A revista Martha Stewart Living de Julho de 2009 trouxe uma reportagem super bonita, com receitas de aperitivos em diversas partes do mundo. Esses figos grelhados são servidos em Veneza. São feitos com a fruta da variedade de casca verde e pancetta. Eu não achei pancetta, usei então fatias finíssimas de prosciutto. E troquei as sementes de fennel pela de anise [erva-doce], pois acho as duas bem parecidas. Ficou um aperitivo delicioso, que devoramos acompanhado de limonata no domingo à tarde.
6 figos cortados ao meio
1/2 colher de chá de sementes de fennel [*usei a de anise—erva-doce]
6 fatias finas de pancetta [*usei prosciutto]
Pré-aqueça o broiler*. Jogue as sementes sobre as partes cortadas dos figos e embrulhe cada uma numa fatia de prosciutto. Arranje numa assadeira com a parte cortada para baixo. Coloque sob o broiler e deixe por 3 minutos. Vire cada figo e deixe sob o broiler mais 3 minutos. Sirva morno ou frio acompanhado de prosecco ou outra bebida refrescante e borbulhante.
*Se não tiver broiler faça no forno, com temperatura bem alta.
Eles são minúsculos—do tamanho de ervilhas. Eu que achava que já tinha visto todo tipo de tomate nesses meus anos vivendo aqui na tomatolândia, me surpreendi mais uma vez quando vi esses micro tomatinhos na banca de uma família de fazendeiros no Farmers Market. Fui logo fazendo mil perguntas, a moça me deu um para provar. São deliciosos, ela disse. E eu confirmei. Usei pra fazer salada, assim inteiros, pois eles são tão pequenos que não vale a pena cortar. São docinhos e quando se morde um faz ploc!
Só não fui na primeira sessão do dia porque tinha que trabalhar. Combinei então com o Gabriel de pegarmos a das 7:20 pm. Ele zombou, dizendo que não teria ninguém na sala do cinema—somente um bando de velhinhas, ele afirmou. Chegamos em cima da hora e fomos avisados de que a sessão estava cheia, sobravam apenas algumas cadeiras nas fileiras da frente. Sala vazia, somente com algumas velhinhas, hein? Vamos assim mesmo, respondi prontamente. Nem pensar em esperar mais horas para ver Julie & Julia, o filme baseado no livro da Julie Powell e com o acréscimo de partes do livro biográfico e póstumo da Julia Child, My Life in France. Entramos na sala lotada, já com os trailer em ação e sentamos lá na frente, com aquela tela imensa distorcida e tivemos que praticamente deitar na cadeira até que os olhos se acostumassem com aquela imagem gigantesca na nossas caras.
Julia & Paul Child valentine’s card
O filme era tudo o que eu esperava. Adorei ver Julia Child finalmente personificada, num trabalho excelente de uma atriz do calibre da Meryl Streep e me identifiquei um pouco com a blogueira obstinada que, de uma certa maneira, trouxe Julia novamente para o nosso convívio. Depois do sucesso do blog projeto Julie & Julia e seguidamente do livro Julie & Julia, os dois volumes da obra prima de Julia Child, Mastering the Art of French Cooking, voltaram a ser abertos nas cozinhas de todo o mundo e Julia, nunca realmente ausente, voltou a fazer parte da nossas conversas em blogs e na vida real.
Quem leu os dois livros—como eu, vai perceber o filme num âmbito um pouco maior, pois nos livros há muitos detalhes deixados de fora no filme. Duas horas não são suficientes para contar com todos os micros detalhes as histórias dessas duas mulheres. Mas a diretora Nora Ephron fez um filme equilibrado, com um roteiro bem articulado que conta um pouco sobre a trajetória inicial da Julia Child e do projeto de Julie Powell.
É muito mais fácil se encantar com a história de Julia Child, que se inicia na Paris do final dos anos 40 e que culminou com a publicação de um livro que virou biblia da cozinha francesa para os americanos e a transformou num mito da cultura gastronômica mundial. Julia era única, inimitável, altona e desengonçada, com uma voz de marreca, casou-se tarde numa união extremamente feliz. Tudo o que ela fez foi meio que por acaso. Era perseverante, obcecada, dedicada, honesta. Sempre tive essa imagem dela, muito feliz no casamento com Paul, fazendo tudo com naturalidade e espontaneidade, sem objetivo nenhum de ser famosa, sem forçar a barra, desabrochando já na meia idade, realmente uma mulher de personalidade. Me identifico, sem pretensão, com muitas coisinhas do percurso da vida da Julia.
