Minha cunhada pediu um vidro de peanut butter e uma caixa de taco shells. No inicio eu achei esse pedido meio bizarro, mas depois repensei e percebi que essas coisas são muito mais naturais quando estamos do lado requisitor do pedido. Quem não rola os olhos e faz aquela cara de deboche quando me ouve pedir um naco de goiabada cascão, um pacote de carne seca, envelopinhos de guaraná em pó, ou mesmo – o recorde da indignação e dos risinhos – uma lata de azeite Maria, que nem é azeite puro, mas misturado com óleo de soja. Ninguém explica essas bichas alimentares. Então quando alguém me pede algo, eu nunca questiono, vou comprar resignadamente.
Histórias de carregamentos estranhos de um país para o outro são super comuns.
Minha mãe é expert nesses contrabandos gastronômicos. Uma vez indo me visitar no Canadá ela enfureceu o meu irmão, quando enfiou DEZ sacos de farinha de mandioca na mala, para satisfazer o meu pedido de UM saco. Meu irmão ficou louco – mas que farofice, que coisa brega, que baixaria! Ela trouxe assim mesmo, junto com tuperwares cheios de maria-moles feitas em casa, pela empregada. Eu acabei virando a pessoa mais popular do pedaço, quando presenteei um monte de brasileiro com sacos fresquinhos de farinha. Nem se eu comesse farofa todo santo dia, iria dar conta dos dez sacos. Mas as maria-moles nós devoramos em minutos.
Numa outra vez, quando eu já estava nos EUA, ela parou primeiro em Los Angeles, pra ficar umas semanas na casa do meu irmão. Na mala, seis ovos de Páscoa para as minhas duas sobrinhas. Também trouxe a máquina de fazer macarrão e preparou uma bela macarronada lá, e outra aqui, quando o Gabriel girou a manivela mais uma vez e nós devoramos aquela delicia feita com apenas farinha e ovos, temperada com um molho de tomates grosso que só ela sabe fazer e ninguém consegue imitar.
Nos aniversários do Gabriel e natais, chegam sempre umas caixonas vindas do Brasil. Elas vem carregadas com bandejinhas de quindim, queijadinha, pé de moleque, cocada, maria-mole, olho de sogra, cajuzinho, brigadeiro. Remetente: Dona Odette Guimarães.
Quando minha mãe vai a Portugal, volta parecendo uma quitanda, carregando vidros de pimenta em conserva e garrafas de vinho na mala de mão. Uma vez ela ganhou um bacalhau enorme da sogra portuguesa da minha irmã. Levou o bacalhau pro Brasil bem embrulhado e tal. Daí veio me visitar e sugeriu trazer o bacalhau com ela. Por mais que eu adore essa iguaria e sinta falta de uma bela bacalhoada, eu a proíbi categoricamente – NADA de trazer bacalhau nenhum! Imagina, passar com um bacalhau na alfândega americana? Onde já se viu, mamãe, tá louca? Mas ela ouviu? Obedeceu? Concordou? Claro que não! Quando ela chegou, abriu a mala e me mostrou morrendo de rir um pacotão comprido: era o bacalhau! Resignada, aceitei o fato de que teríamos bacalhoada no final de semana. E assim minha mãe preparou para o nosso deleite, a receita de bacalhoada da portuguesa Dona Rosa, mãe do Luís, marido da minha irmã.
