procure & ache

Orgânico, sustentável, local, sazonal, criado e abatido com humanidade, são palavras que eu uso muito aqui no Chucrute, mas que podem deixar de ser apenas palavras e tornarem-se uma ação. Tudo vai depender de como você vai se posicionar diante delas. Quer assinar uma cesta orgânica, quer comprar carne, ovos, leite, produtos de animais criados com respeito, procure um fornecedor mais perto de você.
Para facilitar essa busca, eu decidi montar uma página de links e informações sobre agricultura orgânica e sustentável, que vai ficar permanentemente no menu da direita, logo abaixo do link para o dicionário & dicas. Usem e abusem. Por enquanto há pouca coisa, mas o objetivo é ir coletando mais links e dados e ir melhorando e expandindo a página. Se alguém tiver dicas, sugestões, quiser dividir alguma experiência, boa ou ruim, acrescentar mais links, por favor fique à vontade para deixar um comentário aqui .

a tal da cesta orgânica

Muita gente me pergunta que raios de cesta orgânica é essa, a qual eu me refiro todo o tempo aqui no Chucrute. Ela é a minha fonte de legumes e verduras, tem sido por quase uma década. Eu pago uma taxa trimestral e recebo uma cesta cheia de verduras e legumes uma vez por semana. Na verdade eu não recebo, mas vou buscar eu mesma lá na fazenda dos estudantes da Universidade da Califórnia aqui em Davis. Os legumes e verduras são sazonais, então eu só consumo o que está na crista da onda. Tudo é plantado e colhido na fazenda, pelos estudantes e funcionários. Essa minha cesta é uma CSA—Community Supported Agriculture, que é um negócio bem legal, pois você se compromete, pagando adiantado como uma assinatura de revista, a consumir produtos locais, produzidos por uma fazenda da sua comunidade. Pra mim funciona muito bem, apesar que essa cesta contém produtos suficientes para alimentar duas famílias pequenas. Eu costumava dividir minha cesta, mas já faz um tempo que não faço mais, por isso essa abundância que nem sempre conseguimos dar conta.

* nas fotos se vê alguns melões, que chegam no verão. a cesta às vezes tem frutas, mas é um treat, assim como são os feijões, pipoca, tomates secos e as flores.

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Para quem está nos EUA e acha que não vai encontrar esse tipo de CSA na sua região, eu sugiro uma olhada no website do USDA. E sei que esse serviço de venda e entrega de produtos orgânicos está se disseminando e pode ser encontrado por todos os cantos do mundo. Converse com quem já tem esse serviço e mora na mesma área que você. Muitos fazendas fazem entregas em casa. Se puder vá visitar a fazenda, pra ter certeza que não está comprando gato por lebre. Eu estimulo esse tipo de consumo, pois acho que vale à pena. Eu tenho que ir buscar minha cesta na fazenda, depois tenho que lavar tudo muito bem lavado, pois os produtos vem bem sujos de terra e com bichos, mas não troco minha cesta por nada, muito menos por produtos semi-processados , cheios de orvalho de mangueirinha e lustrosos de cera do supermercado.

Se eu ganhasse uma pataca por cada pessoa que eu já inspirei e ajudei na conversão para os CSA orgânicos nesses últimos anos, já teria uma pequena poupança. Muito bom, muito bom mesmo!

the art of dunking

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“dunking is an art, don’t let it soak too long. a dip and sock, into your mouth. if you let it too long it become soggy and falls apart. it’s a matter of timing. i’ll write a book about that. 20 millions and you don’t know how to dunk!”
It Happened One Night, é um filme fofésimo, dirigido pelo Frank Capra em 1934. Eu já revi esse filme tantas mil vezes que já sei até alguns diálogos decor. O filme foi feito sem nenhuma ambição e acabou sendo uma surpresa no box office e abocanhando um monte de Oscars. É um road movie onde os personagens estão tentando se locomover do ponto A para o ponto B e na duração desse trajeto toda a trama de desenvolve. Em It Happened One Night, uma ricaça mimada [Claudette Colbert] está fugindo do pai, tentando chegar em NY para se casar com um canastrão. Seu companheiro de banco no ônibus é um jornalista desempregado [Clark Gable], que vai ajudá-la a chegar ao destino, na esperança de vender a história para o jornal. Nem preciso dizer o que vai acontecer. né? Bom, nos anos 30 o povão viajava de trem e ônibus e neste filme o meio de transporte é o busunga. Como eles estão atravessando o país, a viagem é longa e cheia de paradas. Numa delas, os passageiros têm a oportunidade de dormir num motelzinho e é o que Colbert e Gable fazem, tomando o cuidado de dividir o quarto com as muralhas de Jericó—um cordão com um lençol pendurado, afinal de contas eles não eram casados!
Na cena do motel, Gable acorda antes e prepara o café da manhã, que consiste de café preto, um ovo e um donut para cada um. Enquanto tomam café e conversam, Colbert enfia o donut no café e Gable faz uma cara de horrorizado! Você não sabe mergulhar o donut no café? Tem que fazer em movimentos rápidos, mergulhar e colocar na boca, se deixar muito tempo no café ele fica muito molhado e se desmancha. 20 milhões de dólares e não sabe molhar um donut! Ela aprende a lição rapidamente e molha o donut da maneira que ele ensinou. Uma cena pra se guardar na memória e aprender, afinal mergulhar o donut no café é uma arte!

