chupando balinhas

lezoca, paulo e carlos

Fiquei de fora dessa foto e não lembro por que. Esses são os meus irmãos: Lezoca, Paulo E. e Carlos A. Os três chupando balinhas e vestindo chinelinho havaiana com meias. Meus irmãos sempre com as roupas combinando, mas eles não são gêmeos—tem um ano de diferença entre eles. Com certeza eu também tinha um vestido como esse que a minha irmã está usando, tão rendado e tão curto. Vestir filhos de idades diferentes com roupas iguais deve ter sido alguma moda dos anos setenta.

**pensando bem, tenho quase certeza que eu não saí na foto porque estava na cozinha atormentando a Cida. querem apostar quanto?

smörgåsblergh

Porque a colheita não pode esperar, o Uriel chegou e já viajou novamente. Nenhuma novidade nisso. Sozinha outra vez, eu não planejava nada especial para o jantar. Quando o Gabriel me convidou para ir até a IKEA com ele, eu topei já pensando que poderia bater um rango por lá. A IKEA não é um lugar pra se visitar no meio da semana, depois de um dia intenso de trabalho com o final coroado por uma pedalação enlouquecida tentando, sem sucesso, chegar em casa antes da chuva desabar. Mas mesmo assim eu fui, pois convite de filho é difícil de recusar. Ele foi comprar um monte de coisas pra casa dele. Eu não precisava comprar nada, mas quem sou eu pra tentar resistir à um apelo consumista com design escandinavo? Acabei comprando um par de coisas nada necessárias, porque afinal de contas eu preciso ajudar o dono da IKEA—que é o homem mais rico do planeta—a ficar mais rico ainda. No meio das compras sentamos para jantar no restaurante da loja. Tava realmente difícil escolher alguma coisa pra comer ali. Eu já tive experiências um pouco melhores no restaurante da IKEA. Vai ver era o horário. Eles têm aquele sistema de bandeja, pratos frios e sobremesas ajeitados nas prateleiras com tampa de vidro que você abre e pega o que quer, além dos pratos quentes que ficam ali nos chafers não sei por quantas mil horas. Eu não confio nesse tipo de disposição de comida. Aliás, eu não confio em disposição de comida de jeito algum. Caminhei com a bandeja pelo corredor das supostas delicias e fui me apavorando com o visual do rango exposto. Se chamamos a comida que nos desperta desejos e nos faz salivar de porn food, aquilo que eu vi na IKEA era a visão escarrada do horror food. Tudo com cara de que foi preparado na noite anterior. Vai uma torta sueca de maçã ressecada ou um mousse murcho de lingonberry? Arrisca num sanduba suspeito de camarão e ovo? E aquele salmão desbotado com legumes? O Gabriel foi de bolinhas de carne suecas, que vêm acompanhadas de batatas cozidas. Essas meatballs são uma delicia se você fizer em casa ou comprar o pacote delas congeladas na lojinha da IKEA e assar na hora, com batatas cozidas fresquinhas. Mas as que eles estavam servindo lá, sei não… Eu acabei pedindo um pratinho de frango e batatas fritas, que era o que tinha cara de estar mais fresco. Não foi um jantar digno de nota, apesar da agradável companhia do meu filho Gabriel e da nossa amiga Melissa.

minha versão do passateli ao limão

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Fui até comprar um espremedor de batata, que eu não tinha, pra poder fazer essa receita que a Neide Rigo publicou, depois de ter feito uma aula com a chef Ana Soares. Achei tudo notávelmente singelo, com os fiozinhos de massa no caldo da sopa. Iria ser a primeira refeição completa que eu iria preparar para comer finalmente acompanhada. Um dos problemas mais sérios que eu encontro para seguir receitas é a falta de preparação. Nem sempre temos todos os ingredientes necessários e nem sempre temos tempo para fazer as comprinhas imprescindíveis. Eu jurava que tinha uma caixa de caldo de legumes na despensa, mas quando fui ver percebi muito tardiamente que não tinha. Quase joguei a toalha, mas todo mundo sabe que não sou dessas. Analisei minhas possibilidades e vi que tinha uma quantidade razoável de molho purissimo de tomates da minha horta e resolvi foi fazer a minha versão do passateli, que acabou se transformando em outra coisa—mas não menos apetitosa!

