Autor: Fer Guimaraes Rosa
happy halloween!
Uma centena de crianças e adolescentes baterão hoje na porta da minha casa pedindo doces. A minha vizinhança é uma área bem popular com os trick-or-treaters que invadem as calçadas caminhando em grupos barulhentos carregando lanternas, e sacolinhas e baldinhos para coletarem as gostosuras. A noite das bruxas é uma das celebrações mais divertidas daqui do hemisfério norte. Eu adoro participar e já estou muito bem preparada!
❧ as mudanças do outono ❧
Já posso dizer que estamos realmente no outono quando as folhas das magníficas sycamore começam a cair. Elas são as primeiras árvores que se desfolham, mas não são as que fazem da maneira mais bonita. As folhas imensas dessas árvores não ficam amarelas nem vermelhas, nem degradê, elas simplesmente secam e caem. E fazem uma sujeira e tanto. Mas não deixa de ser uma ocorrência bem-vinda depois do cansaço do final do verão. Minha casa é rodeada por umas cinco sycamore bem antigas e imponentes. Todo final de semana é um limpa limpa e as folhas gigantes continuam caindo, e vão cair desordenadamente até não sobrar mais nenhuma.
O Farmers Market de Woodland encerrou suas atividades sazonais. E encerrou com grande estilo, alongando a temporada por três semanas por causa da demanda. Fiz um estoque enorme da maçã mais deliciosa do mundo e me despedi dos meus fazendeiros favoritos com o melhor sorriso desejando revê-los todos em breve. Ganhei alguns produtos extras, colocados na minha cesta como um sinal de agradecimento. E recebi o elogio mais gentil—você foi uma super cliente! Certifiquei que estarei de volta para o próximo ano.
As abóboras abundam e acrescentam cores na peculiaridade da paisagem de outono. Já tivemos dias frios, com chuva e vento. Outros dias de sol virão, intercalados com os de chuva. Este ano está prometendo um inverno bem mais molhado. Quando dirijo para casa voltando do trabalho à tarde já não vejo mais nenhum campo de tomate ou de milho. Só vejo uma imensidão de terra sendo preparada para descansar ou receber alguma cultura alternativa de inverno. Os dias estão mais curtos e eu estou muito ocupada com toneladas de trabalho me soterrando e me consumindo. O lazer nos finais de semana é minha prioridade, com os dias de folga encabeçando a lista de desejos e cobiças. Quando eles chegam eu me comporto de maneira completamente esganada querendo aproveitar cada segundo. Porque são tantas coisas para fazer, ler, ouvir, fotografar, conversar. Além de todas aquelas folhas para varrer.
bolo de abóbora
[com especiarias]
Guardei essa receita de bolo outonal mesmo sabendo que iria ter que pesar todos os ingredientes, coisa que não gosto muito de fazer. Acho que nesta altura do campeonato todos já perceberam que eu sou uma cozinheira de araque e que o pouco que sei aprendi na escola da Martha Stewart, usando cups & spoons. Mas quando é preciso eu faço tudo direitinho. Mesmo não sendo uma super fã de bolos desse tipo, com especiarias e nozes, fui praticamente impelida a fazer e ficou um bolo realmente bom. Quando o meu marido pega metade do bolo pra levar na marmita da semana, é porque a receita foi aprovada.
