dias de jejum forçado

A primeira e última vez que dormi num hospital foi quando meu filho nasceu, há vinte e seis anos. Portanto não posso me considerar uma pessoa experiente em estadias hospitalares e nem me sinto muito animada com a perspectiva de tubos, macas, enfermeiros, monitores. But a woman’s gotta do what a woman’s gotta go, então hoje pela manhã me internarei no hospital para fazer um tratamento chamado EMBOLIZAÇÃO UTERINA.

No ano passado uns exames detectaram entidades invasoras residindo no meu útero. O aparecimento dos famigerados fibromas parece ser uma coisa normal em mulheres de mais de quarenta anos. Eles são considerados tumores benignos e não causam nenhum risco, mas se desenvolvem e se multiplicam, evoluindo rapidamente para um quadro de sintomas realmente duros na queda. Eu já estou hospedando muitos, inúmeros, incontáveis fibromas e eles já estão fazendo a minha vida bem miserável. Na busca por uma solução fui colocada frente a frente com a possibilidade de fazer uma histerectomia, que é o procedimento de remoção do útero. Fiquei muito perturbada com a idéia de remover uma parte do meu corpo e eu e o Uriel fomos atrás de mais informação. Descobrimos que noventa por cento das operações de remoção do útero relacionadas à problemas com fibromas são totalmente desnecessárias e que há tratamentos alternativos. Tive várias consultas com minha ginecologista e, depois que optei pela embolização, também com a radiologista que vai comandar a ação e que me explicou todos os micro-detalhes desse procedimento muito menos traumático e agressivo.

Vou pro hospital em jejum, levando comigo minha malinha com alguns objetos pessoais e meu indefectível e robusto mau humor matinal. Estou ciente de todos os pormenores e de como meu corpo deverá reagir a esse tratamento. Já sei que vou ter que ficar uns dias de molho, sem poder cozinhar ou inventar muita moda. Tirei uma semana de licença saúde, que é o tempo que me disseram que vou precisar para me recuperar. Mas estou na expectativa de estar boa antes disso. Até breve então!

Bolo de pêssego

torta_pessego_1S.jpg

Essa é a sobremesa do mês na edição de agosto da revista Martha Stewart Living. Adorei tudo nela, a massa de cornmeal com lavanda e, é claro, os pêssegos que estão entrando com tudo na estação. Gostamos imensamente do resultado, que pode ser comparado à um bolo de fubá sofisticado com a lavanda no lugar da erva-doce, e os pêssegos caramelados combinando muito bem com todo o resto. Comentário do crítico enquanto se servia de mais uma fatia—mas essa Martha Stewart é fogo, hein? Nem fala, nem fala, êta sujeita fogueta! Tudo o que ela publica dá certo e fica bom.

peach and cornmeal upside-down cake
170 gr/ 1 tablete e meio de manteiga sem sal amolecida
1 xícara de açúcar
6 pêssegos cortado em fatias grossas
1 xícara de cornmeal ou polenta
3/4 de farinha de trigo
1 colher de chá de fermento em pó
2 colheres de sopa de flores de lavanda secas
1 1/4 colher de chá de sal grosso
3 ovos caipiras grandes
1/2 colher de chá de extrato de baunilha
1/2 xícara de creme de leite fresco

Numa frigideira larga de ferro, ou outro tipo de panela que possa ir ao fogo e ao forno, derreta 56 gr/ 4 colheres de sopa de manteiga e espalhe bem pela superfície. Deixe dourar. Polvilhe 1/4 xícara do açúcar sobre a manteiga e deixe derreter, formando um caramelo. Coloque sobre esse caramelo as fatias de pêssegos formando um circulo em aspiral como numa flor. Deixe cozinhar um fogo baixo por uns 10 minutos, até que os pêssegos fiquem macios. Tire do fogo e reserve.

Numa vasilha misture a farinha, o cornmeal, o fermento, o sal e a lavanda. Reserve, Na batedeira, bata em velocidade média a manteiga restante [113 gr] com o açúcar restante [3/4 xícara] até formar um creme liso. Acrescente os ovos um por um, batendo sempre, Junte a baunilha e o creme de leite. Diminua a velocidade e vá jogando a mistura seca, até tudo ficar bem incorporado. Coloque essa massa sobre os pêssegos caramelizados na frigideira, espalhe bem com uma espátula e coloque em forno pré-aquecido em 350ºF/ 176ºC por 22 minutos, até a massa ficar firme e dourada. Retire do forno, deixe esfriar. Quando estiver frio, passe uma faca pela borda e vire o bolo sobre uma travessa.

