polenta taragna com alho-poró

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Sem paciência para pensar em nada mais complicado que ferver água e jogar algo dentro, mas necessitando de uma comida reconfortante, optei pela polenta, acompanhada por alho-poró refogado. Pronto! A polenta taragna—que é uma mistura de milho e trigo sarraceno, com uma cor linda e textura densa, foi cozida somente na água. Eu pensei em usar um caldo de galinha [ou melhor, de peru] que fiz na segunda-feira, mas passei em branco, como eu sempre faço. Oh well, com água ficou tão bom quanto. Refoguei o alho-poró numa mistura de azeite e manteiga, tasquei umas pitadas de sal. A polenta ganhou uns pedacinhos de queijo azul de Point Reyes, que derreteram e sumiram na massa. O jantar perfeito, para esse meio de semana um bocado atribulado.

what would Michael Pollan eat?

Michael Pollan acabou de lançar um livro novo—In Defense of Food: An Eater’s Manifesto, que eu já comprei e estou esperando chegar. O livro parece ser a última palavra de Pollan no assunto alimentação. Ele quer rolar a bola pra frente, pesquisar e escrever sobre outros assuntos. O negócio é que o impacto do O Dilema do Onívoro o transformou numa espécie de guru do comer bem e certo, o revolucionário da alimentação e da conscientização coletiva sobre os horrores da criação de animais aqui nos EUA. E vai ser difícil ele se esquivar desse papel agora. Uma entrevista com ele hoje no San Francisco Chronicle dá algumas dicas—What would Michael Pollan eat?
O que Pollan tem a dizer: eat food. not too much. mostly plants. A base dessa revolução é simplesmente o retorno à maneira tradicional de se alimentar. Do tempo em que comer estava intimamente relacionado com o prazer dos sabores e a manutenção da saúde do nosso corpo. Ele aconselha que não se caia na armadilha de tratar a comida como suplemento de dieta. Comer blueberries pelos antioxidantes e não pelo seu delicioso sabor. Ele também pede que todos ignorem as dietas low-fat e low-carb. Comer uma boa variedade de frutas, verduras, legumes, grãos. Escolher a proteína com cuidado, tentando comprar carne do boi que pastou, da galinha que ciscou livremente, do porco que chafurdou, do peixe pescado com linha, prestando atenção na sustentabilidade de todo esse processo.

Jacob’s cattle beans

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Esses feijões heirloom vieram como treat na cesta orgânica desta semana. Deixei de molho de um dia para o outro e depois cozinhei até eles ficarem macios. Escorri o feijão [e guardei a água do cozimento para sopa] e temperei ainda bem quente com bastante azeite, um pingo de vinagre de champagne, flor de sal e bastante coentro picado, que era a erva fresca que eu tinha disponível. Os feijões foram o centro da refeição. Simples assim.

pão de queijo da Neide

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Neide, você transformou o nosso jantar num momento feliz, com sua prática receita de pão de queijo. Muito melhor do que a que eu tinha e usava em tempos longínguos. Segui a receita à risca, usei até o alecrim e a Flor de Sal, não mudei nada, nadinha. Essa vai pro meu caderninho!
pãozinho de polvilho com queijo
½ xícara de leite (120 ml)
¼ de xícara de azeite (60 ml)
1 ovo caipira pequeno
1 xícara de polvilho doce (tapioca starch, fécula de mandioca, goma seca)
2 colheres (sopa) de queijo parmesão ralado
1 pitada de sal ou a gosto
Flor de sal e alecrim para espalhar sobre a massa
Coloque no copo do liquidificador o leite, o azeite, o ovo, o polvilho, o queijo e o sal. Bata bem e distribua em forminhas de empada não untadas. Espalhe um pouco de flor de sal e folhinhas de alecrim por cima e leve ao forno bem quente. Deixe assar por cerca de 20 minutos. Rende: 24 pãezinhos.

