farofa americanizada

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Um tempo atrás alguém me perguntou se eu tinha um pouco de farinha de mandioca para virar uma farofinha que acompanharia uma feijoada que seria servida à um grupo de americanos e estrangeiros. Lembrei que tinha sim, um último pacote, que foi gentilmente doado. Meses depois descobri que eu tinha muito mais farinha brasileira do que pensava. Encontrei lá no fundo de um dos meus armários um pacote de farofa temperada pronta, outro de farinha de mandioca e outro de farinha de milho. Todos com data expirada. Tipo, expirado em 2005! Não lembro, nem sei de onde vieram esses pacotes—presente de alguém que veio ou de alguém que foi e não quis levar, sabe-se lá. Infelizmente tive que jogar tudo no lixo. Cinco anos é muito tempo.

Ainda lidando com a enxurrada de folhas verdes chegando semanalmente na cesta orgânica, encasquetei de fazer uma farofa, daquelas com verdura, ovo cozido e alguma farinha. Farinha brasileira de mandioca ou milho não há, mas não vou deixar este pequeno detalhe atravancar o meu caminho, não é? O negócio é que eu conheço os truques. Saber os truques é elementar, em alguns casos, meu caro Watson.

E o inestimável truque da farinha eu aprendi com uma querida pernambucana que conheci nos meus anos morando no Canadá, quando não havia ainda lojas online e tudo era muito mais difícil para quem morava no estrangeiro. Ficamos muito amigas e ela me passava muitas receitas e me ensinou que o Cream Of Wheat—um produto muito comum aqui na América do Norte e que é geralmente usado para fazer mingau, substitui razoavelmente bem a farinha de mandioca em receitas de farofa. Depois de um tempo, descobri por mim mesma que os famosos Grits, muito usados na culinária do Sul dos EUA, também funcionam muito bem em farofas. Não é, de maneira alguma, a mesma coisa que farinha de mandioca, mas engana muito bem. Eu não tenho receio de substituir ingredientes, desde que faça um certo sentido. E neste caso faz.

1 maço de folhas verdes picadinhas em fatias finas [* usei uma mistura de verduras chamada de mixed raab]
2 ovos cozidos e picados em cubinhos
1/2 cebola cortada em fatias
Sal e pimenta do reino moída a gosto
1 xícara de Grits

Numa frigideira robusta coloque o azeite e refogue a cebola. Junte as folhas verdes e refogue até elas murcharem e ficarem com uma cor verde bem escuro. Tempere com sal e pimenta a gosto. Junte os ovos cozidos picado, mexa bem e junte os grits, mexendo sempre até os grãos ficarem tostadinhos e tudo virar uma farofa bem seca. Sirva imediatamente.

a primavera chegou
[nos pomares de amêndoas]

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Uma semana depois da nossa primeira tentativa de ver as árvores floridas, dirigimos um pouco mais pro norte e encontramos muitos pomares assim, empipocados de flores. Ficamos meio na dúvida se essas eram amendoeiras, mas tivemos a confirmação achando muitas cascas ressecadas e apodrecidas das frutas espalhadas ao redor. Logo elas ficarão cheias de folhas verdes e depois de frutinhos. A colheita é no final do verão. Ainda temos uma longa espera pela frente.

ainda era inverno
[nos pomares de amêndoas]

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pomar de amendoas pomar de amendoas
pomar de amendoas
pomar de amendoas pomar de amendoas

Saímos para dar um rolê pelas fazendas de amêndoas da minha região, porque eu achava que à esta altura as árvores já estariam floridas. Durante o inverno todos os pomares de amêndoas, nozes, castanhas e pistaches ficam com essa cara de desolação acinzentada. Mas quando as árvores começam a florir, é um espetáculo. Infelizmente fizemos esse passeio com uma semana de antecedência e foi só isso que encontramos—corredores e mais corredores quase infinitos de galhos cinzas. Bem diferente dos mesmos pomares no final do verão, próximo da colheita, quando as árvores ficam abarrotadas de frutos.

Levei minha câmera, mas quando vi que não havia nenhuma florzinha no horizonte, desanimei e fiz esses cliques com o celular mesmo. Tenho que admitir que ando usando pouquíssimo a câmera, encantada que estou com as inúmeras possibilidades de interatividade que o celular me proporciona. Virei uma iPhone Photo Junkie e nem vou mentir.