o primeiro da estação

o_primeiro_08_1S.jpg

Minha surpresa nesta semana foi encontrar muitos tomates já bem grandes, mas ainda verdes, nos pés de tomate que plantei este ano na minha horta. Surpresa maior foi ver vários tomates cerejas vermelhinhos pendurados num galho. O negócio é que eu não plantei nenhum pé de tomate cereja este ano, pois já vem muitos deles na cesta orgânica e eu sempre acabo com um surplus enorme. Esses nasceram espontaneamente, fruto das sementinhas dos tomatinhos que cairam na terra no final do último verão. Então tá, pelo jeito não tenho escolha, né? Vou ter tomates cerejas abundando na horta e na cozinha mais uma vez!

um dia em fotos

gabe_acordando_1s.jpg

Lembro que naquele dia eu acordei com a macaca e com mil idéias na cabeça. Com a câmera fotográfica já preparada, rolos de filmes extras, fui avisando—Gabriel, vamos registrar o seu dia em fotos! E ele, como o menino mais lindo do mundo que ele sempre foi, topou. Quem tem um avô que te fotografa em todas as poses possíveis e uma mãe engraçadona que te pega no flagra quando VOCÊ ESTÄ MEDITANDO NO DÁBLIUCÊ, não estranha quando recebe a proposta de ser modelo da própria vida. Então fomos lá, eu passei o dia atrás dele, clicando. Só não tirei fotos dele tomando banho, porque ele não quis e tive que respeitar. Mas começamos com o acordar, que obviamente na foto está todo encenado, já que a janela está escancarada, o quarto cheio de luz, ele está de óculos e com a boca suja de leite com chocolate, que era o que ele sempre bebia no café da manhã. Depois continuamos com ele estudando, ou melhor, fazendo as tarefas da escola, depois almoçando a comidinha natureba com aquela cara de alegria que ele sempre fazia em frente ao prato cheio de arroz integral e agrião refogado, depois escovando os dentes na frente do espelho—que ficou uma foto criativa, admito. Fizemos o set do cotidiano, que depois eu colei em sequência num pequeno álbum, para guardar para todo o sempre, afinal a gente esquece detalhes com o tempo, e naquele tempo não havia blog nem foto digital, era tudo muito mais dependente da sua memória, boa ou ruim, natural ou ginkobilobada.

fatos da foto:
Estava friozinho, pois ele estava dormindo com o acolchoado de lã de carneiro da minha infância. Minha mãe mandou fazer um pra cada filho, os dos meninos azul, os das meninas vermelho. O Gabriel herdou o meu.

Tinhamos voltado da Bahia fazia pouco tempo, pois o Gabriel está com as fitinhas do Bonfim no pulso e atrás da cama dá pra ver um pedaço do berimbau que ele veio carregando paulistamente no avião.

Filho de peixe. Ele dormia de camiseta, como o pai e a mãe. Somos uma família que nunca teve pijamas. E ele fazia o que eu faço até hoje, dormia com o cabelo molhado e com uma toalha no travesseiro e depois acordava com aquela cabeleira do zezé, com tufos super ondulantes só de um lado da cabeça.

letter from the farm

Welcome back from the weekend, as the temperature has cooled and the skies have cleared. It is mid-summer, a grand time for epicures like yourselves. As you can see from your baskets, the amount of tomatoes is steadily increasing each week, painting themselves a brighter red each time. The ambrose cantaloupe are slipping off the vines like butter. Cantaloupe, with origins in Africa and India, was introduced to North America by Christopher Columbus on his second voyage to the New World in 1494. Continue Columbus’ voyage with our Recipe of the Week.
This week the baskets abound with garlic, onions, collards, kale, chard, cantaloupe, cucumber, summer squash, eggplant, peppers, potatoes, tomatoes, basil, zucchini, plums, and peaches. The figs and nectarines were picked from the bountiful Ecological Garden; please note they are not certified organic.
Today’s baskets were picked and packed with love by Matt, Ethan, Laurie, Judy, Hai, Toby, Rachel, Raoul, Laura, and Aubrey. Enjoy the week!

Recipe of the Week
Cantaloupe Bread – Pão de Melão
1 3/4 xícara de farinha de trigo
1/4 colher de chá de bicarbonato de sódio
2 colheres de chá de fermento em pó
1/4 colher de chá de sal
2/3 xícara de açúcar
2 ovos
1/2 xícara de pecans picadas
1/5 xícara de manteiga derretida
1 xícara de polpa amassada de um melão cantaloupe
Misture todos ios ingredientes secos, adicione os ovos, a manteiga e a polpa do melão. Incorpore as pecans picadas. Coloque a massa numa forma de pão bem untada. Asse em 350ºF/ 176ºC por mais ou menos 50 minutos.

