a primeira vez que mordi um cachorro

Eu não me lembro exatamente quantos anos eu tinha, mas certamente foi antes dos meus dez anos. Estávamos no Rio de Janeiro visitando a minha tia, irmã da minha mãe. Éramos sete crianças e as duas mulheres corajosas, que sei lá por que motivos resolveram sair pra rua com toda a tropa. Normalmente íamos à praia, mas nesse dia passamos a manhã caminhando pelas ruas de Copacabana. Numa certa hora entramos num lugar. Eu lembro de um balcão alto e de como de repente um sanduíche enrolado em folhas de papel manteiga chegou às minhas mãos, junto com uma garrafinha de Coca-Cola. Abri aquilo com curiosidade. Minha mãe controlava o nosso consumo de refrigerante e como morávamos no interior de São Paulo naquele início dos anos setenta, ainda éramos virgens dos modismos americanos de hambúrgueres e hot-dogs. Quando mordi aquele sanduíche comprido recheado de salsicha e com um molhinho de tomates, cebola e pimentão, fui aos céus! Pra mim aquilo passou a ser a comida mais deliciosa do mundo e a que eu iria desejar comer novamente por muitos e muitos anos.

Em 1974 nos mudamos para Campinas, que é a cidade natal do meu pai. Lá fui finalmente reencontrar o maravilhoso sanduíche, descobrir o seu nome peculiar e o lugar que o vendia: o cachorro-quente das Lojas Americanas. Passei anos da minha pré-adolescência sentada naqueles banquinhos em frente ao balcão verde claro em formato de S no subsolo das Lojas Americanas do centro de Campinas. Pra mim nunca existiu nada igual – o pão macio, a salsicha saborosa, o molho super cheiroso, as chips de batata, sempre acompanhados de uma super Coca-Cola gelada. Nunca mais comi um cachorro-quente como aquele da LASA, que tentei replicar por anos e anos na minha cozinha.

Quando morei no Canadá, provei um cachorro-quente muito bom, que fiz por muitos anos e até hoje faço. Não chega nem perto do cachorro-quente da LASA, mas fica muito bom.
Cozinhe as salsichas na água. Escorra. Retorne a panela com as salsichas ao fogo, regue com bastante azeite, deixe fritar. Acrescente rodelas de cebola a vontade. Pode salpicar a cebola com um pouco de sal. Servir no pão de cachorro-quente com mostarda e catchup [se quiser].

A Cozinha Brasileira

Fizemos uma reunião para discutir, organizar e traduzir um pequeno menu para um evento brasileiro que acontecerá em breve aqui em Davis. Eu peguei um monte de receitas na internet, of course. Não iria ficar folheando livro numa ocasião que pedia pressa. Mas uma das minhas amigas levou uma pilha de livros. Ainda bem que existem pessoas não-práticas como ela, pois eu me deliciei folheando um por um, olhando fotos e lendo receitas. Um deles particularmente me encantou. É uma edição de capa dura publicada pela Editora Abril e distribuída pelo Círculo do Livro no final dos 70 ou início dos 80, entitulado A Cozinha Brasileira. Pedi emprestado e trouxe para casa!
O livro tem uma pitadinha de história, muitos fatos pitorescos, comidas típicas de todos s cantos do Brasil e muita receita bacana, como as feitas na época do descobrimento, ou as pra serem oferecidas pros santos, até receitas de famosos como Gilberto Freyre, Osvaldo Aranha, Elis Regina, Zélia Amado [Gattai], Angela Maria, Silvio Caldas [bem, eram famosos na época, né?].
Vou copiar algumas das receitas do tempo do descobrimento do Brasil, ainda bem atuais e possíveis de serem preparadas nas nossas cozinhas modernosas.
Galinha Mourisca
Tome uma galinha crua e faça-a em pedaços. Em seguida, prepare um refogado com duas colheres de manteiga e uma pequena fatia de toucinho. Deite-se dentro a galinha, com água suficiente para cozê-la, pois não se há de deitar-lhe outra. Estando a galinha quase cozida, tome cebola verde, salsa, coentro e hortelã, pique tudo miudinho e deite na panela, com um pouco de caldo de limão. Tome então fatias de pão e disponha-as no fundo de uma terrina; derrame sobre elas a galinha. Cubra com gemas escalfadas [termo em português para o francês poché. a gema aquecida em água fervente] e polvilhe com canela.
Picadinhos de Carne de Vaca
Lave a carne de vaca bem macia e pique-na miudinho. A seguir, adicione-lhe cravo, açafrão, pimenta, gengibre, cheiro verde bem cortadinho, cebola batida, vinagre e sal. Refogue tudo no azeite e deixe cozinhar até secar a água. Sirva sobre fatias de pão.
Biscoitos
Tome 14 litros [1, 400 quilos] de farinha de trigo e faça-lhe duas presas: numa coloque 1 quilo de açúcar e um pouco de água quente; na outra, ponha meio litro de água de flor de laranjeira, um quarto de litro de vinho branco e uma colher de sopa cheia de manteiga. Se desejar, use azeite-doce em lugar da manteiga. Misture e amasse tudo junto, até a massa ficar bem sovada e macia. Faça biscoitos e leve-os a assar em forno quente.

