Use o que tiver à sua disposição. Salada de frutas não é sinônimo de verão e pode ser feita em qualquer época do ano, com qualquer tipo de fruta. Essas de outono-inverno se combinaram maravilhosamente bem nessa salada, que ficou vigorosa, refrescante, doce, azedinha e crocante. Eu usei: caqui fuyu, sementes de romã, laranja, figos secos e nozes tostadas. Temperei com pingos de limão meyer e um fio de maple syrup.
o suplício inevitável da estação
Eu não curto nem um pouco essas festinhas obrigatórias que pipocam todo final de ano. Não é só a festa em si, mas tudo o que é decorrente e inerente à ela. Na festa de Natal do meu grupo de trabalho tem sempre comidas, bebidas, música, conversinhas pra boi dormir e jogos e brincadeiras animadas.
Tudo é tolerável, menos os jogos e brincadeiras, que geralmente vêm acompanhados de prêmios, que nem sempre têm caracteristicas de recompensa, mas sim de punição. Quem quer ganhar um buquê feito de pirulitos coloridos? Ou uma caixa com cubos de chocolates com gosto de parafina pintados de cor-de-rosa? Eu passo. Queria passar os joguinhos também, mas não quero ganhar o título de chatonilda do mês, então participo—bocejando, com uma cara de blasé, sem me esforçar nada, não fazendo a mínima questão. Eu detesto qualquer tipo de brincadeira ou jogo coletivo, principalmente em ambiente de trabalho.
Ninguém escapa da famigerada festa de Natal. Primeiro temos que responder uma survey online, até que os organizadores—voluntários, ainda vai chegar a minha vez—cheguem a uma resolução democrática, depois que todos deram suas opiniões, sobre onde, quando, como, que horas, com catering, potluck, aberto para famílias, eteceterá, eteceterá. Tudo decidido com relação ao local, horário, menu, vem então o turno da organização das brincadeiras.
Neste ano um dos joguinhos de adivinhação pedia a colaboração de cada indivíduo, que deveria enviar para a fulana de tal uma foto sua, de tempos longínquos, vestido em fraldas, ou fantasiado pro halloween, ou saltando de pára-quedas, ou fazendo qualquer coisa de maneira irreconhecível. Eu tinha acabado de publicar a foto reveladora de uma pequena bugrinha muito da mal humorada e resolvi que seria aquela mesma que iria ser enviada para a organizadora meticulosa da brincadeira mais sensacional da festa de Natal.
Ficou decidido que um serviço de catering seria contratado para providenciar a comida—um maravilhoso e variado cardápio de lasagna de legumes e lasagna de carne, mais salada e pão. A sobremesa seria potluck style, então eu fiz uma torta de limão, com uma massa congelada, mais o lemon curd da Alice Waters e um suspiro por cima. Chovia cântaros pela manhã quando ajeitei a torta bem enrolada em papel alumínio dentro de uma cesta e enfrentei o aguaceiro e o vento, que simplesmente destruiu o meu guarda-chuva.
A festinha decorreu naquela previsibilidade. Música sazonal tocando no fundo, sorteio de prêmio que foi abocanhado pela chefona, comida sem graça, sobremesas variadas e os célebres jogos de confraternização. Eu não reclamo de nada, engulo a gororoba banal, passo a manteiga artificial no pão, bebo até Fanta laranja, mas quando chega na hora de jogar o jogo, a mal humoradinha que mora dentro de mim se manifesta com um grunido de protesto. Todo mundo parece adorar os jogos, aplaude, vibra. Eu tenho ganas de ir lavar as mãos no banheiro e ficar sentada num banco no corredor, esperando a função terminar.
Na brincadeira de adivinhar quem era quem em tempos remotos, eu até arrisquei uns palpites com relação à algumas pessoas: o meu supervisor que continua com a mesma cara até hoje, a que posava com o uniforme do clube do Mickey Mouse e uma que eu jurava que era outra. No final quase todo mundo adivinhou quem era a bochechuda de cara amuada sentada numa rede com vestidinho de manga bufante da foto número um. Não mudei muito, não? Muita gente concordou.
sopa de salsão
O salsão é um legume injustiçado. É sempre usado no background das receitas, como base na preparação de algum prato. Raramente ele brilha sozinho no spotlight. Nem a cenoura e a cebola, que muitas vezes figuram de coadjuvantes, são tão ostracizadas. O salsão que comprei no Farmers Market tinha um perfume delicioso, precisava reinar sozinho numa receita. Fiz então uma sopa. Procurei por receitas, mas todas que encontrei combinava o salsão com outros legumes. Eu queria uma sopa apenas com o salsão e então fiz da minha cabeça.
