goodbye

Minha casa de hóspedes está vazia. Vamos fazer umas reforminhas, pois uma das floreiras quebrou e a madeira estava apodrecendo. O Uriel quer jogar bark no jardim, pra deixar tudo mais fácil de manter. E queremos fazer um upgrade no ar condicionado, além de pintar os armários do banheiro. Depois que tudo isso for feito, vamos anunciar a casinha para alugar novamente. Ela é um tipo de studio, com sala ampla, banheiro enorme, cozinha minúscula e um dormitório num loft.

Encerrou-se mais uma etapa, com a formatura da nossa querida e divertida inquilina. Ela agora vai trabalhar um pouco com o pai, depois vai se aprimorar na carreira, que ela ainda não decidiu se será na área de saúde ou do meio-ambiente. Estávamos jantando com convidados quando ela apareceu na porta, toda descabelada e molhada, com a roupa suja de material de limpeza. Ela veio se despedir, dizer obrigada, nos dar um abraço. Foi um momento constrangedor, já que tivemos que levantar da mesa, ainda mastigando, com nossos convidados olhando com cara de , e dizer ali no meio da sala de jantar—boa sorte, felicidades, vamos sentir saudade, mantenha contato! Ela retrucou com o sorriso metalizado de aparelho dentário que nós somos muito bacanas, aquela lenga-lenguice de sempre.

Mais tarde, quando estávamos aconchegados conversando com os convidados na sala, materializam-se na porta de vidro, primeiro o irmão, depois o pai, ambos sorridentes e felizes, vieram dizer obrigado por tudo, apertar fortemente a nossa mão, reafirmar que nós somos mesmo muito bacanas. Foi uma despedida familiar. A casinha agora está vazia. Fico sempre naquela expectativa meio pessimista, será que vamos encontrar outra inquilina tão querida e divertida quando essa? Pode ser que sim, pode ser que não. A única certeza que eu tenho é que ela virá nos visitar, vai bater na porta da frente exibindo o seu sorriso metálico, vai dizer que veio ver como estávamos e nós vamos pedir para ela entrar e convidá-la pra sentar, porque com certeza nossa amiga e ex-inquilina vai chegar justamente na hora do jantar.

quinoa vermelha com aspargos

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Eu no olho esquerdo, ele no direito. Os dois caolhos. Eu e o Roux. Fomos atrás de informação, pois achamos que eu e o gato estávamos pegando e passando coisas um para o outro, mas lemos que conjuntivite felina não passa para humano, nem vice-versa. Parece que em gatos essa é uma doença que vem e vai, dependendo muitas vezes de algum estresse pelo qual o animal passou. Coincidentemente estamos os dois com a mesma coisa—piscando, com o olho colado, vermelho, ardendo, inchado. Eu estou pingando colírio e estou tendo que usar óculos para enxergar letras e tais [pardon my typos]. Por isso não dá pra seguir receita nem inventar muita moda, porque exergndo direito já sou um desastre, meio cegueta sou uma bandeira vermelha flamulante.

Fiz uma quantidade de quinoa ideal para duas pessoas. Numa panela coloquei:
1/2 xícara de quinoa vermelha já lavada
1 1/4 xícara de caldo de legumes
Um fio de azeite
Uma pitada de sal grosso
Seis aspargos magrelos cortados em pedacinhos

Fogo alto, quando ferver, fogo baixo, tampar e deixar secar. Pode fazer com antecedência e requentar levemente ou servir frio.

pasta trofie com alho verde

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Estamos na temporada do alho verde ou alho de primavera. Já estou com uma quantidade razoável deles na geladeira e quis fazer uma receita bacana. Primeiro preciso descrever o alho verde, que é o alho num estágio médio de maturidade. O alho verde ainda não tem os dentes, é apenas um bulbo e lembra muito visualmente uma cebolinha. Mas de cebolinha ele não tem nada. O alho verde é poderoso. Ele não tem o mesmo cheiro do alho comum, que apesar de forte ainda é suave perto da sua versão verdolenta. Pode ser que seja apenas o meu nariz ultra-super sensível, mas o cheiro do alho verde arde e domina. Trazendo a cesta no porta-malas, o carro ficou todo empesteado. Acomodados em sacos plásticos, o odor tomou conta da geladeira. Piquei em rodelinhas e enquanto esperava para fazer a receita, a cozinha ficou inteiramente dominada pelo cheiro fortíssimo do alho verde. Ele não é de brincadeira. Mas cozido, ele se transforma e completamente domado pelo calor mostra toda a sua docura.

