Sem querer eu provoquei um pequeno desequilibrio quando preparei essa deliciosa sobremesa na semana passada, pois fiz mais calda de ameixa do que panna cotta de coco. E quando acabou o creme, ficou um bocado de ameixas sobrando. Não tive paciência para pensar em fazer outro acompanhamento cremoso pra elas e me ancorei na solução mais fácil. Fiz um sorvete com iogurte. Foi só misturar 1 xícara das ameixas com 1 xícara de iogurte natural integral e um splash de vodka. As frutas já estavam bem doce por causa da calda, que ficou bem grossa. Bati tudo ligeiramente no liquidificador—as ameixas eram descaroçadas, e coloquei na sorveteira. Talvez numa outra oportunidade eu prepararia esse frogurt com menos ameixa ou mais iogurte, pois a combinação de um pra um rendeu um sorvete bem cremoso e denso. Mas nós gostamos dele mesmo assim, um sabor intenso de ameixa com um toque de limão.
Autor: Fer Guimaraes Rosa
açúcar de tâmara
A Califórnia tem uma safra bem grande e variada de tâmaras. Elas aparecem no mercado no inicio do outono e são simplesmente deliciosas. Fresquinhas, elas são puro mel. Sendo assim tão doces, é muito natural que elas pudessem se transformar em algum tipo de adoçante. Tenho visto muitos tipos de açúcares diferentes, além dos usual suspects feitos de cana e de beterraba. No meu Co-op tem açúcar de palmeira de coco, de maple e de tâmara pra vender. Mas foi no Farmers Market que comprei esse açúcar de tâmara artesanal, na mesma banca da moça que aparece somente durante um período do ano, vendendo também as frutas frescas. Esse açúcar é feito da tâmara desidratada e depois picada. Ele não dissolve como um açúcar normal, mas é bem doce e dá pra usar em receitas de bolos e tortas e para polvilhar sobre saladas de frutas, iogurtes, misturado com a granola e o que mais a imaginação mandar.
salada mezzaluna
Outra receita do livrão do New York Times—The Essential Cookbook. E essa ainda levava rúcula, mas como eu não tinha fiz sem ela mesmo. Ficou muito gostosa. Servi acompanhando um peito de frango assado que fiz na churrasqueira.
6 corações de alcachofra, escorridos e cortados em pedacinhos
1/2 bulbo de erva-doce ralado
1 talo de salsão ralado
5 colheres de sopa de azeite de oliva extra-virgem
1 radicchio pequeno cortado em pedaços
Fatias finíssimas de queijo parmesão
2 colheres de sopa de vinagre balsâmico
Sal e pimenta moída a gosto
Misture a alcachofra picada com o salsão e erva-doce. Tempere com 1 colher de sopa de azeite. Em vasilhas individuais coloque o radicchio picado, a mistura de alcachofra por cima e decore com o queijo parmesão. Tempere cada porção com o restante do azeite, mais o balsâmico e sal e pimenta. Sirva.
soda russa [chernobyl]
O Richmond district em San Francisco é uma região que concentra uma grande população russa, então quando o Uriel foi comprar algo para poder trocar moedas para colocar no parquimetro, as chances dele entrar num estabelecimento comercial dos camaradas eram bem grandes. E ele entrou. Pra trocar o dinheiro comprou isso—uma garrafona com um líquido verde fluorescente dentro. Ele achou que era água, perguntou e a mulher da loja disse que sim. Depois que fomos ver que era um refrigerante com sabor de estragão. Cheio de corantes e tals. Uma coisa simplesmente horrorosa. Refrigerante de fim de mundo, pós acidente nuclear, pós bomba atômica. Rimos muito, pois nem o Gabriel conseguiu beber, o treco é pior que xarope de tosse. Pois então, quando entrarem numa loja russa fiquem bem atentos e façam o favor de ignorar a garrafa verde.
biscoitos com babaçu
Aproveitei a saidinha da Neide, que está neste momento percorrendo o circuito Paris-Dakar, pra ir lá no Come-se roubar uma receitinha. Super mintchura, né gentê? Na verdade, estava na busca de uma receita para usar a farinha de babaçu que ganhei da Maria Rê e a primeira opção que o Google me ofereceu foi essa receita de biscoitinhos da Neide. Fiz exatamente como ela fez, só não coloquei as castanhas de baru, porque não tinha e decidi não substituir por nada. Usei um chocolate com 90% de cacau [da Scharffen Berger] e açúcar mascavo. Deixei a massa na geladeira de uma noite para a outra [24 hrs] e ela ficou bem dura. Tem que tirar com antecedência e deixar amolecer um pouco para poder modelar os biscoitinhos.
