5 anos fechados
[com chave de ouro]

Festanças não são muito a minha praia. Mas eu gosto de marcar e relembrar as datas, principalmente as comemorativas. E este ano juntaram-se várias numa curta sequência. Quando me toquei que o aniversário de cinco anos do Chucrute com Salsicha estava se aproximando, nem esquentei a cachola pensando no que iria fazer para celebrar. Eu iria estar no Brasil, mais precisamente em São Paulo e com amigas blogueiras, exatamente no primeiro de novembro—o dia auspicioso em que iniciei este promitente blog.

Chucrute no Brasil Chucrute no Brasil
Chucrute no Brasil
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Chucrute no Brasil

As outras datas celebrativas que precederam brevemente o aniversário do Chucrute e que determinaram que eu entrasse num avião e mudasse de hemisfério, foram o aniversário de 80 anos do meu pai e o de 50 anos de casamento dele com a minha mãe. Toda família compareceu, tivemos festa, festão e festinha na comemoração de duas datas importantíssimas para nós. Passei uma semana e meia aproveitando a companhia de todos da família e revendo e conhecendo novos amigos. Conheci a querida blogueira Luciana Betenson que veio encontrar-se comigo em Campinas, ri muito com minha irmã e o amigão dela, o Calil, revi a Sandra, minha alma gêmea ativista dos orgânicos, bebi cházinho com bolo de azeite e alecrim feito para mim pela minha irmã, comi feijoada, galinha caipira com quirera, goiaba, pitanga, todas as bananas que pude engolfar, laranja lima, manga, pizza do Bráz, pão de queijo assado na folha de bananeira e linguiça feita em casa pela minha prendada cunhada Patrícia, comi requeijão, goiabada, doce de figo, bebi drinks sem alcool com minha mãe, ouvi meu pai falar de política, visitei a fazenda orgânica Yamaguishi com minha mãe e meu irmão, curti todos os meus sobrinhos, desde os que sobem em árvore, fazem tricô, curtem futebol, tocam música, dançam balé, me preparam deliciosos bolos, até os que adoram salada e plantam hortinha na varanda. Também convivi com todos os cachorros da família e dos amigos. Fui aos supermercados convencionais e orgânicos, hortifruti, mercearia, vendinha, padaria, açougue, peixaria.

Chucrute no Brasil
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Me despedi da minha família um pouco mais cedo, para poder passar três dias em São Paulo, revendo e conhecendo amigos, experienciando um pouco da diversidade da cultura gastronômica da cidade. Fui recepcionada pela minha querida amiga Roberta, que me tratou como uma rainha—nunca vou conseguir agradecer o suficiente tanto carinho e cuidado! Com ela e o Antônio, mais minha irmã, meu cunhado e sobrinhos, comi comida mineira levinha, pastelzinho recheado com carne seca, bolinho de mandioquinha com queijo, couve refogada, caldinho de feijão e uma farofa de maracujá que nunca vou esquecer. Também com a Roberta fui encontrar com o queridíssimo Gui Bracco no restaurante Moinho de Pedra, onde também conheci a chef Tatiana Cardoso [e ganhei o livro dela autografado]. Depois passamos na chocolateria Valrhona, onde papeamos muito mais e também encontramos a Beth V. À noite brindamos os cinco anos do Chucrute informalmente num jantar encantadoramente Dadivoso na casa da Fernanda Zacchi e na companhia da Mariana Newlands, Roberta, Mr. Dadivoso e a linda cachorra Frida. No dia seguinte passamos no Lá da Venda, onde conheci a simpatica chef Heloisa Barcelar, bebi Turbaína e almoçei pastelzinho de massa de milho e picanha com purê de banana da terra na companhia da Roberta e da fofíssima Maria Rê. Passamos a tarde num papo tão bom, que nem vimos as horas passarem. À noite jantei no sofisticado restaurante Maní com as amigas Lena Gasparetto, Faby Zanelati e Daniela Fonseca. E meu último dia em São Paulo passei com a querida Neide Rigo, que me serviu suco de bacuri da Ilha do Marajó, me levou de trem para o Mercado da Lapa, onde comi açaí com banana e creme de cupuaçú, depois fomos de ônibus até o centro da cidade, onde almoçamos no restaurante Tordesilhas. Esse lugar foi para mim no mínimo, o máximo, pelo ambiente, decoração e comida especialíssima, mas também por causa da chef Mara Salles, que juntou-se à nós, na companhia da sua mãe e me ensinou sobre a abobrinha brasileira, falou um bocado de coisas legais sobre sustentabilidade e ainda nos serviu um delicioso licor de Baru. Saí do Tordesilhas encantada com o que vi, ouvi e comi e de lá segui tristemente para o aeroporto, acompanhada e guiada mais uma vez pelas queridas Roberta, Maria Rê e Neide Rigo que ficaram comigo até quase a hora do embarque.

