zigalhões de tomates

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Em todos os anos que vivi em Davis minha proximidade com a colheita dos tomates se resumiu aos tempo em que o Uriel trabalhou na maior fazenda produtora da região testando uma máquina; e aos caminhões carregados da fruta que eu via indo e vindo pela estrada durante o mês de agosto. Mas agora, morando em Woodland, minha perspectiva de visão mudou bastante. Estou mais próxima do que jamais estive dos tomates, já que há campos deles até dentro do perímetro urbano. Outro dia entrei na cidade e vi duas caçambas de caminhão lotadas até o topo com tomates e o pessoal da colheita já se preparando para ir embora. Sendo eu quem sou, parei o carro no acostamento poeirento, fui até o primeiro moço que parecia ser o chefe da parada e pedi licença pra tirar uma foto com o celular. Ninguém entendeu nada, mas pra mim tudo isso é simplesmente incrível. Nem sei explicar como me sinto quando sou confrontada com essa abundância agrícola de verão. Na saída mostrei a foto pra outro moço com o rosto queimado de sol e um sorrisão cheio de dentes bem brancos, e comentei—BEAU-TI-FUL!

Eu realmente acho os campos de tomates bonitos, quase singelos. E neste momento estou encantada com a visão dos caminhões pela estrada, o acostamento salpicado de frutas caídas das carrocerias lotadas, as caçambas esperando solitárias no meio dos campos para receber toneladas de tomates, tomates e mais tomates. Voltando do trabalho por uma estradinha vicinal [minha mais nova mania—achar estradinhas alternativas para chegar em casa], vi muitas caçambas, muitos tomates e muitos campos já escalvados, mostrando o rastro da máquina que arrancou as plantas e limpou a terra, deixando só uma vastidão de poeirão.

Tenho ido ao Farmers Market da cidade e os pequenos fazendeiros locais que vendem seus produtos estão oferecendo tomates de todos os tamanhos e cores. Agora estou na expectativa de ir colher tomates eu mesma para fazer molho e estocar pro resto do ano. Vou naquela fazenda orgânica que oferece u-pick e usa o honor system. Passo por ali todos os dias e vejo que os donos mantém uma vendinha solitária bem na entrada da fazenda, sem ninguém presente pra coletar o dinheiro. Coisa que já não se vê mais por aí.
Quando fui pela primeira vez assinar a papelada da nossa oferta da casa na imobiliária em Woodland, o corretor me falou—acho que você vai gostar muito de morar aqui, no verão temos os melhores morangos e os melhores tomates. Hoje sei que ele não estava mentindo, nem aumentando ou inventando.

salada de tomates coloridos
[com farofinha crocante]

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Mais uma salada de tomate! Minha rotina neste mês de agosto está assim: salada de tomate no almoço—salada de tomate no jantar—repete. Preciso aproveitar, porque logo a temporada acaba e daí tomates frescos na minha cozinha somente no próximo ano. Essa salada ficou muito interessante. Dei uma simplificada na farofa, eliminando a chalota e o alho da receita original. Também porque no almoço a salada faz parte do meu picnic diário que faço no patio externo, atrás do prédio onde trabalho. Alho e cebola no almoço devem ser evitados para não constranger seus colegas de trabalho com um bafão digestivo, né? E pra fazer essa salada portátil, coloquei a farofinha num potinho separado e polvilhei por cima dos tomates somente na hora de servir. A foto não mostra, porque esqueci de colocar para fazer o clique, mas as folhinhas picadas de manjericão são um extra importante e não podem faltar.

para a farofa
4 fatias de pão amanhecido
Sal e pimenta do reino moída na hora a gosto
2 colheres de sopa de azeite de oliva
2 colheres de sopa de queijo parmesão ralado
para a salada
500 gr de tomates cerejas de diversas cores
2 colheres de chá de azeite
1 colher de sopa de vinagre de vinho
Sal e pimenta do reino moída na hora a gosto
1 pitada de açúcar
Folhas de manjericão fresco picadas

Pré-aqueça o forno em 350ºF/ 176ºC. Pique o pão e coloque num processador de alimentos, pulsando até obter uma farofa grossa. Misture com o sal, pimenta e o queijo parmesão, espalhe sobre uma assadeira coberta com papel alumínio e leve ao forno por uns 15 minutos ou até que o pão fique torradinho e levemente dourado. Remova do forno e deixe esfriar.

