Na lancheira de hoje: uma banana, uma barra de chewy trail mix bar de limão com cranberry, um mini-saquinho de flat pretzels, dois quadradinhos de dark chocolate, 60%, da Ghirardelli.
sete
O convite foi feito pela Tatu. Sete coisas sobre mim:
—Na adolescência trabalhei numa loja de macrobiótica.
—Choro vendo comercial na tv, olhando foto de cachorro e de gente comendo.
—Nunca fiz um regime, nem pra emagrecer, nem pra engordar.
—Tenho nojo de ovo, carnes e leite.
—Meu café com leite matinal tem que ser morno.
—Chupo gelo. Como casca de fruta. Adoro morder o macarrão semi-cru.
—Deixo sempre pra comer a melhor parte ou que que mais gosto por último.
jujube – the chinese date
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De vez em quando elas vem como treat na cesta orgânica. Sinceramente, não sei o que fazer com elas. Li que elas podem ser cozidas no açúcar, fazer uma espécie de doce em calda. Ou virar xarope. Ou até vinho. Mas eu acabo comendo elas assim mesmo ao natural ou secas. Essas jujubes têm propriedades medicinais e o gosto se assemelha um pouco ao da maçã. Uma maçã bem chumbreguinha e quase sem gosto.
nada a declarar
Minha cunhada pediu um vidro de peanut butter e uma caixa de taco shells. No inicio eu achei esse pedido meio bizarro, mas depois repensei e percebi que essas coisas são muito mais naturais quando estamos do lado requisitor do pedido. Quem não rola os olhos e faz aquela cara de deboche quando me ouve pedir um naco de goiabada cascão, um pacote de carne seca, envelopinhos de guaraná em pó, ou mesmo – o recorde da indignação e dos risinhos – uma lata de azeite Maria, que nem é azeite puro, mas misturado com óleo de soja. Ninguém explica essas bichas alimentares. Então quando alguém me pede algo, eu nunca questiono, vou comprar resignadamente.
Histórias de carregamentos estranhos de um país para o outro são super comuns.
Minha mãe é expert nesses contrabandos gastronômicos. Uma vez indo me visitar no Canadá ela enfureceu o meu irmão, quando enfiou DEZ sacos de farinha de mandioca na mala, para satisfazer o meu pedido de UM saco. Meu irmão ficou louco – mas que farofice, que coisa brega, que baixaria! Ela trouxe assim mesmo, junto com tuperwares cheios de maria-moles feitas em casa, pela empregada. Eu acabei virando a pessoa mais popular do pedaço, quando presenteei um monte de brasileiro com sacos fresquinhos de farinha. Nem se eu comesse farofa todo santo dia, iria dar conta dos dez sacos. Mas as maria-moles nós devoramos em minutos.
Numa outra vez, quando eu já estava nos EUA, ela parou primeiro em Los Angeles, pra ficar umas semanas na casa do meu irmão. Na mala, seis ovos de Páscoa para as minhas duas sobrinhas. Também trouxe a máquina de fazer macarrão e preparou uma bela macarronada lá, e outra aqui, quando o Gabriel girou a manivela mais uma vez e nós devoramos aquela delicia feita com apenas farinha e ovos, temperada com um molho de tomates grosso que só ela sabe fazer e ninguém consegue imitar.
Nos aniversários do Gabriel e natais, chegam sempre umas caixonas vindas do Brasil. Elas vem carregadas com bandejinhas de quindim, queijadinha, pé de moleque, cocada, maria-mole, olho de sogra, cajuzinho, brigadeiro. Remetente: Dona Odette Guimarães.
