não é sopa

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» a querida Mina deu a dica e eu fui atrás. ganhei de Natal o livro Não é Sopa da Nina Horta. lembro da coluna dela na Folha de São Paulo nos anos 80, que eu lia regularmente. estou devorando e me identificando muito com o estilo dela. a Mina tinha razão temos muita coisa em comum…pisc!

“Cozinhar e um modo de se ligar, de se amarrar à vida com simplicidade. E o bom é que cozinhar é preciso, mas cozinhar bem não é preciso, o que dá um certo grau de alívio e liberdade de movimentos. Aprender a cozinhar é uma questão de atitude, de peito. Mais ou menos como saltar de pára-quedas.”

esse parágrafo é a minha cara! também acredito que cozinhar é um exercício democrático e todos têm o direito de exercer. até os que não o fazem muito bem, como eu!

a cozinheira ficou cansada

Dois dias preparando a ceia de Natal, resultou em muitos elogios dos meus convidados. Que cozinheira que não fica feliz com isso? Recebi elogios da minha nora, que é a responsável pelo magnífico peru de Thanksgiving todo ano. Ela disse que o meu peru estava maravilhoso!

Mas o Natal aqui não é só a ceia. Tem o brunch do dia 25, onde o peru volta à mesa. Meus convidados têm o hábito de comer ovos no breakfast, então eu faço omelete ou ovos mexidos, que assim posso comer – eu não gosto de ovo. Fiz ovos mexidos com salsinha italiana, queijo port salut e um pouquinho de sobra de champagne. Comemos muito pão integral, fatias de tomate com mostarda, porque quero agradar os meus convivas, que comem coisas bem diferentes que nós brasileiros no café da manhã.

Como sou um tanto abilolada, entendi que os convidados iriam embora no domingo à noite, mas eu estava enganada. Ainda chegou mais gente e eu tive que improvisar um jantar para dez pessoas. Foi uma sorte eu ter espaguete suficiente na despensa, além do alho e super azeite, que sempre tenho. Fiz um macarrão ao alho & óleo que foi um sucesso absoluto. E com dois sacos de baby arugula [mini rúcula] e um saco de nozes pecans confeitadas, fiz uma salada pra acompanhar. Mais o já conhecido peru, que comemos frio, pra não ressecar com o requenta-requenta.

Na segunda ainda preparei outro breakfast, desta vez mais abrasileirado, com frutas na mesa, além dos pães, manteiga, geléia, tortas, panettone e do peru………!!! Acho que comprar dois peitos de peru foi realmente um exagero.

O jantar improvisado:

Macarrão ao alho & óleo
Espaguete cozido em bastante água e sal, ao dente.
bastante alho triturado
azeite extra virgem
sal/pimenta do reino
salsinha italiana picadinha
cogumelos criminis em fatias grossas

Numa panela colocar bastante azeite [eu ponho BASTANTE mesmo!]
Fritar o alho no azeite, acrescentar o sal e a pimenta. Quando o alho estiver dourado, juntar o macarrão. Mexer bem, desligar o fogo. Acrescentar a salsinha e os cogumelos. Servir com bastante queijo ralado, de preferência ralado fresco, cada um ralo o seu no seu próprio prato.

Servi o macarrão com a salada de rúcula temperada com vinagrete de laranja com champagne [não tem receita, pois esse eu compro pronto, num vidro], bastante azeite e sal grosso. Salpiquei com bastante nozes pecan confeitadas. Foi um sucesso absoluto!

véspera da véspera

Porque eu sou uma desorganizada, tenho que me organizar o triplo. Mas não é só por isso, é também porque vou receber onze convivas e tenho que fazer tudo sozinha, das compras, às arrumações e preparaçãoes. Só depois da festa é que eu tenho ajuda na limpeza do meu super ocupado marido, que hoje está trabalhando e com certeza vai trabalhar amanhã até quando puder. Então estou me preparando para essa véspera de Natal há uma semana. Hoje estou fazendo algumas coisas que posso adiantar, como pastinhas e coisinhas para se comer enquanto se espera a ceia. Vou ter convidados brasileiros, americanos e noruegueses. Como no menu não vai ter batata – base de tudo para os noruegueses – desencalhei um arenque e uma truta defumada da despensa, que vou servir com pão de centeio alemão. Fiz a pastinha de aliche com salsinha que é um must nos meus natais italianos. Também temperei azeitonas e vou fazer uma invencionice com queijo cremoso mascarpone e nozes pecan. Cozinhei e descasquei as castanhas portuguesas, lavei tomilho que vai no recheio do peru [decidi pôr tomilho que ainda tenho fresco na minha horta]. Fiz também o cranberry sauce, que é um ítem do menu americano que eu adoro. Vou passar a tarde na cozinha, ouvindo jazz, dando risada com os gatos. Curto tanto os preparativos quanto a festa em si.

