vamos tentar, então?

Eu subestimei um bocado essa operação-procedimento-tratamento que fiz. Achei que a recuperação iria ser muito fácil, assim num estalar de dedos, mas não está sendo. Pelo menos já estou fora da caverna, i.e., quarto. Não aguento mais ficar sem fazer nada, vendo e pensando em tanta coisa pra fazer. Resolvi que, conforme anteriomente planejado, amanhã estarei de volta ao trabalho. O único porém é que não posso pedalar a bicicleta e estou caminhando como uma anciã, então vou ter que planejar muito bem o meu dia e certamente almoçar no trabalho. Essa é a parte mais chata de tudo, pois gosto de vir almoçar em casa, de quebrar a rotina, sair da frente do computador, ver os gatos, às vezes até tomar um banho nos dias quentes. E dias quentes serão. Gastei algumas das minhas horas inertes fazendo planos—será que levo uma toalha pra estender na grama mais próxima, fazer da minha hora de amoço um picnic time e ainda poder deitar e relaxar? Mas isso involve carregar a toalha e todos os cacarecos na minha caminhada pela manhã. E se estiver muito quente, não vou querer lagartixar na grama. Levo um chapéu? Levo minha sombrinha portátil? E a parte de higiene, escova de dente, fio dental, preciso levar também. Não quero fazer como os meus colegas, que comem sopa de lata, bolinhos microondáveis ou gororobas compradas prontas em frente ao computador. Mas não quero ficar na toca nem mais um dia. Ainda estou pensando como vou fazer, mas já decidi que vou fazer. E pronto!

sabão feito em casa

sabao_osmarina_S.jpg

O sabão feito em casa pela Osmarina chegou na semana passada na mala do Gabriel. Ela me mandou um tablete, porque sabe como eu sou atrapalhada, mancho todas as minhas roupas com respingos de comida e esse sabão é famoso por ser tiro e queda na eliminação de manchas. E a Osmarina é expert nessas tarefas de desencardir. Eu aqui, com todos os produtos sofisticados pra espirrar, nem sempre consigo os resultados que ela consegue com uma simples barra de sabão em pedra. Além de tudo esse sabão é feito com sobras de óleo usado de cozinha, aquelas que você não deve jogar no ralo da pia nunca.

Para quem quiser experimentar fazer esse poderoso sabão em casa, aqui vai a receita, enviada pela minha mãe:
5 litros de óleo de cozinha usado e coado, 1 copo de sabão em pó, 1 copo de pinho sol, 1 copo de detergente, 1 quilo de soda cáustica Yara, 1 litro de água fervendo, bem fervendo. Colocar a soda no balde com a água fervente, tomar cuidado porque borbulha*, colocar o sabão, o pinho sol, o detergente e por último o óleo. Bater por 40 minutos com o cabo de uma vassoura—só que a Osmarina bateu com as colheres da batedeira por 20 minutos e ela achou que ficou melhor. Colocar numa vasilha retangular e deixar até o dia seguinte. Cortar em pedaços.

* Minha sugestão é que você use luvas e, se possível, também óculos de proteção para fazer o sabão, afinal estará mexendo com soda cáustica e o seguro morreu de velho, num é?

A paciente orgânica

Enfermeira—você pode ficar para o jantar, se quiser. servimos às 6pm.
Fer—eu realmente não quero desperdiçar a sua comida…
Enfermeira—ha ha ha! mas se quiser, fique à vontade!
Fer—acho que prefiro beber um copo de leite em casa [e sonhar com um curau de milho que deixei na geladeira]

Eu entendo que hospitais em geral aceitam requisição para dietas especiais, kosher, vegetariana, mas nunca ouvi falar que houvesse opção para os naturebas como eu. Portanto já fui consciente de que qualquer rango que me servissem lá iria ser abominável. Felizmente casquei fora a tempo, antes que eles viessem me empurrar o jantar sem sólidos, que prometia ser monstruoso. Não comi realmente nada lá. No dia seguinte o Uriel me serviu de colher um potinho de suco de cranberry e uva e outro com uma gelatina cor de xixi de alienígena. Algumas horas depois já estava tudo devolvido, já que as náuseas me atacaram ferozmente no primeiro dia. No segundo dia me trouxeram um chá preto com açúcar, outro suco de cranberry, outra gelatina fluorescente [passa, passa!], água com gelo, soda limonada horrivelmente doce, um caldo de carne e crackers salgadas. Nada entrou, nada desceu, simplesmente não deu. Pior é que quando me vejo assim frágil, como no caso de uma estadia num hospital, eu fico extremamente franca e portanto não escondi o meu desprezo por aquela comida sem criatividade, sem nada especial.

