
[nove]
Gosto de marcar esta data, pois ela mudou muita coisa pra mim. Mudou principalmente a maneira com que passei a me comunicar, contar histórias, me expressar. Logo que encontrei a ferramenta do Blogger, cliquei aqui, cliquei ali e olha só—comecei escrevendo sobre o Steve MacQueen. No inicio não sabia muito bem como fazer, mas logo fui achando outros blogs e outros blogs foram me achando, Não éramos muitos naquele tempo, talvez uns 15, no máximo 20. Escrevendo fora do Brasil era eu, a Graziela e o Cris Dias. No Brasil estavam a Inêz, a Mariana Newlands, a Zel, o Zamorim, o Jean Boechat, o Nemo Nox e a Pink Dress que já contava com participações especiais da Dadivosa. Depois foram surgindo outros muitos, que ainda estão ativos, como eu.
O sistema de auto-publicação dos blogs foi pra mim o achado do novo século, literalmente. Nunca me senti tão a vontade para escrever meus pensamentos, me expressar sem me preocupar se estava ou não incomodando alguém. Porque no blog o espaço é somente seu. Te visita quem quer e quem gosta. Para mim os blogs viraram sinônimo de absoluta liberdade, que ainda permite uma completa customização. Essa foi a primeira cara do meu primeiro blog, que evoluiu e se transformou, saiu do blogger, testou um publicador inovador e migrou definitivamente para onde estou até hoje.
Gosto de marcar esta data, porque foi a partir daquele 22 de outubro que me transformei numa escrevinhadora diária. Meus blogs estão no meu testamento, com a instrução de que eles continuem disponíveis, mesmo quando eu não puder mais atualizá-los. Nunca escrevi um livro impresso em papel, mas tenho certeza que o que tenho online já basta para marcar definitivamente minha presença neste planeta.
tomatitos borrachos

Receitinha irresistível, surrupiada da querida Fer, que foi praticamente o prato de despedida da estação dos tomates. Comprei um montão, de uma variedade bem redondinha, um pouco maior que o cereja e fiz conforme a Fer explica. Os tomatitos borrachos ficaram muito apetitosos. Hei de repetir essa receitinha mais vezes no próximo verão.
500 g de tomates cereja
2 colheres de sopa de vodka [*usei uma orgânica, super cremosa]
1 colher de sopa de vinagre de cidra [vinagre de vinho branco também serve]
1/2 colher de sopa rasa de açúcar
1 colher de chá de raspas de limão siciliano
sal maldon, sal korsher, sal marinho ou flor de sal – com sal fino acho que não fica bom
pimenta-do-reino moída na hora
Comece pelando os tomates. Parece uma trabalheira, mas não é. Corte a pele da parte inferior dos tomaticos em cruz. Jogue-os em água fervendo de um só golpe, deixe uns 10 segundos ou até a pontinha cortada começar a abrir, depois assuste-os numa vasilha com água gelada. Puxe a pele deles todos e já está. Reserve-os numa travessa rasa.
Misture a vodka, o vinagre, o açúcar e a raspa de limão siciliano até o açúcar dissolver. Envolva os tomates nessa espécie de caipirosca avinagrada, cubra-os bem e geladeira por até uma hora. [*eu deixei de um dia para o outro] Na hora de servir, você pode salpicar o sal e a pimenta, ou deixá-los à parte para que cada conviva tempere o petisco do seu modo.
feijoada
[the north american way]
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Davis é uma cidade universitária e portanto a maioria dos restaurantes aqui visam atender a clientela estudantil—pessoal jovem, sem muita grana e com muita fome! São dezenas de all you can eat sushi, pizzarias, mexicanos com porções gigantescas, lugares que vendem sanduíches imensos e outras bodegas similares. Mesmo assim temos a sorte de ter alguns restaurantes mais sofisticados, que seguem os preceitos da nova cozinha californiana, usando ingredientes da melhor qualidade, tudo fresquinho, geralmente de produção local, servindo porções decentes, nada daqueles pratões que alimentam tranquilamente cinco elefantes. O Tucos é um desses restaurantes e talvez o menos conhecido, pois fica num espaço bem pequeno e quase escondido em downtown, sem placas piscantes na entrada.
