velhas novidades

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Muita gente ainda não sabe, mas eu sou uma assídua frequentadora das notáveis thrift stores, as lojas de segunda mão. Já discorri sobre minhas garimpagens AQUI e AQUI. Sempre que posso dou uma passadinha na lojinha dos bichinhos—que é como eu chamo a thrift store da Sociedade Protetora dos Animais. Adoro ir lá. O lugar é uma casinha de esquina totalmente apinhada de cacareco de todos os tipos, onde os vendedores jovenzinhos de visual punk-rebelde nos atendem hora com uma cara simpática, hora com uma atitude completamente blasé. Eu curto ficar ouvindo todo tipo de rock ‘n’ roll que eles tocam num IPod ou num CD ou K7 player, enquanto faço um rolê pela loja. Vou garimpando por partes—a prateleira das louças brancas, a dos motivos orientais, a do design italiano, do estilo latino, as louças em geral, as panelas, os copos, os talheres, as cerâmicas. Os tesouros que se acha por lá são inacreditáveis. Estou sempre tentando entender qual é o critério que eles usam para colocar os itens à venda e definir os preços. Chego à conclusão que eles devem usar a técnica da roleta russa ou fazem um uni-duni-tê, porque nada faz sentido. Muitas vezes eu vejo peças novas, ainda com a etiqueta da loja colada. Como tudo o que é vendido na lojinha dos bichinhos é doação, imagino o quanto as pessoas são desprendidas, ou fúteis. Estamos num estado rico, mas mesmo assim eu me surpreendo. E volto sempre, que eu não sou boba nem nada. E ainda fico feliz por estar ajudando os animaizinhos.

pega os ovos da galinha

Uma máteria do New York Times sobre a procura do consumidor por ovos caipira me deixou realmente satisfeita. Não só o consumidor comum decidiu optar pelos ovos das galinhas não-confinadas, não-torturadas, não-turbinadas e intoxicadas, como também os restaurantes das universidades, das redes de hoteis, de companhias como o Google ou dos sorveteiros Ben and Jerry’s. A rede de supermercados Whole Foods, por exemplo, já nem vende mais os ovos das galinhas robotizadas! Iurru! Depois de ler O Dilema do Onívoro, eu não tenho ilusões de que a galinha cage-free leva uma vida exatamente livre, mas qualquer passo em direção ao retorno do curso natural das coisas já é uma vantagem. E no meu modo de pensar tudo funciona de maneira bem simples: nós, consumidores, é que decidimos e direcionamos o mercado. Se ninguém mais comprar certos produtos e começar a comprar uma coisa diferente, o mercado vai ter que se adaptar e mudar. Exatamente o que está acontecendo com os ovos. Eu não me importo de pagar um pouco mais. E ainda prefiro comprar ovos de produtores locais. Escrevo aqui sobre o que acredito e também pratico, o que é o mais importante.

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Eu traduzo como “ovo caipira” todos esses termos que defininem os ovos das galinhas não torturadas, à venda aqui nos EUA. Mas há detalhes mais específicos sobre cada um deles. Normalmente eu compro os “free range”, “fertile”, “certified humane”. Definições técnicas para cada tipo de ovo, incluindo o mais conhecido “cage-free”, estão listadas neste glossário.

pimentão recheado [da tia Dirce]

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Essa receita do pimentão recheado da Tia Dirce, faz parte do arquivo dos primordios deste blog e é um clássico na minha família. Minha mãe preparou o prato numa das vezes que esteve aqui me visitando. Desde então eu tento replicar, mas apesar de ficar muito bom, nunca consegui fazer os pimentões recheados com o mesmo sabor e textura do original. Mas eu continuo tentando. Minha tia e minha mãe usam o miolo do pão francês. Nessa receita eu usei pão integral. E normalmente os pimentões ficam inteiros, só remove a tampinha. Mas eu fiz aberto, porque esqueci os legumes na última gaveta da geladeira e eles estavam com partes machucadas do armazenamento, então tive que cortá-los.

i hate mondays quiche

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—I hate Mondays!
—Today’s Tuesday..
(((((( happy face )))))))
—I must have overslept.

Pode ser que tenha sido apenas mais uma segunda-feira [treze]. Tudo foi um cansaço, uma dificuldade. Corri pra lá e pra cá no final do dia e quando terminei de lavar e guardar os legumes e verduras da semana, me senti esgotada. Perambulei pela cozinha como uma barata dedetizada por quase uma hora, abrindo armários, geladeira, livros. Procurei receitas, pensei em receitas, me irritei de tanto conjecturar o que vou fazer para o jantar?

Precisava usar muitas espigas de milho, muitas abobrinhas, algumas frutas, alguns queijos. Nenhuma idéia pintava, nenhuma receita agradava. Fui tomada por um imenso vazio existencial culinário e senti vontade de sentar no chão da cozinha e chorar. Leve-se em conta o cansaço do dia, os percalços do trabalho, a perspectiva do inicio da semana, algumas preocupações na cachola, a falta de apetite para comida comprada ou de restaurante, e teremos o exato panorama do entardecer da minha segunda-feira.