Refogue bastante cebolinha picadinha no azeite. Junte um salsão inteiro picado, bulbo e folhas. Junte água o suficiente para cobrir todo o salsão—uns dois litros, no mínimo. Cozinhe, cozinhe, cozinhe, cozinhe. Quando o caldo estiver bem verde, bata tudo no liquidificador e passe por uma peneira. Melhor deixar esfriar antes de fazer isso—o seguro morreu de velho! Retorne a panela com o caldo de salsão para o fogo, salgue a gosto, adicione pimenta branca moída na hora e mais um fio de azeite. Deixe reduzir mais um pouco. Sirva com uma bolota de creme fraiche [ou um substituto] e alguns croutons de alho.
como assim, uma semana?
Acho que eu sou uma pessoa óbvia, pois todo ano tem repeteco da mesma cena: a ficha caindo que faltam apenas alguns dias para o Natal e eu ainda não fiz nada, não pensei em nada. Talvez isso aconteça porque essa festa não é a minha favorita, não é a mais aguardada, não é a mais planejada. Eu somente vou com a onda e talvez seja por isso também que eu sempre tomo um caldo. Pois chegou o dia da ficha cair. Enquanto mantinha os olhos cravados no número 17 do calendário—que está exatamente em cima do 24, quer dizer daqui uma semana será Natal—tive meu chacoalhão, meu wake up call.
Não é novidade que eu sempre deixo tudo pra última hora e por isso mesmo preciso registrar o fato mais uma vez, para que fique bem claro para as gerações que nos seguirão que a grandma Fezoca não curtia muito os festejos do Natal. A casa não tem nenhum enfeite, nem árvore, nem luzinha, nem Bing Crosby cantando White Christmas, muito menos cookies de gengibre e canela assando no forno. O sambalelê vai começar agora, com aquela habitual procura histérica por receitas legais, a correria pelos supermercados da cidade em busca dos ingredientres, a esperança de que todas as sobremesas ficarão comíveis e a única certeza—que o esquema do peru vai ser o mesmo. Gingo-o-beus, gingo-o-beus!
cupcakes de baunilha & de chocolate
Fazia tempo que eu estava querendo trazer uns treats para os meus colegas no trabalho. Cupcakes são uma boa pedida, pois são fáceis de fazer, de carregar e de comer. Já tinha feito isso uma vez com os cupcakes de cranberry e pumpkin. Desta vez optei por duas receitas básicas—chocolate & baunilha.
Tenho uma insegurança enorme com relação à minha comida, principalmente com relação às coisas que não tenho muita prática, como bolos e sobremesas. Por isso providenciei uma sessão de degustação particular, quando provei um de cada bolinho e fiz o Uriel comer um de cada também, para poder dar o seu palpitezinho. Depois analisei intensivamente a questão dos ingredientes que eu normalmente uso. O cupcake de chocolate, por exemplo, foi feito com azeite e cacau orgânicos. O de baunilha com a melhor manteiga e açúcar, também orgânicos. O Uriel me aconselhou a não falar nada sobre isso—se você ficar falando que é tudo orgânico, é capaz de assustar o pessoal e eles ficarem com medo de comer os bolinhos. Meu marido, um cara ponderado e sábio! Ele também sugeriu que eu levasse uma geléia pra acompanhar os bolinhos, pois é fato público que meus colegas adoram coisas super doces, de preferência com bastante creme e sabores artificiais. Bom, eles pensam que isso é que é bom, já que não têm outra experiência pra comparar. Pois decidi que será meu papel de agora em diante providenciar essa experiência. Não fui ainda ver quantos cupcakes foram comidos. Estou aqui roendo as unhas—serão os meus bolinhos um sucesso ou um fracasso de publico? No decorrer do dia ficaremos sabendo.
As receitas:
mom’s chocolate cupcakes
1 1/2 xícaras de farinha de trigo
1 xícara de açúcar
1 colher de chá de bicarbonato de sódio
1 colher de chá de sa;
1/3 xícara de cacau em pó
1/2 xícara de óleo – usei azeite
1 xícara de água
1 colher de chá de extrato de baunilha
1 colher de sopa de vinagre
Misture todos os ingredientes muito bem e coloque nas formas de cupcake. Asse por 20 minutos em forno pré-aquecido em 350º F/176º C.
simple vanilla cupcakes
2 xícaras de farinha de trigo
1/2 colher chá de sal
2 colheres de chá de fermento em pó
1/2 xícara – 113 gr de manteiga sem sal amolecida
3/4 xícara de açúcar
2 ovos
1 xícara de leite – usei egg nog
1 colher de chá de extrato de baunilha
Pré-aqueça o forno em 375ºF/ 176ºC. Forre as formas de cupcake com forminhas ou unte com manteiga. Bata bem a manteiga com o açúcar até formar um creme bem leve. Acrescente os ovos, um por vez. Adicione os outros ingredientes e a farinha e o leite alternadamente. Distribua a massa nas formas e asse por 20 minutos.
**update: 4:37 pm, passei pela cozinha e dos vinte e quatro cupcakes que eu coloquei lá às 8 am, restaram ZERO! ainda bem que eu não pronunciei a palavra orgânico—pisc!
