mãos aos talheres

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Quando penso que em muitas culturas não se usa talheres. Um dia vou ter tempo de fazer uma pesquisa, para descobrir como e quando eles se popularizaram na sociedade ocidental. Gosto tanto deles, da utilidade de não deixar nossas mãos e dedos engordurados e cheirando à comida. Gosto particularmente dos de design simples e dos que desempenham o seu papel com eficiência, como exemplo a faca que realmente corta. Também gosto dos de madeira e dos antigos, que quando posso garimpo nas lojas de segunda mão ou antiguidades.

deu um baita cansaço

São aquelas fases de extremo cansaço que nos pegam desprevenidos e nos dão uma rasteira bem dada. Estou assim, me sentindo cansada e tendo um episódio atrás do outro de trapalhadas, acidentes, esquecimentos, tropeções, avoamentos gerais. Tudo, absolutamente tudo que eu vou fazer tem dado confusão. Uma dose extra, do que já é normalmente confuso.

O Uriel avisou que estava no meio de uns testes e que não viria jantar. Resolvi então fazer apenas um snack pra mim. Antes tive que dar um pulo no supermercado, pois a lista de falturas já estava longa. Lá vi dois itens perfeitos para o meu lanchinho da noite—umas azeitonas recheadas com gorgonzola e uma pimentinha meio adocicada chamada peppadew, que eu quis experimentar. Coloquei as azeitonas e as pimentas na embalagem, peguei meu bloquinho e caneta para anotar o nome, guardei de novo na bolsa e segui em frente com as compras. Deixei o potinho em cima do balcão. Só fui notar—sorvetada na testa—quando cheguei em casa e não achei as coisinhas nos pacotes. Desaforo! Guardei as compras e voltei no supermercado. Nesse vai e vem gastei quase duas horas.

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Mas fiz meu pratinho de gostosuras—salada verde, fatias de queijo brie, damascos secos, figos no balsâmico, as azeitonas, as pimentinhas, framboesas e uma fatia de pão sour dough fresquinho. Acompanhou uma taça de vinho branco. Quando terminei de comer o cansaço já tinha triplicado e tomado conta de todas as partes do meu ser, incluindo mente e alma. Enrolei o quanto pude, mas tentar resistir foi inútil. Subi para tomar um banho e me refugiar na minha cama aconchegante, assistindo meus filmes favoritos. Ainda eram apenas oito e meia da noite e havia claridade lá fora, tive que realmente me esforçar pra aguentar mais um pouco acordada. Dormir às oito e meia da noite é um exagero. Consegui manter os olhos abertos até às nove e meia, quando virei de lado e enquanto Fred Astaire e Ginger Rogers sapateavam pela tela da tevê, eu capotei.
Estou me sentindo assim, não tem jeito, mas pelo menos hoje tenho uma grande motivação e estou corneteando: THANK GOD IS FRIDAY!

as grandonas são charmosas

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A maioria das minhas xícaras para o café com leite do dia-a-dia são bem grandes. Beber café com leite em xícarazona é uma mania que eu tenho há tanto tempo que nem lembro como e quando adquiri. Tenho xícaras de tamanho normal, que uso quando tenho visitas. São as grandonas, porém, que entram na roda de samba das nossas manhãs. E são xícaras com píres, não mugs—não sou muito fã das mugs, embora tenha alguns jogos delas.

Esse trio da foto é quase uma aberração de tão grandes. São lindas e ótimas pra migrar do café com leite para uma variedade de sopas. Adaptar é preciso, sem nunca, never, jamais, perder a classe e a pose.

Sayra’s cornbread

Como um simples cornbread pode se transformar numa peregrinação de dois dias? Eu explico: queria fazer um cornbread, porque já estou com uma abundância de espigas de milho na geladeira. Mas fazer um cornbread não é tarefa tão simples, quando você tem uma dezena de livros de receitas norte-americanas, metade deles com receitas de famílias sulinas. São inúmeras variações dessa maravilhosa iguaria, que pode ser feita de diversas maneiras, salgada ou doce. Passei dois dias folheando livros, procurando a receita exata, que preenchesse os requisitos do que eu queria fazer.

*parênteses: preciso parar de comprar livros.

No final da extensa busca, encontrei o que eu queria no livro Sundays at Moosewood Restaurant. Invés do cornmeal comum, usei o stone ground blue cornmeal, que é feito com o milho azul e vira uma farinha de cor azulada, puxando pro indigo. O resultado fica bem interessante, pois o bolo fica mais escuro, com pontinhas azuladas. Para usar o milharal, resolvi rechear o cornbread com os grãos. Ficou bem gostosinho.

