o vinho era do Carvalho

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Os Sequeira, os Sousa, os Freitas, os Ramos, os Silva, os Gomes, os Nunes, os Pacheco, os Carvalho. Famílias portuguesas imigradas para o centro norta da Califórnia e que se estabeleceram na área agrícola. Os portugueses estão espalhados pelo estado, mas percebe-se que já são segunda, terceira e quarta geração, sempre carregando as tradições e o orgulho do seus antepassados.
Passamos pelas fazendas dos descendentes, rumo ao nosso destino final—a Festa Portuguesa que acontecia no The Old Sugar Mill em Clarksburg. O lugar é uma antiga usina de açúcar de beterraba, que foi comprada por John Carvalho na década de 90 e restaurada para abrigar algumas vinícolas e um centro de eventos.
A festa estava bem simples, com o vinho e a música concentrando as atenções. A comida deixou muito à desejar. Eu reclamei à beça da carne e frango cozidos em muito vinho, do feijão adocicado misturado com linguiça e da salada de saco acompanhada de molho de vidro. Aquele rango não tinha nada de português ao meu ver, mas o pessoal que sentou-se à enorme mesa redonda com a gente, estava achando tudo uma delícia. Meus standards são realmente altos e eu sei que a comida portuguesa é o fino da bossa e muito melhor que aquilo. Bom, ao menos o bolinho frito, filhós, e os tremoços, tremos, estavam muito bons. E o vinho, é claro! Como eles não estavam vendendo apenas o copo, para bebedoras solitárias como eu, compramos a garrafa mesmo, que eu fui bebendo durante o passeio. Adoro fazer isso, caminhar pelo lugar com a taça de vinho na mão! O vinho, da vinícola Carvalho, estava supimpa!
A música também estava animando a festa, com a banda liderada por uma filha de portugueses que só na adolescência foi resgatar a cultura e a língua dos pais. Ela começou o show com uma música brasileira, de Vinicius de Morais. Mas depois tocou vários números tradicionais portugueses, com fados e até cantou uma música em inglês que dizia Amália, you are the queen!
Depois que visitamos as vinícolas, almoçamos o rango português pra inglês ver, ouvimos o fado e a bossa nova, encaroçamos pela lojinha de antiguidades e xeretamos dentro e fora da parte da usina que faz a produção do vinho, fomos caminhar pelo lado de fora, olhar uma casa que parecia abrigar os escritórios da usina. Lá encontramos um senhor de boné e fumando um cachimbo que veio puxar papo. Ele nos contou toda a história da usina, onde ele trabalhou por quinze anos. Nos disse que da década de 30 até a década de 70, toda aquela região onde hoje se planta uva, era coberta por beterrabas para fazer o açúcar. A concorrência e o corte de subsídios do governo decretou o fim da indústria. Ele contou que a sede foi trazida de Idaho em pedaços e remontada aqui na Califónia na década de 30, e nunca foi reformada. Olhamos através dos vidros da janela e ficamos encantados. Estávamos encantados também com aquele simpático senhor, que eu achei muito parecido com o meu pai, que se apresentou como Joe Sousa, um filho de portugueses da Ilha de Madeira. Ele contou histórias das viagens dele pela marinha durante a segunda grande guerra, que foi quando conheceu asiáticos e africanos que falavam português. Foi uma conversa muito interessante. Eu poderia ficar ali papeando com o Joe Sousa a tarde inteira, mas acabamos por nos despedir, ele—have a great life! e nós—you too!

