“O forno de microondas é bom para secar o jornal, quando ele fica molhado pela chuva.” Julia Child
Eu tenho a firme opinião de que sempre que possível se deve cozinhar com fogo. Olho para aqueles fogões elétricos com base de vidro com alguma suspeita. Aquilo pode ser até prático para limpar, mas cozinhar ali é no mínimo estranho. Eu já tive um fogão elétrico, com burners em espiral e abominei. Mas quando o assunto chega no uso do forno de microondas, tenho que confessar que já pequei.
Posso dizer que tenho um currículo natureba ”quase” perfeito. A única mancha negra foi fruto do ano em que despiroquei total com a onda do microondas. Foi na década de 80 e os fornos, que na época só existiam em tamanho gigante, eram o último grito de horror da modinha nas cozinhas modernas. Foi logo depois da onda do freezer, que foi uma das que eu não surfei. Mas a do microondas me pegou e me virou no avesso.
Comprei meu imenso Panasonic em prestações, porque o treco era caro. Nem tinha espaço na minha cozinha pra tamanha geringonça. Mas ela virou o centro de tudo. Eu, que preparava diariamente o almocinho fresquinho pro meu filho, fazia iogurte, pão, picles, leite de arroz, me empenhava pra ele só beber sucos de frutas espremidas na hora, arroz integral, eteceterá, de repente fui tomada por um sentimento de exaustão e achei que o microondas tinha chegado para me resgatar daquela extenuante rotina.
Foi um ziriguidum! Fiquei completamente obcecada em fazer o trambolhondas trabalhar em meu favor. Comprei até uma coleção de livros, desses traduzidos do inglês—Como cozinhar no seu microondas. E fui em frente, enquanto fingia que não ouvia os comentários horripilantes de como as ondas do aparelho se propagavam e cozinhavam o seu fígado, caso você ficasse muito perto. Sem falar nos relatórios assustadores de como o microondas destruía a integridade molecular da comida—seja lá o que isso realmente signifique.
Comprei todos os apetrechos de vidro, eu tinha até forma de pizza de vidro. No caso da pizza eu tinha que fazer meio a meio, forno convencional e microondas. Tudo o mais que poderia ser adaptado, eu adaptei—arroz, omelete, torta, ovo, pudim. Foi um ano de total insanidade, até que eu finalmente despertei do estupor.
Depois disso eu sempre tive microondas em casa, mas nunca mais cozinhei nele. Essa nossa casa veio com um microondas embutido e hoje ele quase não é usado. Água se procura esquentar no bule e, se possível, a comida se requenta no forno ou na panela.