365

Só porque eu quase não tenho o que fazer, né? Três blogs, uma casa, um marido, dois gatos, um emprego período integral. Mas eu já tava de olho em algumas pessoas que praticavam o projeto chamado 365—isto é, publicar uma foto por dia, nos 365 dias do ano. Estava praticamente fazendo isso diáriamente no meu Twitter, usando o Twitpic, um dos inúmeros álbuns disponíveis por lá. Mas o problema desse espaço é que fica tudo engolido na falação e se você não acessa o Twitter, não acompanha nada e fica meio sem um caminho de acesso.
Daí que então, inspirada e incentivada pela Mariana Newlands, que é uma das pessoas mais criativas e talentosas que eu conheço e que tem um 365 dias lindo, resolvi fazer o meu. E combinei de iniciar os meus dias em fotos, junto com outra talentosa querida que também decidiu fazer o dela—a Dadivosa e os seus (quase) 365 dias.
Estou adorando esse meu novo projeto, publicando uma foto de celular por dia, nos meus 365.

nas compras da semana

Há mais ou menos três anos resolvi centralizar a maioria das minhas compras num só lugar. Costumava ficar pulando de galho em galho, até que percebi que o melhor estava bem ali na minha frente, ou melhor, à poucos blocos da minha casa. Escolhi fazer a maioria das minhas compras Co-opno Co-op de Davis por inúmeras outras razões, além da proximidade. Primeiro, porque este supermercado é uma coperativa. Isto é, posso pagar uma anuidade e ter algum poder de decisão no que acontece por lá. Eu posso votar para eleger a administração, tenho uma pequena parte nas ações e recebo um desconto de 5% em todas as compras. Mas ainda não é só por isso, mas sim porque também no Co-op eu encontro tudo o que quero e preciso. Por exemplo, o leite orgânico de uma fazenda local, a Straus Family, que vem em vidros retornáveis e não em plástico ou caixa de papel. E os pães da melhor padaria de Davis, ou do Napa ou as delicias da Acme Bread de Berkeley. O Co-op se esmera para oferecer produtos locais e orgânicos, sustentáveis, fair trade e únicos. O seu açougue é o único em que eu confio para adquirir carnes de animais criados num sistema humanitário. E só lá posso comprar banana fair trade, sem falar que eles têm a melhor e mais variada seção de produltos a granel [bulk] e uma imensa oferta de produtos de banheiro e beleza alternativos. Alías, prefiro o Co-op porque muitos produtos eu só consigo achar por lá.

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Faço uma visita ao Co-op uma vez por semana. Costumava ir mais vezes, mas felizmente consegui me organizar. Combino minhas compras no Farmers Market e Co-op, com pulinhos aqui em outros poucos lugares. Estou contente com a minha decisão de centralizar minhas compras num supermercado onde me sinto completamente satisfeita e confortável.

O Co-op é pequeno e passou por umas reformas sem fechar, quando tivemos que ter muita paciência com a confusão. O chão continua desfeito, mas ninguém parece se importar muito com esse detalhe. O ambiente lá é tão acolhedor, que quando entro em outros supermercados maiores, me sinto perdida e intimidada. Se bem que qualquer supermercado aqui vai te proporcionar uma experiência magnifica de compras, com prateleiras cheias de produtos variados e maravilhosos, ambiente super lindo e muito bem iluminado, funcionários bem humorados e gentis, eteceteráeteceterá. Mas pra mim, lugar nenhum tem a atmosfera do Co-op. Somente talvez, outro Co-op.

