vinte e sete de dezembro

Uriel precisou renovar o passaporte brasileiro e como estávamos em férias, fomos até San Francisco num dia de semana. Aproveitei para dar um rolê pelas lojinhas e fazer umas comprinhas, o que nos dias seguintes ao Natal traduz por pegar muita fila e lojas cheias por causa das liquidações. A cidade é sempre linda, mesmo com hordas de turistas lotando ruas, restaurantes e lojas. E depois de muitos dias de chuva, pegamos um dia maravilhoso de céu azul, até um pouco menos frio do que o de costume.

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Como fiquei duzentas horas pra decidir minhas compras [incluído horas na fila pra entrar no provador mais horas na fila para pagar—argh!] fizemos um amoço bem tardio. Caminhamos pela região do Financial District procurando por restaurantes que o Yelp tinha nos indicado, mas que estavam fechados. Acabamos na fronteira de Chinatown e eu imediatamente tomei a oportunidade, pois sempre quis comer num restaurante chinês nessa região mas nunca tive coragem de me aventurar, porque tudo lá parece tão perigosamente imundo. O Yelp nos indicou o House of Nanking que é um restaurante ícone no local, sempre lotado de turistas que chegam para provar as delicias que eles preparam lá. E eu agora entendi porque. O lugar tem um menu um pouco diferente dos restaurantes chineses de praxe, embora tenha um ambiente caótico com serviço rude e confuso. Gostei de tudo que comi lá, o pastel de camarão com um molho, a salada de broto de ervilha, o frango com gergelim e batata doce [que é o prato chefe da casa e para o qual abri uma exceção, porque não como carne nunca em restaurante asiático] e a berinjela que foi pedido do Uriel. Até o canecão de chá de flor com goji berry estava diferente. A conta também se distingue dos outros restaurantes chineses, porque é um pouquinho mais salgada.

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Batemos um pouco de perna em Chinatown, que é sempre uma experiência interessante, depois pegamos o carro e fomos dar uma volta para matar hora e não pegar aquele tráfego miseráver na I80 nos dias de semana. Fomos para a região da Union Street que é uma fofura, cheia de lojinhas, restaurantes e cafés. Paramos no La Boulange para beber algo e comer umas gostosuras da padaria francesa. No nosso trajeto de encaroçação entramos numa lojinha cheia de coisas legais e imediatamente a vendedora nos ofereceu uma taça de vinho rosé. O negócio é que ela também estava bebendo [mais do que os clientes] e falava mais que a boca, me explicou mil detalhes de tudo na loja, perguntou de onde estavamos visitando, disse que conhecia Woodland e ainda lascou um—está nevando lá pros lados de Sacramento? —está quase, eu respondi.

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bolo de pinhão

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A maior parte daqueles pinhões que ganhei no verão estava congelada para virar algo especial no inverno. Afinal de contas pinhão é [era pra mim] comida de frio. Procurei muito por uma receita de bolo, mas olha foi um clica-clica sem fim, porque tudo o que eu via levava [primeiramente] uma lata de leite condensado. Mas será o benedito? No final achei uma receita que me agradou numa página do governo do Paraná. Mas era aquele esquema sem muito detalhes, nenhuma informação se a colher de fermento era de chá ou de sopa, se o forno alto era 200 ou 180ºC, muito menos tinha detalhes insignificantes como tempo de cozimento. Adaptei de acordo com o meu bom senso e experiência na cozinha e felizmente o bolo vingou. E ficou bem gostoso, com um jeitão de pão de ló e praticamente substituiu o panettone no nosso Natal.

1 xícara de pinhão cozido e descascado
2 xícaras de açúcar
2 xícaras de farinha de trigo
1 xícara de amido de milho [maizena]
1 xícara de leite integral
3 colheres de sopa de manteiga
4 ovos [claras e gemas separadas]
1 colher de chá fermento em pó

Pré-aqueça o forno em 400F? 205ºC. Unte uma forma redonda com furo no meio com manteiga e polvilhe com farinha de trigo. Reserve. Moa os pinhões num processador e reserve. Na batedeira bata as claras em neve e reserve. Numa outra vasilha bata bem as gemas, a manteiga e o açúcar até ficar um creme bem liso. Peneire a farinha de trigo e a maizena e vá colocando no creme de gemas e manteiga bem devagar, alternando com o leite. Junte os pinhões moídos e incorpore bem. Por último acrescente as claras em neve e o ferment em pó. Coloque a massa na forma untade e asse por 30/40 minutos, até o bolo ficar bem dourado e a massa cozida no centro. Remova do forno, deixe esfriar bem e vire o bolo num prato ou travessa.

