Usei a massa crocante e simplérrima deste quiche e depois cobri com towmatos, tomaytos, manjericão fresco, fatias de qualquer queijo, um fio de azeite. Forno em 400ºF/205ºC por 20 minutos, deixa esfriar, salpica com flor de sal ou sal marinho e voilá, sirva com uma salada de folhas verdes. Superb!
pink lemonade plums
O fazendeiro que vendia as ameixas cor-de-rosa anunciava num pequeno cartaz—”pink lemonade” plums. Fui procurar pela real identidade dessas frutinhas e descobri que elas são uma variedade japonesa chamada “hollywood” ou “trailblazer”. Elas são docinhas e roseadas por dentro, um pouquinho mais carnudas que as ameixas comuns ou roxas. E não têm gosto de limonada, caso alguém tenha ficado com essa dúvida!
para finalizar o dia de hoje
Um lanchinho simples, que comi desacompanhada, já que o Uriel foi à uma festa que eu não quis ir. Preferi ficar no quintal, ouvindo o cachorro do vizinho latir, os passarinhos alvoroçarem os arbustos, vigiando o pé de nectarina, pensando na vida…
esganada
ou, lust for life, ou, vivendo como se não houvesse um amanhã, ou, será que um dia me arrependerei disso?
Comigo é tudo aqui & agora. Eu não poupo, não economizo, não sou do tipo moderado. Se tem gostosuras, eu como. Se tem bebidinhas, eu bebo. Sabonetes cheirosos e caros vão pro uso. Perfumes são espirrados aos montes, sem comedimento. Roupas compradas hoje são usadas hoje mesmo, ou o mais tardar amanhã. Sapatos são gastos conforme a vontade e a necessidade. As iguarias são devoradas, coisas novas e diferentes compradas, a grana é pra gastar, não consigo passar vontade.
Eu sou assim esganada, não guardo dinheiro, não guardo nada, todas as roupas que eu tenho são para serem usadas, não tenho nada especial reservado numa caixinha dourada, minhas bijous simplórias são guardadas em latinhas de pastilhas e caixas de sabonete, não tenho ouro, nem prata, nem roupas de seda. Como e bebo até passar a vontade, faço as coisas que quero fazer, mesmo quando uma vozinha me aconselha o contrário. Sou espontânea, sincera e arrebatada. Adoro comprar e dar presentes. Choro na hora que o choro borbulha, escandalosamente, não importa onde eu esteja. Dou risada na hora que o riso explode, posso estar onde for. Passo vergonhas monstruosas por causa disso, mas nem penso em tentar me controlar. Não dá.
Quando olho para a vida de pessoas com poupança no banco, vida organizada, tudo meticulosamente planejado, me sinto um ser selvagem, que só se preocupa em satisfazer as necessidades básicas, sem pensar muito no depois. Na verdade, nem é tanto assim, mas é quase.
crostata de damasco
No pico da temporada dos damascos, com os frutos amarelos e doces em opulência no mercado, eu inventei de fazer esta receita e caí do cavalo. Gastei damascos frescos e pistachos numa torta que acabou no lixo, pois ninguém comeu. Eu até que comi umas duas fatias, mas alguma coisa no recheio de pistacho não me deixou feliz. Desconfio que foram os ovos…
Com os damascos dando os últimos suspiros no Farmers Market, me apressei para comprar uma quantidade que desse para fazer uma torta. Sinto muito, mas quando eu encasqueto, eu encasqueto. E fiquei com essa idéia fixa de fazer uma torta de damascos frescos. E fiz.
Decidi fazer a receita que vi no kitchen apartment therapy, um blog que eu adoro. Nem vou contar os detalhes trampolinescos de fazer a massa. Juro que me apavorei num certo ponto e achei que teria que jogar tudo fora e começar do zero. Culpa da minha pessoa alvoroçada, não da receita. No final, para a minha surpresa e alivio, a massa ficou ótima, abriu como uma beleuzura e assou macia e saborosa. Ufaaaaa! O recheio ficou perfeito pra mim, que não curto muito as coisas extremamente adocicadas e adoro todos os sabores das frutas. Vale lembrar que eu usei um pouco menos açúcar do que manda a receita, só que não percebi [como posso ser assim tão descabeçada?] que o açúcar da massa era mascavo, então usei o branco. Como não tinha buttermilk, usei half-and-half, que é um creme de leite fresco diluido no leite. Na decoração, pulei a parte do suco de laranja e misturei geléia de limão no rum. Mas trelelê à parte, o que interessa é que a torta ficou muito boa. A-le-lu-i-a!!
Apricot and Biscuit Crostata
Faz uma torta redonda de 30cm/ 12″
1 quilo de damascos frescos, descaroçados e cortados ao meio
1/4 xícara de açúcar [*usei um pouco menos de açúcar demerara]
3 colheres de sopa de rum ou brandy [*usei rum escuro]
6 colheres de sopa de manteiga sem sal gelada cortada em cubinhos
2 xícaras de farinha de trigo
1/3 xícara de açúcar mascavo [*distraí nesse detalhe e usei o comum]
1 colher de chá de sal
4 colheres de chá de fermento em pó
1/2 colher de chá de nos moscada ralada
1/2 colher de chá de gengibre em pó
1 ovo
1 xícara de buttermilk
1/2 xícara de suco de laranja
Açúcar de confeiteiro para decorar
Misture as frutas com o rum/brandy e açúcar. Deixe macerar.