that’s the name of the game

Nesses tempos em que somos todos super modernex com nossas sacoletas reusáveis, surfando na crista da onda da modinha eco-lógica, me lembrei do supermercado canadense onde eu fazia minhas compras semanais, no inicio dos anos 90. O Real Canadian Superstore já tinha naquela época, e com certeza muito antes de eu aterrisar no Alaska-toon, um sistema de sacola reusáveis que era muito bem bolado e implementado. Pensando no esquema de hoje, eles ainda estão a frente de todos os supermercados norte-americanos que eu conheço. Notem bem, lá no Superstore não havia a opção ou domínio das sacolas de papel, como existe aqui. O que imperava lá era o seguinte: eles tinham umas sacolas de plástico amarelo muito das vagabas, que não seguravam nada, rompiam facilmente e que eram vendidas por unidade—acho que custavam dez centavos cada. E eles tinham as sacolas reusáveis, também de plástico, mas aquele plástico resistente, as ditas seguravam mesmo, eu tive as minhas por muitos anos e nunca precisei repôr. Essas, que você usava e re-usava, custavam vinte e cinco centavos. Pescou a estratégia? Gasta quinze centavos a mais agora, mas economiza dezenas de patacas futuro adentro. O lema do Superstore era exatamente esse: economia! E funcionava. Eu, por exemplo, carregava comigo as sacoletas robustas toda vez que ia às compras, mesmo durante aquele inverno miseráver que fazia a gente esquecer até quem era, o que estava fazendo ali, o endereço, o passado, os pecados, mas as sacolas reusáveis nunca eram esquecidas.

Outro esquema muito bem bolado desse supermercado era o dos carrinhos no estacionamento. Imaginem semanas de frio intenso, tipo mais frio que um deep-freezer. Seria desumano botar um funcionário vestido de astronauta, recolhendo carrinhos espalhados pelo lugar. O Superstore tinha um estacionamento interno, mas tinha dias que não se achava lugar e tinha-se que estacionar o carro lá fora mesmo. Então pra evitar o caos de carrinhos abandonados pelos clientes ansiosos para se mandarem dali e não precisar torturar nenhum funcionário, o supermercado adotou o seguinte sistema: os carrinhos ficavam presos numa estrutura, você ia até lá, enfiava um quarter—uma moeda de vinte e cinco centavos, e retirava o carrinho, que automáticamente se soltava do mecanismo. Quando você terminava, levava o carrinho de volta, encaixava e plic, pegava de volta seu quarter. O que um ser humano não faz por vinte e cinco centavos, hein? Os carrinhos voltavam direitinho para o seu lugar. Era muito raro ver um carrinho solto, porque também se aparecesse um ele iria ser logo agarrado por alguém saltitante de alegria por ter lucrado um quarter!

Incrível como se pode alcançar a ordem, o progresso e a civilidade apenas mexendo no bolso do povo. E nem precisa ser com altas somas. Uns centavos já são mais do que suficientes.

foi uma explosão de sabores!!!

Depois de quase dois anos sem pôr os olhos nos programinhas do Food Network, resolvi mudar de canal e ver o que andava acontecendo por lá. Eu enchi do Food Network faz tempo. Peguei uma ojeriza de todos os chefes celebridades que têm programas naquele canal. Cheguei ao ponto de não suportar nem a voz dos cumpadres. Djezuis Craist, será que o pré-requisito pra ter um programa no FN é ter uma personalidade falsa e irritante? Por causa disso eu parei, há mais ou menos dois anos. Parei.

Então na minha clicada de retorno ao Food Network, eu esperava ver algo diferente. Mas que nada. Olha só que eu vejo—o temeroso e escabroso Iron Chef America, que é nada menos que a cópia avacalhada do fantástico Iron Chef , o original japonês, que era criativo e interessante. A versão americana é um festival de exageros e de egos. Eu nunca consegui assistir, porque me dava nos nervos, como quase absolutamente tudo naquele canal.

Podem jogar tomates e me chamar de chata de galochas.