a Sofia Loren gostou

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Depois da experiência na Quintessa, todo o resto que fizemos no Napa ficou meio mixuruca. Paramos para almoçar no Bistro Don Giovanni e eu estava completamente blasé. Não fiquei impressionada com nada e talvez nem tivesse motivos pra ficar. O garçon, daquele tipo afetado com senso de humor que poderiamos classificar de simpático passivo-agressivo, até que se esforçou pra deixar tudo mais interessante. Mas como eu disse, depois da Quintessa o resto perdeu um pouco a graça.
Pedimos uma sopa de tomate com pão, que estava bem gostosa e depois atacamos de massas. Pra acompanhar, fomos na sugestão do nosso amigo Andres e optamos por um Zinfandel do Napa Cellars. Eu nunca bebi um Zinfandel que eu não gostasse. Tenho uma preferência descarada por essa variedade. E o do Napa Cellars não decepcionou. Estava realmente saboroso e eu bebi dois copos! Já a massa, optei pelo Fettuccine alla Lina, com molho de porcini, linguiça e parmesão regiano. Talvez tenha sido a sopa, aliada aos dois copos de vinho, mas eu estava devagar na degustação do fettuccine. Não achei aquela maravilha. O nosso extravagante garçon me informou gaiatamente que Lina, a esposa do proprietário do Bistro Don Giovanni, tinha criado essa receita de fettuccine especialmente para a Sofia Loren.
—e a Sofia Loren gostou?
—o fettuccine está no menu, não está?
—aaahhhh, sim, está!!
Bom, parece que a Sofia Loren gostou do Fettuccine alla Lina. Mas pra falar a verdade… shiu… vem cá, vou te falar… [eu não gostei muito não….]

Quintessa

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O Marcelo Freitas estava procurando a tradução para o português de um ingrediente em inglês, quando aportou aqui no Chucrute com Salsicha. Ninguém precisa ler todos os meus arquivos para concluir que tenho essa preferência pelos produtos naturais e integrais. Foi por isso que ele decidiu me convidar para fazer uma visita à vinícola onde ele trabalha no Napa Valley. Antes preciso dizer que o Marcelo é brasileiro e trabalha com food & wine na Bay Area desde que chegou aqui nos EUA, há quase vinte anos. Ele sabe das coisas, e não somente de qualquer coisa, mas do que é realmente bom e de qualidade.

Combinei tudo com o Marcelo, convidei um casal de amigos, ela brasileira e ele chileno, e o professor espanhol. Gente que gosta e entende um pouco de vinho e que iriam ser excelentes companhia num passeio assim. No sábado saímos cedinho em direção à Rutherford, no coração do Napa Valley, onde iríamos fazer uma private tour na Quintessa Winery.

Vinícolas abundam aqui na Califórnia. Só no Napa Valley são duzentos e cinquenta. E nós já visitamos um bocado delas, mas nenhuma como a Quintessa. A vinícola não tem aqueles chamativos todos que as outras têm. A sua estrutura física é discretíssima, mas de uma elegância ímpar. Fomos recebidos pelo nosso simpático guia, que nos levou para um dos passeios mais fantásticos que eu já fiz pela terra do vinho. As duas horas e meia que se seguiram foram cheias de surpresas e eu aprendi muita coisa sobre vinho e sobre as maneiras de produzi-lo.

Primeiro o Marcelo nos contou toda a história da vinícola e dos seus proprietários, os chilenos Agustin e Valeria Huneeus. A história da paixão deles pela cultura do vinho, ele um homem de negócios e ela uma artista e visionária cheia de idéias inovadoras, nos cativou. Ouvimos com atenção, curiosidade e admiração o relato da compra das terras, do plantio das primeiras videiras. A Quintessa pratica agricultura sustentável e biodinâmica para produzir uvas Merlot, Cabernet Franc e Cabernet Sauvignon. Ficamos especialmente impressionados com a utilização prática e eficiente dos princípios da Biodinâmica, onde tudo está em harmonia, planeta, céu, terra, estrelas, lua. Eles usam um preparado homeopático feito de silica, camomila, casca de carvalho e outras ervas como pulverização contra pragas e insetos. Valeria Huneeus além de tudo pratica o Zen Budismo, então não permite que nenhum animal seja morto na vinícola, nem mesmo os peixes do lago podem ser pescados.

