos ingredientes, ou até talvez pela inovação ou pela simplicidade. E foi isso que aconteceu com essa receita de feijões toscanos, quando eu lia distraidamente o Is There A Nutmeg In The House?, da Elizabeth David. Fui fisgada e já marquei a receita com um post-it roxo, trouxe o livro para a cozinha e me preparei para fazê-la.

A receita chama-se Fagioli alla fagiolara toscana porque é feito numa jarra especial, onde se cozinha os feijões. Procurei imagens dessa jarra, mas não achei. Fiquei extremamente curiosa. Os feijões indicados pela David são os brancos—haricots, cannellini ou pink borlotti. Mas eu queria usar um feijão norueguês que comprei no final do ano passado, bem interessante de uma cor marrom completamente incomum. Mandei bala com o feijão escuro mesmo. E na falta da jarra toscana, fiz na panela de ferro.

Deixei uma xícara dos feijões de molho durante a noite. No dia seguinte, coloquei na panela os feijões com mais água, um ramo de sálvia, um talo de salsão, meia cebola e dois dentes de alho. Cozinhei em fogo baixo até os feijões ficarem bem molinhos. Salguei e deixei descansar. Na hora de servir fervi mais um pouco, tirei o salsão, sálvia e cebola [o alho derreteu] e escorri o feijão com uma escumadeira. Coloquei numa vasilha funda, temperei com bastante pimenta do reino moída na hora, com bastante azeite, umas gotas de vinagre de vinho e salpiquei com cebola em fatias fininhas – usei a roxa, mas a David recomenda qualquer cebola suave. Esse prato pode ser comido quente ou frio, com a colher e fatias de pão frito no azeite e alho [eu omiti o alho, vocês sabem..].

Eu devorei um potão, sozinha, com uma taça de vinho tinto. Ninguém viu, tá limpo!

nº5

Minha amiga Eli e eu temos muitas coisas em comum, começando pelo dia do nosso aniversário. Duas librianas porretas, estamos sempre encontrando mais coisas em comum entre nós. A primeira delas, que descobrimos logo no início da nossa amizade e da qual nunca me esqueço, é a nossa paúra por estar/ficar cheirando a comida – roupa, pele, cabelo. Eu e a Eli temos uns rituais, umas maneiras de fazer as coisas na cozinha, de modo a estarmos sempre cheirosas. Acho que a maioria é como nós – uns mais obcecados, outros mais relax.

Com o meu olfato super apurado, eu sinto e cheiro de tudo e fico incrivelmente preocupada em não ser eu a figura com o cabelo fedendo a bife com cebola. Como a Eli, eu primeiro faço o rango e por último tomo um banho e lavo o cabelo. Faço verdadeiros contorcionismos e desenvolvo complicadas estratégias, pra não receber convivas cheirando a alho, ir a uma festa rescendendo a fritura, voltar pro trabalho denunciando que comi um misto quente, ou mesmo ir dormir com o cabelo cheirando a qualquer coisa que não seja shampoo e sabonete.

Já repararam que tem uns restaurantes de onde você sai fedendo? No inverno é pior, pois o casaco impregna, sem falar que nessa época os ambientes fechados abundam. Eu odeio sair de um lugar cheirando a comida. Quando faço o meu voluntariado no Mondavi Center – o teatro da Universidade – percebo quem chega vindo de um restaurante fumacê. Quando as pessoas entram no teatro e passam por você para serem levadas até as suas cadeiras numeradas, alguns cheiram a perfume, tem gente que capricha, uns cheiram muito bem, mas tem sempre aqueles que chegam parecendo que estão vindo do chinês da esquina, com um cheiro de fritura e molho de carne.

Hoje fiz um tofu frito pro jantar, dai pensei em dar uma passadinha no Co-op para pegar um pão. Cheirei e re-cheirei meu sueter de lã e decidi – no way, josé que eu vou dar esse bafão, aparecer em público cheirando a tofu frito. Fiquei em casa e fui tomar um banho – lavar bem o cabelo, que é como deve ser depois de lidar com uma frigideira!

bolinhos de milho e creme azedo

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Quando vi essa receita de cupcake no blog winosandfoodies.com resolvi guardá-la, pois gostei da misturinha de cornmeal, sour cream e Grand Marnier. Também me animei, porque iria poder gastar meu licor. Tonha da Lua que sou, comprei uma garrafa de Grand Marnier e uma semana depois esqueci que tinha comprado e comprei de novo. Então tenho duas garrafas e preciso usar – que venham receitas assim!

