usando a farinha de spelt

Uma das grandes buscas da minha vida culinária é a do Santo Graal das pizzas. Estou nessa procura incessante pela receita perfeita, que seria definitivamente adotada como a receita oficial para massa de pizza da Fer Guimarães Rosa. Digo-vos, que já usei muitas receitas. E digo-vos mais ainda, que eu faço muita trambicagem também, usando massas prontas ou semi-prontas. Infelizmente nada me satisfaz plenamente.

Eu andava comprando uma massa pronta de pizza no Co-op, que achei muito, muito boa e que comprei porque não pude resistir à novidade. A massa era feita de Spelt, o grão ancestral, cultivado desde as eras remotas e citado até no velho testamento da biblia. Já tinha comido o grão, cozido como se faz com o trigo ou a cevada. Mas a farinha realmente superou minhas expectativas.

Buscando pela massa novamente no sábado à tarde, dei com os burros n’ água. Mas olhando a seção de bulk das farinhas, vi a farinha de spelt e resolvi que eu mesma iria fazer a massa pra pizza daquela noite. Tenho umas receiitas coringas que vira e mexe voltam a ser usadas, uma delas é essa receita de massa de pizza da Marthinha Heleninha. É uma massa que sempre dá certo, mas que tem que crescer, não dá pra fazer dez minutos antes, como seria a massa de pizza ideal pra mim. Fiz essa receita substituindo a farinha de trigo pela de spelt. A massa com o spelt não cresce tanto quanto a feita com o trigo, mas, ohdear, o cheiro e o sabor dessa massa é algo inigualável. Não é ainda com certeza a massa perfeita, mas está quase lá.

o vinho era do Carvalho

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Os Sequeira, os Sousa, os Freitas, os Ramos, os Silva, os Gomes, os Nunes, os Pacheco, os Carvalho. Famílias portuguesas imigradas para o centro norta da Califórnia e que se estabeleceram na área agrícola. Os portugueses estão espalhados pelo estado, mas percebe-se que já são segunda, terceira e quarta geração, sempre carregando as tradições e o orgulho do seus antepassados.
Passamos pelas fazendas dos descendentes, rumo ao nosso destino final—a Festa Portuguesa que acontecia no The Old Sugar Mill em Clarksburg. O lugar é uma antiga usina de açúcar de beterraba, que foi comprada por John Carvalho na década de 90 e restaurada para abrigar algumas vinícolas e um centro de eventos.
A festa estava bem simples, com o vinho e a música concentrando as atenções. A comida deixou muito à desejar. Eu reclamei à beça da carne e frango cozidos em muito vinho, do feijão adocicado misturado com linguiça e da salada de saco acompanhada de molho de vidro. Aquele rango não tinha nada de português ao meu ver, mas o pessoal que sentou-se à enorme mesa redonda com a gente, estava achando tudo uma delícia. Meus standards são realmente altos e eu sei que a comida portuguesa é o fino da bossa e muito melhor que aquilo. Bom, ao menos o bolinho frito, filhós, e os tremoços, tremos, estavam muito bons. E o vinho, é claro! Como eles não estavam vendendo apenas o copo, para bebedoras solitárias como eu, compramos a garrafa mesmo, que eu fui bebendo durante o passeio. Adoro fazer isso, caminhar pelo lugar com a taça de vinho na mão! O vinho, da vinícola Carvalho, estava supimpa!
A música também estava animando a festa, com a banda liderada por uma filha de portugueses que só na adolescência foi resgatar a cultura e a língua dos pais. Ela começou o show com uma música brasileira, de Vinicius de Morais. Mas depois tocou vários números tradicionais portugueses, com fados e até cantou uma música em inglês que dizia Amália, you are the queen!
Depois que visitamos as vinícolas, almoçamos o rango português pra inglês ver, ouvimos o fado e a bossa nova, encaroçamos pela lojinha de antiguidades e xeretamos dentro e fora da parte da usina que faz a produção do vinho, fomos caminhar pelo lado de fora, olhar uma casa que parecia abrigar os escritórios da usina. Lá encontramos um senhor de boné e fumando um cachimbo que veio puxar papo. Ele nos contou toda a história da usina, onde ele trabalhou por quinze anos. Nos disse que da década de 30 até a década de 70, toda aquela região onde hoje se planta uva, era coberta por beterrabas para fazer o açúcar. A concorrência e o corte de subsídios do governo decretou o fim da indústria. Ele contou que a sede foi trazida de Idaho em pedaços e remontada aqui na Califónia na década de 30, e nunca foi reformada. Olhamos através dos vidros da janela e ficamos encantados. Estávamos encantados também com aquele simpático senhor, que eu achei muito parecido com o meu pai, que se apresentou como Joe Sousa, um filho de portugueses da Ilha de Madeira. Ele contou histórias das viagens dele pela marinha durante a segunda grande guerra, que foi quando conheceu asiáticos e africanos que falavam português. Foi uma conversa muito interessante. Eu poderia ficar ali papeando com o Joe Sousa a tarde inteira, mas acabamos por nos despedir, ele—have a great life! e nós—you too!

