na vínicola Clos Du Val
[um picnic na chuva]

Quando sugeri um picnic numa vinícola no Napa Valley para um encontro com Maryanne, Heguiberto & Steve, e Priscila, essa pareceu a melhor ideia do mundo já que o tempo estava lindo—florido e ensolarado. Três semanas depois as nuvens se acumulavam assustadoramente no céu do norte da Califórnia. Decidimos seguir em frente com nossos planos, no melhor estilo Keep Calm [Smile] and Carry On. Marcamos um tasting e um picnic na vinícola Clos Du Val para um sábado. No dia amanheceu cinzento e choveu canivetes por muitas horas. Pegamos muita chuva na estrada e apesar da perspectiva desanimadora, eu não esmoreci. Mantive um sorriso na cara e o espirito de antecipação no coração, também porque finalmente eu iria conhecer o Hegui e o Steve, meus vizinhos blogueiros, depois de praticamente três anos de enrolação [da minha parte, admito humildemente].

Fizemos um tasting super animado, mais pro bate-papo do que para o vinho, já que todo mundo queria conversar e se conhecer melhor. Eu escolhi fazer a prova dos brancos e bebi um Sauvignon Blanc, um Rosé de Pinot Noir e dois Chardonnays, um de barril de metal e outro de madeira. Meu favorito foi o Sauvignon e comprei uma garrafa para acompanhar o nosso picnic.

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o tasting

Assim que entrei na vinícola fui olhar a área de picnic—com mesinhas e cadeiras espalhadas sob um pomar de oliveiras. Super lindo! E ali vi um grupo de moças comendo e bebendo, cada uma segurando um guarda-chuva. Fiquei mais conformada, que não éramos os únicos enfrentando bravamente o mau tempo. Quando saímos do tasting, o tempo parecia ter firmado. Arrumamos alegremente nossa mesa, com nossos pratinhos, talheres, toalha, a vinícola emprestou taças par o vinho. No menu tínhamos uma broa de fubá com molho de goiabada e uma salada panzanella de aspargos feitas por mim. o Hegui trouxe uma salada de pasta com broccoli rabe, a Maryanne muitos queijos deliciosos do Cheeseboard, e a Priscila trouxe três caixas de pães maravilhosos, doces e salgados, que ela mesma fez no curso de bakery que ela esta fazendo no SFBI em San Francisco. Um banquete!

Quando a mesa estava pronta, a comida servida, os estômagos roncando, a fome apertando, começou a chover novamente—primeiro de leve, depois no estilo chuveiro. Por uns minutos ficamos lá, de capa e guarda-chuva, tentando comer nos pratos que estavam simplesmente alagando. Tivemos que pensar numa solução rápida e mudamos a mesa para um lugar um pouco mais seco. Nunca fiz um picnic assim tão molhado, mas a comida estava deliciosa, a companhia super agradável, o vinho tem sempre o dom de deixar tudo lindo e a conversa fluiu muito animada. No final parou de chover e voltamos para o pomar de oliveiras, onde comemos a sobremesa e conversamos bastante até a hora de nos despedir, fazendo planos para outros encontros.

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o picnic

salada waldorf com trigo

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Fiz essa receita duas vezes pra poder gastar um estoque de trigo em grão. Não gosto de ficar guardando ingredientes por muito tempo na despensa. Gosto de ir usando, gastando e repondo. Acho que é mais seguro e saudável, mesmo com grãos secos. Essa é uma ideia da revista Gourmet de outubro de 1995 que adapta a famosa salada Waldorf numa versão mais nutritiva [e hiponga—hahaha!]. Ficou super deliciosa e bem robusta. É praticamente uma refeição.