bolinhos de ruibarbo
& chocolate branco

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Fui comprar pão e leite e vi ruibarbos, super vermelhos e fresquinhos, comprei dois talos. Essa é a minha segunda experiência com o ruibarbo. A primeira teve seus muitos percalços. Já estou achando que não dou muita sorte com esse ingrediente. Pensei em fazer uns muffins com ruibarbo e maçãs. Coloquei as palavras chaves no google e a primeira receita que apareceu foi esta. Nem quis procurar mais—era essa mesma que eu iria fazer! Achei facílima, com uma mistura de ingredientes maravilhosa. O unico problema é que eu não me adapto mais à essas medidas em gramas. Sinto muito, mas gosto do modo americano das xícaras e colheres. Você compra um set padrão e não tem como errar. Por isso as receitas da Marthinha S. dão sempre certo pra mim. Com essa receita o que aconteceu, concluí, foi que não consegui traduzir as maledetas gramas do buttermilk. Sinceramente, como se mede liquido em gramas, eu não entendo. Fiquei com pregui de usar o conversor e simplesmente coloquei um recipiente na balancinha, descontei o peso dele e pesei o buttermilk. Óbviamente que não deu certo, pois eu achei que os cupcakes ficaram muito moles, parecendo um bombocado. Sem falar que 150g de chocolate também foi demais. Usei um chocolate californiano de excelente qualidade, o Ghirardelli e mesmo assim achei que essa quantidade deixou os muffins muito oleosos.
Bom, no dia seguinte eles ficaram um pouco mais firmes e apesar de estarem bem comíveis, o resultado não foi o que eu esperava. De qualquer maneira, valeu pela experiência e me ensinou a lição de não me entusiasmar tão rapidamente com a primeira receita que me aparecer na frente e sempre procurar uma que tenha medidas em xícaras e colheres—better safe than sorry.
rhubarb & white chocolate buttermilk cupcakes
[faz 12 cupcakes normais ou 10 grandes]
150 g de açúcar
80 g de manteiga amolecida
2 ovos grandes
225 g de farinha de trigo
1 colher de chá de fermento em pó
150 g de buttermilk
400 g de ruibarbo
150 g de chocolate branco em pedaços
Pré-aqueça o forno em 225º C/435ºF.
Bata o açúcar e a manteiga até virar um creme. Adicione os ovos e continue batendo. Acrescente a farinha e o fermento, depois o buttermilk. Adicione o ruibarbo já lavado, descascado e cortado em cubinhos. Mexa e coloque o chocolate delicadamente. Distribua a massa em forminhas de muffins e asse por 20 minutos. Deixe esfriar numa grade.

pasta com tomate seco & aliche

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Foi só eu decidir comprar um pouco de tomate seco no Farmers Market que chegou um saco deles na cesta orgânica. Pronto, lá estava eu com um potão cheio dos tais tomates. Mas esses são sun-dried tomatoes, que não são macios. Para usá-los precisa antes deixá-los de molho na água e foi o que eu fiz, antes de tudo. Depois cozinhei espaguete de farinha de spelt [farro] em bastante água bem salgada. Quando o macarrão ficou al dente, escorri e tampei. Na mesma panela joguei azeite e alho picadinho. Quando o alho estava quase dourado, temperei com sal e pimenta do reino branca moída. Joguei os tomates escorridos e picadinhos, depois um punhado de azeitonas pretas sem caroço e no final espremi meio tubo de pasta de aliche [anchovas], que era o que eu tinha. Pode usar meia latinha de aliche picadinho. Misturei bem para o aliche dissolver e acrescentei o macarrão cozido, misturei, tampei. Polvilhei com queijo parmigiano peggiano ralado na hora.