receitas maravilhosas em 2006

Faltando um minuto para a entrada do ano novo me dá um medão: como será dois mil e seis? Será salgado, doce, agridoce, crocante, macio, aromático, picante, enjoativo, fast, slow, com casca, delicado, pungente, desidratado, fresco, colorido, monocromático, extra virgem, gelado, congelado, fervendo, borbulhante, pedaçudo, moído, em lata, orgânico, amargo, cítrico, azedo, açúcarado, com cafeína, fogo, água, carnívoro, leguminoso, frutífero?
Muitas leituras pela frente e muitos pratos práticos, saudáveis e rápidos, já que no dia três iniciarei uma nova rotina, com um emprego em período integral e muito, muito trabalho!

ô vício!

Acabei de fechar o browser saindo da amazon.com. Fiz uma comprinha de livros de culinária. Ontem já tinha feito outra no cookbookclub.com. Êêta!
Mas estava irresistível, no club pelos preços e na amazon pelos títulos. Na próxima semana chegam pelo correio:
Feast – Nigella Lawson
French Women Don’t Get Fat – Mireille Guiliano
Elizabeth David Classics: Mediterranean Food, French Country Cooking, Summer Cooking
An Omelette and a Glass of Wine – Elizabeth David
What Einstein Told His Cook: Kitchen Science Explained – Robert L. Wolke
Between Meals : An Appetite for Paris – A. J. Liebling
Moosewood Restaurant Celebrates
The Food of Spain & Portugal
The Best of Gourmet -2005 – 20th Anniversary edition
Vamos ver se vou ter tempo de ler e comentar todos estes livros aqui!
[e acho que logo vou precisar de uma estante extra…. 😉 ]

lancheira

Desde que eu era uma pré-escolar que eu não tenho uma lancheira. Aqui as lancheiras não são somente para crianças, pois muita gente leva a sua com o almoço para o trabalho. Quando eu trabalhava período integral, morava tão perto do meu emprego que ía almoçar sempre em casa – e aproveitava pra fazer um monte de coisas, até escrever! Voltando para uma labuta full-time no início do ano, ainda não decidi se vou querer ir almoçar em casa – contínuo tendo a sorte de morar perto de onde trabalho, desta vez dez minutos a pé ou cinco de bicicleta, mas pelo sim, pelo não, comprei uma lancheirinha térmica.
Ela não lembra nem um pouco as lancheiras que eu tinha quando era criança e onde levava café com leite, bolo, maçã, banana, pão com manteiga e suco de fruta. Essa é mais high tech, com material levinho, isolamento térmico. Já tenho uma idéia do que vou levar nela – barras de granola, frutas, sanduiches de pão integral com queijo e tapenade, garrafinhas de água, salada. Certo é que não vou comprar porcarias ou fast food pronta. Vou querer comer em casa ou contínuar mordiscando meu almocinho de pão com queijo saído da minha lancheira!

não é sopa

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» a querida Mina deu a dica e eu fui atrás. ganhei de Natal o livro Não é Sopa da Nina Horta. lembro da coluna dela na Folha de São Paulo nos anos 80, que eu lia regularmente. estou devorando e me identificando muito com o estilo dela. a Mina tinha razão temos muita coisa em comum…pisc!

“Cozinhar e um modo de se ligar, de se amarrar à vida com simplicidade. E o bom é que cozinhar é preciso, mas cozinhar bem não é preciso, o que dá um certo grau de alívio e liberdade de movimentos. Aprender a cozinhar é uma questão de atitude, de peito. Mais ou menos como saltar de pára-quedas.”

esse parágrafo é a minha cara! também acredito que cozinhar é um exercício democrático e todos têm o direito de exercer. até os que não o fazem muito bem, como eu!