as originais
No furacão desse modismo das carnavalescas Crocs, continuo fiel às minhas discretas e velhissimas Birkenstocks, que têm acomodado meus pés confortavelmente [e ortopedicamente] por muitos anos, com muita eficiência.
55º – Sacramento
Ficamos sabendo desse evento que acontece em cidades como San Francisco, New York e também em Sacramento—Dine Downtown, quando os restaurantes finos da cidade fazem uma semana de prix fixe menu. Com trinta dólares por cabeça, pode-se jantar um menu de três courses num dos restaurantes high-end de downtown Sacramento. Combinamos com um casal de amigos de irmos juntos e ela escolheu o 55º.
O restaurante fica na Capitol Mall, uma avenidona que desemboca no Capitol, a imponente sede do governo da Califórnia, onde o simpático Arnaldão trabalha. É o cartão postal da cidade. O 55º é pequeno e tem um estilo moderno. Pedimos nossas opçõoes do cardápio de preço fixo—dungeness crab cake, saffron mussel soup, steak of certified angus beef with lemon parsley butter and frites, wild mushroom risotto with mascarpone, parmesan reggiano e black truffles oil, créme brulée e sorbet de frutas.
A nota que demos para a comida foi sete. Isso porque nosso amigo realmente gostou da carne, para a qual eu torci o nariz. Achei que o angus beef estava com um sabor um pouco forte pro meu paladar não muito carnívoro. E as fritas estavam um pouquinho oleosas, talvez por causa da manteiga de limão. O bolinho de carangueijo estava muito bom e quem pediu a sopa de mariscos também gostou. O risotto foi uma decepcão e o créme brulée não entusiasmou. Nós levamos o nosso próprio vinho escolhido pelos nossos amigos, um cabernet savignon da vinícola J. Lohr e pagamos a corkage fee. Não foi um jantar memorável, mas também não foi um jantar ruim. Talvez a qualidade da comida tenha decaido um pouco por causa do menu fixo. Só assim estaria desculpado um restaurante tão caro servir uma comida tão mediana.
panna cotta com purê de damasco
Quando você abrir a porta do armário da despensa e um pacote de damascos secos cair na sua cabeça, encare essa fatalidade como um sinal dos deuses e prossiga, colocando os damascos numa panela com bastante água e um pouquinho de nada de açúcar. Deixe cozinhar até virar um purê, que você não vai se arrepender.
Avance, abrindo a geladeira e se certificando mais uma vez de que você exagerou e comprou muito creme de leite fresco pras festividades do final do ano. Odiando qualquer tipo de desperdício, decida aqui e agora que não vai mais fazer dessas, embora você tenha certeza absoluta que vai continuar fazendo.
Com o suplus de creme de leite fresco, prepare mais uma vez a receita de panna cotta da Alice, que foi um sucesso de público e crítica e portanto precisa ser repetida. Use bastante raspinhas de laranja. Mais que da outra vez.
Coloque o purê de damascos no fundo dos potinhos, como você gosta de fazer porque tem preguiça de desenformar. Coloque o creme por cima e leve à geladeira. Garanto que quando estiver comendo essa panna cotta às colheradas e murmurando hmmms e oohhs, você vai se lembrar do acidente com o pacote de frutas secas como um acontecimento muito auspicioso.
ecléticos, somos nós
Adorei a video reportagem da revista Gourmet, que agora tem versão online, sobre a cozinha eclética brasileira—BRAZIL: WHEN FOODS COLLIDE. A difusão da fusion cuisine com ingredientes nativos do Amazonas pelo chef Alex Atalla, o samba criativo do japonês, a tradição da Bahia de Dadá e a inovação da pizza doce, como sobremesa.
sorbet de morango
Minha amiga Charlene trouxe essa sobremesa no dia da feijoada, que acabou sendo a finalização perfeita para aquela comilança pantagruélica. Ela fez o sorbet in loco, da maneira mais simples possível. Três ingredientes e um liquidificador. O resultado foi um sorvete saborosíssimo e com essa cor extraordinária. Ela usou um saco de morangos super doces e maduros congelados no final do verão, mel e licor Cointreau a gosto. Bateu tudo muito bem, até obter um creme espesso, que ficou descansando no congelador até a hora de servir.
pacotes com flores de verão
Parece até que elas combinaram, pois as caixinhas vindas do Recife chegaram no mesmo dia! Pernambucanas porretas, tiraram o pobre velhinho que estava descansando merecidamente naquelas praias lindas de lá, mandaram ele aprumar as renas e vir me entregar essas lindezas de chita, que me deixaram imensamente feliz. Em pleno inverno, pacotes de calor, beleza e carinho. Obrigada Fafah! Obrigada Márcia! Agora aguentem eu, toda pimpona, possuidora rebolante de todas essas belezuras!
U & G
chana dal com tomate
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Ainda mais uma sopinha. O vento polar que envolveu a cidade há dois dias só fez aumentar a vontade de tomar sopas quentes e robustas. Essa eu fiz com os grãozinhos de chana dal—os baby garbanzos, que são uns mini grão-de-bico. Primeiro preparei um molho de tomate, que você pode fazer com uns três tomates frescos e maduros, mas eu fiz com o excelente tomate em lata da marca Muir Glen, que pra mim é a melhor no mercado. Usei o fire roasted, que eu acho que tem um sabor especial. Refogue os tomates numa colher de sopa de manteiga e deixe formar um molho grosso. Adicione sal. Reserve. Numa panela grossa coloque os baby garbanzos e bastante água e leve ao fogo. Cozinhe até que os grãos fiquem bem molinhos e a água reduza para um terço. Triture os grãos com o mixer de mão ou bata uma parte no liquidificador. Acrescente o molho de tomate previamente preparado e misture bem. Refogue por uns minutos. Desligue o fogo, deixe descansar uns minutos. Na hora de servir acrescente bastante coentro fresco picadinho e tempere com qualquer molho de pimenta, tipo tabasco. Eu usei um de pimenta de cheiro, que preciso gastar antes que vença a validade.
para ler e comentar
Mais dois livros novos, que vão me entreter um bocado nas minhas horinhas antes de dormir e talvez me inspirem para algum papo firme por aqui. O novo do Michael Pollan, que já é figurinha carimbada e a biografia da editora Judith Jones, que foi o livro que realmente me encantou—sorry, Mr. Pollan.
Judith tem hoje 83 anos e ainda trabalha para a editora Knopf, que na década de 60 publicou o revolucionário Mastering the Art of French Cooking e colocou Julia Child nos livros de história da gastronomia norte-americana. Amiga de Julia Child, James Beard, M.F.K. Fisher, Marcella Hazan, Claudia Roden, Edna Lewis e Marion Cunningham, entre muitos outros grandes nomes do mundo culinário, Jones é um ícone, a mulher que publicou os grandes livros de receitas nos EUA.
Em The Tenth Muse: My Life in Food, ela vai contar todas as histórias dos seus cinquenta anos trabalhando com publicações culinárias. No primeiro capítulo, que já devorei, Judith descreve os hábitos alimentares e comidas da sua infância na década de 20 e 30. As histórias de Judith me fizeram lembrar um pouco as da infância da Margaret Rudkin, ainda no século 19, mas com algumas similaridades, senão apenas pelo encanto de nos propiciar uma viagem pelas cozinhas e salas de jantar de antigamente.
