Como descrever uma tarde na cozinha preparando um jantar para amigos, que me deixou imensamente frustrada? Resolvi fazer frango à caçadora com polenta. Acrescentei ao menu o famoso carpaccio de abobrinha e uma torta de limão meyer que vi no NY Times. Parecia tudo muito simples, tudo muito fácil. O problema é que sou uma pessoa rebelde e mereço muitas chibatadas por isso.
Migrei da receita do The Silver Spoon para outra do The New Best Recipe by Editors of Cook’s Illustrated Magazine, porque ela parecia mais bem explicada, com mais detalhes ilustrativos e portanto dando menos chances para erros. Escolhi fazer o frango com vinho branco, porque ainda tinha muitas garrafas que sobraram do Natal.
Li e reli a receita, as micro-explicações dadas pelo livro, tudo parecia sob controle, sopa no mel. Mas dei um pequeno passo em falso – me rebelei nas quantidades dos ingredientes. Ingenuamente pensei que poderia passar a perna nas onces, xícaras, unidades, gramas. E sei exatamente onde errei: coloquei muito vinho e muito tomate, o que causou uma profusão de molho que não engrossou com o tempo regular no forno e eu tive que apurar no fogo, até o ponto desastroso em que a carne do frango descolou dos ossos e virou uma gororoba assustadora, cheia de pedaços alienígenas, ossos pelados boiando, cogumelos quase irreconhecíveis, uma aparência realmente tétrica. Deu vergonha de servir aquilo aos meis convidados.
Ninguém falou nada e todo mundo comeu a sopa à caçadora, que ficou saborosa. Mas aprendi a minha liçao. Quando decidir usar uma receita, siga os ingredientes à risca [siga os ingredientes à risca, siga os ingredientes à risca, siga os ingredientes à risca, siga os ingredientes à risca,siga os ingredientes à risca, siga os ingredientes à risca, siga os ingredientes à risca, siga os ingredientes à risca, siga os ingredientes à risca, siga os ingredientes à risca, siga os ingredientes à risca!], tamos combinados?