Resolvi que iria fazer algo, nem sabia exatamente o que. Mas fui em frente. Descasquei e piquei dois dentes de alho. Refoguei no azeite. Piquei duas abobrinhas e raspei os grãos de dois sabugos de milho. Refoguei com o alho. Salguei. Piquei um mini-pedaço de uma pimenta jalapeño, que foi a atração especial da semana na cesta orgânica. Juntei ao refogado. Desliguei o fogo. Piquei uma xícara de presunto cozido e juntei ao refogado. Piquei um queijo cambozola que tinha na geladeira [ou qualquer outro queijo forte] e incorporei ao refogado. Piquei um punhadinho de ciboulettes e joguei no refogado. Separadamente fiz uma mistura de 2 ovos, 2/3 xícara de leite integral e 1/2 xícara de farinha de trigo. Coloquei o refogado num refratário e joguei a mistura de leite. Assei em forno médio por uns 40 minutos. Servi com uma salada de folhas verdes.

Enquanto o prato de sei-lá-o-que assava, resolvi batizá-lo de I hate mondays quiche. Um nome bem apropriado, pois eu realmente detestoooo esse infame dia da semana.

Clafoutis de ameixa

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Me dá um desespero quando vejo qualquer alimento se estragando. Infelizmente isso sempre acaba acontecendo, pois nem sempre conseguimos fazer todas as receitas e usar todos os ingredientes. A situação emergencial desta semana incluia algumas ameixas. Metade delas foram para o lixo, pois já estavam podres ou ressecadas. Outra metade virou uma sobremesa, inspirada nessa receita de Clafoutis do Garrett. Aaah, me senti uma verdadeira heroína, salvando as roxinhas de um destino trágico.

6 ameixas sem a semente e cortadas em quatro
3 ovos
1/3 xícara de açúcar comum ou de baunilha
1 xícara de leite ou de creme de leite [ou uma mistura. usei só leite]
2 colheres de chá de extrato de baunilha
1 pitada de sal
1/2 xícara de farinha de trigo
Açúcar de confeiteiro para polvilhar

Pré-aqueça o forno a 350ºF/ 180ºC. Unte um refratário com manteiga. Eu usei forminhas pequenas. Distribua as ameixas na forma/ forminhas. Jogue um pouco do açúcar por cima das frutas.

Numa vasilha separada bata bem os ovos com o açúcar. Adicione o leite, o extrato e o sal e bata bem. Adicione a farinha peneirada e bata ate ficar bem incorporado. Coloque o liquido na forma/forminhas com as ameixas. Asse por mais ou menos 40 minutos. Como eu fiz nas forminhas, assou mais rápido. Polvilhe com o açúcar de confeiteiro. Sirva morna ou fria.

Samovar Tea Lounge

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Fomos até San Francisco para encontrar a nossa amiga Patricia, que morou aqui em Davis no ano passado e está agora nos EUA a trabalho. Além de rever uma pessoa tão querida, passamos uma tarde super agradável na cidade. Almoçamos no Samovar Tea Lounge, que era um lugar que estava na minha lista de places to go in San Francisco. O dia estava lindo, o que significa que não precisamos de cachecol, apenas um casaquinho de veludo deu pra segurar o vento. Eu teria optado por ficar no pátio, mas o Uriel e a Patricia preferiram ficar protegidos dentro do restaurante. O lugar é bem pequeno, no terraço no Yerba Buena Gardens. Nós sentamos numa mesa com banco cheio de almofadas e fizemos nosso pedido. Eu estava desembaraçada tirando fotos, o que é bem incomum. Eu tenho uma timidez um tanto irritante, que me limita pacas nesse negócio de tirar fotos em público. Mas eu estava felizona no click-click-click, quando o manager veio gentilmente me avisar que não era permitido tirar fotos no local. Fiquei espantada! E mais quando chegou o chazinho na bandeijinha de madeira e finalmente a comida, numa entrada triunfal. Estava tudo tão incrivelmente lindo, que num gesto de descarada ousadia eu chamei o manager e praticamente implorei pra ele me deixar tirar uma foto. Meu plá não colou e tive que me resignar e deixar a câmera dentro da bolsa. O rapaz foi extremamente gentil e me explicou que eles preferem que as pessoas não vejam fotos da comida, pois querem que a experiência no Samovar seja de surpresa. Realmente, ficamos com umas caras abobalhadas quando a comida chegou à mesa, pois tudo estava visualmente lindo, além de saboroso.
O Uriel pediu uma sea food bento box e um chá delicadíssimo de gengibre com laranja. A Patricia pediu o Russian tea service, que veio com panqueca [blinni] de truta defumada, russian tea egg com caviar, bergamot bread pudding, frutas frescas e lapsang souchong chocolate trufle, acompanhado de chá russo que ela mesma encheu a xícara no samovar prateado [*foto]. Eu pedi o Moorish tea service, que veio com chá de hortelã, grilled halloumi kebabs, mini mint salad, dolmas e azeitonas pretas secas, e tâmaras medjool recheadas com queijo de cabra.
Depois do almoço passeamos um pouco à pé pela cidade, e depois fomos ao Ferry Building Marketplace, que é sem dúvida um dos meus pontos favoritos em San Francisco. Fizemos comprinhas e nos deleitamos com os delicados macarons parisienses feitos à moda californiana, com ingredientes orgânicos e locais.