A gente não quer só comida, a gente quer comida, diversão e arte

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Fui ao banheiro com uma banana na mão. Fiz xixi, voltei comendo e pensando como a nossa vida gira e acontece em volta da comida. Não tem muita coisa que a gente faça que não esteja relacionada à comida. Encontros, passeios, o dia-a-dia de trabalho e compromissos. Apesar de eu ir almoçar em casa, eu trago uma lancheira para o trabalho. Nela sempre tem uma fruta, uma barra de cereal, bolachas salgadas.

Meu final de semana foi super corrido e cansativo, mas todo permeado – se não baseado, em comida. O avião trazendo o meu irmão aterrisou às oito da noite em San Francisco. Ainda pegamos muito tráfego na I80, que é a interstate que liga San Francisco à Sacramento e continua até Reno, em Nevada. Aquilo está sempre abarrotado de carros. Chegamos em casa às dez e meia e fomos dormir? Claro que não, fomos jantar e conversar. Eu tinha deixado uma sopa preparada, pãezinhos e salada engatilhados. Jantamos às onze da noite, sopa, salada, pão, vinho. E conversamos até não sei que horas. Eu estava tão cansada – pois acordo às seis da manhã – que num certo ponto fiz uma coisa que normalmente nunca faria: apressei meus convidados e praticamente sugeri ao meu filho e minha nora que já era hora de ir embora.

O final de semana foi uma maratona de conversas, passeios e comida! Almoçamos em casa, um churrasco que é sempre a coisa mais prática, o Gabriel cuidou e deixou a carne bem saborosa. Fiz uma salada e batatas fritas no azeite. Ficamos papeando à mesa, bebendo vinho e depois devorando blueberries com chantily [que eu adoço com mel] e figos rami, que meu irmão trouxe na mala. À noite fomos comer mais, num restaurante italiano em Sacramento.

No domingo já foi hora de partir, rumamos novamente para San Francisco e como chegamos cedo matamos tempo conversando num café, bebendo mocha, suco de laranja, iogurte, mordiscando scones de framboesa. Nem preciso dizer o quanto fico feliz quando recebo minha família aqui, e de como me entristeço com as despedidas. Foi uma visita muito rápida, mas já deixamos planos estipulados para outra, em fevereiro, quando ele vier novamente à trabalho para Las Vegas.

Como já estávamos em San Francisco, eu quis passar no Ferry Plaza Market, que é um mercado de produtos orgânicos que foi construído no antigo porto da cidade. É um prédio lindo, na beira do oceano com vista para a Bay Bridge, cheio de lugares deliciosos para comprar e comer. Almoçamos num japonês muito bom e depois pegamos uma barca até Sausalito. Essa é uma cidadezinha do outro lado da baia, com muitas galerias de arte e lojinhas variadas. Voltamos para San Francisco e eu fiz comprinhas na Sur La Table – pra espantar o banzo de dizer tchau pro irmão! Ainda compramos pães, gelatto e voltamos para Davis. Quando chegamos em casa fizemos um lanchinho. Me digam se a vida da gente não é só comida? E um pouco de diversão e arte…

as panelas da Julia

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Um pedacinho da cozinha de Julia Child está na exposição permanente do Copia. É um painel, onde ela pendurava algumas de suas panelas e formas. Seu marido, Paul, projetou a cozinha na casa de Cambridge, Massachusetts em 1961. Ele teve que adaptar a pia e bancada à altura de Julia, que tinha meros 6’2″ – 1,89m. Nesse painel que está hoje no Copia, Paul delineou o formato de cada panela com caneta, assim Julia poderia achar mais fácil o lugar de cada uma.
A cozinha de Julia Child foi doada para o Smithsonian National Museum of American History em Washington, D.C., e pode ser explorada online no website do Julia Child’s Kitchen at the Smithsonian. Vejam nas fotos da cozinha completa, tirada ainda na casa de Julia e Paul, o painel com as panelas que hoje pode ser visto no Copia.

antes nunca do que tarde

A falta de pontualidade dominante na convivência entre as pessoas virou praticamente um pet peeve pra mim. Minha sina de ser deixada esperando é inexorável. Tenho muitos episódios nos arquivos da minha vida social. Mas o pior foi sem dúvida um que aconteceu quando eu habitava as planícies canadenses. Minha sogra estava nos visitando e para entreter a donzela eu organizei mil cházinhos, jantares, encontros, pequenos regabofes. Foi quando eu convidei esse casal mezzo brasileiro/mezzo canadense para jantar. Preparei o rango, a mesa, e sentamos na sala, eu e a minha sogreta, esperando pelos convivas. Meu marido não participou dessa, olha a sorte do gajo, porque naqueles anos ele era um enlouquecido estudante de PhD. Meu filho também cascou fora, foi fazer algo com os amigos. Ficamos lá, nora e sogra, esperando a tal família. Meia hora, uma hora, uma hora e meia, começei a pensar que o carro da turminha deveria ter rodopiado no gelo e caído no rio, matando a família inteira. Só uma coisa dessas pra desculpar um atraso de uma hora e meia. Liguei pra casa deles tremendo, pensando que também podiam estar todos mortos devido à um vazamento de gás na casa. Outra boa desculpa para o atraso de uma hora e meia. O marido canadense atende o telefone todo esbaforido. O que vocês estão fazendo, não vem jantar com a gente, a comida já está fria e seca? Ah, respondeu o husband, decidimos mudar uns móveis de lugar e fazer uma arrumação geral na casa, esquecemos do jantar! Bom, depois disso tudo perdeu a graça, Eles não estavam mortos, mas morreram pra mim. Vieram jantar a comida fria e ressecada, chegaram tão tarde que tiveram que ir embora rápido. Não deu nem pra falar o jargão, é cedo ainda, porque não era. Minha sogra ficou bravíssima. Eu fiquei putíssima. Nunca mais convidei essa gente pra nada. Se tivesse, mereceria receber um espancamento de chicote em praça pública, por ostentar tanta falta de noção e vergonha na cara.