Sopa indiana de batata doce – take II
Outra receita de anos atrás que merecia ser refeita, fotografada e comentada. Fica uma sopa muito leve, apesar da robustez da batata e do picante do curry vermelho. O toque do limão antes de servir é imprescindível. Experimente!
-2ºC
Essa é a paisagem que eu vou admirar por muitos meses. Nosso inverno é cinza com pinceladas de verde desbotado. Chove bastante e fica assim, frio o bastante pra congelar meu cérebro de manhã cedo na bicicleta se eu insistir em não usar uma touca bem protetora. Hoje está um dia assim, gelinho nas gramas, transeuntes e bikers encapotados e também algumas criaturas provavelmente provenientes do Alaska, que acham que estão no verão. Parece brincadeira, mas ainda vejo gente de chinelo de dedo nas ruas. Pra mim é tempo de meia, tchau chinelinhos. Mas eu entendo, pois nos nossos anos no Canadá, quando fazia ZERO grau já tinha canadense nas ruas de camiseta sem manga, chinelo e shorts, aproveitandoooo o caloooorrrr, afinal…
Minha árvore ancestral, que fica entre a minha casa e o do meu vizinho, cobre praticamente todo o quintal, providenciando uma sombra muito importante e bem-vinda nos meses do verão. Agora ela não tem nem uma mísera folhazinha. Esse verdinho pendurado nela não é parte da árvore. É sim uma planta parasita muito comum e famosa chamada mistletoe. Ela suga a árvore que a hospeda e é parte de uma tradição de Natal, quando se pendura um galho de mistletoe no alto de uma porta e os casais que passarem pela planta pendurada têm que se beijar. Nós fazemos, quando lembramos. Minha árvore é muito alta para alcançarmos as parasitas e também não há muitas, pois temos um serviço de poda que acaba com elas todo ano.
pop-color
Esse milho faz uma pipoca deliciosa e incrívelmente crocante. Milho comum amarelo e o milho indígena vermelho. Veio como treat na cesta orgânica da semana.
I say hello, hela, heba helloa
Dear friends,
Faz tempo que não dou minhas caras neste blog, mas é que está frio aqui no norte da Califórnia e eu ando dormindo muito, sempre nos lugares quentinhos, na minha caminha ou nas cadeiras forradas com cobertas de lã, às vezes até me enfio em baixo da cama pra tentar dar uma indireta pros humanos desumanos que habitam essa casa e não ligam o aquecedor. Mas está tudo bem, a comidinha está boa, eu bebo água na pia, corro pela casa toda manhã, continuo tentando ser amigo do gato Misty, que pelo jeito [será?] não gosta muito de mim. Anyway, life is good! Mas está frio e eu não ando muito ativo. Ah, a novidade é que ontem a fezoca ganhou um vaso de lindas poinsettias vermelhas—estou adorando! Espero que todos estejam bem, regards, cheers, meawww, tudo de bom,
do amigo Roux.
Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa
Será que é culpa do trânsito de Marte retrógado pegando a minha lua?
Primeiro a caixa da quinoa vazou e zilhões de sementes se espalharam rapidamente pelas prateleiras e frestas da geladeira. Depois o triturador da pia entupiu e subiu aquela água borbulhante amarelada, que gira em falso como se fosse um redemoinho gago. Liguei rapidamente pro Uriel pedindo socorro, pois apesar da pia ter duas bacias, a que tem o triturador é a mais útil, a mais fácil, e eu não posso cozinhar sem usar a torneira. Ele veio e a meleca estava realmente grande. Depois de remover tudo o que fica guardado em baixo da pia, desligar o aparelho, remover o cano, drenar a água escura cheia de pedaços semi-moídos de casca de mexirica, apareceu o grande causador do estrago: uma tampinha de plástico, que deve ter caído lá por acidente. O jantar saiu, mas antes tive que trocar os tapetes da cozinha e me descabelar na frente do fogão, pois justamente naquele dia a lentilha que estava na panela tentando virar sopa, não amolecia de jeito nenhum.
E no dia que resolvi fazer uma receita de tuna melt porque iria jantar sozinha e comecei a não achar os ingredientes—um atrás do outro. No final das contas a única coisa que eu tinha era mesmo um lata de um maravilhoso atum espanhol, que eu compro lá no Corti Brother’s. Bom, pelo menos isso, eu tinha um atum de excelente qualidade preservado no azeite, que compensou a falta de TODOS os outros ingredientes. Não tinha pita bread, não tinha salsão, não tinha pickles, nem queijo cheddar e a maionese até que tinha, mas quando eu abri o pote ela estava com uma camada amarela e um cheiro de ranço. Foi pro lixo. Fiz então o tuna melt à minha maneira, usando um pão indiano e temperando o atum com salsinha picada. Usei também uns tomates meio sem gosto, fora de época, que ainda teimam em chegar na cesta orgânica, cobri com queijo manchego ralado e assei. Não ficou nada igual a um verdadeiro tuna melt, mas ficou bom e eu comi assim, como sempre como quando estou sozinha, com uma bandeja no colo vendo um filme, na sala de tevê.
