A Alison me deu a dica de uma receita do livo Joy of Cooking—Caribbean chili. Fiquei tri-animada com a idéia de um feijão temperado com citrus, mas comecei meio com o pé esquerdo, pois já sabia que não tinha alguns ingredientes, como a laranja ou o coentro. Mas mal sabia eu que a situação iria evoluiur para a ausência total de receita. Com meus poderosos óculos, curvada na bancada da pia, com a luz mais forte iluminando o livro, i-swear-to-god, procurei naquele índice micro-minúsculo por chili, por feijão, por feijão preto, por tudo que pudesse me indicar o caminho da verdade, mas não achei necas de pitibiriba.
Então resolvi fazer o chili com uma receita da minha cachola mesmo. Refoguei cebola picadinha no azeite, joguei o feijão flor de mayo já cozido com o caldo, mais um pouco de caldo de legumes. Piquei um tanto de gomos de tangerina [teria que ser laranja, mas], raspei cascas de uma laranja vermelha e um limão, mais o suco do limão, chili pepper em pó, cominho em pó e um pouco de noz moscada ralada na hora. Cozinhou até dizer chega. Acertei o sal, jogue salsinha picada [era melhor coentro]. Servi quentíssimo com um triangulo de corn bread. Comi demais—coisa que eu detesto fazer à noite.
O corn bread tirei do Joy of Cooking, já que estava com eles abertos [chequei a edição velha e a nova, atrás do tal chili]. Também não tinha uns ingredientes pra essa receita, mas nessa altura do campeonato nada mais importava, pois eu já estava irada e pronta pra rodar uma baiana e desafiar o Mario Batali no Iron Chef America.
skillet corn bread
Pré-aqueça o forno em 400ºF/205ºC. Unte uma frigideira grossa de ferro [skillet] com manteiga. Numa vasilha misture:
1 1/4 xícaras de cornmeal amarela * eu não tinha, usei a azul
3/4 xícara de farinha de trigo *o rato furou o saco, usei uma integral
2 1/2 colheres de chá de fermento em pó
2 colheres de sopa de açúcar *pode pôr até 4 se gostar mais doce
3/4 colher de chá de sal
Adicione então:
2 ovos batidos
2 ou 3 colheres de sopa de manteiga derretida, gordura de bacon ou óleo vegetal * usei 2 colheres de óleo vegetal
1 xícara de leite
Misture bem, eu joguei um pouco de queijo ralado, coloque na frigideira e ponha no forno. Asse por uns 20 minutos, até que a massa esteja firme como um bolo.
O guardião da farinha
Desde domingo à noite que o gato Roux estava de plantão na cozinha. Ele se posicionava em modo caçador ora no canto da máquina de lavar louça, ora no canto da geladeira. Alertei o Uriel que o gato certamente tinha visto algum bicho. Eu já estava na cama quando o Uriel veio me contar que tinha pegado a lanterna e viu o que estava intrigando o gato. Era um ratinho, disse ele, me fazendo reagir com um berro de pânico, só pra um segundo depois completar, um ratinho de pano! Rimos da piadinha engraçadinha aliviados—era apenas um ratinho de pano, daqueles que eu compro de meia dúzia, ha ha ha!
Mas o Roux continuou de plantão na cozinha. Foi segunda e foi terça. Na terça ele estava particularmente insistente, sempre naquela pose de caçador, no canto da máquina. Eu olhei, olhei, não vi nada e não tive tempo mais de pensar no assunto. Na terça à noite ainda estava lá o Roux. Ele passou o dia na cozinha. Quando eu abri uma das portas da parte de baixo do armário da pia, entendi por que. Onde tenho guardado açúcares e farinhas, alguns itens em latas, outros soltos, vi um rastro de papel mastigado e logo em seguida um dos pacotes de farinha com um buraquinho.
TEM UMMM RAAAAAAATOOOOOOOOO NA COZINHAAAAAAAAAAAA!!!!
Foi somente então que o Roux finalmente saiu da cozinha e se aconchegou exausto numa das poltronas onde ele dorme, no andar de cima. O gato passou o dia inteiro na vigilância, nem dormir, o pobre coitado. Tudo porque um rato teve a audácia de adentrar uma casa onde vivem dois gatos. Um que deve estar perdendo os instintos e outro muito consciente das suas obrigações, felizmente! O rato entrou, de fato, mas mal conseguiu mastigar um buraquinho no saco de farinha, pois o gato não deu sossego. O estrago foi bem pequeno, graças ao Roux! Telefonei para o serviço de controle de pestes que temos e o Uriel inspecionou todas as possíveis entradas do rato. Fechamos algumas possibilidades com panos e pela manhã inspecionei tudo novamente. Parece que o rato não voltou, mas também pudera, a coisa mais difícil do mundo é driblar o guardião da farinha, o eficientíssimo gato Roux!
feijão cozido na terracotta
change & hope
Em 1982 eu votei pela primeira vez, na primeira eleição direta depois da ditadura militar. Foi uma eleição para governador e eu votei no mais improvável de ganhar, mas no que carregava mais expectativas de mudanças. Era o sindicalista Lula, que concorria pelo PT e perdeu, é claro. Mas naquela eleição, que foi a minha primeira, eu fui votar com entusiasmo, alegria, esperança e orgulho. Depois daquela, não houve mais nenhuma. Todas foram um fardo, votando no menos pior, pelo menos pra mim.
