the walking tempura

Meu marido acha que eu exagero nas minhas criticas, mas eu detesto o Zen Toro. Ele é um restaurante japonês pseudo-modernex, que veio para Davis nesses esquemas massificantes de franchising. Está instalado num espaço minúsculo em downtown e quem vai almoçar ou jantar lá sai sempre fedendo a fritura da cabeça aos pés. Mas eu não desgosto de lá somente por isso. Também acho a comida pretensiosa e o serviço uma porcaria. Tá certo que numa cidade universitária, onde noventa e nove por cento dos atendentes dos restaurantes são estudantes, não se pode esperar o melhor serviço do mundo. Mas no Zen Toro eu tive um dos piores, com o agravante que de lá sempre se sai com cabelo, pele e roupa empesteados numa fedentina de óleo de fritura.

Meu chefe veio me ajudar num projeto que realmente eu não precisava de ajuda. Quando ele sentou-se ao meu lado, senti na hora que ele tinha almoçado em algum lugar catinguento, daqueles onde frituras abundam. Depois de me dar uma mão desnecessária ele entabulou num convercê e então confidenciou que ele e a esposa tinham ido almoçar num lugar diferente. E eu—ah é, onde? Nem fiquei surpresa quando ele respondeu—no Zen Toro.

tomates provençal – take II

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É a mesma receita de anos atrás e não tem segredo. Você só vai precisar de tomates orgânicos e madurinhos. Nunca guarde tomates na geladeira—vale a pena repetir a dica, pois refrigerados eles perdem o seu delicioso sabor. Corte os tomates ao meio, remova as sementes, deixe escorrer bem. Eu faço tudo numa panela só, neste caso uma frigideira que pode ir ao forno. Unte a frigideira com azeite, coloque os tomates com a borda para baixo na frigideira e frite no fogo médio por uns minutos, até a borda ficar levemente douradinha. Vire os tomates e recheie com uma farofa resultado da mistura de pão torrado moído no processador, sal grosso, um dente de alho, ervas secas de provence e bastante salsinha fresca [eu usei cibouletes/chives]. Recheados, os tomates vão ao forno alto por uns 15 minutos ou até a farofa ficar dourada e crocante. Sirva quente ou frio.

danger, Will Robinson, danger!

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The kohlrabi from Jupiter—tá certo que eu gosto desse legume, mas toda semana tem chegado pelo menos dois assim, gigantescos, monstruosos, verdolentos ou arroxeados. Haja imaginação para usar esse ingrediente interplanetário. Já fiz dois deles cortados julienne e assados, como fritas de forno. Também já fiz purê, que fica muito bom. Os kohlrabis quando cozidos ficam com um sabor incrivelmente suave e adocicado.

squash & lemon verbena

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Começou a temporada das abobrinhas e essa época é sempre um desafio pra mim, que preciso bolar mil maneiras diferentes de usar as inúmeras variedades que recebo. Para essa salada, usei a patty pan squash, que parece um mini-disco voador chegado de Marte. Fiz fatias bem finas no mandoline e depois temperei com um óleo de avelãs, vinagre de champagne, flor de sal, pimenta do reino e folhinhas frescas de lemon verbena. Essa erva é muito interessante, aveludada e com um perfume de limão, deu um toque especial à essa salada.