The Alice B.Toklas Cook Book

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Quero escrever sobre esse livro há tempos, mas fico naquela enrolação de quem não sabe como começar ou como abordar. É um livrinho pequeníssimo, um pocketbook, sem ilustrações, sem fotos, impresso em papel áspero e publicado em 1960, seis anos depois da edição original. Eu comprei o meu numa loja de antiguidades uns meses antes de viajar para a França. Nem abri, não li nada, como eu às vezes faço, enrolando meses ou anos pra ler um certo livro. Fui pra França, fiz a Happy Road e voltei. Daí abri o livro da companheira da escritora Gertrude Stein, Alice B.Toklas. Fiquei uns dois meses andando com o livro pra cima e pra baixo. Acho que esse foi o melhor livro de receitas que li nos últimos anos.

Quando estava lendo o meu livrinho amarelo com ilustração do Picasso na capa, uma americana me falou que tinha lido o dela nos anos sessenta e que nunca mais esqueceu da receita de brownie com maconha. O livro da Toklas ficou famosérrimo na década de sessenta e até virou título de um filme, com o Peter Sellers [I Love You, Alice B. Toklas!], onde alguém faz o brownie emaconhado—assistam! Eu fui procurar saber como esse brownie acabou no livro de Toklas e descobri que foi uma piada, feita pelo amigo de Alice e Gertrudes, Brion Gysin, que enviou a receita para ser publicada na seção “Receitas dos Amigos” do livro.

Mas o livro de Toklas não é só sobre o brownie de maconha. É um relato da vida de Alice e Gerdrude na França, antes, durante e depois da Segunda Guerra. Eu refiz a Happy Road através dos relatos de Toklas, aprendi um monte de coisas sobre a cultura e a cozinha francesa e li salivando receitas simplesmente maravilhosas. Toklas não dá receitas como se dá hoje, cheia de medidas e detalhes. Tudo é descrito mais ou menos como ela fazia ou via outros fazerem. E de uma maneira de cozinhar que não se faz mais em cozinhas comuns. Hoje tenho certeza que muita coisa mudou, mas em The Alice B. Toklas Cook Book se pode quase sentir os cheiros e sabores da culinária francesa de outros tempos. Gertrude Stein e Alice B. Toklas eram americanas.

A famosa receita do brownie:
Haschich Fudge
1 colher de sopa de pimenta preta em grão
1 noz moscada inteira
4 pauzinhos de canela
1 colher de sopa de semente de coentro
1 punhado de tâmaras secas
1 punhado de figos secos
1 punhado de amêndoas
1 punhado de amendoim
1 ramo de cannabis sativa (“colhida e seca logo que a planta mostrar sementes, mas ainda estar verde”)
1 xícara de açúcar
1 tablete de manteiga

Moa a pimenta, a noz moscada, a canela e o coentro num pilão. Pique as tâmaras, figos, amêndoas e amendoim. Moa a cannabis e misture com as especiarias. Salpique essa mistura sobre as frutas e nozes picadas. Misture o açücar e a manteiga e misture, amassando bem. Coma com cuidado. Dois pedaços são suficientes.

o peru

Neste ano me revoltei contra o peru de Natal tradicional. Chega! Não quis fazer a mesma receita que faço há anos. Decidi que queria fazer algo diferente. Vendo um especial de Natal Italiano com o chef Mario Batali e a personalidade culinária Giada De Laurentiis no Food Network, achei a solução para os meus anos de peru comum. O chef Batali fez um peito de peru enrolado, como se fosse um lombo. Eureka!

Vou ficar feliz de não ter que lidar com a carcaça do bicho, ossos, asas, miúdos. O problema era ONDE achar o peito de peru desossado. Fui ao Nugget, um supermercado metido a gourmet que temos aqui em Davis. Vi que o cara estava querendo me empurrar um peito único, sem pele. Não era isso que eu queria. Achei a solução no Corti Brothers, em Sacramento. O açougueiro pegou um peru inteiro, desossou e abriu o peito em forma de borboleta pra mim. Perfecto! Comprei dois, porque teremos onze comensais para o Natal. Cada peito pesou cinco pounds [dois quilos e meio] e o açougueiro me avisou que eu preciso de meio pound por pessoa.

Peguei várias receitas de peito de peru desossado na net, três do próprio Batali, mas vou fazer a minha própria. Para o recheio vou usar: bacon, castanha portuguesa, pera, ameixa seca e salsinha. Desejem-me sorte! Eu sei que a Nigella aconselhou a não inventar nada novo nas festas, mas eu não pude resistir….