The Slanted Door

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A Mariana foi ao The Slanted Door e não só tinha me recomendado, como tinha me intimado a ir também. Então eu fui! A Maryanne fez a reserva para o domingo e nos encontramos lá para o almoço—eu, o Uriel, ela e o Paulo. O restaurante fica num dos meus lugares favoritos em San Francisco, o Ferry Building Marketplace, que era o antigo porto da cidade hoje transformado num espaço gastronômico fantástico.

The Slanted Door oferece delicias da culinária vietnamita com um toque moderno e coloca uma grande ênfase na qualidade dos ingredientes usados na elaboração dos pratos. Eles usam produtos orgânicos e fresquíssimos vindos de produtores da região da Bay Area que praticam agricultura sustentável. Administrado pela família Phan desde a sua inauguração em 1995, o restaurante tem um ambiente descontraído, num espaço enorme e cheio de luminosidade, com paredes de vidro que emolduram uma das paisagens cartão postal mais lindas da baia, com a Bay Bridge ao fundo.

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Nossa reserva era para as 2 horas da tarde, o que somado à mudança de horário [saimos do daylight saving times] me colocou num estado de fome alucinante. Um dos problemas do The Slanted Door foi, para uma libriana típica como eu, o menu incrívelmente extenso. Fiquei numa dificuldade lancinante para decidir o que pedir. A carta de vinhos era basicamente francesa, o que me colocou numa outra enrascada, já que eu estou ficando com prática de escolher vinhos californianos, mas saiu da minha pequena bolha eu já fico atrapalhada. No final pedi um bourgogne pinot noir rosé francês que estava bem leve. A Maryanne pediu um pinot noir de Oregon que ela gostou bastante também.

Quando finalmente decidimos sobre os pratos, a garçonete gentilmente nos avisou que tínhamos pedido muita comida. Realmente as porções servidas lá são bem generosas. Então decidimos enxugar nossa lista de entradas. A Maryanne e o Paulo pediram os famosos rolinhos frios vietnamitas, com camarão e molhinho de amendoim. Depois ele comeu um frango com capim-santo e ela um prato bem picante de berinjela japonesa, que eu provei e estava uma delícia. Eu e o Uriel dividimos uma salada muito refrescante de papaya verde e tofu e depois ele comeu um halibut do Alaska com um molho picante de gengibre e eu comi um catfish cozido no pote de barro com coentro e gengibre. As porções eram grande e acompanhamos tudo com arroz jasmine. Só eu—a esfomeada e gulosa—que pedi sobremesa, um doce de abóbora kabocha com um creme de menta e sementes de romã, que apesar de parecer uma combinação um pouco estranha, funcionou muitíssimo bem.

Saímos do restaurante super tarde, quando quase todos os funcionários já estavam comendo nas mesas do fundo e o local se preparava para o inicio dos serviços do jantar. Adorei a experiência no The Slanted Door e recomendo. Para nós, que vivemos aqui na Califórnia, os sabores asiáticos não são nenhuma novidade, nem nada muito exótico, já que temos um restaurante desses em cada esquina. Mas nem todos com a qualidade do The Slanted Door, onde o que importa não é somente a comida e o quanto se paga por ela, mas também toda a política que envolve comer bem, com qualidade, apoiando a agricultura local e sustentável e a criação de animais sem crueldade.

* A Maryanne dá mais detalhes sobre o restaurante. Não deixe de ler a review dela lá no Hotel California.

brevidades

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Seria possível uma receita com três ingredientes fracassar? Para a maioria dos habilidosos fazedores de bolos e bolinhos não seria, mas comigo, vocês já sabem que seria. Fui fazer a receita de brevidade da Neide, que por ser da Neide já garante que não vai haver problemas. Mas eu não contava com o detalhe de que certos ingredientes fazem a diferença, e neste caso eu não tinha o açúcar certo.
Eu não compro nem uso o açúcar branco, daquele comum que se usa normalmente para cozinhar. Compro quatro tipos diferentes de açúcar, todos orgânicos e Fair Trade—o demerara, o mascavo, o sucanat-rapadura e o de confeiteiro. O demerara eu mantenho baunilhado, colocando no pote todos os bagaços das favas de baunilha que usei para fazer outras receitas. Uso esse açúcar para quase tudo, inclusive para bolos e muffins.