A receita da chef Ana Soares, publicada pela Neide:
Passateli ao perfume de limão siciliano
200 g de pão francês seco, ralado
200 g de parmesão ralado
Raspas de limão siciliano a gosto (ou outro, se preferir)
3 ovos inteiros
Gemas até dar o ponto
30 g de manteiga amolecida
Sal e pimenta-do-reino a gosto
Noz moscada ralada a gosto
1,5 litro de caldo de carne
Legumes picados a brunoise

Numa tigela grande, misture a farinha de pão, o queijo parmesão e as raspas. À parte, bata os ovos com a manteiga e despeje na tigela, mexendo bem. Vá juntando gemas até conseguir uma mistura cremosa e firme (que possa passar no espremedor de batatas). Cubra e deixe na geladeira por 15 minutos. Aqueça o caldo de carne desengordurado, coloque a massa dentro do espremedor de batatas e vá apertando, deixando cair sobre o caldo fervente os fiozinhos de massa. Junte os legumes (cenoura, salsão e abobrinha em cubinhos mínimos) e cozinhe por mais dois minutos.

A minha versão:
Passateli ao perfume de limão siciliano
200 g de pão rústico seco, ralado
200 g de parmesão ralado
Raspas de limão siciliano a gosto (ou outro, se preferir)
3 ovos inteiros
30 g de manteiga amolecida
1,5 litro de molho de tomate
1/2 cebola
óleo, azeite, sal

Numa tigela grande, misturei a farinha de pão, o queijo parmesão e as raspas de limão. À parte, bati os ovos com a manteiga e despejei na tigela, mexendo bem. Decidi não acrescentar mais gemas e ver no que dava. Cobri a tigela com um pano e deixei na geladeira por 15 minutos. Refoguei meia cebola picadinha numa colher de óleo vegetal e um fio de azeite. Acrescentei o molho de tomate, sal a gosto e uma pitada de açúcar. Deixei engrossar um pouco. Passei a massinha pelo espremedor de batata direto no molho. Deixei cozinhar uns minutos, desliguei o fogo e tampei a panela. Ficou uma sopa bem grossa. Não ficaram fiozinhos como imaginei na sopa da chef Soares. Avalio que o molho encorpado de tomate, o pão mais grosso e a ausência de algumas gemas foi o que fez a diferença.

A receita tinha absolutamente tudo para dar errado, começando com um acidente ensanguentado logo no início da preparação, quando ralei a tampa do dedão no super ralador e tive que interromper todo o processo até conseguir controlar o sangue e a dor. Com um band-aid porcamente colado na ponta do polegar e xingando a bruta falta de sorte de ter que fazer o resto do jantar com o dedão da mão direita empinado, continuei firme. Quando vi o resultado, com aquele visual encorpadão da sopa e sem nenhum fiozinho charmoso se revelando, tive vontade de chorar—mais um jantar arruinado! Mas quando servi e começamos a comer, que deliciosa surpresa! Ficou uma sopa de tomate bem substanciosa e saborosa, com um hint do limão que fez toda a diferença. Acho que reinventei a receita acidentalmente, mas ainda vou tentar novamente fazer a original.
O Uriel fez o seu indefectível comentário de finais de jantares bem sucedidos: ficou muito boa essa sua invenção!. Retruquei rapidamente que não era invenção, que eu tinha seguido uma receita, mas nem eu mesma fiquei convencida dos meus fracos argumentos.