Nós adoramos o Tucos e sempre comemos bem lá. O lugar nunca está lotado. Raramente precisamos fazer reserva. E somos sempre muito bem tratados. Vira e mexe encontro o proprietário fazendo comprinhas no Farmers Market ou no Co-op. O Tucos é o meu tipo de restaurante, membro ativo do movimento Slow Food, com uma atmosfera down-to-earth, servindo comida de excelente qualidade. Portanto é sempre no Tucos que levamos nossos visitantes. Desta vez recebemos a Maryanne e o Paulo para uma visitinha à cidade e marcamos de almoçar no Tucos.
Um dos grandes atrativos do Tucos é o menu eclético com algumas comidas sul americanas e o fato deles oferecerem sucos naturais de frutas brasileiras, além do pão de queijo [adaptado dessa receita da Pati] e a feijoada. Nunca tinha pedido a feijoada, com o pretexto de que feijoada eu sei fazer e faço muito bem, sem falsa modéstia. Mas nesse almoço com a Maryanne e o Paulo, resolvi me jogar no feijão preto, para ver se o nosso prato tradicional estava sendo bem interpretado. Foi um almoço muito simples, não teve confusão de pedidos, pois todos pediram a mesma coisa: suco de fruta, pão de queijo com trufas e feijoada. Adicionei uma porção de azeitonas no pedido, só porque não consigo resistir à essas deliciazinhas. Os sucos de maracujá e goiaba que pedimos estavam ótimos, bem forte e bem grossos, batidos com gelo como num smoothie. Do pão de queijo nunca tenho reclamação. Chega quentíssimo à mesa, molinho, cheiroso, eu adoro. A feijoada não decepcionou, mas tenho algumas criticas. A garçonete nos preveniu que o prato continha nozes, caso alguém fosse alérgico. Nozes, nos entreolhamos com cara de interrogação. Nozes? Bom, na farofa tinha nozes e uvas passas brancas. Desculpa, mas uva passa na farofa da feijoada eu nunca vi. Essa parte da adaptação esticou o limite um pouco além do necessário, não? Já tem a fatia de laranja, não precisa de mais ingredientes doces na feijoada. Faltou também um molhozinho de pimenta, mas tudo bem, perdoado. O feijão estava saboroso, com carninha de porco desfiada. Faltou a carne-seca, mas aí também é pedir demais. A feijoada do Tucos é muito boa. Quem nunca provou uma feijoada brasileira, vai ter uma idéia correta do que o prato realmente é. Não é perfeita, mas não tem enganação. Uma feijoada adaptada, do jeito americano, ou melhor, californiano.
*Ah, faltou também a cairpirinha, né Maryanne?
**As sobremesas não tinham nada de brasileiras, mas estavam perfeitas. Pudim de pão, shortcake de morango e torta de maça com caramelo.
tem dias que, nem sei viu
Não bastava ser uma segundona, eu ter acordado com a escuridão ainda presente, o Uriel estar viajando e eu ter esquecido de comprar pão. O Misty precisou vomitar toda a comida de salmão que ele devorou no breakfast pelo corredor, pelos tapetes e carpete. E eu ainda precisei pisar sem querer no vômito e carimbar outras partes do carpete e tapetes com a meleca. Também não foi suficiente o mau humor usual, mas eu tive que subestimar a chuva e pensar que dava pra pedalar segurando o guarda-chuva. E não deu. Gastei minutos preciosos correndo pelo quarto, trocando de roupa freneticamente como eu sempre faço e saí atrasada, enfrentando a chuva e o percurso até o trabalho à pé, correndo contra o tempo, treinando disfarçar a cara de bunda de quem chega depois da hora.
Não bastava ser uma segundona e todo o resto que aconteceu, mas eu tinha que cometer um erro de escolha na hora de me vestir e assim me auto infligir o miserê de passar o resto do dia com um visual fug. Sem brincadeira, se eu vier trabalhar enrolada num saco vazio de arroz basmati tailandês, ninguém no meu circulo diário vai dar um suspiro, quanto menos se importar. Mas eu me debato com o maldito dilema fashion todo santo dia. Me visto visando o conforto, já que vou ficar sentada por oito horas, com algumas levantadas e caminhadas necessárias. Não preciso me vestir de maneira específica, meu trabalho não impõe nenhum código de vestimenta, não preciso usar terninho, nem sapato social, posso ir trabalhar vestida de camiseta, bermuda e chinelo de dedo e talvez seja isso que me estimule a fazer tanta besteira. Por exemplo, ninguém dever ter entendido o que eu estava fazendo de vestido longo estampado no dia que a tempestade do tufão japonês nos castigou. Já para essa fatídica segundona escolhi uma tunica fofa de florezinhas verdes e manga comprida com camiseta cinza por baixo, colete beige por cima, echarpe longa marrom, bermuda levemente balonê de veludo cotelê verde. Até aqui tudo estava bem. Entornei o caldo quando decidi vestir uma meia beige até o joelho e tênis de alpinista. Parece até que eu não tenho espelho em casa. E de castigo, passei o dia achando que todo mundo com quem eu cruzava estava rindo de mim. Se existisse um what i wore today—the clown version, eu poderia certamente participar com sucesso.