O episódio do Iron Chef America que me recepcionou no FN era a batalha no kitchen stadium entre o chef Mario Batali—o responsável pela popularização e modismo horripilante dos sapatões Crocs pelo mundinho culinário; e o chef Jamie Oliver—o inglês queridinho de nove entre dez food blogs brasileiros. O lance, que eu pesquei rapidinho durante o primeiro comercial, é que os programas do Jamie vão estrear naquele canal. Já não bastava a Nigella lambendo os dedos, agora teremos o Jamie mordendo o pimentão e depois cortando em fatias e colocando na receita. Saliva deve ser um ótimo tempero—hmmm-hmm-hmmm!!

A batalha entre o Batali e o Oliver tinha como ingrediente secreto um peixe. Eles prepararam então vários pratos sofisticados e cheios de ingredientes com o tal peixe no período de uma hora. Daí serviram os pratos para os juizes—uma fulana de cabelão alisado, um cara de cabelo hipongo comprido ajeitado atrás da orelha e uma moça asiática com um batom cor-de-rosa que não perdeu o brilho nem mesmo quando ela comeu o macarrão saturado de molho grosso de tomate feito pelo Batali. O visual dos juizes era o de menos. Muda as caras, mas o esquema eh sempre o mesmo. Antes a bancada dos juizes tinha a presença do Jeffrey Steingarten, que desempenhava o papel de critico cri-cri. A função dele era basicamente detonar e amedrontar os chefs. Mas pelo jeito ele perdeu o emprego e agora todo mundo é bonzinho e só faz elogio. Essa é uma parte que me faz rir de nervoso, pois os juizes devem fazer um treinamento em adjetivologia para participar do programa. O palavreado que eles usam para descrever e elogiar as delicias não tem parâmetros. Nem de posse de um Thesaurus eu conseguiria tal façanha, e olha que eu acho que tenho a doença do bicho adjetivo.

A expressão que eu acho mais absurda e engraçada, nesse esforço descomunal que as pessoas fazem para descrever suas experiências com comida, é a tal de foi uma explosão de sabores! Como pode isso ser possiível? Quando eu leio e escuto essa pérola, logo penso naquela balinha em pó que foi bem popular nos anos 80 e que explodia na boca. Aquilo era uma explosão, de fato, mas era somente de um sabor. Essa tal de explosão de sabores eu ainda estou para experienciar.

A cozinha da Alice

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Alice Waters vive na mesma casa há 23 anos. É uma casa pequena e estreita, construída em 1908. O coração da casa é com certeza a cozinha—um espaço que reflete o compromisso de Alice com a simplicidade. Ali não há forno de microondas, nem mesmo um processador elétrico de alimentos. O utensílio mais moderno presente na cozinha de Alice é um pequeno forninho elétrico, que ela pintou de verde escuro, para combinar com a cor das paredes.
Os dois fornos à lenha e o forno aberto tipo lareira, instalados na parede de um dos lados da cozinha no espírito de Lulu Peyraud, são os itens favoritos de Alice. Ela também gosta dos batedores de arame, das facas de qualidade, das caçarolas de terracota, das panelas não aderentes, especialmente as de cobre e ferro. Mas a peça que Alice mais adora é o pilão. Alice não vive sem seu pilão.
No lado mais ensolarado da cozinha fica uma mesa grande e oval, com tampo de mármore, rodeada de cadeiras de madeira descombinadas. Num canto, um armário alto abriga uma coleção de pratos grossos de cerâmica e cumbucas francesas para café com leite, em diferentes estilos, mas combinando harmoniosamente. Uma janela tripla oferece uma visão do quintal e da horta de Alice. Livros antigos de culinária, livros de arte, cestas e garrafas de vidro ajeitam-se numa prateleira logo abaixo das janelas. Nas paredes há pinturas e fotografias—uma delas do elenco original da trilogia de Marcel Pagnol.
No meio da cozinha fica uma bancada pequena, estreita e ergométrica, com uma pia funda de cobre e prateleiras cheias de vasilhas, pratos e panelas. Ao lado do enorme forno profissional, uma grande superfície de trabalho com espaço para os convidados de Alice, que sempre acabam ajudando a preparar a comida. A cozinha também tem um piso de carvalho tingido de verde oliva, que é a cor favorita de Alice.
*Fotos do livro Great Kitchens – At home with America’s top chefs.