The Hidden Kitchen

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A Elise organizou a nossa visita ao The Hidden Kitchen comandados pelo casal Dennis e Mary Kercher. Eu estava muito entusiasmada para participar desse evento, que agrupou doze foodies, entre food bloggers, criticos e profissionais da gastronomia. Eu disse doze, mas minha irritante modéstia insiste em baixar esse número para onze. Não consigo ainda me considerar uma foodie e quando estou com o grupo de Sacramento, que queira ou não eu faço parte pois moro aqui e mantenho um blog, sempre fico me sentindo a prima estrangeira que chegou ontem do Cafundoquistão.
Me esforcei à beça pra chegar no horário marcado e não confirmar aquele boato absurdo e falso divulgado à torto e à direito por bocas de matildes de que brasileiro chega sempre atrasado. Estacionei meu carro na frente da charmosa casa num bairro tradicional de Sacramento, daqueles com casinhas de filmes antigos e ruas e quintais completamente tomados por árvores ancestrais. Fui recepcionada alegremente pelo casal que cozinha e recebe os amigos para um jantar caprichado. Conheci a cozinha toda equipada do Dennis e da Mary, a simpática cachorrinha Baci e recebi uma taça com um refrescante espumante rosado. Nós ficamos no pateo da casa, com um jardim lindo ao fundo e todo decorado com velas. Conversamos muito durante o jantar. É muito difícil o papo ficar chato num um grupo de doze pessoas com o mesmo interesse. Nem preciso dizer que o tema de todas as conversar da noite foi apenas um: COMIDA.
O Dennis e a Mary serviam os pratos e explicavam os detalhes. Estava tudo muito gostoso e a atmosfera estava divina. Nós levamos o vinho, que foi dividido entre todos. O vinho que abriu o jantar foi o português tinto que eu levei e que todos gostaram. Eu bebi muito moderadamente, pois sabia que teria que dirigir de volta para Davis. Mesmo assim não deixei de beber um vinho de uma vinícola biodinâmica, que estava extremamente saboroso. Durante o jantar a Elise jogava na mesa perguntas como qual a sua lembrança mais antiga de comida ou qual a iguaria mais estranha que você adora comer, mas tem vergonha de confessar. Eu, que detesto esses tipos de joguinhos grupais e tenho horror de falar para uma aglomeração de mais de três pessoas, fico um pouco tensa. Prefiro a relaxada conversa tête-à-tête com os convivas sentados ao meu lado ou na minha frente, mas mesmo essa parte não muito divertida do jantar pra mim acabou sendo interessante, pois cada um falou da sua experiência e eu falei da minha também.
Eu gostei de quase tudo que foi servido. Até o atum semi-cru, que eu temia, estava bem gostoso, pois a porção estava micro. Só não consegui comer o ratatouille, porque ele tinha um molho e uma textura que me deu um engasgo e foi servido bem na hora que todos falavam das coisas horrorendas que não conseguem comer. Eu ouvia as declarações mais bizarras e pensava em mais coisas bizarras ao mesmo tempo que visualizava o carneiro ensanguentado nos pratos de absolutamente todos os convivas—menos no meu, pois eu implorei por bem passado. Com tudo isso rolando, o ratatouille simplesmente me deu um bleargh, mas foi a única coisa.
*seared ahi sliders with sweet potato frites and mango ketchup
os canapés de ahi tuna estavam muito gostosos, porque vieram numa porção pequena. a batata-doce estava deliciosa, nem precisou do ketchup de manga.
*gorgonzola grape galette with watercress & arugula
a salada de rúcula e agrião foi temperada com meyer lemon da árvore do jardim. estava perfeita! e da maravilhosa galette não sobrou uma farofa.
*gnocchi verdi with garden fresh pesto genovese
o gnocchi foi feito com espinafre e ricotta, sem batata. estava levíssimo. comentei com a crítica de gastronomia que esse prato deu de mil no muito semelhante que eu comi num dos restaurantes italianos mais famosos e caros daqui da região e que foi uma decepção, pesado e oleoso. o do Dennis estava perfeito, com o pesto clássico feito com manjericão da horta dele.
*rosemary rack of lamb, ratatouille ala grille, corn cakes
carneiro é aquela coisa: ou você gosta, ou você não gosta. eu acho uma carne difícil, que nem sempre fica boa, eu acho muito forte e pesada. mas gostei dessa preparada pelo Dennis com alho, alecrim, confit de limão e grelhada na churrasqueira. os bolinhos de milho estavam uma delicia e o Dennis confessou que usou um pouco de gordura de pato na massa. veio acompanhado de um dos mais delicados tapenades que eu já provei.
*grappa brown sugar panna cotta with grape gelée
muito difícil uma panna cotta ficar ruim. essa, não quebrou a regra. a geléia de fruta que acompanhou o creme me lembrou alguma coisa da minha infância.
No final fomos servidos de café e licores feitos em casa—limão, morango e café. Eu já tinha provado o de limão na casa da Elise e escolhi o de morango. A essa altura eu já estava horrivelmente exausta, não só pelo dia atrapalhadíssimo que eu tive, que se iniciou cedíssimo e que teve despedidas de amigos no aeroporto, mas também pela comilança toda. Cheguei em casa tarde da noite e ainda trouxe comigo apple butter feita pela Elise e mais favas de baunilhas que o Garrett colocou furtivamente na minha bolsa. Foi uma noite memorável, com um grupo muito bacana e uma comida excepcional.