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2 ovos
1 xícara de leite ou buttermilk
1/2 xícara de óleo
3/4 colher chá de sal
1/4 xícara de açúcar mascavo – opcional, não usei
4 colheres de chá de fermento em pó
1 xícara de cornmeal amarela ou branca * usei azul
1 xícara de farinha de trigo [pode usar 1/2 comum, 1/2 integral]

Pré-aqueça o forno em 400ºF/205C. Numa vasilha grande bata com o batedor de arame os ovos, leite, óleo, sal e açúcar, se for usar. Bata bem. Acrescente o fermento e bata até formar uma espuminha. Coloque a farinha e o cornmeal. Bata bem até ficar bem lisa. Coloque numa forma untada e asse por uns 20 minutos. Eu recheei com milho cozido – uma espiga, que fervi e raspei com a faca, bastante salsinha picada e cubinhos de queijo monterey jack.

Asheville , 10 — China, 0

Fiquei totalmente horrorizada lendo essa reportagem do New York Times sobre o fechamento de um monte de fábricas de alimentos na China. A história toda começou a vir à tona, quando animais começaram a morrer aqui nos EUA contaminados com uma comida produzida no Canadá com matéria prima vinda da China. Eu evito o máximo que posso comprar produtos made in china, mas está ficando cada vez mais difícil, pois parece que o mercado norte-americano está totalmente dominado pelos chineses. É um choque ver uma cultura tão rica ser totalmente corrompida pela sede de lucro e poder. Eu estou sempre ouvindo que em breve a China será a maior potência mundial, superando os EUA. Quando isso acontecer eu espero estar morta.
Mas nem tudo são horrores neste mundo. E existe sim a possibilidade de uma economia sustentável, sem sweatshops, salários micros, exploração, e política desonesta. A Kate Hopkins do Accidental Hedonist publicou essa história muito legal dessa cidadezinha e depois publicou mais um artigo argumentando uma critica. Vale a pena ler os dois textos dela e descobrir que há muita gente repensando os velhos e carcomidos modelos de economia capitalista, que visivelmente não são os caminhos que vão nos levar a construir um mundo melhor.

nem queira saber…

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Não canso de bradar a minha admiração pelas pessoas que cozinham bem, aquelas que jogam uns ingredientes quaisquer na wok e transformam tudo numa refeição digna de restaurante. Aquelas que fazem num instantinho um bolinho de três camadas com cobertura. Aquelas que conseguem impressionar sem esforço. Pois eu, mis amis, eu sou daquelas que tem que se concentrar muito antes de entrar na cozinha, esvaziar a mente, meditar, cantar mantras, let go. E não pode fazer nada muito complicado, nada que tenha mais que dois passos ou mais que quatro ingredientes, nada que implique no uso abusivo do elemento fogo ou dos utensílios cortantes. Tudo tem que ser feito com um cuidado extremo, para o resultado final ficar apenas razoável.

Pois lá fui eu usar a gadget nova de despolpar abobrinha, toda pimpona, me achando a bacana, porque iria INVENTAR uma receita, take that Heidi Swanson! Comecei muito bem, despolpando excelentemente o legume. Piquei a polpa e misturei com grãos de milho que raspei da espiga com a faca afiada. Piquei um quarto de cebola, refoguei na manteiga, joguei a abobrinha e o milho, uma pitada de sal, um pingo de leite, deixei amolecer. Enquanto isso moí um punhado de amêndoas e piquei um outro punhado de ciboulettes. Quando os legumes ficaram molinhos, desliguei o fogo e resolvi acrescentar uma pitada de pimenta cayenne.

Nisso o Uriel chegou e me distraiu perguntando do dia. Eu estava começando a contar as estrepolias do Roux, que está tendo uma certa dificuldade para se adaptar ao banheiro-robô, e falando e olhando pra ele abri o vidro da cayenne pelo lado errado jogando de uma virada só metade do pote dentro do refogado!

Meu prático marido sugeriu rapidíssimo—vamos comer fora! Eu me recusei a desistir daquilo. Retirei com cuidado a parte grossa da pimenta, acrescentei a amêndoa moída e as ciboulettes e joguei um potinho de sour cream na mistura, pra ver se refrescava a quentura. Recheei as abobrinhas e pus no forno. Foi daí que me deu um cansaço, um desânimo, um desalento e acabei jogando a toalha—tá, pega um macarrão lá no Fuzio. Em dez minutos estávamos jantando o macarrãozinho do restaurante. A abobrinha recheada assou, mas eu ainda não tive as caras de provar. Talvez amanhã…

for the times they are a-changin’

TRUST

Na Swanton Berry Organic Farm em Davenport, nos deliciamos com os morangos orgânicos colhidos na hora, mergulhados no chocolate, transformados em sorvete cremoso, cheese cakes e tortas, acompanhados de bolo e chantilly. A fazenda de morangos não usa mão de obra barata [imigrantes ilegais] e tem um sistema de pagamento self service na sua lojinha de comilanças: você pega o que quer e deixa o dinheiro numa caixinha. Pega o troco se precisar, ninguém vem conferir. Confiança é uma palavra em desuso, mas não completamente obsoleta!