Fiz uma pasta bem simples. Usei a genovesa trofie, que são parafusinhos enrolados a mão, bem pequenos. Cozinhei em bastante água e sal e uma folha de louro. Piquei o alho verde e um punhado de cogumelos comuns. Quando a pasta estava al dente, escorri e na mesma panela coloquei bastante azeite e refoguei o alho verde e depois os cogumelos. Adicionei sal e pimenta a gosto, joguei o macarrão, mexi para incorporar e juntei uma mistura de queijo asiago, fontina e parmesão. Só isso.

trimestre da primavera

Mais um ciclo se inicia. As aulas recomeçaram, o campus se encheu de estudantes e muitas daquelas arriscadas bicicletas. A população agora se divide em quem está sofrendo com a gripe e quem está sofrendo com alergias. Eu estou apenas tentando manter os olhos abertos, porque o vento ou outro mensageiro maldoso me presenteou com uma horrorilda conjuntivite. A cidade está coberta de pétalas de flores, algumas já se decompondo. O vento sopra gelado, dando a impressão de que tempo quente é apenas fruto da nossa delrante imaginação. Minha horta está renascendo de uma maneira excitante. O orégano reapareceu em diversos pontos, assim como a menta chocolate, que folgada como ela só já está se espalhando. Também tem chives e tomilho, a sálvia ainda mirrada, alguma salsinha e um montão de rúcula, picante e verdona. A cesta orgânica recomeçou sem muitas novidades—um maço pequeno de espinafre com folhas imensas, ramos de alho verde e mais aspargos magrelos. Estou notando a ausência das rosas, que já deveriam estar enchendo os meus vasos. Minhas roseiras ainda estão peladas, mas não por muito tempo—em breve, quem vier verá.

sopa de cenoura [com gengibre e castanha de caju]

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Nem me preocupei em procurar por receitas, pois já tinha a idéia fixa dessa sopa, que provei no evento do azeite e quis replicar em casa. Fiz o que precisei fazer para obter uma textura e sabor exatamente como eu queria. E no final ficou melhor do que a sopa que me inspirou.
Assei uma duzia de cenouras cortadas em rodelas. No liquidificador coloquei dois pedaços grandes de gengibre fresco, as cenouras assadas, uma parte de caldo de legumes e bati até obter o creme. Passei tudo pela peneira, usando um pouco de água para diluir. Bati mais ou menos uma xícara de castanha de caju com mais caldo de legumes. Misturei o creme de castanhas ao creme de cenoura e gengibre. Coloquei numa panela e levei ao fogo. Deixei ferver, coloquei sal e na hora de servir reguei com azeite—usei o delicioso extra-virgem pressionado com limão meyer que comprei no Farmers Market.

francês bebe vinho

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Divertida cena do fabuloso filme Jules et Jim dirigido por François Truffaut em 1962, onde o trio de amigos-amantes Jules, Jim e Catharine estão sentados na sala de Jules e Catharine na Austria. Jim está apenas visitando, mas em breve vai estar também morando na casa, a pedido da pá-virada Catherine [Jeanne Moreau]. Jules [Oskar Werner] oferece cerveja alemã à Jim [Henri Serre] e isso enfurece Catherine, que se põe a listar como uma matraca os maravilhosos vinhos da França.
[Jules] Jim, it’s time you learned enjoy German beer.
[Catherine] Jim’s French like me. He doesn’t give a damn.
[Jim] Not true!
[Catherine] France has the widest variety of wines in Europe. ln the world! Bordeaux like Chateau Laffitte, Chateau Margaux, Chateau Yquem, Chateau Frontenac, St-Emilion, St-Julien, Entre- -Mers, and l’m forgetting some of the best. Clos Vougeot, the Burgundies, Romanee, Chambertin, Beaune, Pommard, Chablis, Montrachet, Volnay, Beaujolais, Pouilly-Fuisse, Pouilly-Loche, Moulin, Vent, Fleurie, Morgon, Brouilly, St-Amour…