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✴ pocketful of dreams ✴

Quando passei na frente do Facca Bar na rua Conceição no centro de Campinas comentei com minha irmã o quanto eu adorava o sanduíche com recheio de aliche e salsinha picadinha imerso no azeite que eles vendiam lá e minha mãe às vezes trazia pra casa num embrulho que não se faz mais—na bandeja de papelão embrulhado com papel de pão e amarrado com barbante.

Ele lia um livro, vestia camisa social, paletó e gravata borboleta vermelha salpicada com bolinhas brancas e jantava sozinho numa mesinha de canto no restaurante Chez Panisse, fato que além da idade indicava que o moço era um daqueles frequentadores assíduos desde os velhos tempos, quando o local era um lugar aconchegante para se comer uma comida francesa bem feita.

Na foto ela estava bem aprumada porque normalmente só usava um vestido de tecido estampado com flores bem miudinhas, cortado no molde mais simples sem golas nem manga, tão velho que tinha o sovaco manchado e me fazia rir, criança cruel. Muita gente pensa que naquela foto ela estava vestindo um uniforme de copeira, porque ostentava uma blusa branca impecável, colete azul e gravatona de laço. Mas na minha casa não tinha disso de ninguém usar uniforme e a verdade é que era Sete de Setembro e antes da foto ser tirada a cozinheira Cida tinha desfilado pela rua principal da cidade junto com os colegas adultos do Grupo Escolar onde faziam as aulas de alfabetização do Mobral.

A primeira comida que preparei no primeiro país novo [usando uma panela emprestada] foi peixe com legumes. A primeira comida que preparei no segundo país novo [usando uma panela emprestada] foi peixe com legumes.
A lembrança mais ternura que tenho do meu filho criança é ele dizendo “hmm que delicia!” com uma cara de prazer e alegria para o prato recheado com arroz integral, bardana refogada e agrião cozido ou qualquer outra gororoba que eu por ventura preparasse pra ele comer.

O que me encantava naquele livro não eram realmente as receitas, mas as ilustrações singelas em traço com tinta preta—uma cesta de palha com legumes dentro, uma panela de arroz no fogo, uma mão cortando a cenoura outra picando verdinhos, uma xícara de chá fumegante. o livro favorito, que não sei quem escreveu, muito menos quem ilustrou, nem lembro [diacho!] onde foi que aquele pequeno tesouro ficou.

salada de salsão, uva e cogumelo

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Essa salada pode ser um prato bem bacana para a ceia de reveillon porque leva as uvas brancas que são protagonistas nos rituais para atrair boa sorte na virada do ano. Neste caso as uvas são grelhadas e ficam bem doces e macias. Pode-se usar qualquer tipo de cogumelo. A receita foi aprovada e saiu da revista Food & Wine.

serve 6 porções
2 colheres de sopa de vinagre de vinho branco
2 colheres de chá de suco de limão
1/2 colher de chá de sementes de salsão [aipo/celery]
1/4 colher de chá de mostarda Dijon
1 dente de alho pequeno
1/2 xícara mais 1 colher de sopa de azeite extra-virgem de oliva
1/4 xícara de óleo de amêndoa torrada [*usei de nozes]
Sal e pimenta moída na hora
1/2 xícara de folhas de salsão [aipo]
1/2 xícara de folhas de salsinha
1/4 xícara amêndoas torradas picadas
1/2 quilo de cogumelos frescos cortados ao meio
2 xícaras de uvas verdes
Folhas de alface [*usei folhas verdes]
2 xícaras de talo de salsão [aipo] cortado em fatias finas

Em uma tigela pequena misture o vinagre com o suco de limão, as sementes de salsão, e a mostarda. Aos poucos misture 1/4 xícara de azeite de oliva e o óleo de amêndoa batendo até ficar emulsificado. Adicione sal e pimenta do reino moída na hora a gosto.
Num mini processador de alimentos colocar o alho, as folhas de salsinha, as de salsão, as amêndoas e pulse até ficar bem picado. Adicione 1/4 xícara de azeite de oliva e bata até obter uma pasta grossa. Tempere com sal e pimenta do reino moída na hora a gosto.