Depois de 25 anos vou votar pela primeira vez novamente, e vou votar com entusiasmo, alegria, orgulho e esperança outra vez. Quero que todos os meus votos daqui pra frente sejam assim—importantes. Que eles signifiquem algo, não somente cumprir uma obrigação. Agora eu escolho se quero ou não votar. E escolhi que quero, porque preciso exercer esse direito, com todas as vantagens e desvantagens que ele me traz.
*como ele me conquistou em 2004 – My America.
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Yes, we can!
E por isso meu voto sempre foi dele.
Até amanhã!
pudim de pão — bread pudding
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Receita da infância da Judith Jones. Um dos doces que ela adorava e que chegava sempre à mesa numa vasilha envolta num pano de linho branco e era servida ainda quente. Judith conta que dava a primeira colherada no pudim e as passas quentes estouravam, e faziam com que ela chorasse. Quem já não comeu um doce quente de uma maneira tão esganada que trazia lágrimas aos olhos? Eu já, incontáveis vezes! Esse pudim é uma receita antiga e tradicional.
2 e 1/2 xícaras de leite
2 colheres de sopa de manteiga
3 fatias de pão tipo caseiro, sem a casca e picado [mais ou menos 1 1/2 xícara]
1/2 xícara de passas
Raspas de meio limão
3 ovos grandes
3 colheres de sopa de açücar
1/8 colher de chá de noz moscada ralada na hora
Para polvilhar, 2 colheres de açúcar ou cubinhos de açúcar esmigalhados
Para servir, creme de leite fresco [heavy cream]
Numa panela aqueça o leite com a manteiga, mexendo até derreter. Remova a panela do fogo e acrescente o pão em pedacinhos, as passas, as raspas de limão e deixe amornar. Separe as claras das gemas dos ovos. Bata as claras em neve. Coloque as gemas batidas com um garfo na mistura de leite e pão. Misture bem. Acrescente o açúcar. Junte as clras em neve, mexa delicadamente, e coloque a nos moscada. Salpique com o açúcar. Despeje a mistura numa forma rasa untada com manteiga e coloque num banho maria em forno pré-aquecido em 325ºF/162ºC por uma hora. Sirva morno com o creme fresco.
*modificações: não polvilhei com açúcar, coloquei pra assar sem o banho maria e servi com chantily adoçado com açúcar de baunilha.
meu limão meu limoeiro
Assim está a minha árvore de limão no quintal. Quando preciso, pego um. Ou dois.
bolo de polenta & laranja
Um bolinho deveras interessante, direto do Everyday Food, da Martha S. Gostei da massa levar cornmeal e azeite.
1/2 xícara de azeite
2 ovos grandes, de preferência da galinha feliz
1 xícara de açúcar, mais 1/3 xícara para polvilhar *usei o demerara
1/2 xícara de suco de laranja ou vinho branco seco * usei laranja
1 1/4 xícara de farinha de trigo
1/2 xícara de cornmeal amarela
2 colheres de chá de fermento em pó
1 colher de chá de sal
Raspas da casca de uma laranja
Gomos de laranja para enfeitar – opcional
Pré-aqueça o forno em 375°F/190ºC. Unte uma forma redonda de 20 cm/8″ com azeite. Corte papel parchment e coloque no fundo da forma. Unte o papel com azeite. Reserve.
Na batedeira misture o azeite, os ovos, o açúcar e o suco de laranja ou vinho. Bata bem e acrescente a farinha, o cornmeal, as raspas de laranja, o fermento e o sal. Misture gentilmente.
Coloque a massa na forma previamente untada, salpique com o 1/3 xícara de açúcar e coloque no forno pré-aquecido. Asse por 35-40 minutos.
Retire do forno e deixe esfriar na forma por 20 minutos. Retire da forma e coloque numa grade, até que o bolo esteja completamente frio. Coloque num prato, decore se quiser e sirva.
O sushi zen
*dando uma olhada nos meus alfarrábios, onde guardo receitas por fazer, links e outras coisitas, achei esse texto datado de junho de 2006. Eu publiquei a receita do sushi, mas editei a história—sei lá por que. Então aqui vai o texto original, sem cortes, numa edição super especial. As fotos são antigas. Eu não tenho feito sushi já há alguns anos.