4 xícaras de água
3/4 colher de chá de sal
1 xícara de trigo em grão [wheat berries—whole-grain wheat]
2 colheres de sopa de nozes tostadas e picadas [ou esmigalhadas]
1 maçã gala
1 maçã granny smith
1 talo de salsão em fatias
2/3 xícara de folhas de hortelã fresco
1/2 xícara de cerejas azedas secas [dried sour cherries]
Ciboulettes picadas
3 colheres de sopa de vinagre de arroz [seasoned rice vinegar]
3 colheres de sopa de suco de laranja
3/4 colher de chá de raspas da casca da laranja
Folhas de alface para servir [*opcional]

Numa panela coloque a água e o sal para ferver e então coloque o trigo em grão. Abaixe o fogo, cubra a panela e cozinhe até a água secar completamente e os grãos ficarem bem macios. Remova do fogo e deixe esfriar. Corte as maçãs em cubinhos e coloque numa vasilha grande. Junte o trigo em grão cozido e em temperatura ambiente. Junte os outros ingredientes, menos a alface. Tempere com sal e pimenta do reino moída na hora. Misture bem e sirva sobre folhas de alface se quiser. Eu quis.

sopa de cenoura
[com harissa & coentro]

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Quando fui preparar aquela salada de cenoura com harissa e limão, me distraí e cozinhei as cenouras um pouco além do requisitado e acabei com uma boa porção delas super molinhas esperando uma ideia criativa se manifestar para eu poder usá-las. A solução não foi essencialmente brilhante nem absolutamente inédita, pois eu já tinha feito esse truque de transformar salada em sopa e vice-versa outras vezes. O desfecho resultou numa sopa feita exatamente com os mesmos ingredientes da salada—menos o limão em conserva, que tinha acabado. As cenouras foram reaproveitadas e consumidas no formato de uma sopa muito gostosa e auspiciosa.
Bater no liquidificador mais ou menos 2 xícaras de cenouras cozidas, juntar caldo de legumes ou a água do cozimento das cenouras [que foi o que eu fiz], um punhado de coentro fresco, uma colher de chá de pasta de harissa [um pouco mais, que quiser mais picância], azeite e sal a gosto. Bater tudo até formar um purê, colocar numa panela e levar ao fogo. Cozinhar por uns minutinhos e servir.

pão de mel

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De vez em quando um pensamento se infiltra no meu consciente e me leva a fazer coisas que variam do levemente interessado ou curioso ao totalmente obcecado. Outro dia um deles se manifestou, me deixando obcecada e me fez esmiuçar livros e web atrás de uma receita de pão de mel. E tinha que ser aquele pão de mel que comi em algum lugar no passado e não qualquer um. Procurei, procurei, procurei e achei essa receita da Paula Cinini do blog The Cookieshop que me pareceu perfeita e bem simples de fazer. Dito e feito. Fiz o pão de mel pro nosso lanchinho da noite de domingo e nem tive a chance de fazer uma foto decente. A imagem acima retrata de uma certa maneira o sucesso da receita. O bolinho praticamente sumiu numa piscada. Ele fica bem denso com uma casquinha bem fininha e crocante por cima. A Paula dá ideias de coberturas, mas nós dispensamos esse toque extra. Apenas substituí o leite pelo buttermilk, o restante da receita segui a risca.

2 xícaras de farinha de trigo
1/2 colher de sopa de bicarbonato de sódio
1/2 xícara de açúcar comum
1/2 xícara de açúcar mascavo
1/2 colher de chá de cravo em pó
1 colher de chá de canela em pó
1/2 colher de café de noz moscada
1/4 xícara de chá de óleo vegetal
1/2 xícara de chá de mel
1/2 xícara de chá de leite [*substituí por buttermilk]

Pré-aqueça o forno a 356ºF/ 180ºC. Unte uma forma de 20x 30cm com manteiga e polvilhe com farinha. Na tigela da batedeira, peneire a farinha, o bicarbonato, os açúcares, o cravo, a canela e a noz moscada. Misture bem. Adicione o óleo, o mel e o leite. Misture com uma colher e depois bata em velocidade média na batedeira por uns 3 minutos, até ficar bem homogêneo. Despeje a massa na assadeira e asse por aproximadamente 30 minutos até o bolo ficar dourado e firme no centro. Retire do forno, deixe esfriar e sirva.

salada de cenoura [com harissa & limão]

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O pessoal da cesta orgânica avisou que as cenouras já se retiraram de cena nesta temporada. Recebi as últimas há duas semanas e quis me despedir delas com um prato interessante. Escolhi essa salada marroquina com limões preservados no sal e harissa, a pasta de pimenta tradicional do norte da Africa. Você pode deixar a salada um pouco mais ou um pouco menos apimentada, aumentando ou diminuindo a quantidade de harissa.