Corte os tomates ao meio e arranje numa travessa. Misture o vinagre, azeite, sal, pimenta e açúcar e bata bem com um batedor de arame até formar um creme, todos os ingredientes bem emulsificados. Despeje o molho sobre os tomates, salpique com a farofa e as folhinhas de manjericão e sirva imediatamente.

[mais um ] gazpacho

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Posso até dizer que este está sendo o verão da sopa fria, não pela variedade de receitas testadas, mas pela quantidade de receitas repetidas. Tenho preparado incessantemente esta sopa usando pepinos [de todas as variedades e tonalidades] mais manjericão ou hortelã, ou usando abobrinhas [de todas as variedades e tonalidades] mais manjericão ou hortelã. E também tenho feito muitas sopas frias de tomate, que eu chamo de gazpacho, porque as minhas quase sempre levam tomate fresco e pão não tão fresco. Mas posso colocar pepino e/ou pimentão verde e vermelho, e manjericão. A base é quase sempre a mesma—tomates orgânicos super maduros [e uso tomates de todas as cores], pão amanhecido, azeite de oliva extra-virgem, sal, pimenta do reino e vinagre jerez. Bato tudo no liquidificador e não passo pela peneira, porque não precisa. Posso acrescentar também pimentões verdes ou vermelhos e pepinos e bater tudo junto. Ou picar os pimentões e pepinos em cubinhos e acrescentar depois na sopa, como está na foto acima. Quando preparo a sopa para comer em casa, adiciono um dente pequeno de alho. Mas quando faço para levar de lanche no trabalho, omito o alho, porque acho deveras deselegante ostentar um bafão de alho depois do almoço.

crumble de tomate

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Eu só como tomates frescos durante a temporada que vai de julho à setembro. Espero o ano todo por essa época, que é quando eu praticamente como tomate todo santo dia, almoço e jantar. Aproveito e me esbaldo. Os tomates locais e sazonais simplesmente não têm concorrente. Como sempre exagero nas compras e não guardo na geladeira [porque eles perdem todo o sabor e doçura], tenho que consumir a tomatada em passos rápidos. O que não vira gazpacho ou outra sopa fria, vira molho de macarrão, ou vira salada em inúmeras formas, ou um prato desses assim simples, pra se poder apreciar a delicadeza e textura dessa maravilhosa fruta. Eu já tinha feito outras receitas parecidas—como a do crisp de tomate ou a do cobbler de tomate. Esse crumble é super gostoso e prático, mas eu recomendo que os tomates estejam maduríssimos. E se forem orgânicos, é vantagem pra todo mundo!

»outras receitas com tomates podem ser acessadas no arquivo.

tomato crumble
1 quilo de tomates orgânicos bem maduros
3 colheres de sopa de manjericão fresco picado
1 colher de sopa de alecrim fresco picado
1 colher de chá de sal
Pimenta do reino moída na hora
3/4 xícara de farinha de pão [*fiz na hora com pão torrado]
3/4 de xícara de queijo Parmigiano- Reggiano ralado
1/2 xícara de pinoles [*usei sementes de girassol]
6 colheres de sopa de manteiga sem sal cortada em cubinhos

Pré-aqueça o forno em 375ºF/ 200ºC e unte um refratário com azeite. Corte os tomates ao meio e remova as sementes. Corte cada metade em 4 e coloque numa peneira, deixe escorrer o suco. Coloque os tomates escorridos no refratário untado. Adicione o sal, pimenta do reino, folhas de manjericão e alecrim e misture bem.
Numa vasilha misture a farinha de pão com o queijo ralado e as sementes. Adicione a manteiga e misture bem apertando com os dedos até formar uma farofa. Espalhe essa mistura sobre os tomates. Leve ao forno e asse por 30 minutos. Remova do forno e sirva, quente ou morno.

salada caprese
[com vinagre de mel]

