Histórias do cotidiano de uma pessoa comum têm que ser repetitivas. Não tem como escapar do ciclo – como as estações, os aniversários, as comemorações oficiais, os xis marcados nos calendários, as festas, as marés ou as fases da lua. Tudo vem e vai, vem e vai, vem e vai. É uma boa explicação e até uma reflexão para entender porque estou sempre escrevendo sobre os mesmos assuntos ou mostrando fotos tão parecidas.
Todo ano eu faço aniversário e publico os números dramáticos em letras garrafais, depois esfria, as folhas das árvores ficam amarelas, vermelhas, douradas e caem, acendemos a lareira, o gato quase queima os bigodes, assamos um peru que dividimos com a família no dia de agradecer, fazemos compras, ficamos com dor no lombo varrendo folhas, começa a chover, eu me acovardo da piscina, tiro fotos dos enfeites de Natal, publico um cartão e desejo tudo de bom para todos, fico aliviada quando o ano se inicia, como nove sementes de romã, reclamo que não pára de chover, reciclo, recrio, me animo com a chegada da primavera, encho o saco da humanidade com as minhas fotos de flores e, principalmente, rosas. O jasmim abre, capino a horta, planto tomates, as pestes chegam devagarzinho. O Gabe faz anos, faço o meu próprio breakfast no dia das mães, reclamo que esta ficando muito quente, nado diariamente, não tiro as havaianas legítimas dos pés, arranco mais mato, detono as pestes e colho tomates, o Ursão viaja, viaja, viaja e eu reclamo mais um pouco, as aulas e o ano recomeçam na UC Davis, eu aguardo ansiosamente uma brisa de outono, faço compras, combino uma social com os amigos, asso um bolo, vou dançar o Blues, penso no meu aniversário que já está chegando, jesus como este ano voou!
Por isso, estou parando um pouco de me incomodar com a repetição dos meus assuntos, pois a vida é terrivelmente repetitiva e não é assim que é bom?