Outono ou inverno?

Muita gente diz brincando que Davis tem duas estações—verão e inverno. A primavera até que é longuinha, mas o outono, não sei, passa voando. Um dia estamos com uma jaqueta leve, um xale ou uma echarpe esvoaçante e de repente – pumba – já estamos embrulhados em mil camadas, casacos, luvas, cachecol, touca. Hoje vesti uma touca de lã voltando do almoço, pois estava duro de bicicletar no chuvisco gelado. O cara que cantou que iria pra Califórnia viver a vida sobre as ondas certamente rumou para o sul e não aqui para o norte, onde não dá pra pegar praia nem no verão e o inverno é chuvoso e cheio de nevoeiros. Mas temos San Francisco, Napa Valley e Lake Tahoe pra compensar!

Todo ano eu demoro mesmo é pra acostumar com a noite chegando às 4:30 da tarde, como hoje. Vou buscar a minha cesta orgânica à noite! É demais. Parece que já é muito tarde e dá um desânimo ter que lavar aquele monte de verduras—porque com o frio chegam as folhas verdes—swiss chard, espinafre, alface lisa e crespa, rúcula, red russian kale, bok choy, acelga, repolhos, collards, chicória. E aí é um tal de lava, lava, lava, lava, lava, lava….

Gourmet – 1941

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A técnica precisava fazer alguma coisa no meu computador e me mandou passear por quinze minutos. Eu corri pra biblioteca da universidade, pra aquelas prateleiras da seção TX, no terceiro andar. Fui olhar os livros de culinária. Parei numas encadernações cor de laranja e ali fiquei – exemplares da revista Gourmet da década de 40 até hoje. Peguei o volume de 1941, que fui ler em casa, à noite. Comparada com a revista de hoje, aquelas eram realmente simples, pra não dizer simplérrimas. Pouquíssimas fotos, muitas ilustrações e as receitas inseridas no meio dos textos, o que dificulta muito a seleção e mesmo a execução. Uma revista bem textual, o que hoje seria completamente irreal, já que as revistas de gastronomia pecam pelo exagero visual. Mas pra compensar, a Gourmet de 1941 tinha textos da M.F.K. Fisher – e seu livro anunciado por $2! Manual para domésticas, presentes para gourmets, muita propaganda de bebida e muitas páginas com texto, texto, texto. Interessante comparar como muita coisa mudou – melhorou ou piorou. Agora quero pegar os volumes de 1943, 44 e 45, quando os EUA já estavam na guerra, pra ver como as restrições impostas pelo conflito refletiu nas páginas da revista.

chegamos pra ficar!

Pelo menos agora as pessoas já sabem o que é um blog. Ou pelo menos têm uma idéia. Blogs de culinária formam um segmento muito especial, e são realmente uma delícia. Já estava mais que na hora de começarmos a aparecer. Então a Renata teve a idéia e a colocou em prática, escrevendo uma super simpática reportagem sobre os food blogs para o jornal O Estado de São Paulo. Estão lá as Rainhas do Lar, a Tatu do Mixirica, a Dadivosa e esta persona Chucrute com Salsicha, of course!

Bandon Cranberry Bread

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Umas das receitas que me fisgaram no livro da Helen Brown foi esse pão de cranberries, que na verdade é um bolo. Bandon é o nome da cidade no Oregon considerada a Capital nacional do cranberry. A receita é facílima e o pão/bolo fica macio e picante, com as ácidas cranberries escondidas na massa.

1 xícara de cranberries frescas
1/2 xícara – 8 colheres de sopa de açúcar
1 ovo
2 colheres de sopa de manteiga derretida
2 colheres de chá de raspas de laranja
1 1/2 xícara de farinha de trigo
2 colheres de chá de fermento em pó
1/2 colher de chá de sal
1/2 xícara de leite
1/2 xícara de nozes picadas

Pique as cranberries e salpique com 3 colheres de sopa do açúcar. Bata o ovo, a manteiga, as 5 colheres restantes de açúcar e a casca de laranja. Acrescente as cranberries picadas. Junte a farinha que foi misturada com o fermento e o sal. Misture, acrescente o leite e misture bem, vigorosamente. Adicione as nozes picadas e coloque a massa numa forma de pão untada com manteiga. Asse um forno pré-aquecido em 350ºF/176ºF pou uma hora. Deixe esfriar e desenforme.

* pro meu gosto as nozes são perfeitamente dispensáveis.