seis

Outro convite, feito desta vez pela Elvira, que quer saber seis regras de etiqueta que eu sigo. Estou bem combinada com a lista dela:

  1. comer em família ou com amigos sempre à mesa, sem televisão ligada por perto, no máximo uma música ao fundo, nada muito alto, para não interferir na conversa.
  2. as panelas ficam no fogão. à mesa vão somente as travessas.
  3. fico bem irritada quando marco um jantar e as pessoas chegam atrasadas. pontualidade pra mim é sinônimo de boa educação.
  4. quando num jantar ou festa alguém traz um vinho ou outra bebida, eu abro e sirvo. acho deselegante guardar o regalo e servir outra coisa, especialmente se esta for de qualidade inferior. a não ser que o presente seja um vinho Sanguê De Bóa comprado por $1,99 na mercearia, caso que já aconteceu comigo. daí eu guardo pra temperar carne no dia-a-dia.
  5. sou uma libriana com vênus em virgem, então sou bem exigente com a arrumação da mesa, que deve estar sempre harmoniosa. cores harmoniosas, formas harmoniosas, equilíbrio.
  6. detesto ver garrafa de refrigerante, caixa ou galão de suco em cima da mesa. refrigerante tem que ficar na geladeira, e o suco, assim como a água, vai na jarra. só garrafas de vinho têm permissão para ficarem na mesa.

uma tradição italiana

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Lívia ajudando o pai na fazeção da macarronada

Sexta-feira vou buscar meu irmão no aeroporto de San Francisco. Ele está no Texas à trabalho e vai dar um “pulinho” até a Califórnia só pra ver a irmã dele! Eu tenho dois irmãos—os dois cozinham. Este que está chegando é o responsável pela sobrevivência da grande arte de fazer macarrão em casa, que é a tradição que vem passando de geração em geracão no lado materno da minha família.
Minha mãe aprendeu a fazer a massa de macarrão com a minha bisavó, uma imigrante italiana aportada em São Paulo no começo do século vinte. Por muitos anos fui eu a menina girando a manivela da máquina, ajudando a fazer a massa amarela ficar fininha, fininha. Depois foi a vez do meu filho Gabriel que girava a manivela enquanto a avó pegava a massa do outro lado. Muitas crianças da família giraram a manivelinha. Hoje quem gira é a Lívia, enquanto o pai dela prepara a massa. Por mais incrível que pareça, não sou eu que estou carregando a tradição pra frente. Meu irmão é hoje o dono da máquina, que ele usa todo final de semana para preparar a massa, que depois será temperada por um fabuloso molho de tomates feito em casa e devorada por toda a família—ou la famiglia, como diz meu pai, que descende de portugueses, mas já foi totalmente seduzido e dominado pela italianada. Quando eu ligo lá nos domingos logo depois do almoço, ele diz —só faltou vocês aqui e um cantor de operetas para animar mais o nosso almoço, pois o resto estava completo: macarronada, frango assado, muito vinho, adultos conversando aos berros, crianças correndo pela casa e a cachorrada latindo!

cinco

Fui convocada pelo João Pedro Diniz do Ardeu a Padaria para citar cinco coisas que eu gostaria de provar pela primeira vez ou voltar a comer antes de morrer.
Pois eu quero:
Comer e beber em Portugal – porque sou uma Guimarães
Comer e beber na Espanha – porque sou uma Rosa
Comer doces na Turquia – porque meu irmão me disse que lá comeu os melhores
Comer pizza na Itália – porque eu preciso saber
Comer pitanga, jaboticaba e fruta do conde no Brasil – porque só assim posso voltar à infância

guardanapos

Respondendo a pergunta da Lys: SIM, eu uso guardanapo de pano todos os dias em todas as refeições. Aboli o guardanapo de papel já faz alguns anos. Fiz isso naturalmente, porque acho os de pano mais bonitos, mais confortáveis e mais ecológicos. Uso no dia-a-dia, mesmo se estou sozinha. Tenho uma coleção enorme deles e dos aros – os napkin rings, que eu também adoro. Um porta-guardanapo de papel que eu tinha, tranformei em porta cartas, que fica na bancada da cozinha. Guardanapos de papel agora só para picnics no parque!

esse rango sai ou não sai?

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Eu amo os animais. Passei isso pro meu filho, que tem uma compaixão incrível e um jeito com os bichos que é de cair o queixo. Ele e a Marianne também têm dois gatos, o Tim e o Sequel. Aqui em casa eu dou risada da hora em que acordo até a hora em que vou dormir por causa dos meus gatos, Misty e Roux. Bicho é o melhor desestressante que existe. Se você está de mau humor, preocupada, chateada, com aquela cara de bunda, eles te desarmam com um pulinho, uma cara engraçada, uma estrepolia qualquer. Aqui o gato que me tranforma numa perfeita boba é o Roux, que é super carinhoso e anda atrás de mim o tempo todo. Se eu estou por perto ele nem dorme, pois precisa estar presente e atento à todos os meus passos, embora ele finja muito bem que não está nem aí. Meus gatos não gostam de colo, nem de ser agarrados, mas têm cada qual as suas particularidades simpáticas de personalidade. Hoje o Roux sentou-se à mesa, como que esperando o rango, e ficou lá com essa cara caruda e me fez rir por mais de meia hora. Eu nunca vou precisar tomar Prozac na vida!