*acho que essa receita já andou por aqui, no passado remoto…

conforte-me com… brocólis

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Muitas vezes sinto pena da segunda-feira—o dia mais odiado da semana. Gostaria que as segundas tivessem o espírito das sextas, assim seríamos todos muito mais felizes. Mas desafortunadamente segundas são segundas, então temos que enfrentar o dia número dois com coragem e determinação, pois ele realmente pesa. As minhas segundas são completamente atrapalhadas e é nesse dia que eu me sinto muito mais cansada. Essa segunda não foi diferente. Quando li a lista dos legumes e verduras da cesta orgânica já previ meu desalento de final da tarde. Primeiro tendo que lavar tudo aquilo. Segundo tendo que bolar maneiras criativas de usar os tais onipresentes do inverno—bok choi, red Russian kale, Carinata Kale, [as temidas verduras], beterrabas, uma alface monstra, cenouras, o horrorildo broccoli romanesco, rabanetes, alho-poró, endro e alecrim, sun-dried tomatoes e uma quantidade absurda de brócolis.
Quando tirei a alface da cesta quase desfaleci. Quem tem aquela idéia estereotipada de que produtos orgânicos são feios, pequenos e minguados, precisa dar uma olhada na minha cesta! O solo de Davis deve ser muito bom, porque eu recebo coisas gigantes. O monstro da semana foi a alface, que parecia ter saído do seriado Terra dos Gigantes. Lavei pacientemente 287654322098 folhas, não só as da alface turbinada, mas também as das couves e do bok choy. Quando acabei, olhei pros brócolis, o romanesco e o comum, e senti uma vontade de chorar. Nem vou contar o que tenho acumulado nas gavetas da geladeira, pra não deixar ninguém angustiado. Bom, tenho que usar todas essas maravilhosas verduras e legumes, então vamos lá, cozinhar esse brócolis, fazer algo legal. Pensei em sopa. Nannn. Pensei em cozinhar no vapor. Então cozinhei no vapor e quando os raminhos ficaram tenros, coloquei numa saladeira e deixei esfriar.
Decidi que os brócolis cozidos iriam virar salada. No momento que tomei essa decisão, lembrei da salada de brócolis cozido que se fazia na casa dos meus pais e que eu comi praticamente a minha vida toda. Nada complicado, nada exótico, nada especial. Mas como tem gosto de memória, é sem dúvida a melhor. Apenas tempere os brócolis cozidos com sal, azeite e vinagre de vinho tinto. O vinagre de vinho tinto é o que dá o gostinho especial. Pode não ser especial pra ninguém, mas é especial pra mim. E nessa odiada e cansativa segunda-feira, comer essa salada de brócolis da minha infância, pegando os raminhos com as mãos mesmo, me proporcionou uma sensação imensa de conforto.

tortinhas de alho-poró & queijo

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No próximo Natal eu vou pedir encarecidamente aos meus convidados que não tragam NENHUM queijo e NENHUM vinho, pois ainda estou lidando com o surplus desses ingredientes. O vinho tudo bem, fica descansando. Mas queijo não tem vida tão longa. Ainda tenho queijos do Natal na geladeira—lord have mercy! Gastei metade de um deles, um double cream francês com um sabor de manteiga, fazendo essas tortinhas de queijo e alho-poró.
Refogue um talo de alho-poró picadinho numa colher de manteiga. Tempere com sal e pimenta do reino branca moída. Acrescente 1/2 xícara de leite, deixe ferver. Abaixe o fogo e acrescente o queijo cremoso em pedacinhos—use qualquer queijo com consistência cremosa. Deixe derreter, tire do fogo e reserve. Eu usei massa pronta, mas se você tiver tempo e disposição pode fazer uma massinha caseira. Forre os ramequins com a massa, encha com o recheio e cubra com massa se quiser, pode não cobrir e fazer mini-quiches. Asse em forno médio até que a massa esteja dourada. Sirva com uma salada de folhas verdes.

o pudim & o Oscar

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Eu assisto à cerimônia do Oscar há muitos anos. Lembro de estar deitada num sofá antigão que tinha na primeira casa que meus pais moraram em Campinas e assistindo ao Oscar, sozinha no escuro. Lembro dos prêmios que Um Estranho no Ninho recebeu. E do Keith Carradine cantando I’m Easy sozinho com um violão no palco. A música concorria por Nashville e ganhou o Oscar de melhor canção do ano. Eu era uma adolescente tímida e magricela e o Oscar era uma coisa super especial pra mim. Era gostoso aquele ritual de ficar acordada até de madrugada. Achava super estranho eu estar de pijama às 11:30pm e os artistas estarem entrando na festa sob a luz do sol. Na minha infantilidade eu imaginava que eles ficavam um tempão pra entrar e outro tempão esperando lá dentro. Agora que estou no mesmo fuso horário da festa, ela começa às 5:30pm pra mim.
Hoje o que eu mais curto durante o Oscar é ficar batendo papo pelo computador com o Moa. Eu aqui empacotada bebendo chá, ele lá de shorts, suando e devorando um pote de sorvete de açaí. Eu aqui pensando no jantar, ele lá pensando na cama, porque no Rio de Janeiro já é madrugada. Nos fofocamos sobre tudo, fazemos comentários durante os discursos chatos e nas propagandas, damos risadas reais e virtuais, nos emocionamos, concordamos e discordamos, torcemos pelos nossos favoritos, tudo ao mesmo tempo, ao vivo na tevê e no nosso chat particular.
Eu não faço comida especial pra noite do Oscar. Meu dia acaba cedo, pois eu sento pra ver o red carpet e só saio da frente da tevê quand o host da festa diz boa noite. Quanto muito rola um snack improvisado. Na maratona deste domingo eu sobrevivi com uma porção do pudim de pão da infância da Judith Jones, que refiz, desta vez usando cerejas secas no lugar das passas douradas. Também bebi chá de genbibre com limão e lá pelas 8pm o Uriel me trouxe uma banana. Eu não quero saber de comer durante o Oscar. Só quero prestar atenção nas roupetas, nas piadas, nos comentários, nas caras e bocas, criticar e elogiar, dar risada e chorar, e teclar com o Moa. Comer é uma atividade que nunca fez parte do show pra mim e que sempre ficou pra depois.