| figo verde em calda—figo roxo fresco |
Autor: Fer GuimaraesRosa
o tomate que virou sugo
Nessa época do ano eu chego a ficar desacorçoada, de tanto tomate que preciso usar rapidinho. Chegam tomates na cesta orgânica, geralmente naquela fronteira entre o maduro e o quase estourando pras bandas do podre. Não dá tempo de ficar pensando. Minha horta também está naquela produção desenfreada. Se eu fico um dia sem me esbaforir colhendo os ditos, já tem uns podres caídos no chão e comidos por habitantes das profundezas. O negócio é ser rápido no gatilho e nas idéias, pois como vocês já sabem, porque eu já repeti isso aqui zilhões de vezes—tomate não deve ser guardado NUNCA na geladeira!
Nessa época do ano eu como muitas diferentes variações de salada de tomate. Mas quanta salada de tomate um ser humano consegue comer até chegar no limite da insanidade? Faço também tortas e as vezes seco os ditos no forno, faço pasta com eles cortados em quatro e aromatizados com manjericão, ou uma bela sopa e até arraso nuns recheados provençal. Mas tem aquele dia que a única opção viável é cozinhá-los e fazer um bom e velho molho de tomate, daquele que congela muito bem.
Cozinhar os tomates cobertos com água. Quando esfriar, bater tudo no liquidificador e passar por uma peneira. Com esse purê pode-se fazer muitas variações do molho, com carne, bacon, linguiça, ou sem nada. Refogar cebola em bastante azeite e jogar o purê de tomates. Acrescentar um pouco de vinho, jogar folhas de manjericão, sal, pimenta do reino. Minha mãe usa o cheiro verde—salsinha, cebolinha, manjericão e põe na panela também uma cabeça inteira de allho, que vai cozinhar no molho e depois pode-se comer com pão. Se tiver sobras de carne ou linguiça, pode acrescentar. Cozinhar em fogo baixo por bastante tempo, ate o molho ficar bem grosso. Pode usar a panela de pressão, pra ganhar tempo. O molho tem que ficar bem grosso e manchar a panela, os pratos, o guardanapo, a roupa—cuidado, use um avental quando for manuseá-lo!
Comida em movimento
Vi uma cena que achei que nunca veria: um rapaz pedalando uma bicicleta pelo campus e almoçando ao mesmo tempo—prato numa mão, garfo na outra, pés pedalando, pedalando, boca mastigando, mastigando.
Posso considerar isso uma evolução no campo da fast food e um aperfeiçoamento nas habilidades dos praticantes do prato ambulante. Antes só precisava ser capaz de caminhar com um certo equilibrio para manter o prato e o garfo em posição e seguir em frente, e isso até eu faço. Mas comer em cima de uma bicicleta em movimento exige um talento notável, coisa pra profissionais do circo.
menu do dia: risotto de queijo
A idéia era fazer um risotto com cogumelos frescos que eu tinha comprado na semana anterior no Farmers Market. Mas quando abri o saquinho de papel que estava na geladeira, vi horrorizada uns pobres monstrengos ressecados e com manchas amarelas—eee-e-ca!
Refiz meus planos sem os cogumelos e com queijos para substituí-los. Mas eles acabaram entrando na receita de qualquer maneira, pois usei como liquido um caldo de cogumelos que eu uso às vezes no lugar do caldo de legumes. Não tem receita, eu compro pronto, orgânico.
Uso sempre uma receita básica para fazer o risotto, que pede 4 xícaras de liquido para cada xícara de arroz. Numa panela, refogue um picadinho de 1/4 de cebola em 2 colheres de sopa de manteiga. Quando a cebola estiver molinha acrescente o arroz e refogue mais um pouco. Jogue 1 xícara de liquido—a primeira xícara é sempre de vinho branco. Deixe secar, mexendo de vez em quando. Então vá acrescentando as outras 3 xícaras de liquido quente, uma de cada vez, e mexendo e deixando secar. Usei o caldo de cogumelos. Quando a última xícara estiver secando, acrescente o queijo. Eu usei três tipos de queijo forte, cortados em cubinhos. Deixe o queijo derreter e desligue o fogo. Veja se precisa de mais sal para o seu gosto e jogue um punhadinho de ciboulettes picadinhas. Sirva com mais queijo ralado. Eu usei o sap sago suiço,
usando a farinha de spelt
Uma das grandes buscas da minha vida culinária é a do Santo Graal das pizzas. Estou nessa procura incessante pela receita perfeita, que seria definitivamente adotada como a receita oficial para massa de pizza da Fer Guimarães Rosa. Digo-vos, que já usei muitas receitas. E digo-vos mais ainda, que eu faço muita trambicagem também, usando massas prontas ou semi-prontas. Infelizmente nada me satisfaz plenamente.