Em junho de 2004 eu escrevi esse pequeno relato da visita que fizemos à uma fazenda de morangos.

Vivenciamos tantas situações similares, tanto aqui nos EUA, quanto no Canadá. Um dos exemplos acontecia na fazenda de orgânicos da UC Davis, onde eu vou buscar a cesta toda semana há uns seis anos. No inicio havia somente uma estrutura de madeira, para acomodar as dezenas de cestas e protegê-las do sol. Com o tempo, atos de surrupiagens começaram a acontecer e então a administração da fazenda colocou uma porta de correr na estrutura de madeira, para os meliantes não verem as cestas que ficavam ali expostas. Passaram-se uns anos e os roubos continuavam acontecendo, até que a administração resolveu colocar um cadeado na porta durante a noite—pois muita gente vai pegar a cesta bem tarde ou no dia seguinte. Passaram-se muitos meses e algumas cestas continuavam desaparecendo misteriosamente, até que a administração decidiu deixar o cadeado nas portas o tempo todo.

Fui pegar a minha primeira cesta do trimestre de verão e não consegui abrir os cadeados. Tentei o código nos dois cadeados um montão de vezes, comecei a suar, me irritei, me enervei, estressei. Já disse aqui que eu sou uma estressadinha, que perco a paciência rapidinho quando as coisas que eram pra funcionar não funcionam? Bufei, amaldiçoei as almas dos imbecilóides que roubam as cestas e que obrigaram a administração da fazenda a tomar essa medida antipática, coisa de selva de pedra, onde ninguém confia em ninguém, tudo trancado a sete chaves. Me senti deprimida, pois percebi que o mundo está mudando e até os lugares onde havia confiança estão se fechando. Agora me diga, quem é que passa fome aqui em Davis pra roubar cestas de legumes e verduras? Só pode ser pura sem-vergonhice de estudante que mora nos apartamentos do campus perto da fazenda. Voltei pra casa toda irritada e tensa, e sem a cesta. Regressei na fazenda mais tarde com o Uriel, que com a sua incrível habilidade abriu o cadeado com a maior facilidade, assim plick-plock. O truque era dar uma puxada no dito, pra ele destravar. Toda essa história estragou a minha noite, sem falar que dá um enorme sentimento de pena, pois está ficando cada vez mais raro vivenciar situações onde a confiança predomina e a palavra vale tanto quanto um recibo.

salada morna de quinoa, espinafre e shiitake

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Essa receita saiu da edição de setembro de 2005 da revista Everyday Food. Apesar de ser servida meio quente, faz uma refeição bem leve. Ajudou a alimentar sem acrescentar aquele peso, pois eu já estava um chumbo com o acúmulo de uma sequência de pequenas chatices acontecidas no final do dia.

Warm Quinoa, Spinach, and Shiitake Salad
1/2 xícara de vinagre de vinho tinto
1/3 xícara de azeite
sal grosso e pimenta moída a gosto
1 quilo de cogumelo shiitake fresco, cortado em tiras * eu usei o crimini
1 1/2 xícara de quinoa
500 gr de mini espinafre * eu usei mini alface tipo romaine
250 gr de queijo feta em cubinhos

Ligue o broiler, ou um forninho ou grelha se nào tiver broiler. Numa vasilha misture o azeite, vinagre, sal e pimenta. Coloque os cogumelos numa assadeira e cubra com metade desse molho de vinagre. Misture bem e ponha no forno por uns 20 minutos, até os cogumelos assarem e ficarem bem sequinhos.
Enquanto isso prepare a quinoa. Lave os grãos muito bem, escorra e coloque numa panela com 3 xícaras de água e sal a gosto. Deixe ferver, abaixe o fogo, tampe e deixe cozinhar até absorver toda água.
Coloque o espinafre ou a folha verde que decidir usar numa saladeira. Adicione os cogumelos assados, a quinoa e jogue o restante do molho de vinagre. Misture e coloque o queijo feta. Sirva imediatamente.