one-track mind

Acontece frequentemente comigo, porque eu estou sempre obcecada por algum assunto. Ninguém precisa realmente ficar sabendo qualé o babado. Mas essa é outra característica do tipo bitolado: não conseguir ficar calado quando se trata do seu assunto favorito. Anos atrás eu falava sobre blogs para uma platéia paralisada com aquele sorriso amarelo na cara e um ponto de interrogação na testa. Dava pra perceber que estavam todos pensando sériamente, já em estado de pânico, em fugir correndo pra bem longe daquela pessoa que com certeza falava sobre alguma doença infecciosa e contagiosa—blog? coisa boa que não pode ser.

Me dediquei com afinco à fazer um sorvete de baunilha. Não qualquer baunilha, mas a baunilha fresquinha do Taiti, que eu cortei ao meio e raspei, esquentei por uns minutos no melhor creme de leite fresco e orgânico que pude encontrar e deixei em infusão na geladeira até o dia seguinte. Preparei o melhor sorvete de baunilha que pude preparar para levar ao chá de bebê de uma pessoa muito fofa, que vai ter sua filhinha no meio de setembro. Todo mundo levou uma coisinha, comprada ou feita em casa, nem tudo from scratch, mas tudo preparado com amor e carinho. Eu cheguei carregando um cooler com duas variedades de sorvete de baunilha. Não qualquer baunilha, mas aquela baunilha fresquinha do Taiti. Fiz um mais doce, outro menos doce e com a adição de uma colherzinha de chá de pasta de baunilha.

O problema não é o que eu preparo, mas a minha total obsessão por tudo o que eu faço, o que inclui o tal blog de culinária. Estou ficando seriamente tapada. Vejam só, eu só falo sobre COMIDA. Em qualquer encontro ou evento social, lá estou eu falando sobre comida. Eu falo sobre comida até com o meu marido, que não sabe fritar um ovo, mas sorri gentilmente e até dá palpites. Com ele tudo bem, estou em casa. Mas em outros lugares, preciso ir com cuidado, porque eu acabo entediando as pessoas, especialmente as que não cozinham e não estão nem aí pro assunto de comida.

Fui ao chá de bebê e já cheguei explicando que tinha feito um sorvete de baunilha, mas que não era com qualquer baunilha, mas sim a baunilha fresquinha do Taiti. E pra quem fez cara que não entendeu, eu entrei em detalhes: não tinha usado o extrato liquido, mas sim a fava, fresquinha, do Taiti. Depois tive obviamente que frisar que era tudo orgânico e que a receita era do David Lebovitz. As caras que me olhavam enquanto eu descrevia os detalhes sorriam educadamente, mas demostravam sinais visíveis de que o meu assunto não estava fazendo muito sucesso.

Se eu tiver a oportunidade, vou falar abusivamente sobre comida, com detalhes dos ingredientes, dizer que é tudo orgânico—essa parte é imprescindível, e se sobrar tempo vou dizer que a receita está no meu BLOG, um blog de culinária, preciso sempre sublinhar. Se alguém morde a isca e pergunta onde, eu já disparo rapidinha a frase apoteótica—DÁBLIU-DÁBLIU-DÁBLIU CHUCRUTE COM SALSICHA [TUDO JUNTO] PONTO COM.

tá difíceRrr…

Desde a semana passada que o servidor que hospeda todas as minhas webpages está apresentando um problema aqui outro ali. Eles não são qualquer zémanés, sempre foram excelentes, mas ultimamente estão me causando um bocado de estresse.
Outro dia eles “quebraram” o mysql, que é a base de dados e os comentários e mecânismo de busca foram pro buraco. Consertaram, okay. Nessa semana outros trelélés. Num deles todas as páginas ficaram fora do ar por quase três horas. Consertaram, okay. E lá veio mais problemas, com lentidão geral nas páginas, impossibilidade de checar ou enviar e-mail. Tá dando nos nervos…
Mas é isso, só uma satisfação pelas cousas estranhas que andam acontecendo por aqui. Vamos torcer pra ser só um trânsito ruim de Mercúrio que vai passar logo….

