vinte e cinco puxões de orelha!

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Gabe com nove meses e sua mami descabelada

Já escrevi tanta coisa sobre os aniversários do meu filho.
Cada ano era uma coisa diferente: festa toda encomendada, bolo de chocolate despencado e derretido feito por mim, bolo em forma de cometa, churrasco no clube, pizza com os amigos, velinhas em cima do muffin, muitos aniversários sem bolo, muitas comemorações em restaurantes, bolo de chocolate de caixinha feito pela Marianne, muitos aniversários me esqueci o que fizemos, como comemoramos, afinal são vinte e cinco anos.
Lembro do ano 17, quando pela manhã eu tive essa idéia que achei sensacional. Saí do trabalho na hora do almoço e invés de ir almoçar, fui até o supermercado e comprei mil coisinhas, bolinho, vela em formato de Um e Sete, bexigas, serpentinas de papel crepe, confetes pra espalhar na mesa—fui pra casa e preparei uma festa surpresa diferente. Quando ele chegasse da escola, iria encontrar a mesa posta como se fosse uma festa, instruções escritas para fazer coisas, tudo paramentado. Passei a tarde rindo sozinha, pensando na cara de bocó dele, quando chegasse e visse a minha surpresa. Às seis da tarde corri embora, entrei em casa e ele estava vendo tevê. Abraços, beijos, feliz aniversário, tárará e a pergunta ansiosa de mãe, então, gostou da surpresa que eu fiz pra você? E ele com aquela cara blasé de dezessete anos:
—aanh, achei meio jeca tatu, mas gostei…

but the world goes ‘round

Histórias do cotidiano de uma pessoa comum têm que ser repetitivas. Não tem como escapar do ciclo – como as estações, os aniversários, as comemorações oficiais, os xis marcados nos calendários, as festas, as marés ou as fases da lua. Tudo vem e vai, vem e vai, vem e vai. É uma boa explicação e até uma reflexão para entender porque estou sempre escrevendo sobre os mesmos assuntos ou mostrando fotos tão parecidas.

Todo ano eu faço aniversário e publico os números dramáticos em letras garrafais, depois esfria, as folhas das árvores ficam amarelas, vermelhas, douradas e caem, acendemos a lareira, o gato quase queima os bigodes, assamos um peru que dividimos com a família no dia de agradecer, fazemos compras, ficamos com dor no lombo varrendo folhas, começa a chover, eu me acovardo da piscina, tiro fotos dos enfeites de Natal, publico um cartão e desejo tudo de bom para todos, fico aliviada quando o ano se inicia, como nove sementes de romã, reclamo que não pára de chover, reciclo, recrio, me animo com a chegada da primavera, encho o saco da humanidade com as minhas fotos de flores e, principalmente, rosas. O jasmim abre, capino a horta, planto tomates, as pestes chegam devagarzinho. O Gabe faz anos, faço o meu próprio breakfast no dia das mães, reclamo que esta ficando muito quente, nado diariamente, não tiro as havaianas legítimas dos pés, arranco mais mato, detono as pestes e colho tomates, o Ursão viaja, viaja, viaja e eu reclamo mais um pouco, as aulas e o ano recomeçam na UC Davis, eu aguardo ansiosamente uma brisa de outono, faço compras, combino uma social com os amigos, asso um bolo, vou dançar o Blues, penso no meu aniversário que já está chegando, jesus como este ano voou!

Por isso, estou parando um pouco de me incomodar com a repetição dos meus assuntos, pois a vida é terrivelmente repetitiva e não é assim que é bom?

Birchermüesli

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Essa é uma receita de café da manhã suiço-alemão que eu tenho há anos e que fazia diáriamente nos meus auros tempos de super-natureba. Fica uma delicia, é refrescante, nutritivo e super saudável. Eu agora achei o müesli semi-pronto de caixinha no Co-op, que facilita encurtando o período de deixar a aveia de molho. Mas fazer “from scratch” também não é nada difícil.
1 colher de sopa de aveia
3 colheres sopa de água
1 colher de sopa de suco de limão
1 colher de sopa de leite condensado
3 colheres de sopa de iogurte natural
200 gr de maçã ralada
1 colher de sopa de avelã ou amêndoa ralada
Deixar a aveia de molho na água durante a noite.
De manhã cedo, acrescentar os outros ingredientes e servir imediatamente.
Pode variar a fruta, colocar leite ou creme de leite no lugar do condensado, adoçar com mel. Mas a base do müesli é essa.