Helen Brown’s West Coast Cook Book

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Esse foi o último livro que eu abri, depois de ter escrutinizado todos os outros. Abri já sabendo que a Helen Brown era amicíssima do James Beard e que ela é considerada a mulher que colocou a culinária do oeste americano no mapa mundial. Pois então abri finalmente o livro e não consegui mais fechar. Marquei tantas páginas com post it coloridos que perdi a conta. Quero fazer mil receitas! O que me encantou nesse livro foi ver todos os produtos dos estados da Califórnia, Oregon e Washington protagonizando e estrelando nas maravilhosas receitas – amêndoas, azeitonas, laranjas, queijos, salmão, frutos do mar, cranberries, abacates, pistachio, morangos, pêssegos – uma lista interminável.
O bacana do livro da Helen Brown é que também ela dá receitas do tempo dos pioneiros, do oeste, da corrida do ouro, dos indígenas e conta um pouco a história gastrônomica desse lado do país, que foi desbravado na metade do século 19.
Ela dá a receita do pão feito na frigideira sobre um fogo aberto nos acampamentos dos pioneiros – o flapjack, e conta das frutas secas e mel que os indios usavam para adoçar o paladar, já que açúcar só apareceu mais tarde trazido pelos mexicanos – o mascavo em forma de cone. Ela também conta da catinga de salmão que os indios emanavam, pois defumavam o peixe constantemente, fazendo provisão para a baixa temporada.
Ainda estou degustando Helen Brown’s West Coast Cook Book, e como já renovei o livro três vezes na biblioteca, decidi comprar o meu próprio – for keeps! Comprei a mesma edição da biblioteca, de 1952, usado, pois não encontrei uma edição atual e nova.

as últimas abobrinhas do ano

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Comprei diferentes variedades de abobrinhas no Farmers Market. O primeiro sinal de que a temporada de algum produto está no final, é quando ele some da cesta orgânica semanal. Já aconteceu com as abobrinhas, então resolvi comprar no mercado para um farewell. Para fazer essa salada me baseei numa receita de courgettes à francesa do livro Is There a Nutmeg in the House? da Elizabeth David.
Corte as abobrinhas e cozinhe no vapor.
Não cozinhe muito, pois elas precisam ficar crocantes e não molengas.
Coloque num prato, deixe esfriar.
Prepare o molho com:
1/2 xícara de iogurte grego
Suco de 1 limão verde
Sal e pimenta do reino a gosto
Ciboulettes [Chives] picadinha
Azeite extra-virgem a gosto – usei um orgânico produzido aqui na Califórnia e vendido pelo Trader Joe’s que é uma coisa impressionante, cheiroso e com uma cor esverdeada que eu nunca vi num azeite antes.
Misture bem com o batedor de arame e sirva sobre as abobrinhas.
Usei esse molho com pepinos e também ficou ótimo.

para adoçar o dia

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Eu tenho uma obsessão por geléias. Não tenho uma explicação lógica, mas acredito que deve ser pelo fato delas serem feitas com frutas, e de terem infinitas possibilidades de variações e misturas. Eu compro vidros compulsivamente! Minha despensa e geladeira abrigam inúmeros vidros de geléias inglesas, francesas, dinamarquesas, turcas, suecas, havaianas, além das feitas localmente, por algum amigo ou comprada no Farmers Market. Algumas encalham, pois são muito doces, ou não fazem a minha cabeça – ou seria estômago? Gosto particularmente das marmelades inglesas feitas de diferente tipos de laranja, quase sempre com casca. Gosto do amarguinho. Também gosto de um bom lemon curd, que não é bem uma geléia, mas eu uso como se fosse. Mas tem que ter mais limão do que açúcar e tem que ter uma cor bem cremosa, e não ser transparente. Vou testando e acumulando – todos os tipos de berries, figo, goiaba, laranja, limão, maçã, ameixa, pêssego….
Uma das melhores que já comprei e provei é essa de figo, que uma moça de Winters faz e vende no Farmers Market. Essa geléia é perfeita: feita de uma fruta que eu adoro, sem preservantes e com pouco açúcar – realçando o sabor da fruta. Ela ainda dá um toque especial, usando açafrão na receita. Gostei tanto que comprei um estoque, pois não sei por quanto tempo ainda esse produto estará disponível no mercado. Gosto de misturar a geléia com iogurte comum ou grego. Fica delicioso!
Uma curiosidade:
Jam – é a geléia feita com a fruta, polpa e casca.
Jelly – é a geléia feita somente com o suco da fruta.