Tentei fazer a receita da brevidade duas vezes usando o açúcar de confeiteiro. Falhei miseravelmente, desperdiçando duas claras de ovos da Felizberta. Resolvi tentar com o demerara baunilhado e até que deu certo, mas não rendeu nem cresceu muito. A Neide diz que a receita faz 16 forminhas de empada. A minha fez 12 mini muffins. Ficou bem gostoso, derretendo na boca como é típico da brevidade, mas poderia ter ficado melhor. Eu imagino que a quantidade de açúcar deveria mudar se usarmos um açúcar mais leve [confeiteiro] ou mais pesado [demerara]. Mas como não sei fazer esse tipo de ajuste, vou me resignar e sair pra comprar um pacote de açúcar branco comum, para poder refazer essa deliciosa e simples receita.

brevidades de araruta ou polvilho doce
1 ovo caipira
65 g* de açúcar
65 g* de araruta ou polvilho **
Manteiga para untar as forminhas

Unte com manteiga 16 forminhas de empadinha pequenas [se usar de silicone, unte também]. Na batedeira, bata a clara em neve. Junte o açúcar e bata como suspiro. Acrescente a gema e bata até ficar um creme esbranquiçado. Desligue a batedeira, coloque a araruta e bata mais até formar bolhas. Divida entre as forminhas ­só até metade da altura e leve para assar por cerca de meia hora em forno pré-aquecido em 430ºF/ 220ºC, ou até ficar com a superfície dourada.

Faz 16 brevidades

* o ideal é pesar o açúcar e a araruta, mas se não tiver balança, use uma colher padronizada rasada: 8 colheres de sopa de araruta e 5 colheres sopa de açúcar.
** eu usei a tapioca starch.

três

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tres tres
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tres tres

Em primeiro de novembro de 2005 às 11:22:40 da manhã nascia o Chucrute com Salsicha, com seu primeiríssimo post de inauguração. Com certeza eu tinha passado o dia anterior sentada por horas e horas e horas na cadeira do meu pequeno escritório montando o blog, ajeitando o layout, colocando tudo em ordem para iniciar a função de blogar sobre comida, que desde então nunca parou.

E hoje o Chucrute completa três anos de postagens diárias, com muitas fotos, muitas receitas e, principalmente, muitas histórias. Milhares de pessoas passam por aqui todos os dias e isso coloca um certo peso nos meus ombros, que eu tenho tentado carregar com o máximo de firmeza e elegância.

O Chucrute com Salsicha é um espaço muito especial para mim porque ele reflete um bocado de quem eu sou. Os assuntos aqui são sempre muito variados, os papos seguem as estações do ano e vão pipocando conforme as idéias e as oportunidades vão surgindo. Eu não tenho nenhum esquema planejado ou um sistema de organização para blogar. Não me empenho em pesquisas, não sigo modismos, nem endosso produtos ou pessoas que eu não conheço direito ou não confio. Não tenho pretensão de fama ou grana, só escrevo sobre o que eu gosto e sobre o que me interessa, por isso não promovo ou participo de eventos coletivos. Eu faço a minha pauta, de um jeitão idiossincrático que é só meu. Não me inspiro no estilo de blogar nem nas idéias de ninguém. O Chucrute sempre foi um espaço original e autêntico, influenciado apenas pelas minhas convicções, pela maneira com que eu encaro a vida, pelas minhas opções, aspirações e realizações.

Defendo com insistência quixotesca a propriedade das minhas fotos, pois elas são a expressão da minha visão do mundo—desde a amplitude das paisagens das vinícolas californianas até os micro detalhes de uma flor se abrindo ou de uma lagarta morando num pé de tomate. Sem essas imagens o Chucrute com Salsicha não estaria completo. E a minha escrita, com todas as costumazes mancadas ortográficas e a abundância de expressões peculiares, é parte da minha personalidade, uma extensão do meu papo firme na vida real. Eu gosto de escrever, de fotografar e de comentar qualquer tipo de assunto relativo à culinária—um pouco mais do que gosto de cozinhar e comer. Por isso não considero o Chucrute com Salsicha apenas um blog de receitas. Ele é sim um blog sobre comida, e também sobre bebidas, música, cinema, política, livros, amor, prazer, felicidade e vida!