The Hidden Kitchen

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A Elise organizou a nossa visita ao The Hidden Kitchen comandados pelo casal Dennis e Mary Kercher. Eu estava muito entusiasmada para participar desse evento, que agrupou doze foodies, entre food bloggers, criticos e profissionais da gastronomia. Eu disse doze, mas minha irritante modéstia insiste em baixar esse número para onze. Não consigo ainda me considerar uma foodie e quando estou com o grupo de Sacramento, que queira ou não eu faço parte pois moro aqui e mantenho um blog, sempre fico me sentindo a prima estrangeira que chegou ontem do Cafundoquistão.
Me esforcei à beça pra chegar no horário marcado e não confirmar aquele boato absurdo e falso divulgado à torto e à direito por bocas de matildes de que brasileiro chega sempre atrasado. Estacionei meu carro na frente da charmosa casa num bairro tradicional de Sacramento, daqueles com casinhas de filmes antigos e ruas e quintais completamente tomados por árvores ancestrais. Fui recepcionada alegremente pelo casal que cozinha e recebe os amigos para um jantar caprichado. Conheci a cozinha toda equipada do Dennis e da Mary, a simpática cachorrinha Baci e recebi uma taça com um refrescante espumante rosado. Nós ficamos no pateo da casa, com um jardim lindo ao fundo e todo decorado com velas. Conversamos muito durante o jantar. É muito difícil o papo ficar chato num um grupo de doze pessoas com o mesmo interesse. Nem preciso dizer que o tema de todas as conversar da noite foi apenas um: COMIDA.
O Dennis e a Mary serviam os pratos e explicavam os detalhes. Estava tudo muito gostoso e a atmosfera estava divina. Nós levamos o vinho, que foi dividido entre todos. O vinho que abriu o jantar foi o português tinto que eu levei e que todos gostaram. Eu bebi muito moderadamente, pois sabia que teria que dirigir de volta para Davis. Mesmo assim não deixei de beber um vinho de uma vinícola biodinâmica, que estava extremamente saboroso. Durante o jantar a Elise jogava na mesa perguntas como qual a sua lembrança mais antiga de comida ou qual a iguaria mais estranha que você adora comer, mas tem vergonha de confessar. Eu, que detesto esses tipos de joguinhos grupais e tenho horror de falar para uma aglomeração de mais de três pessoas, fico um pouco tensa. Prefiro a relaxada conversa tête-à-tête com os convivas sentados ao meu lado ou na minha frente, mas mesmo essa parte não muito divertida do jantar pra mim acabou sendo interessante, pois cada um falou da sua experiência e eu falei da minha também.
Eu gostei de quase tudo que foi servido. Até o atum semi-cru, que eu temia, estava bem gostoso, pois a porção estava micro. Só não consegui comer o ratatouille, porque ele tinha um molho e uma textura que me deu um engasgo e foi servido bem na hora que todos falavam das coisas horrorendas que não conseguem comer. Eu ouvia as declarações mais bizarras e pensava em mais coisas bizarras ao mesmo tempo que visualizava o carneiro ensanguentado nos pratos de absolutamente todos os convivas—menos no meu, pois eu implorei por bem passado. Com tudo isso rolando, o ratatouille simplesmente me deu um bleargh, mas foi a única coisa.
*seared ahi sliders with sweet potato frites and mango ketchup
os canapés de ahi tuna estavam muito gostosos, porque vieram numa porção pequena. a batata-doce estava deliciosa, nem precisou do ketchup de manga.
*gorgonzola grape galette with watercress & arugula
a salada de rúcula e agrião foi temperada com meyer lemon da árvore do jardim. estava perfeita! e da maravilhosa galette não sobrou uma farofa.
*gnocchi verdi with garden fresh pesto genovese
o gnocchi foi feito com espinafre e ricotta, sem batata. estava levíssimo. comentei com a crítica de gastronomia que esse prato deu de mil no muito semelhante que eu comi num dos restaurantes italianos mais famosos e caros daqui da região e que foi uma decepção, pesado e oleoso. o do Dennis estava perfeito, com o pesto clássico feito com manjericão da horta dele.
*rosemary rack of lamb, ratatouille ala grille, corn cakes
carneiro é aquela coisa: ou você gosta, ou você não gosta. eu acho uma carne difícil, que nem sempre fica boa, eu acho muito forte e pesada. mas gostei dessa preparada pelo Dennis com alho, alecrim, confit de limão e grelhada na churrasqueira. os bolinhos de milho estavam uma delicia e o Dennis confessou que usou um pouco de gordura de pato na massa. veio acompanhado de um dos mais delicados tapenades que eu já provei.
*grappa brown sugar panna cotta with grape gelée
muito difícil uma panna cotta ficar ruim. essa, não quebrou a regra. a geléia de fruta que acompanhou o creme me lembrou alguma coisa da minha infância.
No final fomos servidos de café e licores feitos em casa—limão, morango e café. Eu já tinha provado o de limão na casa da Elise e escolhi o de morango. A essa altura eu já estava horrivelmente exausta, não só pelo dia atrapalhadíssimo que eu tive, que se iniciou cedíssimo e que teve despedidas de amigos no aeroporto, mas também pela comilança toda. Cheguei em casa tarde da noite e ainda trouxe comigo apple butter feita pela Elise e mais favas de baunilhas que o Garrett colocou furtivamente na minha bolsa. Foi uma noite memorável, com um grupo muito bacana e uma comida excepcional.

romeo & giulietta
[ice-cream romance]

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Tava lá um pedaço de goiabada cascão dando sopa e aquele mascarpone que sobrou de outra receita, o que imediamente propiciou que me cutucassem as lombrigas cheias de determinação: sorvete, sorvete, sorvete! Fiz então o sorvete de goiabada com queijo, que ficou puro deleite.
Meio bloco de goiabada cascão cortada em cubos e derretida com um pouco de água, 1 xícara de mascarpone, que pode ser substituido por qualquer queijo cremoso, 1 xícara de creme de leite fresco, 1 xícara de leite. Misturar os ingredientes até eles ficarem bem incorporados. O creme de goiabada deve estar frio. Deixe essa mistura gelar por algumas horas, se quiser. Coloque na sorveteira ou faça manualmente, congelar, bater, congelar, bater, congelar, bater. Minha goiabada não derreteu cem por cento e o sorvete ficou salpicado de micro-pedacinhos do doce. Hmmm!