Vestida assim, passei o dia camelando e segurando o guarda-chuva, pra lá e pra cá. Resolvi pegar uns livros na biblioteca. Fui e voltei, fui e voltei, porque da primeira vez esqueci minha carteirinha da universidade. Voltei carregando livrões pesados sob a chove chuva. Me atrasei na volta para casa no final do expediente e segunda, vocês sabem, é dia de buscar a cesta orgânica. Na correria pra mandar uma mensagem pra Marianne avisando que estava atrasada, esqueci de trancar a porta da frente da casa e saí pela garagem. Só notei que minha casa ficou aberta, quando fui abrir a porta pra Marianne. As verduras e legumes chegaram mais imundos que o normal, por causa da chuva. Felizmente consegui convencer a Marianne a levar a mega acelga, pois eu ainda tenho uma inteira na geladeira. Lava lava, lava lava, gatos impedindo o meu livre trânsito na cozinha, lembrei que ainda tinha que trocar a roupa de cama e banho e limpar o vômito do Misty no andar de cima, que nessa altura já estava uma crosta ressecada.
Minha maratona dessa segundona chuvosa merecia um prêmio. Quando tenho dias complicados, quero comer algo que me deixe absolutamente feliz. E esse algo é sempre macarrão alho e óleo. Fiz a minha receita básica, usando um espaguete de farro italiano, bastante alho micro picadinho, três filezinhos de aliche bem picadinho refogados em bastante azeite e MUITA, MUITA, MUITA salsinha fresca picada. Pimenta moída na hora, bastante queijo parmesão ralado bem fininho na hora de servir, uma taça de vinho e uma salada de tomate para acompanhar, voilá! Comi bastante e fiquei feliz. Fiz ainda muitas outras coisas depois do meu jantar solitário e fui deitar me sentindo absurdamente cansada. Ninguém duvida que qualquer dia corrido cansa, mas um dia assim, como essa segundona, cansa muito mais.
sopa de abóbora, pera & gengibre

Sopas são ótimas para refeições rápidas, saudáveis e robustas. As frias alimentam e refrescam. As quentes, alimentam e confortam. Já estamos engatando segunda nas nossas noites agradáveis de outono e durante a semana o cansaço tem me dado verdadeiros olés, não me deixando com nenhum ânimo pra inventar muita moda no jantar. As sopas criativas têm vindo a calhar. Essa saiu da newsletter da Culinate, que usou uma receita da Deborah Madison. Eu usei abóboras delicata e peras bartlett bem pequenas e bem macias.
Serve 6 pessoas
1 quilo de abóbora
3 peras maduras, mas firmes
1 pedaço de 5cm de gengibre fresco cortado em fatias finas
Azeite ou óleo
Sal marinho
1 cebola cortada em fatias finas
1/2 xícara de crème fraîche ou sour cream [*opcional—não usei]
Pré-aqueça o forno em 425ºF/ 220ºC. Coloque as abóboras com a parte cortada virada para baixo numa assadeira forrada com papel aluminio. Junte as peras, cortadas ao meio, sem as sementes. Salpique com algumas fatias de gengibre, tempere com sal, regue com azeite e asse por mais ou menos 1 hora, ou até as abóboras e peras ficarem bem macias e caramelizadas. Você pode assar tudo um dia antes e guardar na geladeira.