Eu andava comprando uma massa pronta de pizza no Co-op, que achei muito, muito boa e que comprei porque não pude resistir à novidade. A massa era feita de Spelt, o grão ancestral, cultivado desde as eras remotas e citado até no velho testamento da biblia. Já tinha comido o grão, cozido como se faz com o trigo ou a cevada. Mas a farinha realmente superou minhas expectativas.
Buscando pela massa novamente no sábado à tarde, dei com os burros n’ água. Mas olhando a seção de bulk das farinhas, vi a farinha de spelt e resolvi que eu mesma iria fazer a massa pra pizza daquela noite. Tenho umas receiitas coringas que vira e mexe voltam a ser usadas, uma delas é essa receita de massa de pizza da Marthinha Heleninha. É uma massa que sempre dá certo, mas que tem que crescer, não dá pra fazer dez minutos antes, como seria a massa de pizza ideal pra mim. Fiz essa receita substituindo a farinha de trigo pela de spelt. A massa com o spelt não cresce tanto quanto a feita com o trigo, mas, ohdear, o cheiro e o sabor dessa massa é algo inigualável. Não é ainda com certeza a massa perfeita, mas está quase lá.
partido ao meio
o vinho era do Carvalho
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Os Sequeira, os Sousa, os Freitas, os Ramos, os Silva, os Gomes, os Nunes, os Pacheco, os Carvalho. Famílias portuguesas imigradas para o centro norta da Califórnia e que se estabeleceram na área agrícola. Os portugueses estão espalhados pelo estado, mas percebe-se que já são segunda, terceira e quarta geração, sempre carregando as tradições e o orgulho do seus antepassados.
Passamos pelas fazendas dos descendentes, rumo ao nosso destino final—a Festa Portuguesa que acontecia no The Old Sugar Mill em Clarksburg. O lugar é uma antiga usina de açúcar de beterraba, que foi comprada por John Carvalho na década de 90 e restaurada para abrigar algumas vinícolas e um centro de eventos.
A festa estava bem simples, com o vinho e a música concentrando as atenções. A comida deixou muito à desejar. Eu reclamei à beça da carne e frango cozidos em muito vinho, do feijão adocicado misturado com linguiça e da salada de saco acompanhada de molho de vidro. Aquele rango não tinha nada de português ao meu ver, mas o pessoal que sentou-se à enorme mesa redonda com a gente, estava achando tudo uma delícia. Meus standards são realmente altos e eu sei que a comida portuguesa é o fino da bossa e muito melhor que aquilo. Bom, ao menos o bolinho frito, filhós, e os tremoços, tremos, estavam muito bons. E o vinho, é claro! Como eles não estavam vendendo apenas o copo, para bebedoras solitárias como eu, compramos a garrafa mesmo, que eu fui bebendo durante o passeio. Adoro fazer isso, caminhar pelo lugar com a taça de vinho na mão! O vinho, da vinícola Carvalho, estava supimpa!
A música também estava animando a festa, com a banda liderada por uma filha de portugueses que só na adolescência foi resgatar a cultura e a língua dos pais. Ela começou o show com uma música brasileira, de Vinicius de Morais. Mas depois tocou vários números tradicionais portugueses, com fados e até cantou uma música em inglês que dizia Amália, you are the queen!
Depois que visitamos as vinícolas, almoçamos o rango português pra inglês ver, ouvimos o fado e a bossa nova, encaroçamos pela lojinha de antiguidades e xeretamos dentro e fora da parte da usina que faz a produção do vinho, fomos caminhar pelo lado de fora, olhar uma casa que parecia abrigar os escritórios da usina. Lá encontramos um senhor de boné e fumando um cachimbo que veio puxar papo. Ele nos contou toda a história da usina, onde ele trabalhou por quinze anos. Nos disse que da década de 30 até a década de 70, toda aquela região onde hoje se planta uva, era coberta por beterrabas para fazer o açúcar. A concorrência e o corte de subsídios do governo decretou o fim da indústria. Ele contou que a sede foi trazida de Idaho em pedaços e remontada aqui na Califónia na década de 30, e nunca foi reformada. Olhamos através dos vidros da janela e ficamos encantados. Estávamos encantados também com aquele simpático senhor, que eu achei muito parecido com o meu pai, que se apresentou como Joe Sousa, um filho de portugueses da Ilha de Madeira. Ele contou histórias das viagens dele pela marinha durante a segunda grande guerra, que foi quando conheceu asiáticos e africanos que falavam português. Foi uma conversa muito interessante. Eu poderia ficar ali papeando com o Joe Sousa a tarde inteira, mas acabamos por nos despedir, ele—have a great life! e nós—you too!
