Bolo de Fubá Com Goiabada

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A Leticia me passou essa receita e eu achei interessantíssma, apesar das insistentes medidas não-convencionais que são altamente praticadas, mesmo pelos programas de culinária, de onde essa receita saiu. Estaria eu disposta a gastar a minha preciosa goiabada cascão com uma receita que usava como medida copo de requeijão? Ponderei por uns dias e decidi que iria tentar. O resultado foi um bolo muito saboroso, porque goiabada minha gente, não tem jeito, é sempre bom demais e nunca desaponta! Meus ajustes em asteriscos.

Bolo de Fubá Com Goiabada
3 claras
3 gemas
1 copo (tipo requeijão) de açúcar refinado * substituí o copo de requeijão por 1 xícara convencional de 250 ml/8oz
1 copo (tipo requeijão) de leite
1/2 copo (tipo requeijão) de óleo de soja
1 copo (tipo requeijão) de farinha de trigo
1 copo (tipo requeijão) de fubá * usei a masa harina que é o mais próximo do fubá que temos aqui e é muito usada na cozinha mexicana.
1 colher de sopa de fermento em pó
goiabada cascão cortada em cubos

Numa batedeira bata as claras em neve. Continue batendo e adicione as gemas, uma a uma. Incorpore o açúcar, leite, o óleo e aos poucos, junte a farinha de trigo e o fubá. Por último, agregue o fermento. Desligue a batedeira.

Numa forma de pudim, untada com óleo e enfarinhada com uma mistura de canela e açúcar, coloque metade da massa. Salpique os cubos de goiabada, coloque a outra metade da massa e cubra salpicando mais cubos de goiabada.

Leve ao forno a 180º C/350º F por 40 minutos e sirva a seguir.

at the greenmarket

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Descobri abismada que tenho muita coisa em comum com a Alice Waters. Fazemos nossas compras no farmers market da mesma maneira metódica. Eu chego e caminho olhando todas as bancas, esquerda e direita, vou até o final do mercado, analisando o que está na estação, traçando uma estratégia, escolhendo mentalmente o que vou comprar, o que me agrada mais, o que me chama atenção, tentando pensar no que fazer com os ingredientes. Também como a Alice, eu sempre converso com os fazendeiros, comento e pergunto o nome das coisas, e sempre encontro amigos pelo mercado. No caso dela são fãs. Vamos comprando os ingredientes mais frescos da estação ou aquele um que está dando o seu último ar da graça, o último suspiro. Hoje fiz a minha caminhada pelo mercado, observando a chegada das inúmeras variedades de pêras e das romãs, pensando feliz que tenho esse hábito em comum com o mito da culinária californiana. Eu e Alice Waters, quem poderia imaginar uma coisa dessas?

chupando balinhas

lezoca, paulo e carlos

Fiquei de fora dessa foto e não lembro por que. Esses são os meus irmãos: Lezoca, Paulo E. e Carlos A. Os três chupando balinhas e vestindo chinelinho havaiana com meias. Meus irmãos sempre com as roupas combinando, mas eles não são gêmeos—tem um ano de diferença entre eles. Com certeza eu também tinha um vestido como esse que a minha irmã está usando, tão rendado e tão curto. Vestir filhos de idades diferentes com roupas iguais deve ter sido alguma moda dos anos setenta.

**pensando bem, tenho quase certeza que eu não saí na foto porque estava na cozinha atormentando a Cida. querem apostar quanto?