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Vou chover no molhado escrevendo novamente tudo o que já escrevi anos atrás sobre o tal supermercado do tomatão. Mas é sempre assim, se você parar qualquer funcionário pra fazer qualquer pergunta, vai receber uma atenção tripla, talvez até uma aula ou com certeza uma tour. Na hora de pagar, os caixas sempre conversam com você [e entre eles] e, no meu caso fazem comentários elogiosos sobre a minha roupa e sobre a minha cesta e sacolas ecológicas, além de sempre comentarem ou fazerem perguntas sobre as suas compras. Nem sempre tem alguém para colocar os produtos nas suas sacolas, mas tem sempre gente interessante te dando dicas, puxando papo e comentando que aquele pão de canela que você comprou deve ser absolutamente delicioso, mas também super saudável, pois você sabia que a canela está sendo considerada o novo tempero super-poderoso do momento?

bolo que rola não cria musgo

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Lendo algumas revistas que trouxe da Inglaterra, percebi um nome que pipocava aqui e ali, constantemente. Fui checar quem era aquela tal de Delia Smith e descobri que há outras celebridades culinárias inglesas além de Elizabeth David, Nigella Lawson e o onipresente Jamie Oliver. Delia ficou famosa nos anos 60, especialmente depois de fazer aquele bolo pitoresco, que virou capa do disco Let it Bleed dos Rolling Stones. Pra mim, falou rock ‘n ‘ roll já piscou mil luzinhas e conseguiu a minha atenção. Delia conta que numa manhã recebeu o telefonema de um fotografo perguntando se ela poderia fazer um bolo bem extravagante e feio. Ela aceitou o desafio, fez o bolo e só descobriu que ele iria fazer parte da capa do novo disco dos Stones quando chegou no estúdio do fotografo. Por ela ter feito o bolo da capa de um dos meus discos favoritos, deixei do lado o fato dela ser envolvida com religião e espiritualiasmo, de ter uma carinha e uma vozinha de moça boazinha, que cozinha toda organizadinha em panelas com cores combinantes. Li na wikipedia que ela ficou famosa por ensinar conceitos básicos de culinária. Também vi alguns videos de programas antigos dela no youtube e achei tudo super vintage. Não gostei das receitas dela que vi publicada numa das revistas, mas isso realmente não importa, pois como sabiamente diz o senhor Jagger—you can’t always get what you want.

as pequenas arbequinas

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Outro dia o Uriel me trouxe da fazenda um ramo das azeitonas arbequinas, que são as que produzem o nosso azeite favorito. Foi uma grande surpresa ver como elas são pequenas—muito pequenas! Mas que sabor. Ele me fez esmagar uma na mão, esfregar o liquido e sentir o cheiro de fruta fresca, que é o mesmo do azeite. Ele também me disse que o azeite é feito exatamente assim: as azeitonas são prensadas e nada mais.

uma jarra antiga?

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Acho muito legal quando estou assistindo um filme e reconheço um objeto em alguma cena. No encantador Eternal Sunshine of the Spotless Mind, reconheci a pulseira de metal no pulso da atriz Kirsten Dunst, pois eu tenho uma igualzinha. Também já reconheci um abajour que tenho na sala de tevê num outro filme, que infelizmente não lembro qual. E outro dia reconheci num filme uma jarra que comprei no ano passado na lojinha de segunda mão do SPCA. Uso muito essa jarra, que acho linda, para colocar flores. Ela é enorme e deve servir pelo menos uns quatro litros de liquido. Nunca usei para servir, pois raramente preciso de uma jarra desse tamanho. Mas ela está sempre em uso com as flores da semana.

O filme é Sounder de 1972. Uma linda história de um família de lavradores negros vivendo na Louisiana em 1933. Eles plantam cana e fazem melado num pequeno sítio e enfrentam as durezas da depressão e as injustiças da discriminação racial. Um dia, o pai rouba um frango pra alimentar a família e é preso, condenado e enviado para um campo de trabalho. A mãe e os três filhos ficam sozinhos e ainda precisam descobrir pra que campo de trabalho o pai foi enviado. O menino mais velho e o cachorro [Sounder] saem juntos numa viagem pra descobrir o paradeiro do pai. E a viagem transforma o menino. O filme é lindo, emocionante, delicado e foi indicado para quatro Oscars—melhor filme, melhor ator, melhor atriz coadjuvante e melhor roteiro adaptado. Assistam!

Vi uma réplica da minha jarra comprada de segunda mão numa cena na cozinha da casa humilde da família numa tarde de domingo. Um casal de amigos está tocando violão e dançando, todos batendo palmas e se divertindo. Até que o pastor da igreja chega com a notícia de que o pai foi enviado para um campo de trabalho e ninguém sabe exatamente onde. A alegria acaba e a mãe serve um copo de limonada para o pastor. Na jarra linda, exatamente igual a minha!