velhas novidades

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Muita gente ainda não sabe, mas eu sou uma assídua frequentadora das notáveis thrift stores, as lojas de segunda mão. Já discorri sobre minhas garimpagens AQUI e AQUI. Sempre que posso dou uma passadinha na lojinha dos bichinhos—que é como eu chamo a thrift store da Sociedade Protetora dos Animais. Adoro ir lá. O lugar é uma casinha de esquina totalmente apinhada de cacareco de todos os tipos, onde os vendedores jovenzinhos de visual punk-rebelde nos atendem hora com uma cara simpática, hora com uma atitude completamente blasé. Eu curto ficar ouvindo todo tipo de rock ‘n’ roll que eles tocam num IPod ou num CD ou K7 player, enquanto faço um rolê pela loja. Vou garimpando por partes—a prateleira das louças brancas, a dos motivos orientais, a do design italiano, do estilo latino, as louças em geral, as panelas, os copos, os talheres, as cerâmicas. Os tesouros que se acha por lá são inacreditáveis. Estou sempre tentando entender qual é o critério que eles usam para colocar os itens à venda e definir os preços. Chego à conclusão que eles devem usar a técnica da roleta russa ou fazem um uni-duni-tê, porque nada faz sentido. Muitas vezes eu vejo peças novas, ainda com a etiqueta da loja colada. Como tudo o que é vendido na lojinha dos bichinhos é doação, imagino o quanto as pessoas são desprendidas, ou fúteis. Estamos num estado rico, mas mesmo assim eu me surpreendo. E volto sempre, que eu não sou boba nem nada. E ainda fico feliz por estar ajudando os animaizinhos.

pega os ovos da galinha

Uma máteria do New York Times sobre a procura do consumidor por ovos caipira me deixou realmente satisfeita. Não só o consumidor comum decidiu optar pelos ovos das galinhas não-confinadas, não-torturadas, não-turbinadas e intoxicadas, como também os restaurantes das universidades, das redes de hoteis, de companhias como o Google ou dos sorveteiros Ben and Jerry’s. A rede de supermercados Whole Foods, por exemplo, já nem vende mais os ovos das galinhas robotizadas! Iurru! Depois de ler O Dilema do Onívoro, eu não tenho ilusões de que a galinha cage-free leva uma vida exatamente livre, mas qualquer passo em direção ao retorno do curso natural das coisas já é uma vantagem. E no meu modo de pensar tudo funciona de maneira bem simples: nós, consumidores, é que decidimos e direcionamos o mercado. Se ninguém mais comprar certos produtos e começar a comprar uma coisa diferente, o mercado vai ter que se adaptar e mudar. Exatamente o que está acontecendo com os ovos. Eu não me importo de pagar um pouco mais. E ainda prefiro comprar ovos de produtores locais. Escrevo aqui sobre o que acredito e também pratico, o que é o mais importante.

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Eu traduzo como “ovo caipira” todos esses termos que defininem os ovos das galinhas não torturadas, à venda aqui nos EUA. Mas há detalhes mais específicos sobre cada um deles. Normalmente eu compro os “free range”, “fertile”, “certified humane”. Definições técnicas para cada tipo de ovo, incluindo o mais conhecido “cage-free”, estão listadas neste glossário.

pimentão recheado [da tia Dirce]

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Essa receita do pimentão recheado da Tia Dirce, faz parte do arquivo dos primordios deste blog e é um clássico na minha família. Minha mãe preparou o prato numa das vezes que esteve aqui me visitando. Desde então eu tento replicar, mas apesar de ficar muito bom, nunca consegui fazer os pimentões recheados com o mesmo sabor e textura do original. Mas eu continuo tentando. Minha tia e minha mãe usam o miolo do pão francês. Nessa receita eu usei pão integral. E normalmente os pimentões ficam inteiros, só remove a tampinha. Mas eu fiz aberto, porque esqueci os legumes na última gaveta da geladeira e eles estavam com partes machucadas do armazenamento, então tive que cortá-los.