A identificação com Julie Powell vem pelo fato dela ser uma blogueira contando publicamente suas histórias na cozinha, incluindo sucessos e fracassos, e por ela projetar a mesma imagem que muitos de nós fazemos da Julia. Eu conhecia a Julia Child de vídeos e livros, mas não me inspirei nela, muito menos na Julie Powell para fazer o meu blog. Reconheço porém uma certa semelhança entre o que Julia & Julie fizeram e o que estou fazendo, porque cozinhar e blogar envolve muita dedicação, mas ao mesmo tempo exige um certo desprendimento. Na sala de cinema lotada de gente de todas as idades, eu pensava quantos ali cresceram vendo os programas de tevê, preparando ou apenas comendo as receitas da Julia. E quantos só descobriram Julia Child recentemente e decidiram abrir os livros e testar algumas receitas. Acredito que essa mulher grandona alegrou e enriqueceu a vida de muita gente, com seu didatismo e bom humor, sua figura carismática e divertida. Julia indiretamente salvou Julie do tédio, da frustração, da inércia. E acabou salvando outros também, de lambuja. Os que leram e se entusiasmaram pelo projeto, resgataram seus livros de receitas, ajeitaram os aventais e colheres de pau, abriram seus laptops e começaram a cozinhar e a também contar as suas próprias histórias.
Ando refazendo algumas receitas, porque é normal o entusiasmo por receitas novas entrar em declínio e o cozinhar do dia-a-dia pegar carona na inércia. Num outro dia decidi que iria fazer um pão. Desempoerei a minha máquina jurássica, que é usada há cada três anos e decidi refazer esta receita de pão de cebolinha, que é a única que eu já fiz fugindo das que vieram no manual. Da primeira vez deu tudo errado. Acho que o fermento não estava muito bom. Comprei fermento novo, farinha especial para pão e refiz, substituindo a ciboulete ou cebolinha por alecrim. Da segunda vez o pão deu certo, mas eu quero mesmo é pegar o entusiasmo para fazer pão manualmente. Já li sobre as técnicas, já separei receitas básicas, mas ainda não consegui me organizar para botar a mão na massa. Meu problema maior é a falta de tempo.
Passo meu dia em função do meu emprego, que só não é muito distante das minhas aventuras na cozinha porque eu trabalho transportando para a web guias de gerenciamento integrado de pestes, que tem uma parte enorme dividida por produtos agrícolas. Neste momento estou atualizando páginas de zilhões de pestes que atacam a alface, o algodão e a cereja e modificando uma galeria gigantesca de ervas daninhas e plantas invasivas, algumas comestíveis. Fora isso, penso nos ingredientes com que cozinho somente nas minhas horas livres, que incluí também a do almoço. Quando chego em casa no final da tarde estou cansada, muitas vezes sem idéias, sem paciência, querendo fazer outras mil coisas e também descansar, ver filmes, ler livros, dormir.
Tínhamos muito pra conversar e foi o que fizemos, enquanto eu preparei rapidamente e mais uma vez a salada de tomate com sumac e esperamos o gratinado de batatas e abobrinha cozinhar. Conversamos muitas coisas, porque estamos vislumbrando muitas mudanças e são tantas coisas para se discutir, refletir e analisar. Quando sentamos finalmente para comer ele me disse:
—você precisa repensar o seu blog, ver se não está sendo demais, pois você não precisa escrever lá todos os dias.
Concordei, pois é verdade: não preciso escrever todos os dias. O que acontece é que devo ter ligado o automático, como costumo fazer com muitas outras coisas. Vou fazendo tudo sem pensar, muito menos repensar. Vejo receitas, marco com post-its e quando dá certo preparo. Se der certo, tiro foto, se a foto ficar boa, monto o post, mas muita coisa não fica boa, ou fica boa mas a foto fica um lixo. Como o sorbet de uva que fiz noutro dia e que ficou muito bom, mas fui tirar fotos na hora do almoço, enquanto conversava com o Gabriel. Obviamente as fotos não vingaram e não teve segunda chance, pois o sorbet foi devorado rapidamente. Normalmente eu não choro por essas oportunidades perdidas, mas quando tudo fica tão automático que se tira foto enquanto faz outras coisas, pois não é mais um desafio e sim rotina, o tédio começa a tomar conta e refletir na qualidade do blog. Hora de repensar mesmo, como já repensei muitas outras coisas importantes na minha vida.