Nosso grupo praticamente dominado por cientistas—dois professores de engenharia agrícola e um estudante de PhD de agronomia, teve reações de incredulidade e abismamento com relação à eficiência dessas práticas naturais e não tão disseminadas. Mas a qualidade das uvas e consequentemente do vinho provou que esse tipo de agricultura é possível. Conhecemos toda a vinícola, desde os campos de vinhas, até os cellars e depois fomos conduzidos à sala de degustação, onde pudemos bebericar safras de dois anos, 2003 e 2004, acompanhados de queijos e crackers e da explicação minuciosa e erudita do nosso guia. Segundo o nosso amigo chileno, esse foi o melhor vinho que ele bebeu na vida! Realmente, o sabor era delicioso, acentuado e suave. Me senti bebendo o resultado de todo esse processo harmônico, onde levou-se em conta todos os fatores da natureza sem pensar em maximizar safras nem lucro. Baco iria aprovar.

A segunda coisa que mais me impressionou, além da vinícola em si, foi o vasto conhecimento e cultura do nosso guia, Marcelo Freitas. Foi um grande prazer ter a companhia de alguém tão versado na arte de comer e beber. Recomendo aos visitantes do Napa Valley que façam uma parada obrigatória na Quintessa. Depois dessa visita, nenhuma outra tour ou degustação de vinho será tão gratificante.

Os vinhos da Quintessa são feitos com uma mistura primorosa de variedades de uvas. Como descreveu perfeitamente o nosso guia “o vinho feito com apenas uma variedade é como um concerto solo de violoncelo. a música é suave e linda. mas o vinho feito de diversas variedades é como o mesmo concerto tocado por uma afinadíssima orquestra. é uma experiência simplesmente indescritível.”

Della Fattoria

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Em Petaluma almoçamos na Della Fattoria, que não é apenas um aconchegante e delicioso café, mas também [e basicamente] uma padaria. Todos os ingredientes usados para fazer os pães maravilhosos que eles assam num forno a lenha e vendem são orgânicos, locais, o azeite é extra-virgem, o sal é marinho e eles não usam fermento comercial. Um pãozão gigante de semolina me custou quatro patacas. Nada mal, pra toda essa qualidade.
Eu adorei o lugar, pena que enquanto tirava fotos a bateria da minha câmera arriou e como sempre, eu—a campeã planetária do esquecimento, não levei baterias extras. Anotei no meu caderninho o que comi e bebi— uma taça de um bom Zinfandel local, sopa de tomate com cubinhos de pão com queijo grelhados e uma colorida panzanella com aspargos, ervilhas, mistura de folhas verdes, pinoles tostados, currants e citronette [vinagrette de limão].

em Petaluma

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Petaluma é uma gracinha de cidade, com um centro histórico lindo, muitas lojinhas, restaurantes e lugares interessantes. Entramos no prédio antigo da biblioteca pública e era um museu muito bacana. Tirei algumas fotos. Petaluma foi uma grande produtora de aves e ovos. O galinheiro estava dentro do museu e as galinhas são bonecos. Adorei a cozinha antiga. Tinha tantos detalhes, faltou o fogão, o armário. Pena que a pouca luminosidade e os vidros protegendo as antiguidades não colaboraram muito. Também eu fotografando dentro do museu, maior mico, né?

the jelly belly experience

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Tantos anos ouvindo falar da Jelly Belly Factory Tour, mas nunca tive o interesse e a curiosidade de ir até Fairfield para conhecer o lugar. Com as crianças aqui, planejamos ir. É bem legalzinho, pois você entra dentro da fabrica e vê os funcionários e robôs trabalhando normalmente na confecção das famosas balinhas. Aprendemos um pouco da história das Jelly Beans, que são descendentes do Turkish Delight. Ganhamos saquinhos de amostras e depois pudemos fazer compras na lojinha e experimentar os sabores. Eu não sou muito fã de açúcares e balas, mas as crianças amaram tudo. Pedi alguns samples antes de comprar e fiquei apenas impressionada com o sabor de kiwi, que é exatamente o sabor da fruta. Vi alguns sabores esdrúxulos, como alho e feijão assado. Só para os audaciosos!