Como eu tinha um chá de bebê para ir e precisava levar um quitute, achei que esses cupcakes seriam perfeitos para a ocasião. Enrolei até quando pude, porque vocês sabem, não sou uma baker – asso pouquíssimo e não sou muito boa com bolos, cookies. Mas respirei fundo, tomei coragem e mandei bala.

Primeiro problema logo no início: as medidas em gramas. Eu não tenho uma balança. Worry no more – não tenho balança, mas tenho um marido engenheiro, que foi calculando mais ou menos a densidade dos ingredientes e a sua respectiva medida em ounces. Esse processo dele medindo densidade me irritou profundamente e fez com que eu me atrapalhasse toda, errando na medida de sal e jogando os ingredientes na batedeira sem perceber que tinha que separar os secos dos molhados e depois juntar. Aaaaah, foi tudo numa gororoba só, misturei e coloquei nas forminhas. Assou e – MILAGREEEEE – ficaram bons! Tão bons que o “you-know-who” elogiou, os cupcakes sumiram na festa e a amiga grávida pediu pra ficar com os últimos. Iaruuuu, vitória, eu fiz cupcakes e eles ficaram gostosos!!

Sour Cream Cornmeal Mini Cakes
150 g [10 oz] de farinha de trigo
150 g [10 oz] de cornmeal
200g [ 8 oz] de açúcar
2 colheres de chá de fermento em pó
1/4 colher de chá de sal
3 ovos caipiras
360 g de sour cream
170 g [um tablete e meio] de manteiga sem sal derretida
1 colher de chá de vanilla paste * não tinha, não usei
1 colher de sopa de Grand Marnier

Aqueça o forno a 350ºF/180ºC.

Unte duas formas de 12 muffins [eu usei as forminhas de papel dentro das formas de muffin]

Misture a farinha, cornmeal, açúcar, fermento e sal. Bata os ovos. Junte o sour cream. Misture bem, Adicione os ovos batidos. Adicione a baunilha e o Grand Marnier. Bata bem. Jogue essa mistura na mistura de ingredientes secos. Misture bem e coloque colheradas da massa nas forminhas. Asse por 20 minutos, ou até os bolinhos ficarem dourados. Deixe esfriar numa grade e salpique com açúcar de confeiteiro.

bananas flambadas ao rum

Minha inquilina passou o final de ano no Caribe e me trouxe de presente uma garrafa de rum e uma caixa de charutos feitos a mão na República Dominicana. Eu agradeci e pensei —o que vou fazer com isso? Os charutos eu ainda não sei, mas com o rum eu decidi fazer algumas comidinhas. A primeira delas veio rapidinho enquanto eu pesquisava receitas com a bebida.

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Bananas Flambadas ao rum
4 bananas maduras e firmes cortadas ao meio no sentido do comprimento
2 colheres de sopa de manteiga sem sal
1/4 xícara de açúcar mascavo
1/2 xícara de rum escuro
Crème fraîche ou sour cream para acompanhar
Numa frigideira larga derreta a manteiga e o açúcar, mexendo bem. Adicione as bananas e frite dos dois lados. Vire com cuidado para elas não quebrarem.
Adicione a xícara de rum e flambe – muito cuidado nessa hora – até todo o álcool evaporar. Sirva imediatamente com uma colher de creme no topo.

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sopa de jerusalem artichoke

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A primeira vez que li sobre a alcachofra de jerusalem foi no livro da Isabella Beeton. Achei que era uma variedade da alcachofra normal, mas depois que a vi que saquei que ela é uma raiz, também chamada de sunroot ou sunchoke. Tem uma explicação muito boa sobre essa raiz na wikipedia. Ela lembra muito a textura do gengibre, mas o sabor se assemelha muitíssima ao coração da alcachofra. Eu fiz uma sopa bem simples com elas e um alho poró. Mas deixo aqui a receita da Isabella Beeton para uma sopa mais incrementada, usando essa raiz interessante.

Jerusalem Artichoke Soup
(A White Soup)
3 fatias de bacon ou presunto
Talos de salsão
1 nabo
1 cebola
100 gr de manteiga
2 quilos of jerusalem artichokes
1/2 litro de leite fervendo ou 1/4 de litro de creme de leite
Sal e pimenta cayenne a gosto
2 1/2 litros de caldo de legumes

Coloque o bacon/presunto e os legumes, tudo cortado em fatias numa panela com a manteiga. Refogue tudo por uns 15 minutos, mexendo sempre. Lave e descasque as alcafrofras, corte em fatias, adicione na panela e junte o caldo de legumes. Deixe ferver até tudo virar uma polpa cremosa, adicione os temperos – sal, pimenta – deixe ferver por mais 5 minutos e passe a sopa por uma peneira [liquidificador hoje, né genteee!], Retorne a sopa para a panela e deixe ferver de novo por mais 5 minutos. Adicione o leite ou creme de leite fervendo. Sirva com pequenos pedaços de pão frito na manteiga.