200 gr de farinha de trigo
4 colheres de chá de fermento em pó
1 colher de chá de bicarbonato de sódio
1/2 colher de chá de sal
2 colheres de chá de canela em pó
1 colher de chá de noz moscada ralada
250 gr de açúcar mascavo
50 gr de castanhas do Pará picadas [*usei noz pecã]
3 ovos caipiras [*usei ovos de pata]
190 ml de óleo vegetal
1 colher de chá de extrato de baunilha
400 gr de purê de abóbora
[*eu assei a minha e fiz o purê, mas pode usar abóbora em lata]
Unte uma forma grande com buraco no meio [tipo bundt] com manteiga e polvilhe com farinha de trigo. Reserve. Pré-aqueça o forno em 355ºF/ 180ºC. Numa vasilha misture a farinha, o bicarbonato, o fermento, o sal e as especiarias. Reserve. Na batedeira ou com um batedor de arame bata os ovos levemente, acrescente o açúcar, o óleo, a baunilha e a abóbora. Misture bem e adicione as nozes ou castanhas. Junte a mistura de farinha, misture bem pra ter certeza que todos os ingredientes ficaram bem incorporados. Despeje a massa na forma untada e leve ao forno por 40 minutos ou até o bolo ficar completamente cozido no centro da massa. Remova do forno, deixe esfriar bem e vire com cuidado numa bonita travessa.
as castanhas [californianas]
Numa tarde de domingo eu quis passar por um pomar de castanhas pra ver como estavam as coisas. Esses pomares são realmente intrigantes, juntamente com os de nozes, pistaches e amêndoas. Quando as castanhas amadurecem a casca racha e elas caem no chão. Em alguns pomares as árvores são chacoalhadas antes da colheita, noutros não. Rodamos um tantão pela região antes de chegar nesse pomar que fica a uns quinze minutos de Woodland, na cidade vizinha de Winters. Desci para tirar fotos e não demorou muito para um carro se aproximar vindo do centro da fazenda e me pegar no flagra em pleno click-click. Puxei um papo meio sem graça com senhor e um moço, que pareceram surpresos com o fato de eu saber o que aquelas bolotas espinhudas eram. Me falaram que muita gente não sabe que aquilo são castanhas. Acrescentei que sabia, pois pra mim elas são comida típica de Natal. Fiz um monte de perguntas—onde eles vendiam as castanhas, foi uma delas. Eles me deram um cartão e me mandaram ficar à vontade. O negócio é que quero ficar amiga íntima de todos esses fazendeiros. Como lidar com isso?
food & hollywood VII
salada de batata doce & figo
Esta é mais uma receita maravilhosa do livro Jerusalem do Yotam Ottolenghi e do Sami Tamimi. Ela me encantou logo de primeira vista. Será que é porque adoro figos [preciso dizer isso?] e adoro batata doce? Pode até ser. Mas também acredito que esse chef é um gênio para combinar frutas e legumes e a mistura desses dois ingredientes ficou absolutamente auspiciosa. Usei uma picante porém não flamejante pimenta jalapeño que já estava avermelhando. Não lembrei de colocar o queijo de cabra e sinceramente nem achei que fez falta.
4 batatas doces pequenas
5 colheres de sopa de azeite de oliva
40 ml de vinagre balsâmico vinegar
20 gr de açúcar
12 ramos de cebolinha partidas ao meio
1 pimenta vermelha fatiada no comprimento
6 figos frescos cortados em quatro
150 gr de queijo de cabra [opcional]
Sal Maldon e pimenta do reino moída na hora a gosto
Pré-aqueça o forno em 450ºF/ 240ºC. Lave e seque as batatas e corte em fatias longas e grossas ou cubinhos. Tempere as batatas com 3 colheres de sopa de azeite, 2 colheres de chá de sal e pimenta a gosto. Espalhe as batatas sobre uma assadeira forrada com papel alumínio e asse por uns 25 minutos, ou até elas ficarem macias, mas não desmanchando. Remova do forno e deixe esfriar totalmente.
Coloque o vinagre balsâmico numa panela pequena e leve ao fogo. Deixe ferver e abaixe o fogo, cozinhando por uns 2 ou 4 minutos, até o vinagre engrossar. Remova a panela do fogo e reserve.
Numa outra panela coloque o azeite restante, as cebolinhas cortadas ao meio e as fatias de pimenta. Deixe cozinhar por uns 4 ou 5 minutos, mexendo sempre. Desligue o fogo.
Monte a salada colocando as batatas assadas sobre uma travessa, espalhe os figos e tempere com o azeite e os ramos de cebolinha e pimenta cozidos nele. Regue com a redução de balsâmico, espalhe o queijo de cabra esmigalhado com as mãos por cima [eu não coloquei] e sirva.
