Fui até comprar um espremedor de batata, que eu não tinha, pra poder fazer essa receita que a Neide Rigo publicou, depois de ter feito uma aula com a chef Ana Soares. Achei tudo notávelmente singelo, com os fiozinhos de massa no caldo da sopa. Iria ser a primeira refeição completa que eu iria preparar para comer finalmente acompanhada. Um dos problemas mais sérios que eu encontro para seguir receitas é a falta de preparação. Nem sempre temos todos os ingredientes necessários e nem sempre temos tempo para fazer as comprinhas imprescindíveis. Eu jurava que tinha uma caixa de caldo de legumes na despensa, mas quando fui ver percebi muito tardiamente que não tinha. Quase joguei a toalha, mas todo mundo sabe que não sou dessas. Analisei minhas possibilidades e vi que tinha uma quantidade razoável de molho purissimo de tomates da minha horta e resolvi foi fazer a minha versão do passateli, que acabou se transformando em outra coisa—mas não menos apetitosa!
A receita da chef Ana Soares, publicada pela Neide:
Passateli ao perfume de limão siciliano
200 g de pão francês seco, ralado
200 g de parmesão ralado
Raspas de limão siciliano a gosto (ou outro, se preferir)
3 ovos inteiros
Gemas até dar o ponto
30 g de manteiga amolecida
Sal e pimenta-do-reino a gosto
Noz moscada ralada a gosto
1,5 litro de caldo de carne
Legumes picados a brunoise
Numa tigela grande, misture a farinha de pão, o queijo parmesão e as raspas. À parte, bata os ovos com a manteiga e despeje na tigela, mexendo bem. Vá juntando gemas até conseguir uma mistura cremosa e firme (que possa passar no espremedor de batatas). Cubra e deixe na geladeira por 15 minutos. Aqueça o caldo de carne desengordurado, coloque a massa dentro do espremedor de batatas e vá apertando, deixando cair sobre o caldo fervente os fiozinhos de massa. Junte os legumes (cenoura, salsão e abobrinha em cubinhos mínimos) e cozinhe por mais dois minutos.
A minha versão:
Passateli ao perfume de limão siciliano
200 g de pão rústico seco, ralado
200 g de parmesão ralado
Raspas de limão siciliano a gosto (ou outro, se preferir)
3 ovos inteiros
30 g de manteiga amolecida
1,5 litro de molho de tomate
1/2 cebola
óleo, azeite, sal
Numa tigela grande, misturei a farinha de pão, o queijo parmesão e as raspas de limão. À parte, bati os ovos com a manteiga e despejei na tigela, mexendo bem. Decidi não acrescentar mais gemas e ver no que dava. Cobri a tigela com um pano e deixei na geladeira por 15 minutos. Refoguei meia cebola picadinha numa colher de óleo vegetal e um fio de azeite. Acrescentei o molho de tomate, sal a gosto e uma pitada de açúcar. Deixei engrossar um pouco. Passei a massinha pelo espremedor de batata direto no molho. Deixei cozinhar uns minutos, desliguei o fogo e tampei a panela. Ficou uma sopa bem grossa. Não ficaram fiozinhos como imaginei na sopa da chef Soares. Avalio que o molho encorpado de tomate, o pão mais grosso e a ausência de algumas gemas foi o que fez a diferença.
A receita tinha absolutamente tudo para dar errado, começando com um acidente ensanguentado logo no início da preparação, quando ralei a tampa do dedão no super ralador e tive que interromper todo o processo até conseguir controlar o sangue e a dor. Com um band-aid porcamente colado na ponta do polegar e xingando a bruta falta de sorte de ter que fazer o resto do jantar com o dedão da mão direita empinado, continuei firme. Quando vi o resultado, com aquele visual encorpadão da sopa e sem nenhum fiozinho charmoso se revelando, tive vontade de chorar—mais um jantar arruinado! Mas quando servi e começamos a comer, que deliciosa surpresa! Ficou uma sopa de tomate bem substanciosa e saborosa, com um hint do limão que fez toda a diferença. Acho que reinventei a receita acidentalmente, mas ainda vou tentar novamente fazer a original.
O Uriel fez o seu indefectível comentário de finais de jantares bem sucedidos: ficou muito boa essa sua invenção!. Retruquei rapidamente que não era invenção, que eu tinha seguido uma receita, mas nem eu mesma fiquei convencida dos meus fracos argumentos.