Gazpacho

gazpacho_1S.jpg
Depois de fazer o Ajo Blanco, quis fazer também o Gazpacho. Dei uma olhadela no 1080 Recipes, onde me inspirei para fazer a minha versão.
Bati no liquidificador 4 tomates orgânicos maduríssimos, 1 pimentão vermelho pequeno, uma cebola bem pequena, 4 azeitonas pretas, um punhado de salsinha fresca picada e duas fatias de pão francês de ontem amolecidas em água gelada. Bati bem, acrescentei uma xícara de água gelada, pimenta do reino moída, flor de sal a gosto e bastante azeite de oliva. Coloquei tudo numa jarra e deixei gelar. Servi com croutons simples, feitos com fatias finas de pão francês cortadas em cubinhos e tostados na frigideira de ferro, e regados com um fio de azeite.

Ajo Blanco

ajoblanco_1aS.jpg

Uma deliciosa sopa fria típica da Andalucia, na Espanha. Usei esta receita, dando umas adaptadas aqui e ali. Achamos o resultado bem interessante, um prato ideal para dias super tórridos, quando não se pode ou quer usar o fogão.

1 xícara de amêndoas sem pele
4 fatias de pão branco sem a casca imersas em água gelada
3 dentes de alho em fatias
5 colheres de sopa de azeite de oliva
2 1/2 xícaras de água gelada
2 colheres de sopa de Jerez, vinagre de sherry
Sal a gosto
Uvas brancas sem sementes
Salsinha picadinha para decorar

Numa panela coloque as amêndoas e o alho, cubra com água e dê uma fervida. Coe e coloque no processador com o pão molhado. Bata bem, vá adicionando o azeite aos poucos. Adicione a água gelada e o vinagre. Processe até a mistura ficar bem cremosa. Adicione sal a gosto. Coloque a sopa numa vasilha e leve à geladeira para gelar. Sirva com as uvas, decorado com a salsinha picada e algumas fatias de amêndoas tostadas se quiser. A adição das uvas brancas realmente faz uma diferença e adiciona um plus nesta versão branquela do gaspacho.

Nada se cria, tudo se copia

A internet é um espelho virtual da nossa sociedade real, cheia de gente de bem, trabalhadora, gente legal, honesta, construtiva, criativa, mas também superpopulada com a bandidagem, os trambiqueiros, gente que não tem o menor escrúpulo, que acha que está numa terra de ninguém vestindo um traje invisível.
Não sei onde foi parar as regras da Netiqueta, que se usava no inicio da internet e hoje parece ter sido enterrada a sete palmos, ninguém quer saber, nem se importa mais com nada. Vê-se de tudo por ai. É um mar de boçalidade e cretinice aterrador.
Fiquei realmente chocada em descobrir receitas e fotos de pessoas idôneas que eu conheco sendo repassadas de mão em mão, ou melhor, de e-mail em e-mail, como se elas não fossem de ninguém, não tivessem saído de uma cozinha, onde uma pessoa se empenhou em inventar ou adaptar a receita, teve o trabalho de deixar tudo bonito e tirou fotos para colocar online. Os gatunos oportunistas apenas passam agarrando o que vêem pela frente, como num saqueamento virtual, pra depois repassar para outros repassarem e depois esses repassarem mais uma vez, e assim sucessivamente até não se saber mais de onde veio aquilo, porque para eles nada parece mesmo ter dono. Eu testemunhei esse passa-passa meio sem querer, quando aportei por acaso numa lista de culinária aberta, onde entravam todos os dias várias receitas e fotos de muitos amigos blogueiros, sem nenhuma menção de crédito.
E agora me avisaram que uma criatura está colocando MINHAS FOTOS e MEUS TEXTOS num grupo de culinária no Flickr, como se fossem dela, sem link, sem crédito, sem nada! O que essa gente está pensando da vida? Me choca profundamente perceber a maneira desrespeitosa com que o trabalho do outro é tratado. Se está na internet, é livre, pode pegar! Eu estou imensamente desanimada, pois realmente me dedico ao que faço, capricho nas minhas fotos, me empenho escrevendo meus textos, que refletem a minha personalidade e a minha vida, para depois ver o fruto desse trabalho acabar tristemente em bocas de Matildes….