《 polkadot 》
torta de maçã sueca
Tivemos um domingo absolutamente agradável, tanto que pudemos almoçar, tomar o chá da tarde e depois fazer o lanche da noite no gazebo do nosso quintal. Até os gatos aproveitaram ao máximo o dia. O velhinho Misty veio tomar sol na porta da cozinha e até arriscou uns passinhos no quintal e o Roux passou o dia entrando e saindo por todas as portas que davam acesso ao quintal, fazendo caminhadas por entre as plantas e rolando e se espreguiçando no cimento do chão. Acho que ele nem dormiu nesse dia. Exatamente às 5 da tarde preparei um cházinho de capim-limão que servi acompanhado dessa torta de maçã sueca que preparei numa piscada.
7 colheres de sopa de manteiga
1/3 xícara de açúcar
1/2 xícara de amêndoas [ou avelãs] picadas
1 ovo caipira [usei o de pata]
1/2 xícara de farinha de amêndoa [pode ser também de trigo ou de arroz]
1 colher de chá de fermento em pó
Umas gotas de extrato de amêndoa [opcional]
1 maçã grande descascada e cortada em fatias
[usei a variedade Granny Smith]
Pré-aqueça o forno em 360ºF/ 182ºC. Na batedeira bata bem a manteiga e o açúcar até formar um creme. Junte os outros ingredientes e misture bem. Unte uma forma redonda com manteiga e polvilhe com farinha de amêndoa. Coloque a massa na forma usando uma espátula, pois ela fica bem grossa. Espalhe bem sobre a forma. Coloque as fatias de maçã por cima da massa, apertando levemente com os dedos para as fatias afundarem um pouquinho. Polvilhe com canela em pó e açúcar se quiser [eu quis]. Asse por uns 40 minutos ou até o centro da torta ficar bem cozida. Remova do forno, deixe esfriar e sirva com creme de leite batido em chantily ou fresco, que foi como eu fiz.
o doce que vem no figo
Parti figo ao meio e a polpa era o doce mais doce dos doces. Neste verão posso dizer que me esbaldei de comer figos. Comi de todas as variedades que achei pra comprar. Só não tive ânimo de me enfiar debaixo daquela árvore de ninguém onde todo ano me aventuro colhendo uns figos diferentes, verde claro por fora e um marrom pálido por dentro. Esses super doces comprei da mocinha que vem de Esparto vender os produtos mais bonitos no Farmers Market de Woodland. Ela já me conhece de outros carnavais e este ano teve até a audácia de guardar figos pra mim, na certeza de que eu compraria. E eu comprei. Voltei lá depois de comer os figos com doce dentro e mostrei essa foto para ela. Disse—seus figos vêm com doce de figo dentro. Ela riu com uma cara de bocó, porque muitos dos produtores do nosso pequeno Farmers Market parecem ser pegos de surpresa pelas coisas que eu falo pra eles. Sem mencionar a complexidade inovadora do discurso que vem sempre acompanhado de material ilustrativo. Saco o telefone da bolsa, mostro as fotos e falo coisas elogiosas, como se eu estivesse falando dos filhos deles, dizendo como são bonitos, inteligentes e talentosos. Eles sorriem agradecidos ou ficam com cara de abobalhados, com certeza pensando de onde saiu essa mulher que vem toda semana aqui com esse papo. Outro dia fui mostrar umas fotos dos figos pra um casal de quem eu sempre compro frutas e com quem sempre converso um bocado. Eles se entreolharam estupefatos. Num outro dia mostrei a foto das peras e das maçãs. E ainda no outro a das berinjelas rajadas. Nesse dia o moço não se aguentou e me disse entusiasmadamente—você deveria estar aqui deste lado junto com a gente, ajudando a vender nossos produtos. Ele falou isso num impulso, mas não parecia estar brincando.