Leite Queimado

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Há dias de inverno em que até os ossos tremem. Sei lá por que, dá aquela friaca, um telecoteco físico, que só esquenta se você mergulhar o corpão num banho fervendo, ficar com os pés em cima do aquecedor ou tomar alguma coisa quente bem substanciosa. Meu reino por um sopão! Mas na hora do almoço não tinha sopão. Beber o que, então? Chá? Nãã… Chocolate? Nããã…

Lembrei do leite que minha mãe costumava fazer e que bebíamos nas noites geladas de inverno, quando anunciavam que ia ter geada e éramos obrigados a vestir o joguinho de camisola e calça de flanela, que minha mãe mandava fazer especialmente para essas noites—caso nos descobríssemos dos acolchoados de lã de carneiro ou de penas de ganso. Com a calça por baixo da camisola não corríamos o risco de pegar friagem nas pernas. Com as crianças, o seguro morria de velho!

Então nessas noites frias, minha mãe preparava o Leite Queimado, que nós bebíamos como se fosse um néctar. Ele servia também para abaixar febre, acalmar dores de garganta, tratava do frio e de qualquer eventual achaque piriritico de criança inventadora de moda. E como aquilo esquentava, mãe do céu! Eu, que sempre fui uma pessoa avessa aos apertamentos e confinamentos de qualquer espécie, já ficava toda incomodada com tanta roupa, puxava a calça de flanela com os pés e a deslizava para fora do acolchoado. Minha mãe enlouquecia com isso!

Hoje, me esquentei na hora do almoço com uma xícarazona do Leite Queimado, que sempre que acho que preciso, faço. E é a coisa mais simples e fácil.

Derreta duas [ou três, ou quatro—dependendo do tamanho da sua gana pelas cousas dolces] colheres de açúcar numa panela em fogo médio. Eu usei açúcar demerara, mas pode usar qualquer outro, branco, mascavo. Quando o açúcar estiver derretido, jogue uma xícara de leite e mexa bem, até todo o caramelo derreter novamente e se misturar no leite. Apague o fogo, transfira o Leite Queimado para uma xícara e beba imediatamente, sentindo o vapor do leite no rosto e queimando um pouco os beiços [faz parte!]. Depois me diga se não esquentou…

Ter ou não ter?

Eu confesso que ainda olho com muita cautela e desconfiança para certos utensílios de cozinha feitos de silicone. Adoro minhas espátulas, meus pincéis sem cara de pincéis, e o meu mais novo Caco pega-panelas. Comprei outro dia um forro de silicone para assadeiras. Ainda não usei. Já vi muitas formas para bolo ou muffins, até da Le Creuset, mas sinceramente elas ainda não me seduziram. Olho, olho, coço o queixo, penso, penso, mas continuo silicon-ess em termos de formas. E não é nem questão de preço, pois aqui essas formas não custam tão super mais caro que as de metal, e algumas ainda veem acompanhadas de um suporte—uma pequena ajuda para a moleza do produto.
Hoje saiu um artigo no NY Times comentando e avaliando os utilitários de silicone. A jornalista fez até uma lista dos itens que ela recomenda e não recomenda. Acho que a minha intuição estava certa quanto às formas de bolo. Parece que na prática nem tudo funciona tão bem quanto se imagina. Vou continuar olhando, coçando o queixo e pensando…

três coisinhas boas

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Uma coisinha boa é um chazinho de gengibre: põe água numa panela, joga muitos pedacinhos de gengibre ralado bem fininho, uns cravos da índia e o suco de um limão. Ferve por uns minutos, coa na xícara, adoça com mel e glup, glup, glup, hmmmmmm….
Outra coisinha boa é o sal de limão, feito com a casca do limão que foi usado no chá. Raspa ele todinho com o raspador/ralador, mistura as raspas no pilão [óia tô usando!] com sal marinho e põe numa vasilha pra secar. Secando, coloque num container com tampa e use como quiser.
A última coisinha boa é essa pimentinha perdida, que eu achei no fundo da minha cesta orgânica. Tirei foto dela, porque agora só vou ver outra assim no meio do verão.