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Os cinco anos do Chucrute com Salsicha não teve [nem vai ter] comemoração formal, com bolo, fogos de artificio, relatos nostálgicos. Este blog é o que é, porque eu sou quem eu sou. E tudo o que fiz até hoje resultou numa rede de amizades inestimáveis, que me faz sentir privilegiada por ter tido a oportunidade de manter e estreitar esses laços. Não consegui ver e rever muitas outras gentes queridas, mas sei que não irão faltar oportunidades num futuro breve. Mais visitas virão com certeza, mas por enquando vou ficando por aqui, dando continuidade à este convercê que iniciei há cinco anos e que parece estar bem longe de se encerrar.

[»todas as fotos tiradas com meu companheiro de viagem iPhone4; a foto com a Mara Salles e a abobrinha é de autoria da Neide Rigo.]

mais um dia, mais um ano

Fiquei um ano mais sábia na sexta-feira. E vou dizer que nem doeu. Aliás, quero deixar registrado que doi cada vez menos, porque é assim que tem que ser. Idade é maturidade. cravo vaso azulSe não for assim é porque alguma coisa está muito errada. Me importo sim, às vezes, de não ter mais a pele tão fresca, de ter minhas marcas, dos cabelitos brancos ali na testa insistindo em ficar aparecidos, de não ser mais tão esbelta, tão energética e dos probleminhas que fatalmente aparecem. Mas não poderia estar mais feliz, com minhas chatices, minhas manias, meu apetite e meu sono, minha paciência, meu humor, minha persistência, minha resistência e, principalmente, com a minha capacidade de contar até dez, vinte, cinquenta, cento e setenta, mil.

Nunca vou esquecer de uma cena patética que protagonizei quando tinha vinte e cinco anos e choramingava minhas pitangas de imaturidade numa mesa de restaurante, rodeada por mulheres bem mais velhas do que eu. Meu rosário de reclamações centrava-se no temor absoluto pela minha iminente chegada nos TRINTA anos, o que iria com certeza me condenar à viver para sempre num calabouço de horror e tristeza. As mulheres me ouviram pacientemente, com certeza se entreolharam e reviraram os olhos, e finalmente uma delas virou-se pra mim e disse:

—você ainda não tem maturidade para entender a naturalidade de se fazer trinta anos e só vai ter essa maturidade quando fizer trinta anos.

Demorei um tempo para entender o que ela quis dizer e quando entendi fiquei com uma cara de tacho eterna, porque pá, é isso mesmo! Só vamos entender quando chegamos lá. Cheguei nos trinta e nada mudou, o mesmo valeu para os quarenta. E parece que cada vez fica mais fácil e mais tranquilo—the zen art of getting old.

então vamos, por aqui

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Fui e voltei. Ainda não superei o cansaço da viagem e já caí gripada. Passei o primeiro dia do ano novo me sentindo podre, um zumbi tentando colocar em prática o menu planejado para o primeiro almoço. Não consegui. Todos ajudaram, mas não teve sobremesa e meu humor não estava dos melhores. Dormi o resto da tarde. Dormi e dormi muito. Parei de acreditar nessas superstições de ano novo há muito tempo. Mas se ainda acreditasse, estaria rangendo os dentes. Sei que este ano de 2010 será razoavelmente turbulento. E se não for, sairemos no lucro. Também parei de fazer resoluções há muito tempo, mas se ainda tivesse disposição para essas listas, diria que gostaria de descansar mais, encanar menos, tentar não exagerar em nada, nem me deixar ficar muito óbvia. Então vamos indo, né, que é por aqui mesmo.