Se eu fosse a Alice Waters, delirei, teria um grupo de chefs na cozinha do hospital, cozinhando só pra mim—a paciente orgânica. Mas como sou uma simples ninguém, não posso exigir na bandeja um copo de suco de cenoura fresquinho ou gelatina feita com frutas sazonais, ou mesmo umas bolachinhas de farinha de centeio. Isso eu só posso ter em casa. Por isso não via a hora de ser liberada daquelas quatro paredes verdes, onde eu só dormi, dormi, dormi e dormi, alem de apertar o botão dos narcóticos que me faziam vomitar, e dormir mais e mais.

No segundo dia, quando acordei totalmente desgastada e descabelada, depois de uma noite de náuseas e vômitos constantes entre as dormidas impostas pelos narcóticos que me fizeram sonhar sonhos muitos estranhos, a enfermeira veio fazer o exame dos sinais vitais, que são feitos a cada hora, eu presumo. Eram sempre duas, a enfermeira registrada e a assistente. Sempre extremamente gentis, essa em particular olhou o bracelete com meu nome e idade e exclamou—nossa, mas você não aparenta ter quarenta e seis anos! Eu e o Uriel nos entreolhamos com um sorriso sem graça e eu com aquela cara amarfanhada e torturada respondi—nas atuais circunstâncias, ouvir isso é muito lisonjeiro. Acho que essa é uma das profissões mais honoráveis que existem, porque essas mulheres e homens lidam com a miséria humana, histórias tristes passam pelas mãos desses profissionais todos os dias. E muitas vezes eles vão até o final, até a morte do paciente, cuidando, sorrindo, sendo gentis e falando coisas pra te animar e te colocar mais alegre. No meu caso não foi nada dramático, mas ser tratada com carinho e atenção ajudou bastante no processo.

Ainda estou tendo muitas dores e ontem tive uma febre que só baixou de madrugada e que me assustou um pouco. Estou descansando bastante, vendo muitos filmes na tevê e comendo os ranguinhos brejeiros que o Uriel tem trazido dos meus restaurantes favoritos. Estou alimentando esperanças de que meu corpo vai colaborar e ficar bom logo, e fazendo planos de voltar à minha rotina na segunda-feira. Bicicleta, porém, só no final de agosto. Muito, muito, muitíssimo obrigada à todos que deixaram uma palavrinha aqui, desejando boa sorte e boa recuperação. Senti ondas confortantes de extremely good vibrations, que vieram em ótima hora!

dias de jejum forçado

A primeira e última vez que dormi num hospital foi quando meu filho nasceu, há vinte e seis anos. Portanto não posso me considerar uma pessoa experiente em estadias hospitalares e nem me sinto muito animada com a perspectiva de tubos, macas, enfermeiros, monitores. But a woman’s gotta do what a woman’s gotta go, então hoje pela manhã me internarei no hospital para fazer um tratamento chamado EMBOLIZAÇÃO UTERINA.

No ano passado uns exames detectaram entidades invasoras residindo no meu útero. O aparecimento dos famigerados fibromas parece ser uma coisa normal em mulheres de mais de quarenta anos. Eles são considerados tumores benignos e não causam nenhum risco, mas se desenvolvem e se multiplicam, evoluindo rapidamente para um quadro de sintomas realmente duros na queda. Eu já estou hospedando muitos, inúmeros, incontáveis fibromas e eles já estão fazendo a minha vida bem miserável. Na busca por uma solução fui colocada frente a frente com a possibilidade de fazer uma histerectomia, que é o procedimento de remoção do útero. Fiquei muito perturbada com a idéia de remover uma parte do meu corpo e eu e o Uriel fomos atrás de mais informação. Descobrimos que noventa por cento das operações de remoção do útero relacionadas à problemas com fibromas são totalmente desnecessárias e que há tratamentos alternativos. Tive várias consultas com minha ginecologista e, depois que optei pela embolização, também com a radiologista que vai comandar a ação e que me explicou todos os micro-detalhes desse procedimento muito menos traumático e agressivo.