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O supermercado que eu frequento aqui em Woodland [o Nugget Market] não é perfeito, nem tem todas as coisaradas orgânicas que o Co-op de Davis oferece. Mas ele tem muita coisa diferente, produtos locais e inúmeras sofisticações. Pelo que tenho encontrado nas prateleiras. posso imaginar que deve ter uma população de foodies na cidade, porque muitos ingredientes oferecidos ali não são pra qualquer um. Como esse vinagre feito de mel de castanha, que coloquei no carrinho assim que vi. Eu não sabia que era possível fazer vinagre de mel, mas é! No mesmo dia que adquiri essa novidade, já testei temperando uma salada caprese feita com dois tipos de tomates orgânicos ultra maduros, mussarela fresca e folhas de manjericão. O sabor do vinagre de mel é bem delicado. Gostei muitíssimo!

salada de tomate & erva-doce

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A época mais feliz do ano pra mim é quando os tomates californianos começam a aparecer nas feiras e mercados. Eu só como tomate nesta época, porque no resto do ano os tomates vêm da Flórida ou do México, onde a industria usa práticas absurdamente insustentáveis e faz uso de mão de obra escrava. E pra piorar, esses tomates são uma farsa, isto é, não têm gosto de nada. Me recuso a fazer parte dessa parada, por isso me contento com o festim do verão, quando consumo os tomates orgânicos plantados e colhidos na minha região. É por isso que de julho a setembo receitas com tomates frescos abundam por aqui. Essa receita de salada eu pesquei do jornal britânico The Independent. Ficou realmente uma delícia.

serve de 4 a 6 porções
350 gr de tomates orgânicos maduros [pode misturar variedades]
1 bulbo de erva-doce cortado em fatias bem finas no mandoline
80 gr de queijo parmesão ou pecorino em fatias finas
Sal marinho e pimenta do reino moída na hora
1 colher de sopa de vinagre de vinho branco ou cidra de boa qualidade
4 colheres de sopa de azeite de oliva extra-virgem

Corte os tomates e misture com a erva-doce. Junte também algumas folhinhas verdes da erva-doce. Misture o vinagre com o azeite e tempere a salada. Tempere com sal e pimenta, junte o queijo—eu usei o parmesão, e sirva.

peixe com tomate e erva-doce

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Minha rotina não é mais a mesma velha rotina. Estou num outro ritmo e num esquema bem diferente e já me preparando para uma mudança bem significativa na minha vida. Por isso nos sábados, que era geralmente o dia oficial de comer peixe, esse hábito se consolidou fortemente. Porque poucas coisas são mais fáceis de fazer do que peixe. No último sábado estávamos com a agenda cheia, compromissos de manhã e à tarde e eu ainda queria nadar. Então foi o Uriel quem deu um pulinho ao Farmers Market pra comprar o peixe que planejei preparar para o almoço. E ele trouxe um filé grande de halibut, que é um peixe ultra saboroso e não precisa de muitos tri-que-tri-ques.

Quis fazer o peixe num molho de tomate, então usei uma lata de tomates orgânicos inteiros, mas se estivéssemos no verão, teria feito com as frutas frescas e bem maduras.

Tempere o filé de peixe com sal marinho e pimenta do reino moída. Numa panela robusta coloque um pouco de azeite. Amasse dois dentes de alho com o cabo da faca e refogue no azeite. Quando o alho estiver ligeiramente dourado, empurre para os lados e coloque o filé de peixe na panela. Frite ligeiramente dos dois lados, virando cuidadosamente com uma espátula larga. Junte meio bulbo de erva-doce cortado em fatias. Refogue bem a erva-doce. Junte então uma lata pequena de tomates orgânicos inteiros e batidos no liquidificador. Junte uma dose de Pastis ou outra bebida com base de anis. Tampe a panela de deixe cozinhar um fogo médio por uns minutos, até o molho de tomate dar uma engrossada. Ajuste o sal, desligue o fogo e sirva.

Eu servi esse peixe acompanhado de quinoa. Para fazer a quinoa lave bem, com bastante água corrente, 1 xícara de quinoa branca. Coloque a quinoa numa panela e junte 1 e 1/2 xícara de água, tempere com sal a gosto e um fio de óleo vegetal. Leve ao fogo alto, quando ferver, abaixe bem o fogo e tampe a panela. Deixe cozinhar até secar toda a água—uns 20 minutos. Afofe a quinoa cozida com um garfo e jogue um punhado de cibouletes picadas.