Gourmet — primeira e última

Gourmet Gourmet
Gourmet
Gourmet
Gourmet Gourmet
Gourmet
Gourmet
Gourmet Gourmet
Gourmet
Gourmet
Gourmet Gourmet
Gourmet
Gourmet
Gourmet

Quem não lamentou o fechamento da Revista Gourmet? A notícia foi uma grande surpresa e deixou muita gente triste e atônita, pois a revista tinha história. Ela não era apenas uma revista lançada ontem, mas uma publicação com sessenta e oito anos de currículo. Pelas páginas da Gourmet passaram muitos nomes famosos, entre eles o de M.F.K. Fisher. A Gourmet era única e vai deixar um imenso vazio. Quando recebi meu último exemplar, levei uns dias para abrí-lo, pois me senti um pouco melancólica. Deu pra perceber que a decisão da editora foi súbita, pois nada nessa edição tem cara de despedida ou de fim. Confirmei essa sensação quando ouvi a entrevista com a Ruth Reichl na NPR onde ela relata a surpresa e a tristeza do encerramento inesperado da revista.

Anos atrás eu tinha corrido os olhos pela coleção da Revista Gourmet da biblioteca da UC Davis. Eles têm lá TODOS os exemplares, desde o número um, publicado em janeiro de 1941 até este último, datado de novembro de 2009. Pra mim resta o consolo de poder rever qualquer número da revista a qualquer hora. Publiquei minhas impressões dos primeiros números da Gourmet de 1941 e as da Gourmet de 1971, que já tinham uma cara bem diferente.

Hoje escolhi publicar, junto com a capa e umas páginas do último número, a capa e o conteúdo do primeiro número, para dar uma idéia do quanto a revista evoluiu nos últimos sessenta e oito anos. O número um trazia um desenho de uma cabeça de javali assada na capa e as páginas internas eram na maioria em preto & branco. Percebe-se no conteúdo a clara e onipresente influência francesa, que naquela época parecia ser a única referência para a alta gastronomia mundial. Hoje não é preciso mais colocar menu em francês para parecer chique e sério. Os EUA já fixaram terrítorio no mundo gatronômico e mesmo sem a preciosa contribuição da revista Gourmet, acredito que vamos continuar evoluindo, sempre para melhor.

[nove]

Gosto de marcar esta data, pois ela mudou muita coisa pra mim. Mudou principalmente a maneira com que passei a me comunicar, contar histórias, me expressar. Logo que encontrei a ferramenta do Blogger, cliquei aqui, cliquei ali e olha só—comecei escrevendo sobre o Steve MacQueen. No inicio não sabia muito bem como fazer, mas logo fui achando outros blogs e outros blogs foram me achando, Não éramos muitos naquele tempo, talvez uns 15, no máximo 20. Escrevendo fora do Brasil era eu, a Graziela e o Cris Dias. No Brasil estavam a Inêz, a Mariana Newlands, a Zel, o Zamorim, o Jean Boechat, o Nemo Nox e a Pink Dress que já contava com participações especiais da Dadivosa. Depois foram surgindo outros muitos, que ainda estão ativos, como eu.

O sistema de auto-publicação dos blogs foi pra mim o achado do novo século, literalmente. Nunca me senti tão a vontade para escrever meus pensamentos, me expressar sem me preocupar se estava ou não incomodando alguém. Porque no blog o espaço é somente seu. Te visita quem quer e quem gosta. Para mim os blogs viraram sinônimo de absoluta liberdade, que ainda permite uma completa customização. Essa foi a primeira cara do meu primeiro blog, que evoluiu e se transformou, saiu do blogger, testou um publicador inovador e migrou definitivamente para onde estou até hoje.

Gosto de marcar esta data, porque foi a partir daquele 22 de outubro que me transformei numa escrevinhadora diária. Meus blogs estão no meu testamento, com a instrução de que eles continuem disponíveis, mesmo quando eu não puder mais atualizá-los. Nunca escrevi um livro impresso em papel, mas tenho certeza que o que tenho online já basta para marcar definitivamente minha presença neste planeta.

apenas alguns números

>> hoje, estou muito mais velha do que a minha avó materna, que morreu aos vinte e nove anos.
>> hoje, estou mais velha do que a minha avó paterna, que morreu aos quarenta e dois anos.
>> hoje, ainda sou muito mais nova do que a minha mãe era, quando eu tinha a idade que o meu filho tem hoje.
>> hoje, meu filho é mais velho do que eu era quando ele nasceu.
>> hoje, continuo apenas um ano mais velha que o meu marido
>> hoje, calculei que já vivi muito mais que a metade da minha vida com ele.
>> hoje, me sinto muito mais nova do que realmente sou.
>> hoje, olho no espelho e me vejo com a idade que realmente tenho.
>> hoje, a maturidade me permite compreender que anos são apenas números, nada mais.