Vou pro hospital em jejum, levando comigo minha malinha com alguns objetos pessoais e meu indefectível e robusto mau humor matinal. Estou ciente de todos os pormenores e de como meu corpo deverá reagir a esse tratamento. Já sei que vou ter que ficar uns dias de molho, sem poder cozinhar ou inventar muita moda. Tirei uma semana de licença saúde, que é o tempo que me disseram que vou precisar para me recuperar. Mas estou na expectativa de estar boa antes disso. Até breve então!

Bolo de pêssego

torta_pessego_1S.jpg

Essa é a sobremesa do mês na edição de agosto da revista Martha Stewart Living. Adorei tudo nela, a massa de cornmeal com lavanda e, é claro, os pêssegos que estão entrando com tudo na estação. Gostamos imensamente do resultado, que pode ser comparado à um bolo de fubá sofisticado com a lavanda no lugar da erva-doce, e os pêssegos caramelados combinando muito bem com todo o resto. Comentário do crítico enquanto se servia de mais uma fatia—mas essa Martha Stewart é fogo, hein? Nem fala, nem fala, êta sujeita fogueta! Tudo o que ela publica dá certo e fica bom.

peach and cornmeal upside-down cake
170 gr/ 1 tablete e meio de manteiga sem sal amolecida
1 xícara de açúcar
6 pêssegos cortado em fatias grossas
1 xícara de cornmeal ou polenta
3/4 de farinha de trigo
1 colher de chá de fermento em pó
2 colheres de sopa de flores de lavanda secas
1 1/4 colher de chá de sal grosso
3 ovos caipiras grandes
1/2 colher de chá de extrato de baunilha
1/2 xícara de creme de leite fresco

Numa frigideira larga de ferro, ou outro tipo de panela que possa ir ao fogo e ao forno, derreta 56 gr/ 4 colheres de sopa de manteiga e espalhe bem pela superfície. Deixe dourar. Polvilhe 1/4 xícara do açúcar sobre a manteiga e deixe derreter, formando um caramelo. Coloque sobre esse caramelo as fatias de pêssegos formando um circulo em aspiral como numa flor. Deixe cozinhar um fogo baixo por uns 10 minutos, até que os pêssegos fiquem macios. Tire do fogo e reserve.

Numa vasilha misture a farinha, o cornmeal, o fermento, o sal e a lavanda. Reserve, Na batedeira, bata em velocidade média a manteiga restante [113 gr] com o açúcar restante [3/4 xícara] até formar um creme liso. Acrescente os ovos um por um, batendo sempre, Junte a baunilha e o creme de leite. Diminua a velocidade e vá jogando a mistura seca, até tudo ficar bem incorporado. Coloque essa massa sobre os pêssegos caramelizados na frigideira, espalhe bem com uma espátula e coloque em forno pré-aquecido em 350ºF/ 176ºC por 22 minutos, até a massa ficar firme e dourada. Retire do forno, deixe esfriar. Quando estiver frio, passe uma faca pela borda e vire o bolo sobre uma travessa.

o primeiro da estação

o_primeiro_08_1S.jpg

Minha surpresa nesta semana foi encontrar muitos tomates já bem grandes, mas ainda verdes, nos pés de tomate que plantei este ano na minha horta. Surpresa maior foi ver vários tomates cerejas vermelhinhos pendurados num galho. O negócio é que eu não plantei nenhum pé de tomate cereja este ano, pois já vem muitos deles na cesta orgânica e eu sempre acabo com um surplus enorme. Esses nasceram espontaneamente, fruto das sementinhas dos tomatinhos que cairam na terra no final do último verão. Então tá, pelo jeito não tenho escolha, né? Vou ter tomates cerejas abundando na horta e na cozinha mais uma vez!