in the dark

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O Halloween deste ano vai ser molhado e frio. Espero que isso não atrapalhe a diversão da criançada. Como sempre, eu corri pra fazer os meus parcos preparativos, que sempre executo de última hora. Neste ano vou distribuir treats de chocolate e comprei menos do que sempre compro, pois outro dia achei dentro de um gourd o resto das balas do Halloween do ano passado. Waste no more!
Na hora do almoço vou decorar a minha porta com os mesmos enfeites que uso, ano após ano. Já tenho algumas abóboras na varanda. É isso. Como na sexta-feira nós normalmente jantamos fora, provavelmente o Uriel terá que pegar comida em algum restaurante, pois eu vou estar ocupada abrindo e fechando a porta e não posso decepcionar as crianças da vizinhança.
Para quem quiser ler ou reler, aqui estão relatos sobre a experiência do Gabriel com o Halloween e as minhas divagações de sempre sobre essa comemoração. Happy Halloween, para quem é de Halloween!

a noite dos mortos-vivos

ou a bruxa escapou e está solta
ou a noite dos horrores pré-halloween

O resultado de querer correr uma maratona no final do dia, quando se deveria estar relaxada e sentada no sofá vendo um filme e bebericando de uma taça de vinho, foi um vidro de um litro do mais puro e saboroso azeite extra virgem, que veio como presente super especial dos amigos espanhóis de Córdoba, espatifado no meio do chão da cozinha. O resultado foi cacos de vidro por todos os lados, mancha imensa verde, oleosa e viscosa se alastrando e se infiltrando pelas ranhuras do chão de cerâmica, gatos dando pulinhos de curiosidade sem atentar para o perigo cortante iminente e uma mulher histérica chorando e praguejando com um rolo de papel toalha na mão, sem saber direito o que fazer.

Foi uma noite realmente assombrada, entremeada por outros tantos acidentes aterrorizantes, como o açúcar caro esparramado na bancada da pia, o remédio errado trazido da farmácia, o cansaço provocando dores nas costas e ainda o choque inesperado ao olhar no calendário e perceber que em dois dias será Halloween.

pear and blue cheese crostata

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Acho que tenho umas trinta páginas do The Kitchn guardadas, com receitas para fazer, artigos para ler, até aquelas maravilhosas tours de cozinhas fantásticas que às vezes aparecem por lá. Eu adoro esse website. Gosto mais dele do que do seu irmão mais velho, o Apartment Therapy. Essa receita de Pear and Blue Cheese Crostata publicada lá, estava marcada com prioridade. Então desde sábado que estou no making-of dessa torta. Djezuis Craist, nunca conheci ninguém mais atrapalhada do que eu vivendo neste planeta. Primeiro fiz a massa e quando fui fazer o recheio constatei a ausência de três pêras, ingrediente imprescíndivel. Comprei as pêras na terça-feira e fiz a torta. Preparei outra massa, porque achei que aquela que estava na geladeira não ia dar. Fiz uma receita enorme, com muitas pêras cortadas em pedaços muito grandes, que consequentemente não cozinharam direito. Comi uma fatia—que não estava ruim, e até tirei algumas fotos, que me ajudaram a comparar com a torta original e concluir que estava tudo errado. Fiquei desolada, irritada, inconformada. Comecei tudo de novo na quarta-feira. Acabei usando a massa que tinha feito no sábado, comprei uma variedade de pêra um pouco mais macia, que cortei em cubinhos bem pequenos. Dessa vez vingou. Ha-Le-Lu-i-Ha! Ficou uma delícia!
Massa:
1/2 xícara de farinha de trigo
1 colher de sopa de açúcar
1/8 de sal kosher [grosso]
1/2 tablete – 56 gr de manteiga sem sal bem gelada
1 colher de sopa de água gelada
No processador, pulse a farinha, o açúcar e o sal. crescente a manteiga cortada em cubinhos e pulse mais umas 15 vezes até ficar uma farofa. Adicione a água e pulse outra vez, até a massa ficar mais consistente. Amasse com os dedos formando uma bola, amasse num disco, embrulhe em plástico e coloque na geladeira por uma hora.
Recheio:
4 pêras pequenas e maduras
3 colheres de sopa de blue cheese esmigalhado
1/4 xícara de farinha de trigo
1/4 xícara de açúcar mascavo
1/4 xícara de avelãs picadas [ou nozes]
3 colheres de sopa de manteiga gelada
Corte as pêras em cubinhos. Estenda a massa numa folha de papel vegetal ou alumínio e coloque sobre uma assadeira. Coloque as pêras em cubinhos no centro da massa. Deixe uns 4 cms da massa em volta, para poder dobrar. Salpique o queijo esmigalhado sobre as pêras, aperte para eles entrarem entre as frutas. Dobre as bordas da massa, cubrindo parte das pêras. Numa vasilha misture a farinha, o açúcar mascavo e as avelãs picadas. Junte a manteiga e amasse com os dedos até formar uma farofa, que será espalhada sobre a crostata. Asse em forno pré-aquecido em 450ºF / 232ºC por 20 ou 30 minutos, ou até que a massa esteja bem dourada. Deixe esfriar, corte em fatias e sirva.