Tempere os cogumelos com azeite, sal e pimenta. Coloque numa grelha ou frigideira em fogo alto,virando uma vez até ficarem macio e dourado, cerca de 5 minutos. Tempere também as uvas com azeite, sal e pimenta. Grelhe em fogo alto até as peles começarem a escurecer em alguns pontos, cerca de 3 minutos, Transfira as uvas e cogumelos para uma tigela grande e misture com o molho pesto de amêndoas.

Arrume as folhas de alface em um prato, as fatias de salsão por cima e e regue com o molho vinagrete. Coloque a mistura de cogumelos e de uvas por cima e sirva.

ceviche de camarão & batata doce

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Provei um ceviche de camarão na minha breve [graçasaoscéus] espera no aeroporto de Lima, Peru na minha viagem de volta do Brasil. A espera da ida não foi tão auspiciosa, mas a da volta compensou pelo prato, que nunca tive muita curiosidade de provar por ser feito com peixe cru. Como esse era feito com camarão cozido e eu não só adorei como quis reproduzir em casa e fazer especialmente para o meu filho comer na véspera de Natal. Procurei umas receitas online e improvisei a minha, que ficou bem gostosa. Usei um camarão selvagem, pescado na nossa costa do Pacifico. Os peruanos usam pimenta fresca—ají limo ou habanero, mas eu não tinha então substituí pela cayenne. Também troquei o limão verde [tahiti] pelo limão rosa.

Lave duas batatas doces, faça uns furinhos com a ponta da faca e asse no forno alto [400ºF/ 205ºC] até elas ficarem bem macias por dentro [uns 40 minutos]. Remova do forno, deixe esfriar bem, remova a casca e reserve.

Cozinhe rapidamente na água um pacote de camarão [descascado e limpo]. Escorra, deixe esfriar e reserve.

Esprema o suco de uns 3 limões e coloque no processador com sal, pimenta cayenne a gosto, uns dois dentes de alho, 1/4 de cebola e um pouquinho de cebolinha verde e coentro fresco. Processe bem e passe tudo por uma peneira. Tempere os camarões com esse liquido, misturando bem. Cubra e leve à geladeira por algumas horas ou de um dia para outro.

Na hora de servir fatie as batatas doces e arranje junto com os camarões num travessa. Jogue a marinada de limão por cima e decore com folhas de coentro fresco. Sirva em seguida.

Os peruanos usam também um milho cozido de grãos gigantes cortado em rodelas, mas não tinha milho de nenhum tipo e omiti.

semifreddo de pera & framboesa

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A outra sobremesa refrescante da ceia de Natal foi esse semifreddo tirado da edição de dezembro da revista Everyday Food. É ridiculamente fácil de fazer. A receita original era sabor limão e levava lemon curd, que eu não tinha, não quis comprar e nem fazer. Resolvi ser prática e substituí o lemon curd por uma geléia de pera muito especial que eu tinha na geladeira e voilá, deu certo e ficou delicioso. A geléia tinha pedacinhos de pera então o semifreddo ficou todo salpicadinho. As bolachas deveriam ter ficado numa só camada, fazendo uma linha no centro, mas eu sou a pessoa com a mão mais tenebrosa para trabalhos delicados e minhas bolachas ficaram tortas. Mas isso só afetou o visual, não modificou nem um pouco o sabor dessa sobremesa perfeita.

3/4 de xícara de framboesas descongeladas
2 colheres de açúcar
2 xícaras de creme de leite
1 xícara de geléia de pera [ou curd de limão]
10 bolachas champagne [ladyfingers]

Forre uma forma de assar pão com duas folhas de filme plástico, deixando uma parte do plástico sobrando dos lados. No liquidificador bata as framboesas e o açúcar. Passe por uma peneira e descarte as sementes.

Em uma tigela grande bata o creme de leite em ponto de formar picos moles. Com uma espátula adicione a geléia de pera [ou o curd de limão]. Coloque 2 xícaras da mistura de creme na assadeira e alise bem com a espátula. Molhe as bolachas no puré de framboesa e coloque por cima do creme na forma, ajeitando de duas em duas em fileiras paralelas. Despeje restante purê de framboesa sobre as bolachas. Cubra com o restante da mistura de creme e alise com a espátula.

Cubra a forma com o plástico que ficou sobrando nas bordas e leve ao congelador por no mínimo 8 horas. Na hora de servir, abra o plástico de cima, e remova da forma invertendo num prato. Corte fatias com uma faca molhada e sirva.

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