
Porque me solto alopradamente fazendo esses sorvetes e quase nunca sigo receita, acabo descobrindo na prática algumas regras básicas. Depois de duas experiências em que nem a vodka ajudou a deixar o sorvete cremoso no dia seguinte, concluí que não se deve diminuir a quantidade de iogurte, leite ou creme. Nesse frogurt eu me entusiasmei com as frutas e coloquei menos iogurte. No dia em que fiz, ele ficou ótimo, cremoso e tal. Mas no dia seguinte empedrou. Tirei minhas conclusões e vou testá-las na próxima leva.
Nesta invencionice usei medidas aleatórias de iogurte grego, amoras [blackberries] e mel. A cor ficou fantástica, o sabor idem.
Mês: junho 2009
tomate grelhado com queijo gorgonzola

Logo às nove da manhã o desconforto estava grande. Fechamos todas as janelas e persianas da casa ligamos o ar condicionado central. Passamos o dia enfurnados, porque em dias assim muito quentes só dá pra ficar dentro de casa. E como foi quente. Chegamos a 110ºF/ 43ºC, seco como o deserto, não é brincadeira, meus camaradas.
Então na hora do almoço não tivemos coragem de sair no quintal para usar a churrasqueira. Eu tinha temperado frango, para fazer grelhado, mas nos acovardamos. Resolvi fazer uma receita de tomate que tirei do livro How to Cook Everything Vegetarian do Matt Bittman. É pra ser feito no broiler—as chamas que acendem na parte de cima do forno. Leva três minutos pra ficar pronto e não esquenta a cozinha.
Untar uma forma com azeite. Cortar os tomates ao meio e colocar na forma. Temperar cada um com sal marinho e pimenta do reino moída. Por cima de cada tomate colocar uma fatia grossa de queijo gorgonzola. Pré-aquecer o broiler no alto, colocar a grade a uns dez centímetros da chama e colocar os tomates ali. São mais ou menos 3 minutos, ou até o queijo derreter e ficar borbulhante. Desligar o broiler, deixar os tomates esfriarem. Servir morno ou frio, sobre folhas de alface temperadas com um vinagrete. Eu não tinha alface, servi sem. Ficou muito bom—simples e sofisticado, segundo o crítico de plantão. Você pode também fazer com outros queijos.
[don’t forget to]
summertime, and the livin’ is easy
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risoto de morel & parmesão

Não se encontra cogumelos morel frescos pra vender a toda hora. Esta é justamente a época em que eles aparecem e se perder muito tempo piscando e pensando, eles desapareceram numa estalada de dedos. Portanto não pisquei nem pensei quando vi os morel fresquinhos à venda no Farmers Market no sábado. Trouxe um saquinho cheio deles pra casa. Coloquei na geladeira e esqueci. Somente na terça-feira é que lembrei deles e foi justamente num dia em que eu necessitava muito comer um rango reconfortante e substancioso. Como estava sozinha, fazer um risoto com os cogumelos foi uma decisão indubitável. Usei mais ou menos 1 xicara de morel picados grosseiramente, 1 xícara de arroz arbório, 1 xícara de vinho branco e quatro xícaras de caldo de cogumelo [orgânico, que eu compro pronto]. Sal a gosto e 1/2 xícara de queijo parmesão ralado no ralo grosso. É a receita básica: em fogo médio refogar os cogumelos em 2 colheres de sopa de manteiga, acrescentar o arroz e refogar mais uns minutos, juntar o vinho, deixar secar. Daí vai acrescentando o caldo de cogumelos que deve estar quente, de xícara em xícara, mexendo vez e outra, até o arroz cozinhar e absorver todo o caldo. Leva uns 20 minutos para o risoto ficar pronto. Ele fica bem cremoso. No final, tempere com sal, pimenta do reino moída se quiser e jogue o queijo ralado. Desligue o fogo, tampe a panela, espere uns minutos e então sirva o risoto bem quente, com mais parmesão ralado na hora por cima. O morel tem um sabor muito peculiar para mim, que sinto sempre um leve toque de anis por trás daquele sabor discreto e severo que é próprio dos cogumelos.
salada de grão-de-bico
[com laranja e azeitona]