tagliarelle com alcachofra e limão

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Sucesso absoluto de pública e crítica, essa receita arrancou hms e ohs elogiosos dos meus convidados e um pedido de quero mais do meu filho, que doente em casa não pode participar do jantar, mas comeu uma porção levada pela namorada. O molho ficou delicioso, mas a combinação só ficou perfeita porque usei um tagliarelle incrivelmente leve e delicado, da marca Cipriani. Não tem como errar com uma massa dessa qualidade.

Para o molho, coloquei no processador, corações de alcachofra, suco e raspas de um limão [o amarelo, sempre], flor de sal, coentro fresco e azeite. A massa levou 3 minutos para ficar cozida. Envolvi com o molho e servi com queijo parmesão ralado na hora. Essa vai ser uma receita coringa para ser refeita em qualquer ocasião especial.

Edamame Corn Chowder

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Uma sopa deliciosa que peguei no Everyday Food. Fiz como entrada no jantar de sexta-feira, com os pedacinhos e bacon separados, pois uma das minhas visitas é vegetariana. Adorei a idéia de colocar os edamames—soja verde—junto com o milho. A combinação ficou excelente. Usei milho em lata, porque eles estão fora de estação.

Edamame Corn Chowder
Serve 4 pessoas
3 fatias de bacon
1 cebola média *usei cebolinha, parte branca e verde
2 xícaras – 1/2 litro de caldo de galinha *usei de legumes
1 batata * não usei
1/2 colher de chá de Italian seasoning * usei ervas de Provence secas
2 xícaras de edamame—soja verde, congeladas ou frescas
2 xícaras- 500 gr de milho verde fresco, em lata ou congelado
1/2 xícara de half-and-half [3/4 leite integral, 1/4 creme de leite fresco]
Sal marinho e pimenta do reino moída

Frite as fatias de bacon até elas ficarem crocantes. Eu faço no microondas, coloco as fatias separadas embrulhadas em papel toalha sobre um prato. Ponho por 4 minutos. O bacon fica crocante e o papel absorve a gordura. Use um bacon da melhor qualidade, que vai resultar em menos gordura. Deixe esfriar e quebre o bacon com as mãos, fazendo uma farofa bem grossa. Reserve.

Se fizer o bacon frito na panela, use o óleo que sobrou da fritura. Senão acrescente um pouco de azeite e frite a cebola. Adicione o caldo, a batata em cubinhos e as ervas. Eu não usei batata, joguei logo o milho—bati metade no liquidificador, deixei a outra metade inteiro— depois o edamame. Coloque sal e pimenta a gosto. Deixe cozinhar uns minutos, adicione o half-and-half, deixe ferver e desligue o fogo. Sirva o chowder com o bacon polvilhado por cima.

pudim de padaria

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Não sei de onde saiu essa receita que estava guardada nos meus alfarrábios. Pudim de padaria era um dos meus doces favoritos. Nunca fui chegada em coisas rebuscadas, com muitas camadas, recheios de chocolate, cheias de creme e mil tremeleques. O pudim de padaria e a bola de rum eram sempre os doces escolhidos, quando eu me postava na frente de alguma vitrine de qualquer doceria. Era um doce tão simples, que quase não tinha graça. Foi a primeira vez que fiz esse pudim em casa. Eu e o Uriel devoramos sozinhos metade do doce, acompanhado de canecas de chá de menta.
3 ovos caipiras
2 xícaras de açúcar baunilhado
2 xícaras de leite integral
1 1/2 xícara de farinha de trigo
4 oz/ 100 gr.de queijo parmesão ralado
1 colher de sopa de manteiga amolecida.
Caramelize uma forma quadrada e funda. Reserve. Coloque todos os ingredientes no liquidificador e bata bem. Despeje a massa na forma caramelizada e asse em banho-maria, em forno pré-aquecido em 365ºF/185ºC, até a massa ficar firme e dourada. Remova da forma depois de frio, corte em retângulos e sirva.