Pré-aqueça o forno em 400ºF / 205ºC.
Forre uma assadeira com uma folha de parchment paper. Unte com manteiga e polvilhe com farinha.
Num processador misture a manteiga, farinha, açúcar, sal, fermento e especiarias e pulse até ficar bem incorporado. Separadamente bata o ovo com o buttermilk e vá acrescentando à mistura de manteiga e farinha no processador, enquanto pulsa, até obter uma massa consistente. Se precisar, acrescente mais farinha. Abra a massa e estenda na forma preparada com o papel e untada. Coloque a mistura de fruta no centro e dobre em volta, formando um círculo com borda grossa. Asse por 45 minutos.
Numa panela misture o suco de laranja com o rum/brandy que sobrou da marinada de frutas. Reduza em 2/3. Tire a crostata do forno e pincele com esse xarope de laranja. Pra economizar tempo, eu misturei uma colher sopa de geléia de limão com o rum e pincelei a torta. Polvilhe com açúcar de confeteiro. Sirva quando estiver fria.
harvest emergency
Um dos galhinhos da árvore de nectarina quebrou ontem à noite e tivemos que colher as frutas numa operação emergência. Este ano vamos ter muitas, muitas nectarinas. Essas ainda não estão maduras e eu não gosto de colher antes do tempo, mas não tive escolha. Em alguns dias elas estarão molinhas. Aguardemos.
lemon thyme – tomilho limão
O homem do garfo
Me contaram que ele adora comer. Mas não parece, quer dizer, eu não vejo ele comendo, nem andando pelo local com bolachinhas nas mãos e a boca cheia de farelo. Vejo sim ele segurando uma caneca de cerâmica artesanal sempre cheia de café com leite. Mas a caracteristica principal dele é ser engraçado pacas! Me contaram também que ele é o “punster” do local, tem sido por mais de vinte e cinco anos. Eu saquei isso rapidinho, antes mesmo de alguém me dizer qualquer coisa, pois toda vez que ele aparece na minha frente eu começo a rir. É a entonação da voz, as palavras usadas e, é claro, o humor peculiar. Isso é uma coisa que já vem embutida no DNA, ninguém se transforma numa pessoa espirituosa e sagaz, tem que ter nascido com os genes.
Então noutro dia, no meio de uma reunião, ele começou a contar o causo mais delirantemente divertido que eu já ouvi nos últimos meses. Era um roteiro de filme pastelão, totalmente Buster Keaton, onde ele fica preso na biblioteca pública à noite. Foi depois de um encontro mensal do clube dos aviadores da região. Quando tudo terminou ele resolveu ir ao banheiro. Ninguém notou a ausência dele e foram embora, trancaram a porta e jogaram a chave na caixa do correio. E ele ficou lá dentro. Todo mundo chorava de rir com o jeito que ele contou a história, que mesmo se tivesse sido contada por uma pessoa comum teria sido engraçada. Eu ria em dobro, pois tinha notado um detalhe extra que ninguém notou: enquanto ele falava empolgadamente segurando a tal xícara de café com leite, UM GARFO de metal prateado saltava à vista, sobressaindo-se enquanto fazia companhia para algumas canetas e lápis, no bolso da camisa.
somente no verão
| golden zucchini lemon cucumber tomatoes, tomatos! |
be a local hero
Jantávamos no quintal à noite, com uma brisa fresquinha soprando, as luzinhas do arraial acesas e admirávamos nossa árvore de nectarinas tão apinhada de frutas que envergou e tivemos que colocar dois suportes de madeira para que o galho não se quebrassem. Essa visão do nosso quintal com grilos cricando, luz de vela de citronela, céu salpicado de estrelas e comida fresca, boa e saudável na mesa é a nossa realidade, mas não é a realidade do mundo.
Posso parecer um pouco panfletária quando comento repetidamente minhas reflexões sobre alimentação, mas ando incrívelmente assustada, pessimista e desiludida, especialmente quando leio uma notícia abismante como esta. Cheia de pesar e incredulidade fico conjecturando onde vamos parar. Se a situação já está desanimadora hoje, imaginem o que estaremos comendo em alguns anos ou décadas?
Quando leio essas notícias horrorosas, tento avaliar a extensão do estrago causado pelos nossos maus hábitos de alimentação, quando a comida parece ser apenas um enche-bucho irracional e que ainda traz de brinde uma sentença de vida miserável e de morte lenta e sofrida. A solução mais simples e efetiva que me ocorre no momento é diminuir meu raio de visão e me concentrar no espaço onde eu vivo, que se resume à minha casa, minha vizinhança, minha cidade e se estendendo um pouco, pelo meu estado. Comer comida local, que já é um slogan bem divulgado por muitos movimentos de resgate da nossa alimentação. Com certeza teremos menos problemas, e mais soluções viáveis e ao nosso alcançe se tivermos problemas, se a nossa comida vier da região onde vivemos. Não dá pra evitar cem por cento os produtos industrializados, mas pelo menos podemos fazer uma opção nas frutas, verduras, legumes, carnes, ovos, pão, leite, queijo. Quando peguei as amoras das mãos manchadas pelo sumo roxo do fazendeiro que as plantou, colheu e agora as está vendendo, sinto um alívio imenso. As amoras doces não tem gosto de papelão imerso em essência de fruta. São reais e me dão um bocado de esperança, que podemos comer como gente, se essa for a nossa vontade.