muitos achados nos perdidos

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Diz o ditado que quem procura acha e eu vivo achando gratas surpresas nas minhas procuras por coisinhas bonitas nas lojas de segunda mão. Tenho um monte de histórias de achados. Os mais recentes, umas cumbuquinhas de madeira super lindas, com aquela cara de que foram muito usadas na cozinha de alguma senhora muito prendada. E uma assadeira redonda e funda de cerâmica esmaltada, que me pareceu ter produzido muito suflê bem-sucedido em alguma cozinha bem equipada.
Nas minhas garimpagens, eu não vou comprando qualquer coisa. Aprendi algumas regras básicas com a sogra do meu filho que é uma antique dealer. Olho muitas coisas no achado, mas a primeira coisa que eu faço é virar e olhar a base. Ali pode estar toda a informação que você precisa. Se estiver escrito made in china eu descarto imediatamente, mesmo se a coisa for linda prá lá de metro. Procuro por porcelanas inglesas ou japonesas, que são as melhores. Cerâmicas francesas ou italianas. Muitas vezes acho utilitários escandinávos, muito populares por aqui, ou alemães. E tem os produtos made in USA, que são quase sempre bacanérrimos. É só ter paciência, muita paciência e um bocado de determinação.
Quando vi a palavra Munising engravada na base das cumbuquinhas de madeira, o final quase ilegível pelo desgaste do tempo, tive a intuíção de que ali estava um achado. Faço uma pesquisa descubro a Munising Wood Products, em Michigan, que produziu utilitários lindos de madeira entre 1911 e 1955. Dá pra calcular mais ou menos a idade das minhas cumbuquinhas. Vou chutar 1930, pois é a minha década favorita.
A assadeira vitrificada mostrava o nome Guernsey no fundo e quando fui atrás de informação, descobri com grande surpresa que ela foi feita por uma cerâmica chamada Guernsey Earthenware Company, que produziu peças utilitáras de mesa e cozinha em Cambridge, Ohio, entre os anos de 1909 e 1924. Posso dizer com certeza que essa peça que eu comprei na loja de segunda mão por duas patacas de dólar tem entre 80 e 90 anos. Como aqui na América qualquer coisa com mais de cinquenta anos já pode ser considerada antiguidade, esses foram grandes achados, sem dúvida alguma!

romeo & giulietta
[ice-cream romance]

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Tava lá um pedaço de goiabada cascão dando sopa e aquele mascarpone que sobrou de outra receita, o que imediamente propiciou que me cutucassem as lombrigas cheias de determinação: sorvete, sorvete, sorvete! Fiz então o sorvete de goiabada com queijo, que ficou puro deleite.
Meio bloco de goiabada cascão cortada em cubos e derretida com um pouco de água, 1 xícara de mascarpone, que pode ser substituido por qualquer queijo cremoso, 1 xícara de creme de leite fresco, 1 xícara de leite. Misturar os ingredientes até eles ficarem bem incorporados. O creme de goiabada deve estar frio. Deixe essa mistura gelar por algumas horas, se quiser. Coloque na sorveteira ou faça manualmente, congelar, bater, congelar, bater, congelar, bater. Minha goiabada não derreteu cem por cento e o sorvete ficou salpicado de micro-pedacinhos do doce. Hmmm!