faz de 8 a 10 porções
10 cenouras
2 colheres de sopa de harissa
4 colheres de sopa de preserved lemon [mais ou menos 1 limão]
5 dentes de alho picados [*omiti]
1/4 xícara de azeite extra-virgem
2 colheres de sopa de vinagre de vinho branco
1/4 de maço de coentro fresco
Sal e pimenta do reino moída na hora a gosto

Corte as cenouras em rodelas. Numa panela ferva 4 xícaras de água com sal. Jogue as cenouras e cozinhe por uns 10 minutos ou até as cenouras ficarem macias, mas ainda firmes. Coe e deixe esfriar. Misture as cenouras com os ingredientes restantes e leve a geladeira, deixando macerar de um dia para o outro. Sirva em temperatura ambiente.

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a história da cozinha [inglesa]

a historiadora Lucy Worsley não é apenas a chefe curadora da organização Historic Royal Palaces, que cuida da Torre de Londres, do palácio de Hampton Court, dos apartamentos do Kensington Palace State, a casa de banquetes em Whitehall e do palácio Kew em Kew Gardens. Ela também escreve livros e protagoniza séries para a BBC. Worsley tem apenas 37 anos e está causando um furor nos meios acadêmicos britânicos pela casualidade com que ela aborda temas delicados como a história da intimidade da humanidade. Ela fala de camas, fogões, banheiras e privadas com a mesma naturalidade com que fala da arquitetura e arte. Fiquei absolutamente encantada com a figura dessa historiadora depois que ouvi uma entrevista com ela na rádio pública americana, a NPR. Fui procurar o livro dela—If Walls Could Talk, an Intimate History of the Home, e achei as séries que ela fez para a rede de televisão britânica BBC4. Escolhi colocar aqui o episódio sobre a evolução da cozinha, que é o mais interessante. Mas ela também examina a evolução do banheiro, do quarto e da sala de estar. Vale a pena ver todos os episódios, que estão disponibilizados no YouTube em sequências de mais ou menos 15 minutos cada.

parte 1

parte 2

parte 3

parte 4

broa de fubá

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Essa receita foi uma das primeiras que marquei no livro da chef Laura Góes—A Cozinha da Alcobaça. Sendo assim, não sei porque decidi fazer o bolo de canela antes. Quando marquei a receita achei que broa fosse um pãozinho, mas essa é realmente um bolo. E que bolo! Fiquei feliz por poder gastar mais um pouco da masa harina e com o resultado, que ficou até mais delicioso do que aquele bolo de fubá. Substituí por minha própria conta e risco o leite pelo buttermilk. Comemos as primeiras fatias do jeito que a Laura diz que ele é mais gostoso—quentinho. Depois ela recomenda requentar no microondas se precisar, mas nós nem lembramos em fazer isso e devoramos o resto frio mesmo e em tempo recorde.

Quando nos servimos das primeiras fatias ainda mornas senti uma brisa de nostalgia se insinuando entre nós, sentados um de frente para o outro à mesa, nos entreolhando. Por alguns segundos acho que recordamos alguns momentos preciosos da nossa infância, mas não articulamos nenhuma palavra, só conseguimos murmurar hmm.

1/2 xícara de óleo vegetal
1 e 1/2 xícara de fubá mimoso—usei a masa harina
1 e 1/2 xícara de açúcar
40 gr [3 colheres de sopa] de manteiga sem sal
1 xícara de leite—usei buttermilk
1 colher de café de sal
3 ovos
2 colheres de sopa de queijo parmesão ralado
1 colher de sopa de fermento em pó