um dia em fotos

gabe_acordando_1s.jpg

Lembro que naquele dia eu acordei com a macaca e com mil idéias na cabeça. Com a câmera fotográfica já preparada, rolos de filmes extras, fui avisando—Gabriel, vamos registrar o seu dia em fotos! E ele, como o menino mais lindo do mundo que ele sempre foi, topou. Quem tem um avô que te fotografa em todas as poses possíveis e uma mãe engraçadona que te pega no flagra quando VOCÊ ESTÄ MEDITANDO NO DÁBLIUCÊ, não estranha quando recebe a proposta de ser modelo da própria vida. Então fomos lá, eu passei o dia atrás dele, clicando. Só não tirei fotos dele tomando banho, porque ele não quis e tive que respeitar. Mas começamos com o acordar, que obviamente na foto está todo encenado, já que a janela está escancarada, o quarto cheio de luz, ele está de óculos e com a boca suja de leite com chocolate, que era o que ele sempre bebia no café da manhã. Depois continuamos com ele estudando, ou melhor, fazendo as tarefas da escola, depois almoçando a comidinha natureba com aquela cara de alegria que ele sempre fazia em frente ao prato cheio de arroz integral e agrião refogado, depois escovando os dentes na frente do espelho—que ficou uma foto criativa, admito. Fizemos o set do cotidiano, que depois eu colei em sequência num pequeno álbum, para guardar para todo o sempre, afinal a gente esquece detalhes com o tempo, e naquele tempo não havia blog nem foto digital, era tudo muito mais dependente da sua memória, boa ou ruim, natural ou ginkobilobada.

fatos da foto:
Estava friozinho, pois ele estava dormindo com o acolchoado de lã de carneiro da minha infância. Minha mãe mandou fazer um pra cada filho, os dos meninos azul, os das meninas vermelho. O Gabriel herdou o meu.

Tinhamos voltado da Bahia fazia pouco tempo, pois o Gabriel está com as fitinhas do Bonfim no pulso e atrás da cama dá pra ver um pedaço do berimbau que ele veio carregando paulistamente no avião.

Filho de peixe. Ele dormia de camiseta, como o pai e a mãe. Somos uma família que nunca teve pijamas. E ele fazia o que eu faço até hoje, dormia com o cabelo molhado e com uma toalha no travesseiro e depois acordava com aquela cabeleira do zezé, com tufos super ondulantes só de um lado da cabeça.

letter from the farm

Welcome back from the weekend, as the temperature has cooled and the skies have cleared. It is mid-summer, a grand time for epicures like yourselves. As you can see from your baskets, the amount of tomatoes is steadily increasing each week, painting themselves a brighter red each time. The ambrose cantaloupe are slipping off the vines like butter. Cantaloupe, with origins in Africa and India, was introduced to North America by Christopher Columbus on his second voyage to the New World in 1494. Continue Columbus’ voyage with our Recipe of the Week.
This week the baskets abound with garlic, onions, collards, kale, chard, cantaloupe, cucumber, summer squash, eggplant, peppers, potatoes, tomatoes, basil, zucchini, plums, and peaches. The figs and nectarines were picked from the bountiful Ecological Garden; please note they are not certified organic.
Today’s baskets were picked and packed with love by Matt, Ethan, Laurie, Judy, Hai, Toby, Rachel, Raoul, Laura, and Aubrey. Enjoy the week!

Recipe of the Week
Cantaloupe Bread – Pão de Melão
1 3/4 xícara de farinha de trigo
1/4 colher de chá de bicarbonato de sódio
2 colheres de chá de fermento em pó
1/4 colher de chá de sal
2/3 xícara de açúcar
2 ovos
1/2 xícara de pecans picadas
1/5 xícara de manteiga derretida
1 xícara de polpa amassada de um melão cantaloupe
Misture todos ios ingredientes secos, adicione os ovos, a manteiga e a polpa do melão. Incorpore as pecans picadas. Coloque a massa numa forma de pão bem untada. Asse em 350ºF/ 176ºC por mais ou menos 50 minutos.