sopa de legumes [assados]

sopa de legumes assadosEsta sopa fica pronta num instante, se você já tiver os legumes assados. Eu tenho o hábito de assar coisas extras quando uso o forno ou a churrasqueira. Já tinha abóbora [butternut], pimentão vermelho e alho assados. Então foi só bater a abóbora, o pimentão e uma colherzinha do alho no liquidificador com um tanto de caldo de legumes. Colocar o creme batido numa panela, salgar a gosto e regar com azeite. Deixar ferver e servir.

Simca’s Cuisine

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Fiquei um pouco surpresa comigo mesma por nunca ter comentado aqui a minha leitura da biografia póstuma da Julia Child—My Life in France. Acho que isso aconteceu porque demorei pra engatar nos capítulos e depois fui lendo muito devagar, parando e recomeçando, terminando por ficar horrivelmente abalada pelo final do livro, quando ela descreve a decadência física do marido, concluindo que envelhecer é muito cruel. Quando finalmente fechei o livro, mais de um ano depois de tê-lo comprado no frenesi da novidade, chorei desesperadamente, de soluçar e sacudir o corpão inteiro, de assustar o gato, de molhar a roupa, de encher o buraco das orelhas com lágrimas, de doer o maxilar, de ficar com os olhos ardendo e inchados e de acabar com uma baita dor de cabeça. Esse livro me sacudiu, porque de uma certa maneira eu me identifico um pouco com o percurso da Julia Child. Ela viveu uma vida linda e plena, mas o fim é sempre o fim.

E é no My Life in France que a Julia conta todo o processo da produção dos dois volumes do best seller Mastering the Art of French Cooking, que ela escreveu com a colaboração de duas amigas: Louisette Bertholle e Simone Beck. Esses livros, cujo objetivo era divulgar receitas e técnicas da culinária francesa para o público norte-americano, levaram anos para ficarem prontos por causa do perfeccionismo das autoras, especialmente de Julia e Simone, que era mais conhecida como Simca. Louisette cascou fora assim que pôde, mas a colaboração entre as outras duas amigas ainda durou alguns anos. No livro, Julia conta como foi essa cooperação com Simca—um relacionamento nada suave, apesar da Julia ter uma grande consideração pela amiga francesa. Eu me irritei muito lendo as implicâncias e turrices de Simca no final da revisão do primeiro volume. E me compadeci de Julia durante a tortura e o calvário que foi o trabalho conjunto das duas pra o segundo volume. O relacionamento da Julia Child com essa amiga difícil fez com que ela subisse mais ainda no meu conceito, tal a sua paciência, dedicação e lealdade. Simca ficou pra mim como uma completa chatonilda de galochas.

Simca se ressentia de várias coisas, entre elas do destaque que a borbulhante e simpática Julia ganhava durante a divulgação do livro escrito pelas duas. Sendo Mastering the Art of French Cooking uma adaptação das receitas e técnicas francesas clássicas para o público norte-americano, Simca teve que lançar o seu livro com suas receitas especiais, com o seu jeito de fazer, que era o jeito francês e portanto o jeito certo. Simca’s Cuisine parece para mim o livro do desforro com luvas de pelica: desaforento embora gentil, onde ela coloca suas cartas altas na mesa—o verdadeiro livro da culinária francesa. Que na realidade é uma versão particular, com receitas que ela fazia em casa e heranças de família. Ninguém se importou muito com o livrinho da Simca, ocupados que estavam comprando, lendo e preparando receitas do livro da Julia Child [que era também da Simca, alguém lembrou?]. Simca’s Cuisine é um livro de receitas muito fofo e tudo parece incrivelmente simples e singelo. Mas muito cuidado mes amis, porque analisando cuidadosamente percebi que as receitas da Simca podem até ser um tantinho blasé, mas não são de maneira alguma descomplicadas.