rotina

6:30pm: trimtrim, alô, e aí vem jantar, só estou terminando um negócio, ihh, não, é sério, em meia hora eu te ligo e vamos comer em algum lugar, tá, tchau, um beijo, outro.
7pm: resolve fazer uma sopa de milho, vê que tem pão fresquinho e queijo suiço pra acompanhar, refoga cebola, milho, caldo de galinha, salsinha picada, vrumvrumvrum tritura a mistura, creme de leite, desliga o fogo.
7:30pm: cd da Motown, dança, dança, assusta o gato, lê um caderno do jornal, outro caderno, senta, levanta.
7:45pm: música, música, pega uma revista, senta, lê, morre de rir, levanta, dança, assusta o gato de novo, termina de ler a revista.
8:15pm: trimtrim, alô, assim não tem condições, o que foi, você sabe que horas são, ew, não.., vou jantar sozinha mesmo, mas não íamos sair pra comer fora juntos, ah, deu até tempo de fazer uma sopa, mas que horas são, você não disse que iria ligar em meia hora, é.., já se passaram quase duas, oh…, eu li o jornal, a revista, agora chega, então quando eu chegar, cheguei, é, quando você chegar, chegou, tchau, um beijo, tchau, outro.
* post reciclado do The Chatterbox de novembro de 2004 – certas rotinas não mudam nunca!

the best cupcake, and a wonderful party!

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A receita do delicioso Earl Grey & Murcott Cupcakes do Garret.

Nem preciso dizer que fiquei desde ontem em função do potluck dos food bloggers de Sacramento organizado pelo Garrett. Corri para o supermercado atrás do bacalhau. Só achei uma caixinha de meio quilo, o que agora eu acho que até teria dado para todo mundo ter um taste da receita de Bacalhoada a Gomes de Sá. Mas a exagerilda não ficou convencida que daria e comprou então uma tonelada de salmão selvagem, e decidiu preparar a tal Moqueca da Paula que sempre agrada gringos e troianos. Comprado o salmão, nem preciso dizer que sonhei com panelas e que acordei cedo e passei a manhã voando com a capa da wonder woman, fazendo mil coisas como uma enlouquecida. Fui até ao Farmers Market no último minuto, porque na minha opinião de excessivilda acho que nunca tenho ingredientes suficientes, fico sempre encucada que não vai dar para todos, essas coisas de gente obcecada. Fiz um panelão de moqueca e outro de arroz, ainda levei limões, vinho e um liquidificador pro Garrett, pois ele disse que não tinha um. Uns minutos antes de sair de casa me deu um pequeno pânico, pois na verdade eu não conhecia ninguém, só o Garrett e o Brendon, mas também só conhecia de ler os blogs. Daí fico com aquela paura nerviosa de não conseguir me enturmar, de só falar besteira, de ficar purfa dos assuntos, das pessoas não irem com a minha cara, de me sentir um peixão fora d’água, de tropeçar bem na entrada e derrubar o panelão de moqueca no carpete, ou de salgar muito, ou de esquecer de por sal, ou de ninguém comer minha comida, ou de alguém achar um cabelão boiando no molho, ou da moqueca dar caganeira nos convivas, tudo isso, ou nada, deu pra dar uma abalada geral e até passar pela cabeça – por um segundo – de me fingir de morta e não ir. Mas fui, porque disse que iria e porque queria muito conhecer o Garrett, que eu acho um cara super legal e divertido.
Cheguei lá carregando os panelões, tentando não suar, nem descabelar, e fui tão bem recebida, conversei com quase todo mundo, falei pelos cotovelos, fiz mil perguntas, falei altão na frente de todo mundo – coisa raríssima de alguém me ver fazer calmamente, sem quase desmaiar de nervoso – falei do Chucrute com Salsicha, dei os ingredientes da moqueca, que todo mundo comeu e gostou. Eu também comi muito, e bebi um tantinho além do que devia, fui fotografada rindo com todos os meus dentões à mostra – forçada pela Elise, que é uma simpatia, muito diferente da figura séria que eu achava que ela era. Mike Dunne, o crítico de vinhos do jornal de Sacramento também estava no nosso potluck, e eu adorei a esposa dele com quem conversei muito, e a salada de agrião com pêra que eles levaram, que apesar deles avisarem que tinha alho, eu comi. Ouvi algumas histórias legais, como a da Madeline que escreve sobre a Rachel Ray, da Jennifer e seu Sacotomato e da fethiye e seu Yogurt Land. Acho que eu não peguei o nome de todo mundo, minhas fotos ficaram uma droga porque eu bebi e a bateria acabou antes da comilança começar – isso sempre acontece comigo! Acho que vamos ter um encontro desses duas vezes por ano, no outono e na primavera. Eu adorei participar desse, mesmo sendo o único blog numa lingua estrangeira, que quase ninguém lê, embora alguns desejem ler. Eu me desculpei e expliquei que sou lazy, sou teimosa, e só consigo chucrutar em português, I just can’t help it!