Depois de quase dois anos sem pôr os olhos nos programinhas do Food Network, resolvi mudar de canal e ver o que andava acontecendo por lá. Eu enchi do Food Network faz tempo. Peguei uma ojeriza de todos os chefes celebridades que têm programas naquele canal. Cheguei ao ponto de não suportar nem a voz dos cumpadres. Djezuis Craist, será que o pré-requisito pra ter um programa no FN é ter uma personalidade falsa e irritante? Por causa disso eu parei, há mais ou menos dois anos. Parei.
Então na minha clicada de retorno ao Food Network, eu esperava ver algo diferente. Mas que nada. Olha só que eu vejo—o temeroso e escabroso Iron Chef America, que é nada menos que a cópia avacalhada do fantástico Iron Chef , o original japonês, que era criativo e interessante. A versão americana é um festival de exageros e de egos. Eu nunca consegui assistir, porque me dava nos nervos, como quase absolutamente tudo naquele canal.
Podem jogar tomates e me chamar de chata de galochas.
O episódio do Iron Chef America que me recepcionou no FN era a batalha no kitchen stadium entre o chef Mario Batali—o responsável pela popularização e modismo horripilante dos sapatões Crocs pelo mundinho culinário; e o chef Jamie Oliver—o inglês queridinho de nove entre dez food blogs brasileiros. O lance, que eu pesquei rapidinho durante o primeiro comercial, é que os programas do Jamie vão estrear naquele canal. Já não bastava a Nigella lambendo os dedos, agora teremos o Jamie mordendo o pimentão e depois cortando em fatias e colocando na receita. Saliva deve ser um ótimo tempero—hmmm-hmm-hmmm!!
A batalha entre o Batali e o Oliver tinha como ingrediente secreto um peixe. Eles prepararam então vários pratos sofisticados e cheios de ingredientes com o tal peixe no período de uma hora. Daí serviram os pratos para os juizes—uma fulana de cabelão alisado, um cara de cabelo hipongo comprido ajeitado atrás da orelha e uma moça asiática com um batom cor-de-rosa que não perdeu o brilho nem mesmo quando ela comeu o macarrão saturado de molho grosso de tomate feito pelo Batali. O visual dos juizes era o de menos. Muda as caras, mas o esquema eh sempre o mesmo. Antes a bancada dos juizes tinha a presença do Jeffrey Steingarten, que desempenhava o papel de critico cri-cri. A função dele era basicamente detonar e amedrontar os chefs. Mas pelo jeito ele perdeu o emprego e agora todo mundo é bonzinho e só faz elogio. Essa é uma parte que me faz rir de nervoso, pois os juizes devem fazer um treinamento em adjetivologia para participar do programa. O palavreado que eles usam para descrever e elogiar as delicias não tem parâmetros. Nem de posse de um Thesaurus eu conseguiria tal façanha, e olha que eu acho que tenho a doença do bicho adjetivo.
A expressão que eu acho mais absurda e engraçada, nesse esforço descomunal que as pessoas fazem para descrever suas experiências com comida, é a tal de foi uma explosão de sabores! Como pode isso ser possiível? Quando eu leio e escuto essa pérola, logo penso naquela balinha em pó que foi bem popular nos anos 80 e que explodia na boca. Aquilo era uma explosão, de fato, mas era somente de um sabor. Essa tal de explosão de sabores eu ainda estou para experienciar.