cookies com babaçu e castanha de baru
[receita de Ana Tomazoni]
250 g de chocolate meio amargo
2 xícaras de açúcar [320 gr]
1/2 xícara de óleo [100 ml]
2 colheres chá de extrato de baunilha
4 ovos inteiros
2 xícaras de farinha de trigo [250 g]
1 xícara de farinha de babaçu [85 g]
1 colher sopa de fermento em pó
1 pitada de sal
1 xícara de açúcar de confeiteiro [130 g]
Para decorar: 1 xícara de chá de castanhas de baru, picadas grosseiramente
Corte e derreta o chocolate meio amargo, em banho maria com o fogo desligado. Em uma tigela grande e funda, coloque o açúcar, o óleo e a baunilha e misture bem. Aos poucos, acrescente o chocolate derretido e os ovos um a um e mexa bem com uma colher após cada adição. Junte a farinha de babaçu e farinha de trigo, o sal e o fermento e amasse bem até obter uma massa homogênea. Cubra com filme plástico e leve à geladeira por no mínimo 6 horas. Retire a massa da geladeira e, com a ajuda de 2 colheres de chá, modele pequenas porções, ou faça bolinhas pequenas, passando uma a uma no açúcar de confeiteiro. Coloque-as em uma assadeira retangular grande, untada e enfarinhada, deixando espaços de, aproximadamente, 4 cm entre elas. Em cima de cada bolinha coloque um pedaço de castanha de baru. Leve ao forno médio [355ºF/ 180 ºC], pré-aquecido, por cerca de 10 minutos. Retire do forno e, quando estiverem frios, armazene-os em um recipiente com tampa para que permaneçam crocantes. Rende: 130 biscoitos
the high tea
Numa quinta-feira recebi o convite via sms para me juntar à um cházinho no sábado com Victoria e Bridget num lugarzinho super gostoso aqui em Davis. Eu já tinha ido ao Tea List beber chá, primeiro com o Uriel e depois com meu irmão Carlos e o Gabriel. Adorei o tea cake que eles servem lá e pirei numa infusão de gengibre com limão, que até já reproduzi em casa. O lugar é super pequeno e aconchegante e quem recebe e serve os clientes é a proprietária, que fala inglês com um sotaque estrangeiro que ainda não consegui identificar a origem.
No sábado, segui caminhando para o Tea List achando que iríamos apenas beber um chá e papear. A grande surpresa foi encontrar a mesa preparada para um high tea—o chá da tarde típico inglês, com a mesa toda arrumada, xícaras e pratos de porcelana, várias rodadas de bules de chá e travessas de três andares recheadas de sanduichinhos, bolinhos, scones, madeleines, frutas frescas, mais creme e geléia para acompanhar.
Na companhia de duas pessoas super queridas e fofas, o papo se alongou por horas, E apesar de eu ter ido ao encontro exatamente após ter almoçado, não resisti e gulosamente comi muitas coisinhas. Tudo lá é caprichadíssimo, delicado, delicioso. A atmosfera do high tea é a melhor parte. O charme do chá inglês, quem não curte?
bolo de limão & cardamomo
E agora chegou a vez de gastar os limões. Minha árvore no quintal está até envergada, de tanta fruta pendurada. É a visão do paraíso pra mim, que amo meus limões a ponto de não querer dividi-los com ninguém. Mas além do meu limoeiro—que felizmente fica no meu quintal, bem escondido dos pidonchos e olhos-gordos; ainda tem duas árvores que não pertencem à ninguém carregadas de limão rosa no caminho da minha casa e um ou outro presente em forma de limão meyer que chega na cesta orgânica. E desses limões meyer eu tinha três unidades, que quis usar fazendo um bolo, mas não queria nada óbvio, nem nada muito doce, queria um bolo simples porém bem limãozudo. Achei essa receita na Everyday Food e o resultado agradou muito. Sem falar que tive a chance de gastar uns cardamomos.
1 tablete [113gr] de manteiga sem sal em temperatura ambiente
1-1/2 xícaras de farinha de trigo
1 colher de chá de fermento em pó
1/4 colher de chá de bicarbonato de sódio
1/2 colher de chá de sal
3/4 xícara de açúcar
1 colher de sopa de casca de limão ralada [usei o meyer]
6 colheres de sopa de suco de limão [usei o meyer]
3/4 colher de chá de cardamomo moído [fiz no pilão]
2 ovos grandes
1/2 xícara de sour cream
1 1/2 xícara de açúcar de confeiteiro [para o glacê, que não fiz]
Pré-aqueça o forno em 375ºF/ 200ºC. Unte e enfarinhe uma forma redonda de 20 cm. Numa vasilha peneire junto a farinha, o fermento, bicarbonato e sal. Na batedeira em velocidade média bata a manteiga, o açúcar, as raspas da casca do limão e o cardamomo até formar um creme. Acrescente os ovos, um de cada vez. Junte 3 colheres de sopa de suco de limão. Reduza a velocidade e adicione a mistura de farinha, alternando com o sour cream. Termine com a farinha. Coloque a massa na forma e asse por uns 30 minutos. Remova do forno, inverta o bolo numa grade e deixe esfriar. Coloque numa travessa e cubra com um glacê feito com as 3 colheres de sopa restantes do suco de limão misturado com o açúcar de confeiteiro—eu não fiz o glacê, porque essas coberturas doces não fazem sucesso na minha casa. Apenas polvilhei o bolo com um pouquinho do açúcar de confeiteiro, mas nem precisava.