Quando minha mãe vai a Portugal, volta parecendo uma quitanda, carregando vidros de pimenta em conserva e garrafas de vinho na mala de mão. Uma vez ela ganhou um bacalhau enorme da sogra portuguesa da minha irmã. Levou o bacalhau pro Brasil bem embrulhado e tal. Daí veio me visitar e sugeriu trazer o bacalhau com ela. Por mais que eu adore essa iguaria e sinta falta de uma bela bacalhoada, eu a proíbi categoricamente – NADA de trazer bacalhau nenhum! Imagina, passar com um bacalhau na alfândega americana? Onde já se viu, mamãe, tá louca? Mas ela ouviu? Obedeceu? Concordou? Claro que não! Quando ela chegou, abriu a mala e me mostrou morrendo de rir um pacotão comprido: era o bacalhau! Resignada, aceitei o fato de que teríamos bacalhoada no final de semana. E assim minha mãe preparou para o nosso deleite, a receita de bacalhoada da portuguesa Dona Rosa, mãe do Luís, marido da minha irmã.
limões do limoeiro
Meu limoeiro está carregadíssimo de limões enormes, verdinhos. Estou começando a colher. Pego quando preciso de um. Eles estão bem suculentos, tenho usado para temperar salada, colocar na água e fazer limonada suiça. Esse limão verde é chamado de lime aqui. Os amarelos é que tem o nome de lemon. Mas pra mim esses são os verdadeiros limões, pois foi dos verdes que eu cresci bebendo limonada.
alguns dias são segundas-feiras
Fiquei tentando arranjar uma desculpa para todo o desastre do jantar – é que segunda-feira é um dia atrapalhado, viu, chego em casa e ainda tenho que pegar o carro e ir até a fazenda buscar a cesta orgânica, e depois tenho que separar tudo, lavar, guardar. já chego em casa super cansada, você sabe, não me sobra muito ânimo depois de um dia cheio. quando o Gabe morava aqui ele colocava as louças na máquina, deixava a pia limpa, tudo prontinho. e tirava o lixo. mas eu não entendo por que eu sou assim tão atrapalhada. Você quer que eu cozinhe? Foi a resposta em forma de pergunta que ele deu à minha lenga-lenga explicatória. Todos os meus desastres ainda são melhores do que ele tentando fritar um ovo. Ficamos do jeito que estamos, combinados então, e ele até tomou a sopa arriscando me dar um conselho – só não bebe o caldo, que o resto está comível.
pra fazer pipoca
Os treats que vem na minha cesta orgânica, ora são vários tipos de feijões, tomates secos, ramalhetes de flores e às vezes chegam as pipocas de milho amarelo ou roxo. Normalmente o milho já vem debulhado, outras vezes vem assim, na espiga. Dói o dedo para debulhar – não tenho a técnica – mas dá uma sensação boa, por poder participar de uma das etapas. E a pipoca, sem brincadeira, é uma das melhores, crocante e saborosa, feita em qualquer panela, com um pouquinho de óleo de canola ou manteiga. Eu devoro um tantão sozinha, sem culpa!
the scrapbook
O scrapbook de fotos de M.F.K. Fisher me deu uma idéia geral da vida dessa mulher, por quem eu ando totalmente fascinada. Por isso é capaz de eu ficar um pouco monónota, batendo na mesma tecla e voltando toda hora no mesmo assunto. Mas pra mim isso é necessário, pois preciso escrever sobre as coisas que me interessam, mesmo que eu corra o risco de virar uma chatonilda repetitiva.
Fisher foi uma mulher inteligente, linda, elegante e engraçada. Escrevia muito bem e por isso traduziu suas experiências e descobertas culinárias em histórias interessantes. Ainda nem arranhei a superfície da quantidade de material bacana que ela produziu. Na introdução de The Art of Eating, uma de suas filhas conta que a ouvia teclar de madrugada na máquina de escrever e diz que o barulhinho da mãe escrevendo lhe proporcionava um conforto acolhedor. Eu me identifico com a maneira de Fisher encarar a culinária e a gastronomia sem arrogância e sem firulas. Como aqueles famosos gomos de tangerina que ela secava no calor do aquecedor do hotel, e que transformaram-se numa iguaria inigualável. Ou os pequenos quadradinhos de chocolate, que ela conta ter comido acompanhados de uma fatia de pão num dia frio e tedioso num bosque na Bavária, e que ficou na memória como um dos melhores momentos gastronômicos de sua vida.