só falamos de comida

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Dois anos depois daquele primeiro potluck dos food blogs de Sacramento organizado pelo querido Garrett, quando nos encontramos pela primeira vez, tivemos outro evento similar. Nesses dois anos, fizemos muita coisa bacana juntos, como a aula de egg whites em Berkeley, jantar no hidden kitchen, visitas à vinícolas orgânicas e uma experiência com chocolate tasting. Eu adoro fazer parte desse grupo de pessoas tão diferentes, com uma paixão em comum.
Desta vez o potluck foi organizado conjuntamente pela Elise e Garrett. Num domingo com um clima perfeito, nem quente nem frio, muitos blogueiros de Sacramento e região baixaram na casa da Elise para um almoço com bastante bate-papo. Cheguei lá com um panelão de bacalhoada e reencontrei conhecidos e amigos e conheci pessoas novas. Quando eu cheguei, os blogueiros já estavam fazendo o que todo blogueiro de culinária faz, fotografando as comidas. Eu fui correndo fazer o mesmo, afinal, não podia perder a oportunidade de registrar o evento. Mesmo assim não fotografei tudo, pois começamos a comer e alguns convivas chegaram mais tarde e naquela altura eu já tinha esquecido da câmera e me concentrado só na comilança.
Não vou poder listar todos que estavam lá, porque eu não consegui conversar com alguns. Mas adorei conhecer a Debby e sua filha Megan, que fazem o blog Everything on a Waffle. Elas trouxeram as batatinhas recheadas, uns palitos de chocolate ajeitados lindamente em latinhas e a Megan, que só tem doze anos, preparou uma sobremesa de cereja deliciosa! Também gostei de conhecer o Nick, que bloga daqui de Davis e escreve sobre peanut butter no Peanut Butter Boy. Ele trouxe uns bolinhos de carne que foram servidos com um molhinho de peanut butter, of course! Também adorei rever o Hank e conhecer a sua companheira Holly. Eles trouxeram três tipos de patos selvagens, umas linguiças de porco selvagem e carne defumada de antílope, tudo caçado por eles e preparado na churrasqueira pelo Hank. Eu só provei a linguiça, pois acho essas carnes um pouco fortes pro meu gosto. Mas quem comeu o pato e o antílope só elogiou. A Elise serviu uma strawberry rhubarb terrine que me fez pirar na batatinha. Acho que devorei uns cinco pratos, sem brincadeira! O Garrett arrasou Paris em chamas com o seu chipotle flourless chocolate cake. A Andrea trouxe uns aspargos com prosciutto que também fizeram sucesso. Adorei rever os amigos, conhecer gente nova e passar a tarde num convercê divertido. O quintal da Elise, deixa eu contar, é enorme e praticamente um pomar. Fizemos uma tour pelas árvores—maças, limão, laranjas, mexirica, grapefruit, kiwi, romã, figo, ameixas, amora, nozes, damasco, pêssego, nectarina— é uma coisa impressionante, tudo muito bem cuidado.
Todo mundo perguntou sobre o meu prato e eu expliquei detalhes e tals. Usei bacalhau canadense, mas as batatas e as cebolas eram orgânicas, os ovos da Felizberta, azeitonas gregas maravilhosas e foi tudo regado com muito azeite português. Uma das meninas do Sac Foodies deu uma garfada na bacalhoada e exclamou—essa era a comida que minha avó fazia! A avó dela é uma portuguesa da Ilha de Madeira emigrada na Califórnia. Estávamos em casa.

how to make moqueca

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Mais uma vez fui lá eu ensinar a malta a fazer moqueca. No ano passado tivemos um evento chamado Dia do Brasil, quando dei a aulinha, num dia cheio de mil atividades que culminou com eu perdendo inexplicavelmente todas as fotos.

Desta vez o evento foi o Festival Latinoamericano que ocorre uma vez por ano e a nossa associação brasileira Brazil in Davis participa. É um evento beneficente, onde arrecadamos dinheiro para fazer doações para entidades assistenciais que trabalhem com crianças carentes em cada país respectivo. Sempre participam o Brasil, o Chile, a Argentina, a Colômbia, a Venezuela, o Peru e neste ano Cuba também juntou-se ao grupo. O evento deste ano copiou o esquema que fizemos no Dia do Brasil e então a venue foi um pouco diferente, mas teve comidas típicas, além de palestras, shows de música e dança, exposição de arte, atividades para as criancas, open mic, aulas de dança e aula de culinária, onde eu participei com a infalível receita de moqueca da minha amiga Paula.