salada de brócolis romanesco
Está para ser criado [certamente pela Monsanto] um legume que eu não goste. Não é comum eu virar o nariz para nenhum deles, talvez com exceção do nabo—que vamos admitir, não é o troço mais saboroso que existe. Por isso não sei por que peguei tanta implicância com o romanesco. Talvez por ele ficar em cima do muro, não ser nem brócolis, nem couve-flor e ter essa cara de nave espacial de animação da Pixar. É o famoso legume estrupício ou brócolis intergalactico, que começa a aparecer por essa época na minha cesta orgânica e me faz ficar naquele empurra-empurra e algumas vezes até fazendo escambos indecorosos—troco esse romanesco por qualquer outra coisa! Mas neste dia eu me enchi de coragem e declarei—não curto muito, mas ficarei com ele esta semana. E consequentemente fiz essa salada.
1 romanesco médio
1 cenoura grande
1 punhadinho de sementes de girassol
4 peppadew picadinhas
1 punhadinho de folhas de coentro fresco
Algumas azeitonas verdes pequenas
Corte as cenoras em rodelas ou em diagonal e cozinhe rapidamente no vapor. Não deixe ficar mole. Deixe esfriar. Corte as florzinhas do romanesco e também cozinhe no vapor. Não deixe amolecer. Deixe os legumes al dente. Deixe esfriar. Numa saladeira misture os legumes cozidos, as sementes tostadas [que eu tosto rapidamente na frigideira], os peppadew picadinhos, as azeitonas e o coentro picadinho.
Prepare o molho, misturando o suco de 1 limão cravo, sal marinho, azeite extra-virgem e um pouquinho de pasta de tomate [dessas no tubo]. Bata bem com um batedor de arame até formar um creme e tempere a salada. Sirva em seguida.
[quase famosos]
—como é trabalhar com o Sr. José Firelli?
—desculpa, mas é Zefirelli.
—ah, para a senhora, que é íntima!
[narrado nas crônicas de Paulo Francis] hahaha!
A vida é realmente um sitcom. Meu chefe uma vez me contou uma história surreal que aconteceu com ele e que ele chamou de The Water Nazi—relativo ao The Soup Nazi do Seinfeld. O cara chegou na máquina de refil de água do supermercado com 17 galões vazios e ocupou as 4 torneiras. Meu chefe pediu pra usar apenas uma, pra encher apenas um galão e o cara respondeu mal humorado que NÃO. E acabou com a água da máquina.
Também tenho uma história similar—The Salad Bowl Nazi. Estava na thrift store num sábado, como é muito meu costume, garimpando coisinhas de cozinha. Achei uns potinhos, uma bandeja e numa pilha de coisas em cima do balcão, descobri uma saladeira bem bonita por $3. Peguei e segui em frente. Regra de thrift store é achou, gostou, segurou firme! Porque tá solto é de qualquer um. Bom, estava na fila pra pagar quando uma mulher se aproximou e arrancou a saladeira da minha mão com a maior violência. Fiquei atônita, como ficaram também todos os outros que estavam na fila comigo. A mulher, numa voz alterada, bradou—isso É MEU, eu já paguei! Pagou e largou em cima do balcão. Merecia perder os três mangos, pra aprender uma lição. Mulher grossa e ralé. Nem todo mundo que frequenta lojas de segunda mão é assim, pelo menos não na que eu frequento.
Uriel comentando uma edição da revista Martha Stewart Living, com ela na capa disse—usaram uma foto dela de 30 anos atrás, né? Incrível, mas a mulher, além de rica, linda e poderosa, ainda parece imortal. Preservada no formol. Muito ódio dessa específica edição de setembro da revista—com ela super xóvem na capa, mostrando a organização da cozinha dela. Isso não se faz! Mostrar aquilo pra nós, pobres e mortais, gente que envelhece e que não tem uma super cozinha organizada por uma equipe. Sem falar que a malandra se apossa de todo e qualquer objeto antigo e vintage disponível no planeta. Não sobra talheres de baquelite nem vasilhas de argila vitrificada pra mais ninguém.
colheita
[limão cravo — rangpur — rosa — vinagre]