fatos históricos que adoramos aprender

O restaurante Chez Panisse em Berkeley, Califórnia, serviu o seu primeiro jantar inaugural em 28 de agosto de 1971. O menu único teve pâté en croûte como entrada, canard aux olives e uma salada como prato principal, uma torta de ameixas de sobremesa e café. O preço, também fixo, era de $3.95. Alice Waters ainda estava martelando um tapete na escada quando os primeiros comensais começaram a chegar. Eram na maioria amigos e ela os recepcionou naquele dia usando um vestido antigo de renda beige. Um enorme vaso com flores decorava a entrada. Cinco garçons passaram a noite trombando entre si, enquanto tentavam servir os clientes jantando no pequeno salão, com poucas mesas arranjadas com toalhas xadrez de vermelho e branco, louça e talheres de segunda-mão descombinados. Os vinhos servidos naquela noite foram Mondavi Fumé Blanc, Mondavi Gamay e um Sauternes, Château Suduiraut, vendido por copo. A caótica cozinha foi comandada pela chef Victoria Kroyer. Antes de ser contratada por Alice, Victoria fazia pós-graduação em filosofia na UC Berkeley e nunca tinha trabalhado num restaurante. Sua única experiencia com culinária era os jantares que ela preparava na sua própria cozinha. No final da noite, 120 refeições foram servidas, nem todas foram pagas. Clientes aguardavam na calçada, quando Alice avisou—desculpem, mas não temos mais comida, voltem amanhã. Faltou talheres e no dia seguinte Alice percorreu todos os flea markets da cidade, buscando por mais talheres antigos e o número de garçons baixou para três, o que tornou o serviço mais eficiente. O nome Chez Panisse foi uma homenagem ao personagem Honoré Panisse da trilogia Marius, Fanny, and César do diretor francês Marcel Pagnol, de quem Alice era fanzoca.

a beleza das coisas pequenas

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Anos atrás eu peguei a mania de olhar pratinhos para colocar o wasabi e o shoyo no serviço de sushi. Eles são realmente umas fofuras, redondos, quadrados, retangulares, em formato de flores, frutas, legumes, decorados com desenhos ou apenas coloridos. Comprei alguns, mas não fui pra frente com a coleção, o que é uma coisa pra se repensar. Hoje olhei pra eles e me encantei mais uma vez com a delicadeza e com a beleza de cada um deles. Foi uma visão confortante, para um dia onde o meu corpo vai estar se locomovendo por Davis, fazendo o que é necessário fazer, mas meu pensamento e meu coração vai estar co o Uriel e com a família dele em Campinas. Uma pequena contribuição simbólica, mas com todo o meu amor.

$3.80

Meu jantar custou três patacas e oitenta centavos e consistiu de uma porção de batata frita, uma pequena salada que pedi sem aqueles molhos enjoativos e temperei em casa, e uma lata de limonata Sanpellegrino. Era o que eu precisava, com exceção da salada, que pedi já sabendo que iria ser uma experiência frustrante, como quase toda salada de restaurante. Não estou cozinhando muito, porque simplesmente não sei como cozinhar em porções para uma pessoa e não quero acabar com um monte de sobras na geladeira. O lado bom é que estou detonando um estoque de veggie burgers que eu acumulei no congelador—nem me perguntem por que eu comprei tantos deles, de sabores diferentes, porque eu não me lembro. Também tenho usado os tomates. Esse é basicamente o panorama desses últimos dias: pão, queijo, tomate, e batata frita de restaurante, quando preciso compensar por um dia não muito bom.

bolo de milho com coco

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Cheguei em casa com uma hora e meia para preparar um rango legal para levar no picnic. Já tinha decidido que iria fazer umas tortinhas de tomate e iria usar umas massas de pãezinhos quebra-galhos que eu tinha na geladeira. Nem preciso dizer que os planos afundaram, pois as massinhas estavam com a validade vencida. Acabei fazendo uma salada pseudo-grega, sem queijo feta, porque não tinha. Mas daí inventei que iria fazer um bolo de milho—outro bolo de milho. Estou com um estoque de espigas considerável dentro da geladeira e algumas já estão com um cheiro de fermento, tanto que fiquei receiosa de usá-las. Mas decidida estava eu que esse bolo iria sair de qualquer jeito. Procurei por receitas em websites brasileiros, que infelizmente ainda publicam os ingredientes com medidas genéricas como uma lata de milho, um pacote de coco ralado e nenhuma dica de temperatura de forno ou tempo de cozimento. Adaptei como pude e coloquei o bolo pra assar, torcendo para dar tempo de levá-lo para o picnic. Obviamente que não deu e eu desliguei o forno com o bolo ainda com uma cara empalidecida lá dentro. Quando eu e o Gabriel chegamos do picnic às nove da noite, cortamos o bolo, devoramos muitas fatias e ele levou outras mais para casa. Ele achou que o bolo não ficou doce o suficiente, mas eu achei perfeito. Pra quem quiser mais doçura, sugiro acrescentar uma boa dose de mel na hora de servir.