* as fotos são clicáveis e ampliáveis.
sopas de fevereiro – pro frio que vai chegar
O livro foi publicado em 1931 na Inglaterra e chama-se The Gourmets Almanac. O autor, Allan Ross Macdougall, deu uma de modernex e escreveu um livro pretendendo ser divertido, com histórinhas, curiosidades, poesias e até cifras e letras de músicas. Dividiu o livro em meses do ano e para cada um colocou uma ilustração chamativa. Fui fisgada pelo capítulo das sopas, estratégicamente colocadas no mês de fevereiro. Ele vai escrevendo sobre isso e aquilo e vai dando as receitas, daquele jeito beeeeeem pré-Martha Stewart, quando não tinha medida de nada, exatidão nenhuma e salvasse-se quem pudesse. Tudo era sugerido no olhomêtro. O almanaque era para gourmets, bem lembrado. Então nenhuma mocréia ou estrupício sem talento [cof cof] ousaria abrir, ler ou muito menos tentar trêmulamente fazer uma dessas receitas. Esclarecido esse detalhe vamos às sopas, que hoje, excuse moi, até eu que não sou gourmet nem nada me atrevo a fazer. Desejem-me sorte!
Chana Orloff’s Vegetable Soup
[O autor primeiro explica quem é Chana Orloff, mas sinceramente, não interessa… cut!] Ela tem uma sopa de legumes que eu adoro, por sua suculência e simplicidade. Ela cozinha todos os legumes cortados em pedacinhos da maneira usual e quando estiver quase pronto, ela corta uma cebola grande e frita numa manteiga até ficar marrom. Daí ela adiciona a cebola à sopa, que deve cozinhar um pouco mais. A sopa é servida assim como está, com uma colherada de creme de leite espesso em cada prato.
Rameno À L’Oignon
Essa sopa é uma variação desenvolvida pelo escultor Despiau à meira como o povo de Les Landes fazem. Você corta as suas cebolas e frita numa frigideira até ficarem marrons numa bolota de gordura de ganso [substituir esse item vai ser lasquera!]. Quando a cebola estiver boa e escura, cubra até a beira da frogideira com água fervendo e deixe ferver devagar. Adicione temperos a gosto [deve ser sal e pimenta do reino]. Torre algumas fatias de pão, uma para cada prato, e cubra cada uma com queijo ralado, colocando elas numa sopeira. Quebre um ovo e separe a gema da clara. Coloque a clara na sopa, e quando tiver coagulado tire a frigideira do fogo e só então adicione a gema. Despeje a sopa na sopeira e sirva imediatamente.
Snert or Dutch Pea-Soup
Essa excelente e inesquecível sopa de ervilhas é uma receita que vem do famoso restaurante Port Van Clef de Amsterdã. Pegue um pound de ervilhas e deixe de molho por vinte e quatro horas. Faça um caldo com um osso de rabo e adicione as ervilhas. Adicione também dois talos de salsão, três alho proós e alguma salsinha picadinha. Adicione temperos a gosto e deixe a sopa ferver ao lado do fogo por cinco horas, mexendo frequentemente. Mais ou menos duas horas antes de servir coloque na sopa várias fatias de linguiça defumada. A substanciosa mistura deve então ser servida.
Cherbah
Todos os visitantes que chegam até as não-turisticas regiões do Norte da Africa, se eles são aventureiros gastronômicos devem conhecer essa sopa. Corte um número igual de tomates e cebolas em pedaços. Frite em manteiga com um maço grande de hortelã selvagem picado grosseiramente e três pimentões vermelhos pequeno. Adicione sal e pimenta a gosto. Quando estiver escurecendo adicione 2 pints de água, um pedaço de carneiro e 4 ounces de damasco seco. Cozinhe bem devagar. Antes de servir, retire a carne e corte em pedaços pequenos, adicione vermicelli e sirva.
Mint Soup
Esta sopa é comum na Tunísia. Frite um dente de alho e algumas folhas de hortelã no azeite. Adicione água suficiente e um pouco de semolina. Vá mexendo enquanto cozinha. Bata dois ovos e coloque numa sopeira. Coloque a sopa na sopeira e sirva.