* infelizmente não pude tirar fotos do tour pela fábrica, pois era proibido.

fazendo pequenas viagens

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Tirei uns dias de férias para passear com minha irmã, cunhado e sobrinhos que estão aqui em Davis me visitando. Estou numa rotina um pouco diferente, por um ótimo motivo! Fomos à San Francisco de trem e mesmo com um desagradável incidente tivemos um ótimo passeio, com muita camelagem. O mais divertido para a Catarina e o Fausto foi o picnic que fizemos no banco do Ferry Building Marketplace. Em plena hora do almoço, o local estava horrívelmente muvucado e resolvemos improvisar um ranguinho com pão, tapenade, frutas e suquinhos. Foi uma sensação! Mas a Cacá ainda não sabe o que a espera: muitos e muitos picnics pela frente.

Farofa a bordo

Assim que o comandante avisou que teríamos que esperar por pelo menos uma hora e meia, até os mecânicos terminarem o conserto do problema no avião, eu ouvi o barulho de desembrulhar de pacotes de papel e plástico nas cadeiras atrás de nós, onde sentava um casal de americanos. Senti cheiro de pão sendo cortado e barulhinho de vinho enchendo copos. Pensei, essa gente trouxe um farnel? Sim, trouxeram! Não olhei pra trás, é claro, mas fiquei invejando a idéia. Estamos acostumados com a falta de rango nos vôos domésticos, quando sempre garantimos comendo antes ou levando alguma coisinhas na mala de mão, mas para esse vôo internacional atravessando o Atlântico, eu só tinha trazido o básico: água, bolacha e umas barras de chocolate—o que não era nada comparado ao que eu ainda iria ver.

Eu ainda estava inebriada pelo cheiro do pão e vinho dos americanos, quando um espanhol que sentava com a esposa na fileira ao nosso lado se levantou. O fulano era uma figuraça de calça Calvin Kline e camiseta do sindicato Solidariedade. Tira coisa dali, tira coisa de lá, se vira, se revira e então eu comecei a sentir um cheiro maravilhoso de pão com queijo e presunto. Virei a cabeça e vi com meus dois olhões esbugalhados os espanhóis devorando enormes sanduiches embrulhados em papel branco. Em seguida os vi brindando com copos cheios de vinho tinto. Eu salivava de inveja. E pra completar a farra gastronômica, o espanhol começou a descascar laranjonas suculentas com um cortador de unha. Picnic completo! Levantei pra esticar as pernas e vi os americanos sentados atrás de nós guardando uma caixa de plástico com presunto cru e retirando do farnel uvas gigantonas verdes e potinhos com algum creme de sobremesa, que eles comiam com uma colherzinha descartável—gente organizadíssima! A mulher me ofereceu umas uvas, que eu recusei gentilmente por educação. Eu já tinha dado bandeira suficiente da minha dor de cotovelo por não ter tido essa idéia também.
Quando o avião finalmente decolou—quatro horas mais tarde, eu já tinha bebido toda a água, perdido todo o meu humor, estava descabelada e quase a beira de ter um dos meus ataques claustrofóbicos de avião, mas os sabidos americanos e espanhóis estavam felizões, dormindo refastelados de bucho cheio. Da próxima vez que eu fizer uma viagem internacional, vou ser esperta como esse pessoal e levar uma farofinha. Comida de avião é uma droga mesmo e pelo que eu percebi ninguém regula a entrada de comida clandestina a bordo!

* quando escrevi esse texto, em outubro de 2005, dava pra contrabandear garrafas de vinho para o avião. fosse hoje, com todas essas medidas extremas de segurança, essa turma iria ter que comer os sanduíches à seco.

as panelas da Julia

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Um pedacinho da cozinha de Julia Child está na exposição permanente do Copia. É um painel, onde ela pendurava algumas de suas panelas e formas. Seu marido, Paul, projetou a cozinha na casa de Cambridge, Massachusetts em 1961. Ele teve que adaptar a pia e bancada à altura de Julia, que tinha meros 6’2″ – 1,89m. Nesse painel que está hoje no Copia, Paul delineou o formato de cada panela com caneta, assim Julia poderia achar mais fácil o lugar de cada uma.
A cozinha de Julia Child foi doada para o Smithsonian National Museum of American History em Washington, D.C., e pode ser explorada online no website do Julia Child’s Kitchen at the Smithsonian. Vejam nas fotos da cozinha completa, tirada ainda na casa de Julia e Paul, o painel com as panelas que hoje pode ser visto no Copia.