Essa salsa foi criada num domingo, durante uma deliberada faxina na geladeira quando eu tentava usar o máximo possível de ingredientes da semana anterior e abrir espaço para a chegada da cesta orgânica da segunda-feira. Liguei a churrasqueira e coloquei tudo que fosse possível grelhar: espigas de milho na palha, cebolas embrulhadas em papel alumínio e temperadas com sal marinho, orégano fresco e azeite, algumas pimentas jalapeño e vários pimentões verde clarinho chamados de gypsy pepper e que eu acho muito do sem graça. Removi a pele e as sementes dos pimentões grelhados e fiz uma salada tipo antepasto temperada com aceto balsâmico que desapareceu numa estalada de dedo. Com os outros ingredientes fiz esta salsa, para comer com chips naturebas—eu compro os de azeitona e os de multigrãos da marca Food Should Taste Good.
Para fazer a salsa eu piquei vários tomatillos que estavam acumulando há três semanas na gaveta da geladeira. Esse ingrediente é interessante, mas é meio chato de usar. Não há muitas idéias de como utilizá-lo, a não ser em forma de salada ou salsa, cozidos ou crus. Eu usei os tomatillos crus e misturei com os grãos de milho grelhados, que removi da espiga com uma faca, mais as cebolas assadas e as pimentas jalapeño grelhadas, que removi a pele e as sementes e piquei. Não tinha coentro fresco, que seria mais apropriado, então usei orégano fresco que era a erva que eu tinha disponível. Temperei com suco de limão, sal marinho e azeite. Ficou uma salsa-salada muito gostosa, para comer com esses chips mais gostosos ainda.
Outra receita saída do livro Falling Cloudberries da Tessa Kiros. Segundo ela, essa é uma torta típica do sul da Itália, que combina a ricota com a obsessão dos italianos: o chocolate. Como não sou ligada em chocolate, o detalhe que me atraiu nessa torta foi a laranja, of course.
massa:
100gr de manteiga ligeiramente amolecida
85 gr de açúcar
150 gr de farinha de trigo
30 gr de cacau em pó puro [sem açúcar]
1 ovo batido
Coloque a manteiga e o açúcar no processador e pulse até obter uma massa cremosa. Junte a farinha, o cacau e no final junte o ovo batido. Pulse até obter uma massa macia. Coloque numa folha de plástico, amasse num disco e leve à geladeira por 1 hora.
recheio:
3 ovos batidos
140 gr de açúcar
1 colher de sopa de raspinhas da casca de laranja
750 gr de ricota
1 colher de sopa de suco de limão
2 colheres de sopa de suco de laranja
Bata o açúcar e os ovos até ficar bem cremoso, Junte a casca de laranja e a ricota e bata até incorporar bem, junte o suco do limão e da laranja.
Pré-aqueça o forno em 350ºF/ 180ºC. Abra a massa numa superfície enfarinhada e forre uma forma funda de fundo removível com ela. Leve a massa ao forno por 20 minutos. Remova a massa do forno e coloque o recheio de ricota. Volte ao forno por mais 45 minutos ou até o recheio ficar firme no centro. Remova do forno, deixe esfriar e desenforme a torta. Sirva morna ou fria.
Vi o finzinho de um programa da Ina Garten, onde ela preparava um picnic na praia para os amigos. Eu teria que nascer de novo para conseguir fazer o que essa mulher faz para alimentar um grupo, sem derrubar as panquecas no chão, sem deixar cair cabelo na salada de batata e sem ficar toda esbaforida como eu sempre fico preparando um mero almocinho para dois. Nesse programa ela serve, sorrindo e graciosamente, uns hamburgures de carne com cebolas caramelizadas por cima em fatias de English muffins. Amei a idéia da cebola e dos muffins, mas não estava muito animada a fazer carne. Então substituí os hamburgueres por cogumelos portobellos que tinha comprado no Farmers Market. Temperei os cogumelos com sal, pimenta do reino e azeite e grelhei rapidamente na churrasqueira. Como fiz essa comida num final de semana extremamente quente, acabei fazendo a cebola também na churrasqueira—temperada com sal, azeite e ervas provençais e embrulhada numa folha grossa de papel alumínio. Tostei os muffins na churrasqueira também. Ficou um sanduíche bem interessante. Usei muffins integrais. Servi com uma salada de repolho, tomate e figo seco e outra salada somente de tomate heirloom.