Eu uso a receita que a Elise adaptou para o inglês, com medidas mais exatas. Sempre, sempre, essa receita dá certo e faz um sucesso danado. Desta vez não foi diferente. O único problema nisso tudo sou eu mesma, com minha timidez horrorosa e meu temor de falar em público. Apesar do meu descabelamento, ensuvacamento e mal ajambramento pessoal, deu tudo certo. Levei tudo organizadíssimo, pois já tinha a experiência anterior pra me basear. As outras aulas que vi—de uma venezuelana e de uma colombiana, estavam extremamente desorganizadas. Elas não levaram nada e ficavam procurando os utensílios e ingredientes nos armários da pequena cozinha da International House durante a aula. Bocejo! A venezuelana entrou no meu horário e eu comecei minha aula com quinze minutos de atraso por causa dela. Mas eu estava o fino da organização, levei tudo que precisava e não me atrapalhei. Ofereci a receita impressa, com um pouco da história da moqueca baiana e capixaba também. Os atendentes curtiram. A cozinha da IHouse é pequena, então cabem lá umas quinze pessoas. Mas na hora de servir uma amostra da moqueca pronta, que eu levei montada e ficou cozinhando enquanto eu fazia outra na frente das pessoas, não parava de chegar gente para pegar um potinho. Servi a panela inteira. Teve gente que veio pedir mais um pouco e quando acabou o peixe, me pediram o caldinho! O panelão de sete litros que preparei durante a aula foi vendido em porções na nossa barraquinha de comida brasileira. Não sobrou uma lasca. Sucesso absoluto!

bolinhos de milho & cereja
[cornmeal-cherry muffins]

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Na terça-feira o Uriel chegou com um sacão de cerejas recém-colhidas numa das fazendas em que ele faz testes. Eles resolveram testar uma das máquinas nas árvores de estimação da proprietária, que estavam apinhadas de frutinhas. A máquina faz um trabalho muito delicado e meticuloso, quase como se fossem dedinhos humanos colhendo as cerejas. Elas chegaram perfeitas, todas com cabinhos e sem nenhuma ranhura ou machucado provocados pela chacoalhação e queda na esteira. Frutas perfeitas e lindas! Devoramos praticamente metade delas, puras, sem nada, apenas mastigando a polpa e cuspindo o caroço com alegria. O bocadinho que sobrou, eu resolvi investir numa receita. Mas cabeça-dura que sou, quando encafifo com algo, nada consegue me persuadir a mudar de idéia. E a visão que eu tinha para o futuro daquelas cerejas era de muffins feitos com cornmeal. Procurei, procurei, procurei, até que achei essa receita que considerei perfeita. O único porém é que achei que ela iria produzir muffins para um batalhão—três xícaras de farinha, mais três xícaras de cornmeal? Decidi reduzir a receita em um terço. Infelizmente folks, eu sou uma negação com números. Toda vez que me atraco com eles, saio perdendo. Achei que fiz alguma coisa errada na conversão, pois os muffins não cresceram. Mas ficaram saborosos—e como não poderiam ficar, com os ingredientes de primeira que usei? Só que eles não cresceram…
Aqui vai a receita inteira, para o café da manhã da tropa de escoteiros. Quem quiser diminuir, que faça ao seu próprio risco.
3 ovos [da Felizberta caipira]
3 colheres de sopa de raspas de limão [o amarelo]
1/4 xícara de suco de limão [o amarelo]
12 colheres de sopa de manteiga sem sal, derretida
1/4 xícara, mais 2 colheres de sopa de óleo vegetal
3 xícaras de buttermilk—eu usei o kefir, mas iogurte também serve
3 xícaras de farinha de trigo
3 e 1/3 xícaras de cornmeal ou mistura de polenta
4 e 1/2 colheres de chá de fermento em pó
1 colher de chá de bicarbonato de sódio
3/4 xícara de açucar
1 colher de chá de sal
2 xícaras de cerejas frescas ou secas
Pré-aqueça o forno em 350°F/ 176ºC. Na batedeira, bata bem os ovos, as raspas e suco do limão, a manteiga, o óleo e o buttermilk. Numa vasilha separada misture bem com o batedor de arame a farinha, a polenta ou cornmeal, o fermento, bicarbonato, sal e açúcar. Misture ao creme de ovos e incorpore bem, Junte as cerejas, descaroçadas. Coloque nas formas de muffin e asse por 35 min. Remova do forno e deixe esfriar numa grade.