Tenho mãos frias e não como peixe cru, mas faço sushi sim senhores!
Eu aprendi a fazer sushi em 1994 com um casal de amigos—ela chinesa de Taiwan, ele canadense de Saskatchewan, que eu conheci nos meus anos vivendo na terra do gelo. Ela me ensinou a fazer fazendo. Essa é sem dúvida alguma a melhor maneira de aprender. Eu olhei todo processo com uma super atenção, anotei tudo tin-tin-por-tin-tin num caderninho, e depois de pronto almoçamos os sushis que serviram de exemplo. Eu adorava esse casal, que vivia de uma maneira super simples e frugal, quase sem móveis e sem acúmulos materiais. Mas mesmo com esse estilo de vida quase espartano, eles tinham o dom de deixar tudo bonito e especialmente saboroso. Foi com eles que eu aprendi a meditar cantando, e foi dele que ouvi um monte de histórias fascinantes de viagens de bicicleta pelas nevascas das montanhas, ou pelo agrume do deserto. Mas além da receita do sushi, um item que eu nunca esqueci foi a visão de um crachá que ele me mostrou uma vez. Nele estava escrito—“Dylan & The Dead Tour–Free Pass”. Ele me contou que foi o motorista do Grateful Dead durante a turnê deles com o Dylan pelos Estados Unidos, no verão de 1987. “Você falou com o Dylan? Falou com ele??” foi a minha pergunta, completamente exaltada. A resposta foi apenas um sorriso zen.
Esta é a receita do sushi, que venho fazendo há mais de dez anos:
Para o arroz:
2 1/2 xícaras de arroz próprio para sushi [grãos curtos]
3 xícaras de água.
Lave o arroz e deixe escorrer por vinte minutos. Misture o arroz e a água numa panela grande. Cubra e ponha no fogo alto. Quando ferver, reduza para fogo baixo e deixe cozinhar por uns 25 minutos ou até a água ser totalmente absorvida. Tire a panela do fogo e deixe descansar ainda tampada por mais 20 minutos. Enquanto isso faça o molho de vinagre.
Para o molho:
5 colheres de sopa de vinagre de arroz
1 colher de sopa de saquê
3 colheres de sop de açúcar
2 colheres de chá de sal
Misture todos os ingredientes numa panela pequena e cozinhe no fogo alto até o açúcar dissolver completamente. Colocar sobre o arroz e revolver bem com uma espátula de madeira. Não misture, só revolva. Deixe o arrioz esfriar em temperatura ambiente.
Recheio para os sushis [*como meus amigos eram vegetarianos, essa receita não é de sushi com peixe. mas quem quiser fazer com peixe deve prestar atenção à regra número UM e fundamental do sushi – o peixe deve ser FRESQUÍSSIMO!]:
uma fritada de ovo e sal, bem fininha cortada em fatias
cenouras em palitos
pepino em palitos
abacate
carne de carangueijo ou imitação [kani]
espinafre
cogumelo shiitake
Colocar uma folha de alga Nori já preparada em cima de uma esteirinha de bambu. Colocar uma camada bem fina de arroz por cima e espalhar bem com uma espátula de madeira. Quanto mais fina a camada ficar, melhor. Numa das pontas da esteira colocar sobre o arroz o recheio que preferir. Pode salpicar com sementes de gergelim. Começar a enrolar e vai puxando a esteira, apertando cada vez mais o sushi. Quando terminar de enrolar e estiver bem firme, cortar em rodelas com uma faca bem afiada molhada em água gelada. Servir à gosto, com pickles de gengibre, shoyo e wasabi.
Eu faço também os saquinhos de tofu frito recheados com arroz. E o sushi invertido, com a alga por dentro e arroz por fora. Tem que ter paciência pro arroz não despedaçar, mas fica lindo. Salpique gergelim na esteira antes de espalhar o arroz. Também já fiz sushi com salmão, mas não comi…. Como eu já disse, não como peixe cru!
laranja brûlée
Na sala de espera do dentista, tive tempo de folhear rapidamente uma revista Sunset, onde vi essa receita. Me esforcei pra memorizá-la, o que não foi difícil, pois essa deve ser uma das sobremesas mais simples que eu já fiz.
Descasque duas laranjas por pessoa—usei uma Navel e uma Valencia. Tire toda a parte branca e corte em gomos. Disponha num refratário pequeno. Salpique com açúcar mascavo. Coloque no broiler por 10 minutos para gratinar. Sirva com com chantily. Eu bati o creme de leite fresco e adicionei um pouco de açúcar de baunilha. A laranja cozinha e solta um pouco de liquido. Fica uma sobremesa reconfortante, com a mistura da fruta cítrica quente com o creme.