smörgåsblergh

Porque a colheita não pode esperar, o Uriel chegou e já viajou novamente. Nenhuma novidade nisso. Sozinha outra vez, eu não planejava nada especial para o jantar. Quando o Gabriel me convidou para ir até a IKEA com ele, eu topei já pensando que poderia bater um rango por lá. A IKEA não é um lugar pra se visitar no meio da semana, depois de um dia intenso de trabalho com o final coroado por uma pedalação enlouquecida tentando, sem sucesso, chegar em casa antes da chuva desabar. Mas mesmo assim eu fui, pois convite de filho é difícil de recusar. Ele foi comprar um monte de coisas pra casa dele. Eu não precisava comprar nada, mas quem sou eu pra tentar resistir à um apelo consumista com design escandinavo? Acabei comprando um par de coisas nada necessárias, porque afinal de contas eu preciso ajudar o dono da IKEA—que é o homem mais rico do planeta—a ficar mais rico ainda. No meio das compras sentamos para jantar no restaurante da loja. Tava realmente difícil escolher alguma coisa pra comer ali. Eu já tive experiências um pouco melhores no restaurante da IKEA. Vai ver era o horário. Eles têm aquele sistema de bandeja, pratos frios e sobremesas ajeitados nas prateleiras com tampa de vidro que você abre e pega o que quer, além dos pratos quentes que ficam ali nos chafers não sei por quantas mil horas. Eu não confio nesse tipo de disposição de comida. Aliás, eu não confio em disposição de comida de jeito algum. Caminhei com a bandeja pelo corredor das supostas delicias e fui me apavorando com o visual do rango exposto. Se chamamos a comida que nos desperta desejos e nos faz salivar de porn food, aquilo que eu vi na IKEA era a visão escarrada do horror food. Tudo com cara de que foi preparado na noite anterior. Vai uma torta sueca de maçã ressecada ou um mousse murcho de lingonberry? Arrisca num sanduba suspeito de camarão e ovo? E aquele salmão desbotado com legumes? O Gabriel foi de bolinhas de carne suecas, que vêm acompanhadas de batatas cozidas. Essas meatballs são uma delicia se você fizer em casa ou comprar o pacote delas congeladas na lojinha da IKEA e assar na hora, com batatas cozidas fresquinhas. Mas as que eles estavam servindo lá, sei não… Eu acabei pedindo um pratinho de frango e batatas fritas, que era o que tinha cara de estar mais fresco. Não foi um jantar digno de nota, apesar da agradável companhia do meu filho Gabriel e da nossa amiga Melissa.

minha versão do passateli ao limão

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Fui até comprar um espremedor de batata, que eu não tinha, pra poder fazer essa receita que a Neide Rigo publicou, depois de ter feito uma aula com a chef Ana Soares. Achei tudo notávelmente singelo, com os fiozinhos de massa no caldo da sopa. Iria ser a primeira refeição completa que eu iria preparar para comer finalmente acompanhada. Um dos problemas mais sérios que eu encontro para seguir receitas é a falta de preparação. Nem sempre temos todos os ingredientes necessários e nem sempre temos tempo para fazer as comprinhas imprescindíveis. Eu jurava que tinha uma caixa de caldo de legumes na despensa, mas quando fui ver percebi muito tardiamente que não tinha. Quase joguei a toalha, mas todo mundo sabe que não sou dessas. Analisei minhas possibilidades e vi que tinha uma quantidade razoável de molho purissimo de tomates da minha horta e resolvi foi fazer a minha versão do passateli, que acabou se transformando em outra coisa—mas não menos apetitosa!

A receita da chef Ana Soares, publicada pela Neide:
Passateli ao perfume de limão siciliano
200 g de pão francês seco, ralado
200 g de parmesão ralado
Raspas de limão siciliano a gosto (ou outro, se preferir)
3 ovos inteiros
Gemas até dar o ponto
30 g de manteiga amolecida
Sal e pimenta-do-reino a gosto
Noz moscada ralada a gosto
1,5 litro de caldo de carne
Legumes picados a brunoise

Numa tigela grande, misture a farinha de pão, o queijo parmesão e as raspas. À parte, bata os ovos com a manteiga e despeje na tigela, mexendo bem. Vá juntando gemas até conseguir uma mistura cremosa e firme (que possa passar no espremedor de batatas). Cubra e deixe na geladeira por 15 minutos. Aqueça o caldo de carne desengordurado, coloque a massa dentro do espremedor de batatas e vá apertando, deixando cair sobre o caldo fervente os fiozinhos de massa. Junte os legumes (cenoura, salsão e abobrinha em cubinhos mínimos) e cozinhe por mais dois minutos.