Outro dia eu resolvi que iria cozinhar um saco de grão-de-bico que estava na despensa desde janeiro. Fiz em fogo baixo, na panela de terracota. Os grãos ficaram bem firmes, ótimos pra fazer salada. Procurava então uma idéia pra uma salada de grão-de-bico diferente, folheando o livrão How to Cook Everything Vegetarian do Mark Bittman, quando vi uma receita de sopa. Não fiz a sopa, mas usei os ingredientes que o Bittman indicava para fazer uma salada.
Grão-de-bico cozido e escorrido
Uma laranja — ralar a casca e cortar em cubinhos
Um punhado de azeitonas pretas
Ervas frescas da sua preferência — eu usei o orégano
Sal, pimenta, vinagre de vinho e azeite de oliva.
Misturar todos os ingredientes, deixar marinar por uma meia hora e servir. Eu acompanhei com torradas de pão rústico e uma fatia de queijo feta. Uma refeição completa, para um dia de verão.
uma pilha de pratos

frogurt de figo & mel

Os figos chegaram no Farmers Market e no Co-op e eu já exagerei, porque simplesmente adoro essa fruta. Aliás, estou tendo que devorar a passos ligeiros um monte de pêssegos, damascos, ameixas e cerejas, que comprei de quilo no sábado, esquecendo completamente que eu iria estar sozinha nesta semana.
Com os figos eu fiz um frogurt, que poderia ter sido o prato principal do jantar, mas me comportei e comi de sobremesa. Foi só bater uns 6 figos com uma xícara e meia de iogurte natural, mel a gosto e uma pequena doce da vodka invisível. Bater, sorveteira, servir-se e sair cantando e dançando heaven… I’m in heaven, and my heart beats so that I can hardly speak. and I seem to find the happiness I seek, when we’re out eating some frogurt made of figs….
croquetes de lentilha
Essa receita foi uma daquelas cujo resultado estético ficou muito aquém das suas outras qualidades. Os croquetes ficaram muito saborosos, mas com uma cara de comida de halloween. Fazer o que? Comemos mesmo assim, não sobrou nenhum, mas na hora de colocar uma foto aqui, fiquei naquele eterno e descabelante dilema.
Essa receita é blogavel ou não? O sabor ganhou nota dez, já a foto acabou publicada, mas não sem ouvir muitos protestos do meu grilo falante.
1 xícara de lentilha escolhida e lavada
2 xícaras de farinha de pão
1 ovo
2 colheres de sopa de azeite de oliva
2 xícaras de cebola em rodelas finas ou picadinha
Sal, pimenta e temperinhos a gosto—eu usei estragão fresco
Cozinhe a lentilha com água até ela ficar molinha. Eu usei a lentilha verde puy, que fica inteira, não desmancha. Separadamente, refogue a cebola no azeite com a panela tampada, mexendo de vez em quando, por uns 20 minutos, até a cebola ficar caramelizada. Quando a lentilha estiver cozida, coe bem para remover qualquer liquido e coloque no processador. Moa na textura que quiser. Eu não deixei moer muito, só dei umas pulsadas. Misture a lentilha moída com a cebola caramelizada e metade da farinha de pão. Adicione sal e pimenta do reino moída a gosto, as ervinhas da sua preferência e misture o ovo. Faça bolinhos lomgos ou achatados e passe pelo restante da farinha de pão que deve estar num prato. A partir daqui você pode seguir dois caminhos: fritar ou assar os bolinhos. Se escolher fritar, vai pelo caminho mais delicioso. Mas se escolher assar, como eu fiz, vai também comer bolinhos gostosos. Eu assei, em forno 375ºF/ 190C, até os bolinhos ficarem dourados, virando no meio tempo. Apesar da aparência estranha, adoramos a textura e o sabor desses croquetes. Se eu tivesse tido a coragem de fritar, talvez eles tivessem ficado melhor ainda, porque todo mundo sabe que tudo que é frito é muito mais gostoso!
meu encontro com a Deborah
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Eu entrei na livraria e dei de cara com ela. Como é natural reagir quando se é pego de surpresa frente a frente com uma celebridade, cumprimentei-a efusivamente, como se tivesse acabado de reencontrar uma velha amiga. Ela respondeu, como deve estar acostumada a fazer. Quantos dos seus fãs e leitores não a devem cumprimentar da mesma maneira? Uma dúvida me tomou de imediato: não, não pode de jeito nenhum ser ela, assim vagando pela pequena livraria, olhando os livros em promoção e conversando com umas pessoas na maior naturalidade do mundo. É ela sim! É ela, sim, só pode ser ela! Impossível não reconhecer a Deborah Madison das fotos que estampam as capas dos seus livros. A singeleza, o sorriso, a simplicidade.
Fui logo pegando uma cadeira bem na frente do lugar de onde ela iria falar com o público. E tinha bastante gente se acomodando, duas poltronas reservadas, uma delas para a mãe da autora, uma senhorazinha tão fofa quanto a filha. Já fui aproveitando para tirar fotos, enquanto me re-idratava com um copo dágua. Eu sou um bocado tímida e fico com meus suores nervosos quando dou uma de tonta alegre falando com alguém que não me conhece como se fossemos intimas. E também fico toda inibida de ficar tirando fotos das pessoas.