500 gr de milho fresco ralado
1 lata de leite condensado
1 lata do leite condensado cheia de leite
2 ovos
2 1/2 xícaras de farinha de trigo
1 xícara de coco ralado
1 1/2 colher de sopa de fermento em pó – químico

Bater o milho, o leite condensado e os ovos no liquidificador. Colocar essa mistura numa vasilha grande e acrescentar a farinha de trigo e o coco ralado. Misturar bem com um batedor de arame. Por último acrescentar o fermento em pó. Colocar a mistura numa forma untada com manteiga e farinha e assar por uns 40 minutos em forno pré-aquecido em 365F/ 185C.

a peste do dia

“This summer has been a tough one for us in the pest department… and not just arthropods and diseases! We continue chasing off wild turkeys (that have decimated our second melon planting and have turned their eyes on our cucumbers!) and setting out have-a-heart traps for the jackrabbits that keep sneaking in under our fence. Aside from these crop-munchers, there is always the odd crow or ground squirrel that decides to chew a hole in our irrigation lines. Alas, this is life on an organic farm, and as a CSA subscriber you can feel good about what both you *and* those little critters are putting in your bodies!”

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perus selvagens, uma das pragas que atacam a horta da minha amiga Alison

A cartinha da cesta orgânica desta semana me fez sorrir nervosamente, pois agora eu sei que as pestes na agricultura abrangem muito mais espécies do que eu podia imaginar. Pra falar a verdade, antes de eu ter uma horta eu nem pensava em pestes ou se pensava era uma concepção tão remota, só de ouvir falar, naquele papo dos horríveis agrotóxicos. Mas eu lembro de sempre dizer com muita determinação e empáfia que eu preferia as minhas verduras com furos ou presença física de bichos [escrotos] do que pulverizada por químicos e venenos. Mas na verdade eu nunca tinha tido muito contato com as pragas e outros miserês agrícolas até então. Claro que os bichos que chegavam com os legumes e verduras da cesta assustavam, mas não me davam raiva. Ter uma praga destruindo a sua horta dá raiva e dá vontade de aniquilar tudo sem dó, rápido e de qualquer jeito—com spray desintegrante, veneno cancerigeno, pó fumegante, bomba de gás, maçarico flamejante, energia nuclear. Foi isso que eu senti quando vi o meu quintal todo esburacado por um gopher no final de um inverno. Fui atrás de uma solução e fui instruída por experts a comprar umas bombas de gás e enterrá-las acesas dentro dos túneis cavocados pelos gophers. Comprei os tubinhos mortíferos movida pelo ódio, mas não tive coragem de implementar o plano assassino. Não sei que fim teve o gopher de olhinhos sapecas. Se ele morreu, foi por qualquer outro motivo alheio à minha vontade. Praga de pensamento cármico, talvez, mas minhas mãos não se sujaram com sangue inocente e minha consciência está tranquila.

Meu trabalho no IPM também contribuiu muito para me abrir os olhos, não só para a quantidade quase incomensurável de pragas nojentas dos mais diversos tipos, mas também para as pragas fofinhas. Não são somente vermes, insetos, ácaros, cracas, doenças, pulgões, lesmas, ratazanas, aracnídeos, répteis rastejantes e ervas daninhas de diferentes procedências, que atacam como uma invasão enlouquecida de entidades devoradoras as nossas frutas, legumes e verduras. Há também o esquadrão das pragas bonitinhas. A descoberta de que coelhinhos, passarinhos, esquilinhos, veadinhos e outros bichinhos fofos podem ser realmente do mal foi um grande choque.

Ainda é muito duro pra mim encarar esses bichos realmente bonitos como inimigos. Mas já estou me acostumando a olhar aquela fauna de filme da Disney com olhos mais suspeitos e tenho certeza absoluta que não quero a visita de um esquilo ou de um coelhinho no meu quintal.