
Nunca fiz segredo das minhas dificuldades na cozinha, que por sinal são muitas. Outro dia, refletindo sobre o assunto, concluí que sou boa fazendo saladas e, talvez, inventando sorvetes. Nada mais. Todo o resto cai na categoria de desafio pra mim. Bolos, bolachas, tortas e massas em geral são algumas delas. Por isso nunca me meti a fazer certas receitas. Aquelas que me assustam, pois provavelmente estarão fadadas ao fracasso e consequentemente à frustração da decepcão. Madeleines era uma. Apesar de já tê-las usado como título de uma das minhas histórias proustianas de memória , nunca tinha feito a receita. Sempre passava batido pelas formas de conchinhas nas lojas de utensílios culinários onde encaroço regularmente. Até que às vezes ousava dava uma piscada com um brilho de purpurina pros lados das forminhas, mas logo desviava meus olhos, para não cair na tentação. Frustrações já tenho muitas, na verdade tenho uma coleção.
Mas o destino se encarregou de me colocar ao encontro das madeleines, através de um presente que ganhei da querida Brisa. As formas, lindas e com formato de conchinhas arredondadas, chegaram pelo correio e me incentivaram a respirar fundo e decidir finalmente enfrentar este desafio.
Escolhi esta receita de madeleines da Heidi que já tinha namorado um tempo atrás. Eu só precisava do momento certo. Ela me chamou a atenção por causa da brown butter. Achei que ficaria interessante. Tenho receio de me jogar em receitas complicadas, mas adoro fazer coisas com detalhes diferentes. Simples, porém sofisticado. Este é o meu estilo. Como sempre que vou fazer algo que requer mais atenção e concentração, reservei a tarde tranquila de domingo para me jogar nesta aventura. Segui todas as instruções e medidas. Só tremi um pouco na base quando vi que teria que fazer duas rodadas de forno, já que esta receita produz massa para mais do que as minhas 16 conchinhas. Deu um pouco mais de 2 duzias e ficaram deliciosas. A brown butter deixa a massa com um sabor de nozes. Pecan—foi o veredito do sabor proferido pela Marianne, que provou as madeleines na segunda-feira com repetidos elogios.
1 1/2 tablete [170 gr ou 6 ounces] de manteiga
3/4 xícara de farinha de trigo
4 ovos grandes
1 pitada de sal marinho grosso
2/3 xícara de açúcar
Raspas de 1 limão grande
1 colher de chá de extrato puro de baunilha
Açúcar de confeiteiro para polvilhar
Formas especiais para madeleines.
Pré-aqueça o forno em 350ºF/ 176ºC.
Derreta o 1 1/2 tablete de manteiga numa panela pequena em fogo médio até o liquido ficar amarronzado e com um aroma de nozes, mais ou menos uns 15 minutos. Coe essa manteiga derretida para remover os resíduos que vão se acumular no fundo da panela, usando uma peneira forrada com uma folha de papel toalha. Reserve.
Enquanto a manteiga esfria, unte as forminhas de madeleine com bastante manteiga, caprichando nas dobras do desenho. Polvilhe com farinha e reserve.
Coloque os ovos e a pitada de sal na vasilha da batedeira e encaixe o batedor de arame. Bata os ovos em alta velocidade até triplicar de volume, mais ou menos uns 3 minutos. Continue batendo em alta velocidade e vá adicionando o açúcar bem devagar. Bata por mais 2 minutos até a mistura ficar bem densa. Desligue a batedeira a adicione as raspas de limão e a baunilha, incorporando delicadamente com uma espátula. Espalhe a farinha por cima da massa e revolva gentilmente, ainda usando a espátula. Por último, adicione a manteiga derretida e incorpore bem com a espátula. Coloque a massa cobrindo 3/4 das forminhas e leve ao forno por 12 a 14 minutos, ou até que as madeleines fiquem bem douradas. Remova as madeleines da forma, deixe esfriar brevemente numa grade e polvilhe com açúcar de confeiteiro usando um pequeno coador de chá.