Ao meu lado sentou-se um casal e logo o senhorzinho virou-se na minha direção, me cutucou e disse—você sabia que muitos anos atrás a Debby foi babá dos nossos filhos? Uau, que bacana, eu respondi. Trocamos algumas idéias sobre os livros dela e ele me contou que apesar de cozinhar para dois, só usava uma receita: a de minestrone. Com um pouco de queijo parmesão, um belo pedaço de pão, temos comida para vários dias, ele reinterou. E que comida boa, eu retruquei. Um minestrone tem tudo, não precisa de mais nada!
Enquanto os convidados se ajeitavam nas cadeiras, pessoas se reencontravam e papinhos informais brotavam aqui e ali, a Deborah conversava com muitos conhecidos e já dava alguns autógrafos. O sinal gritante da minha falta de familiaridade com a autora mostrava-se no fato de eu chamá-la de Deborah. Todos a chamavam de Debby, porque muita gente ali a conhecia de muitos anos, não só como autora de livros bacanas e pela sua história com o famoso restaurante Greens em San Francisco. Deborah Madison, ou melhor Debby, cresceu em Davis, quando teve a oportunidade de ser babá dos filhos do simpático casal e estudar na UC Davis. Estar em Davis é, como a própria Debby afirmou, estar em casa.
Eu, além de não ter conhecido a Debby de Davis, mas apenas a autora Deborah Madison, ainda estava intrometidamente sorrindo e tirando uma foto atrás da outra. Debby me olhava de vez em quando com o rabo do olho, com aquela cara de dúvida, talvez pensando que eu era uma conhecida de quem ela tinha esquecido o rosto, o nome e a história.
Bem diferente do meu encontro com a Alice Waters anos atrás em Berkeley, quando havia uma organização toda em função da tarde de autógrafo da famosa autora, com a Debby foi tudo muito casual. Sem muitos salamaleques, ela já foi começando a falar, com uma introdução breve feita pela dona da livraria. Todo mundo conhece a Debby, não precisa de enrolação. E ela então relatou toda a história do seu novo livro—What We Eat When We Eat Alone, uma colaboração entre ela e seu marido, o artista Patrick McFarlin.
Debby contou que ela e Patrick passaram uma época viajando por diversos países experimentando azeite de oliva, e nessas visitas eles encontravam muita gente famosa, chefs e culinaristas, artistas, escritores e poetas. Enquanto rolava as degustações, Patrick ficava meio entediado, então começou a entrevistar as pessoas, mas ao invés de sair distribuindo a famosa pergunta—o que você faz—resolveu perguntar outra coisa—o que você come quando come sozinho? O resultado das respostas acabou virando esse livro, com texto e receitas da Debby [e de muitos dos entrevistados] e ilustrações divertidíssimas do Patrick.
Debby leu vários trechos do livro, que incluí algumas poesias e é completamente fofo! Ainda vou falar mais sobre ele por aqui, quando acabar de ler. Comprei dois exemplares, um pra mim e outro para a minha amiga Leila, que como eu, come sozinha eventualmente. A Debby ainda respondeu perguntas do público e depois sentou-se casualmente na cadeirinha e sem organização nenhuma de assistente nenhum, começou a dar autógrafos. Eu me posicionei rapidamente na fila que se formou e um casal atrás de mim perguntou se eu era do jornal e se as fotos iriam sair em algum lugar que eles pudessem ver. Não, são só pra uso pessoal, respondi envergonhada e fui logo puxando o assunto pros livros da autora.
Tremi como vara-verde por uns segundos quando chegou a minha vez de falar com ela. Pensei em me ajoelhar no chão, mas no final resolvi ficar curvada e disse, assim que ela me olhou e sorriu mais uma vez—estou tão contente por tê-la conhecido, eu uso muito os seus livros! Enquanto ela autografava o meu livro e o da Leila, batemos um ligeiro papinho, ela dizendo que meu nome era lindo e que esse livro novo era bem diferente dos outros e eu respondendo e tentando não falar nenhuma bobeira. No final comentei que tinha adorado o colar que ela estava usando, feito com sementes de açaí. Ela respondeu que tinha comprado o colar numa loja sem saber do que era feito. São sementes de uma fruta brasileira muito comum no Amazonas, fui explicando. Agradeci, disse outra vez o quanto estava feliz em conhecê-la e sai carregando os livros, a câmera, a bolsa, e meu corpo cambaleante com uma cabeça atrapalhada, que por uns segundos perdeu a noção de localização e zanzou pela livraria sem saber pra que lado estava a saída. Mas antes de me localizar e sair da livraria em direção à minha casa, ainda bati mais algumas fotos daquela moça tão simpática e tão querida, a nossa Debby de Davis.