A minha versão:
Passateli ao perfume de limão siciliano
200 g de pão rústico seco, ralado
200 g de parmesão ralado
Raspas de limão siciliano a gosto (ou outro, se preferir)
3 ovos inteiros
30 g de manteiga amolecida
1,5 litro de molho de tomate
1/2 cebola
óleo, azeite, sal

Numa tigela grande, misturei a farinha de pão, o queijo parmesão e as raspas de limão. À parte, bati os ovos com a manteiga e despejei na tigela, mexendo bem. Decidi não acrescentar mais gemas e ver no que dava. Cobri a tigela com um pano e deixei na geladeira por 15 minutos. Refoguei meia cebola picadinha numa colher de óleo vegetal e um fio de azeite. Acrescentei o molho de tomate, sal a gosto e uma pitada de açúcar. Deixei engrossar um pouco. Passei a massinha pelo espremedor de batata direto no molho. Deixei cozinhar uns minutos, desliguei o fogo e tampei a panela. Ficou uma sopa bem grossa. Não ficaram fiozinhos como imaginei na sopa da chef Soares. Avalio que o molho encorpado de tomate, o pão mais grosso e a ausência de algumas gemas foi o que fez a diferença.

A receita tinha absolutamente tudo para dar errado, começando com um acidente ensanguentado logo no início da preparação, quando ralei a tampa do dedão no super ralador e tive que interromper todo o processo até conseguir controlar o sangue e a dor. Com um band-aid porcamente colado na ponta do polegar e xingando a bruta falta de sorte de ter que fazer o resto do jantar com o dedão da mão direita empinado, continuei firme. Quando vi o resultado, com aquele visual encorpadão da sopa e sem nenhum fiozinho charmoso se revelando, tive vontade de chorar—mais um jantar arruinado! Mas quando servi e começamos a comer, que deliciosa surpresa! Ficou uma sopa de tomate bem substanciosa e saborosa, com um hint do limão que fez toda a diferença. Acho que reinventei a receita acidentalmente, mas ainda vou tentar novamente fazer a original.
O Uriel fez o seu indefectível comentário de finais de jantares bem sucedidos: ficou muito boa essa sua invenção!. Retruquei rapidamente que não era invenção, que eu tinha seguido uma receita, mas nem eu mesma fiquei convencida dos meus fracos argumentos.

Pleasantville não existe

Passei a manhã fora, pondo em dia minhas consultas médicas. Quando cheguei no trabalho à tarde fui avisada por um dos meu colegas, em tom pesaroso, que talvez eu me chocasse com os acontecimentos mais recentes. O que foi, por acaso roubaram os computadores de novo? A resposta foi afirmativa. Quer dizer, desta vez roubaram só o meu computador no nosso prédio e outros trinta num prédio próximo. Pelo menos agora a polícia mexeu a bunda e tirou impressões digitais do local. Meu desk ficou uma nojeira, até a minha caneca de beber água estava cinza do pó que eles usam pra coletar as evidências. Eu não testemunhei o forrobodó e quando cheguei já tinham montado um esquema provisório com um laptop e um monitor e até o meu computador novo já tinha sido encomendado. Vou ganhar o novíssimo IMac, mas desta vez nem estou festejando, pois parece que os criminosos estão atrás mesmo é desses Macs super condensados, fáceis de carregar, sem torre e com um bom valor de mercado. Santa sacanagem! Fiquei praticamente a tarde toda arrumando zilhões de coisas que ficaram zoneadas, sem falar que dessa vez perdi trabalho de dois dias. O trabalho eu refaço, mas não consigo me conformar com a facilidade com que essa gente entra e rouba coisas numa universidade dessa magnitude. O segundo roubo em pouco mais de um mês. Somos uns iludidos. Melhor todo mundo começar a acordar, pois não vivemos em Pleasantville—local que na verdade nunca existiu.