My Many Colored Days

Verde. Plantei mais salsinha e tomilho. Vermelho. São tantas rosas que desisti de colocá-las em vasos, vou deixá-las enfeitando os meus jardins. Azul. Olha o céu! Finalmente abriu o sol. A previsão da meteorologia estava certa. Agora a prima é vera! Branco. Esperei ansiosamente pelo carro do Fedex. Preto. Não consigo mais ler o jornal. Todos os dias é um susto e uma tristeza na primeira página. Amarelo. Logo vão recomeçar as viagens do Ursão. Rosa. E eu que pensava que essa cor não me vestia bem. Hoje sou Mrs. Rosa. Cinza. Uma mala grande nunca é suficiente. Violeta. Uma pastilha de menta com gosto e cheiro de flor. Laranja. Tenho pilhas de coisas para ler e não suporto vestir os óculos. Degradê. Os números têm cores, os dias da semana e meses têm cores, as letras do alfabeto têm cores, você nunca reparou nisso?

bolo de gengibre fresco

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Mais uma receita que vi no Chow e marquei pra fazer. Não é uma receita inédita pra mim, mas essa tinha uma mistura diferente de ingredientes, que me deixou curiosa. Os bolos de gengibre são muito comuns aqui na América do Norte e eu já fiz e refiz uma receita excelente que peguei na Everyday Food anos atrás e recomendo fortemente. Mas essa prendeu totalmente a minha atenção quando eu li “pimenta do reino” na lista de ingredientes. Tive que testar. Fiz meia receita, porque aqui em casa tudo sobra. Ficou um bolo pequeno, mas bem macio e picante, como eu esperava que ficasse. Gostei bastante, sem falar que sou muito fanzoca do gengibre.

fresh ginger cake
2 xícaras de farinha de trigo
3/4 colher de chá de canela em pó
1/2 colher de chá de cravo em pó
1/2 colher de chá de pimenta do reino moída
3/4 xícara de melado
3/4 xícara de açúcar
3/4 xícara de óleo
3/4 xícara de água
1 1/2 colher de chá de bicarbonato de sódio
3 ounces /100 gr/ 3 colheres de sopa de gengibre descascado e moído
2 ovos grandes em temperatura ambiente

Pré-aqueça o forno em 350°F/180ºC. Unte uma forma redonda para bolo e reserve. Numa vasilha misture a farinha, canela, cravo e pimenta e bata com o batedor de arame para arejar e deixar a mistura bem incorporada. Na batedeira, misture o melado, o açúcar e o óleo. Ferva a àgua e misture o bicarbonato de sódio nela. Adicione essa àgua na mistura de melado. Adicione o gengibre e continue batendo. Vá incorporando a mistura de farinha à mistura de melado aos poucos, batendo sempre. Adicione os ovos e bata até a massa ficar lisa. Coloque na forma untada e asse por 50 minutos. Deixe esfriar bem antes de desenformar. Eu polvilhei com açúcar de confeiteiro, porque achei que o bolinho ficou meio feinho—pra variar. Mas essa decoração não faz parte da receita.

Dia de preguiça e papo-furado

Fez um tempo horrível na semana passada e final de semana. Chuvarada incessante e frio, parece brincadeira, quase no final de abril. Desencavei umas blusas de lã, que já tinha sido guardadas pro próximo inverno. O aquecedor da casa ligou numa dessas manhãs frias. Deu até um desânimo. Mas hoje olhando a previsão do tempo, constatei que essa deve ter sido a última bufada que o inverno deu na nossa cara. Hoje máxima de 23ºC, quinta 26ºC e no final de semana 29ºC! Minha irmã chega aqui em Davis na quarta-feira e já tenho um barbecue meio planejado para o sábado, pois sexta é aniversário do Gabe.

Já começo a pensar na comida. Vou ter duas crianças aqui por duas semanas. Do que eles gostam? O que eles comem? Pra mim, ter crianças em casa envolve algumas mudanças na lista de compras, porque eles comem coisas que nós normalmente não comemos. Mas pelo que a minha irmã me disse, o Fausto e a Catarina comem de tudo.
Sábado no Farmers Market, um friooo, um tempo ruim, fui às compras empunhando a minha sacolinha e cestinha. O negócio de cidade pequena é que você não consegue ir à lugar nenhum sem cruzar com algum amigo ou conhecido—e eu tenho muitos amigos e conheço muita gente! No Market não tem jeito, eu levo o dobro do tempo fazendo compras, pois sempre encontro alguém. No sábado encontrei minha ex-chefe com o marido e um casal de professores que conheci outro dia. Minha ex-chefe estava prestes a ter um colapso físico causado pela obesidade, quando teve uma crise da meia-idade e mudou absolutamente tudo na vida dela: emprego, rotina, relacionamentos e alimentação. Ficou natureba, frequentadora de academia e perdeu sei lá—muitos, muitos quilos. Ficou magérrima e agora, invés de se lambuzar de junk food como fazia antes, come produtos fresquinhos e orgânicos! Um exemplo a ser seguido por muitos. Na saída do mercado, quando compro o peixe, reencontrei o casal de professores e ela disse—você sabe o que é comida boa! Estávamos comprando as mesmas coisas nos mesmos lugares, então respondi com uma piscadela—você também sabe, hein!

Fui comprar uma garrafa de Brandy pra fazer o pudim de croissant no sábado à noite, quando o pessoal despenca nos supermercados da cidade pra comprar snacks e booze para o final de semana. Quando passei minhas comprinhas pelo caixa, incluindo a garrafa de mé, o rapazinho que me atendeu perguntou com uma cara folgazona— o Brandy é pra hoje ou pra amanhã? Mas tem cabimento uma pergunta dessas? Olha bem pra minha cara rapaissszzzzzz! O Brandy é para uma receita—respondi.