one-track mind
Acontece frequentemente comigo, porque eu estou sempre obcecada por algum assunto. Ninguém precisa realmente ficar sabendo qualé o babado. Mas essa é outra característica do tipo bitolado: não conseguir ficar calado quando se trata do seu assunto favorito. Anos atrás eu falava sobre blogs para uma platéia paralisada com aquele sorriso amarelo na cara e um ponto de interrogação na testa. Dava pra perceber que estavam todos pensando sériamente, já em estado de pânico, em fugir correndo pra bem longe daquela pessoa que com certeza falava sobre alguma doença infecciosa e contagiosa—blog? coisa boa que não pode ser.
Me dediquei com afinco à fazer um sorvete de baunilha. Não qualquer baunilha, mas a baunilha fresquinha do Taiti, que eu cortei ao meio e raspei, esquentei por uns minutos no melhor creme de leite fresco e orgânico que pude encontrar e deixei em infusão na geladeira até o dia seguinte. Preparei o melhor sorvete de baunilha que pude preparar para levar ao chá de bebê de uma pessoa muito fofa, que vai ter sua filhinha no meio de setembro. Todo mundo levou uma coisinha, comprada ou feita em casa, nem tudo from scratch, mas tudo preparado com amor e carinho. Eu cheguei carregando um cooler com duas variedades de sorvete de baunilha. Não qualquer baunilha, mas aquela baunilha fresquinha do Taiti. Fiz um mais doce, outro menos doce e com a adição de uma colherzinha de chá de pasta de baunilha.
O problema não é o que eu preparo, mas a minha total obsessão por tudo o que eu faço, o que inclui o tal blog de culinária. Estou ficando seriamente tapada. Vejam só, eu só falo sobre COMIDA. Em qualquer encontro ou evento social, lá estou eu falando sobre comida. Eu falo sobre comida até com o meu marido, que não sabe fritar um ovo, mas sorri gentilmente e até dá palpites. Com ele tudo bem, estou em casa. Mas em outros lugares, preciso ir com cuidado, porque eu acabo entediando as pessoas, especialmente as que não cozinham e não estão nem aí pro assunto de comida.
Fui ao chá de bebê e já cheguei explicando que tinha feito um sorvete de baunilha, mas que não era com qualquer baunilha, mas sim a baunilha fresquinha do Taiti. E pra quem fez cara que não entendeu, eu entrei em detalhes: não tinha usado o extrato liquido, mas sim a fava, fresquinha, do Taiti. Depois tive obviamente que frisar que era tudo orgânico e que a receita era do David Lebovitz. As caras que me olhavam enquanto eu descrevia os detalhes sorriam educadamente, mas demostravam sinais visíveis de que o meu assunto não estava fazendo muito sucesso.
Se eu tiver a oportunidade, vou falar abusivamente sobre comida, com detalhes dos ingredientes, dizer que é tudo orgânico—essa parte é imprescindível, e se sobrar tempo vou dizer que a receita está no meu BLOG, um blog de culinária, preciso sempre sublinhar. Se alguém morde a isca e pergunta onde, eu já disparo rapidinha a frase apoteótica—DÁBLIU-DÁBLIU-DÁBLIU CHUCRUTE COM SALSICHA [TUDO JUNTO] PONTO COM.
tá difíceRrr…
Desde a semana passada que o servidor que hospeda todas as minhas webpages está apresentando um problema aqui outro ali. Eles não são qualquer zémanés, sempre foram excelentes, mas ultimamente estão me causando um bocado de estresse.
Outro dia eles “quebraram” o mysql, que é a base de dados e os comentários e mecânismo de busca foram pro buraco. Consertaram, okay. Nessa semana outros trelélés. Num deles todas as páginas ficaram fora do ar por quase três horas. Consertaram, okay. E lá veio mais problemas, com lentidão geral nas páginas, impossibilidade de checar ou enviar e-mail. Tá dando nos nervos…
Mas é isso, só uma satisfação pelas cousas estranhas que andam acontecendo por aqui. Vamos torcer pra ser só um trânsito ruim de Mercúrio que vai passar logo….
pão, leite, ovos, banana…
| hmm, será que ela comprou tudo o que estava na lista? | |