fatos históricos que adoramos aprender

O restaurante Chez Panisse em Berkeley, Califórnia, serviu o seu primeiro jantar inaugural em 28 de agosto de 1971. O menu único teve pâté en croûte como entrada, canard aux olives e uma salada como prato principal, uma torta de ameixas de sobremesa e café. O preço, também fixo, era de $3.95. Alice Waters ainda estava martelando um tapete na escada quando os primeiros comensais começaram a chegar. Eram na maioria amigos e ela os recepcionou naquele dia usando um vestido antigo de renda beige. Um enorme vaso com flores decorava a entrada. Cinco garçons passaram a noite trombando entre si, enquanto tentavam servir os clientes jantando no pequeno salão, com poucas mesas arranjadas com toalhas xadrez de vermelho e branco, louça e talheres de segunda-mão descombinados. Os vinhos servidos naquela noite foram Mondavi Fumé Blanc, Mondavi Gamay e um Sauternes, Château Suduiraut, vendido por copo. A caótica cozinha foi comandada pela chef Victoria Kroyer. Antes de ser contratada por Alice, Victoria fazia pós-graduação em filosofia na UC Berkeley e nunca tinha trabalhado num restaurante. Sua única experiencia com culinária era os jantares que ela preparava na sua própria cozinha. No final da noite, 120 refeições foram servidas, nem todas foram pagas. Clientes aguardavam na calçada, quando Alice avisou—desculpem, mas não temos mais comida, voltem amanhã. Faltou talheres e no dia seguinte Alice percorreu todos os flea markets da cidade, buscando por mais talheres antigos e o número de garçons baixou para três, o que tornou o serviço mais eficiente. O nome Chez Panisse foi uma homenagem ao personagem Honoré Panisse da trilogia Marius, Fanny, and César do diretor francês Marcel Pagnol, de quem Alice era fanzoca.

a beleza das coisas pequenas

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Anos atrás eu peguei a mania de olhar pratinhos para colocar o wasabi e o shoyo no serviço de sushi. Eles são realmente umas fofuras, redondos, quadrados, retangulares, em formato de flores, frutas, legumes, decorados com desenhos ou apenas coloridos. Comprei alguns, mas não fui pra frente com a coleção, o que é uma coisa pra se repensar. Hoje olhei pra eles e me encantei mais uma vez com a delicadeza e com a beleza de cada um deles. Foi uma visão confortante, para um dia onde o meu corpo vai estar se locomovendo por Davis, fazendo o que é necessário fazer, mas meu pensamento e meu coração vai estar co o Uriel e com a família dele em Campinas. Uma pequena contribuição simbólica, mas com todo o meu amor.

bolo de milho com coco

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Cheguei em casa com uma hora e meia para preparar um rango legal para levar no picnic. Já tinha decidido que iria fazer umas tortinhas de tomate e iria usar umas massas de pãezinhos quebra-galhos que eu tinha na geladeira. Nem preciso dizer que os planos afundaram, pois as massinhas estavam com a validade vencida. Acabei fazendo uma salada pseudo-grega, sem queijo feta, porque não tinha. Mas daí inventei que iria fazer um bolo de milho—outro bolo de milho. Estou com um estoque de espigas considerável dentro da geladeira e algumas já estão com um cheiro de fermento, tanto que fiquei receiosa de usá-las. Mas decidida estava eu que esse bolo iria sair de qualquer jeito. Procurei por receitas em websites brasileiros, que infelizmente ainda publicam os ingredientes com medidas genéricas como uma lata de milho, um pacote de coco ralado e nenhuma dica de temperatura de forno ou tempo de cozimento. Adaptei como pude e coloquei o bolo pra assar, torcendo para dar tempo de levá-lo para o picnic. Obviamente que não deu e eu desliguei o forno com o bolo ainda com uma cara empalidecida lá dentro. Quando eu e o Gabriel chegamos do picnic às nove da noite, cortamos o bolo, devoramos muitas fatias e ele levou outras mais para casa. Ele achou que o bolo não ficou doce o suficiente, mas eu achei perfeito. Pra quem quiser mais doçura, sugiro acrescentar uma boa dose de mel na hora de servir.

500 gr de milho fresco ralado
1 lata de leite condensado
1 lata do leite condensado cheia de leite
2 ovos
2 1/2 xícaras de farinha de trigo
1 xícara de coco ralado
1 1/2 colher de sopa de fermento em pó – químico

Bater o milho, o leite condensado e os ovos no liquidificador. Colocar essa mistura numa vasilha grande e acrescentar a farinha de trigo e o coco ralado. Misturar bem com um batedor de arame. Por último acrescentar o fermento em pó. Colocar a mistura numa forma untada com manteiga e farinha e assar por uns 40 minutos em forno pré-aquecido em 365F/ 185C.