Remova a polpa assada das abóboras e peras. Numa panela coloque azeite, adicione a cebola e refogue até bem macia e levemente dourada, por uns 10 minutos. Adicione o resto do gengibre e a polpa de abóbora e pera. Junte 2 xícaras de caldo de legumes ou um caldo feito com as sementes da abóbora. Deixe ferver e cozinhe por uns 20 minutos até engrossar. Acerte o sal. Bata tudo no liquidificador ou use o mixer de mão. Sirva com uma colher de crème fraîche ou sour cream. Eu usei uma outra opcão que a receita oferece para servir a sopa, fritando fatias finíssimas de gengibre em óleo vegetal até elas ficarem bem crocantes. Seque em folhas de papel toalha e tempere com sal, se quiser. Sirva um punhadinho dos chips de gengibre no meio da sopa.
almôndegas de salmão

Com as sobras do salmão selvagem que fiz assado na churrasqueira, preparei almôndegas. Misturei a carninha do peixe, que já estava temperada com sal e pimenta, com um tanto de mostarda dijon, ciboulettes e salsinha picadas e farinha de pão, que faço na hora moendo o que estiver disponível [pão duro ou bolachas integrais] no processador. Não tem medida, fui testando a textura, até dar a liga e dar pra formar bolinhas. Enrolei as almôndegas e assei no forno aquecido em 400ºF/ 205ºC até elas ficarem assadas. Não deixe assar muito para elas não ficarem ressecadas. A mostarda foi o ingrediente usado para dar liga. Sempre exagero na quantidade das ervinhas, deixando os bolinhos cheios de raminhos. Mas isso pra mim não é um defeito.
pro sábado



sopa de abobrinha, arroz & manjericão

Outra receita do livro Love Soup da Anna Thomas. Essa perfeita para o encerramento do verão, quando estamos tristemente acenando um good bye so long farewell para as abobrinhas e o manjericão. Fiz exatamente como manda a receita, sem mudar nada. Apenas não bati no liquidificador, pois preferi uma sopa com textura pedaçuda. Ficou muito substanciosa, serviu jantar e sobras no almoço do dia seguinte.
Serve de 6 a 8 pessoas
900 gr de abobrinha [*usei essas bolotudas]
1 1/4 colher de chá de sal marinho
3 colheres de sopa de arroz arbóreo [ou arroz comum]
4-5 colheres de sopa de azeite de oliva
2 cebolas médias picadinhas
Pimenta do reino moída na hora
3 xícaras de caldo de legumes
2 xícaras de folhas de manjericão fresco picadas
3 colheres de sopa de suco de limão
Para servir: azeite de oliva, queijo de cabra cremoso e raspas da casca de limão [*opcional]
Corte ou rale as abobrinhas [eu ralei no ralador manual] e coloque numa panela bem grande com 1 1/2 xícaras de água, 1 colher de chá de sal e o arroz cru. Deixe ferver, abaixe o fogo, cubra a panela e deixe cozinhar por 30 minutos. Enquanto isso aqueça 2 colheres de sopa de azeite numa frigideira, adicione a cebola e uma pitada de sal e deixe cozinhar em fogo baixo até a cebola ficar caramelizada. Quando a cebola estiver bem macia e amarronzada, jogue tudo na panela com as abobrinhas. Moa pimenta do reino a gosto, adicione 3 xícaras de caldo de legumes e as folhas de manjericão. Deixe cozinhar por uns minutos. Bata tudo no liquidificador [com cuidado, pois vai estar quente] ou usando o mixer de mão. *Eu pulei essa parte, deixei a sopa inteira e pedaçuda. Na hora de servir adicione o suco de limão e 2 colheres de sopa de azeite de oliva. Ajuste o sal e sirva, com uma colher de queijo de cabra por cima e raspinhas da casca do limão, se quiser.
romãs – romãs – romãs


Para compensar as noites, finais de semana e jantares que enfrento sozinha no final do verão, sempre ganho um saco de romãs maravilhosas que meu marido traz da fazenda Paramount, no sul da Califórnia. Essa fazenda é uma das maiores produtoras de pistachios e também de romãs, que são exportadas para o Japão ou viram o popular suco Pom Wonderful. Essas romãs são absolutamente incomparáveis—enormes, suculentas e sempre dulcíssimas, pois são produzidas com um cuidado super especial. Eu me acabo de tanto comer as sementinhas. Levo de snack no trabalho, onde como de colherada. E o que sobra salpico nas saladas. Nem cozinho muito com elas, porque gosto delas al natural.