Pré-aqueça o forno em 365ºF/ 185ºC. Unte uma forma com manteiga e enfarinhe com fubá. Reserve. Numa panela misture o óleo, fubá, açúcar, manteiga, leite e al. Leve ao fogo até levantar fervura, mexendo sempre com um batedor de arame ou colher de pau. Desligue o fogo e deixe esfriar. Quando a mistura estiver fria junte os ovos, um por um mexendo bem para incorporar. Adicione então o queijo ralado e o fermento. Misture bem a massa e coloque na forma untada e enfarinhada. Leve ao forno e asse até o centro do bolo ficar bem firme e a massa cozida. Retire do forno, deixe esfriar um pouco e desenforme numa travessa, se quiser. Sirva o bolo morninho. Se quiser pode requentá-lo no microondas. Eu não achei necessário e comemos o restante frio mesmo.

sopa de abóbora da A. Waters

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Estou quase alcançando meu objetivo de des-papelizar um pouco a minha vida e transferir todas as minhas assinaturas de revista para o iPad. De todas as revistas de gastronomia, a Food & Wine é a que tem na minha opinião o melhor design e interface. Ela não é apenas uma réplica da revista impressa, como muitas outras versões pra iPad são, mas é bem interativa e adaptada para essa mídia. Posso até dizer que estou gostando muito mais de ler essa revista na sua versão eletrônica. Na edição de fevereiro topei com essa sopa preparada pela genial Alice Waters. Tenho o hábito inconsciente de começar qualquer sopa refogando ingredientes e temperos. Mas com essa receita nada disso acontece. Podemos até ficar desconfiados—como que pode fazer um caldo saboroso sem um bom refogado? A Alice prova que é possível. O aroma da abóbora cozinhando na água com cebolas e uma folha de louro é o indício incontestável. Essa sopa foi muito simples de fazer e ficou deliciosa. Eu usei a intrigante variedade red kuri recomendada na receita, mas pode-se usar também a butternut squash ou qualquer outro tipo de abóbora.

700 gr [3 xícaras] de abóbora cortada em cubos
[red kuri, butternut squash ou outra variedade disponível]
1/2 cebola média cortada em partes
1 folha de louro
1 bulbo médio de erva-doce cortado em fatias
1 colher de sopa de azeite extra-virgem
Sal e pimenta do reino moída na hora a gosto
1 colher de sopa de manteiga sem sal
Nozes ou pecans tostadas
Folhas de manjerona fresco [*usei de orégano] para decorar

Pré-aqueça o forno em 375°F/ 200ºC. Numa panela grande coloque a abóbora cortada em cubos, a cebola, a folha de louro e 3 xícaras de água. Leve ao fogo alto e deixe ferver. Abaixe o fogo, cubra a panela e cozinhe em fogo baixo por 20 minutos.

Enquanto isso, forre uma assadeira com papel alumínio. Numa vasilha coloque as fatias de erva-doce e tempere com 1 colher de sopa de azeite, sal e pimenta do reino moída na hora. Espalhe as fatias de erva-doce na assadeira e leve ao forno por 25 minutos.

Remova a folha de louro da panela, bata o cozido de abóbora e cebola no liquidificador [com cuidado!] ou use o mixer de mão [como eu faço]. Coloque o purê de volta na panela e requente em fogo baixo. Tempere com sal, pimenta do reino moída e 1 colher de sopa de manteiga. Distribua a sopa nos pratos e coloque em cada um punhadinho de nozes [ou pecans], um pouquinho da erva-doce assada, folhinhas de orégano fresco [ou manjerona] e regue com um fio de azeite. Sirva imediatamente.

Essa sopa pode ser preparada antecipadamente, guardada na geladeira e requentada momentos antes de servir.

project paso

Se você é um dos tradicionalistas da rolha, que acha que as dos vinhos têm que ser feitas de cortiça, vira os olhos pra lá ou fecha a página. Porque essa vinicola californiana não só substituiu a cortiça pelo plástico, como também aboliu o uso do saca-rolhas nessa linha de vinhos chamada de Project Paso. No website não tem nenhuma explicação do por que dessa inovação, mas posso testemunhar em favor da praticidade. É só puxar a ponta do zigzag de plástico e pleft—remover a rolha com a mão! Pra mim, que detesto abrir vinho com saca-rolha, foi uma revelação. Já o vinho, na minha escolha pelo Sauvignon Blanc, não arrasou Péris in chammas. Bebi uma parte e usei a outra parte para fazer risoto.

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