Neste ano ainda não consegui fazer absolutamente nenhuma receita especial com os figos frescos da estação, embora esteja comendo dezenas deles, apenas abocanhando um por um, com casca e tudo. Outro dia comprei os figos mais impressionantes de uma fazendeira no Farmers Market de Woodland. Ela é engraçada, veste macacão de jeans listrado, bandana amarrada no pescoço, tem um sotaque de mulher da roça, mas demostra um bom gosto de cosmopolita sofisticada nos produtos que vende. Já me empenhei em firmar uma amizade com ela, fazendo elogios e mil perguntas, anotando o nome das coisas diferentes e interessante que ela traz da fazenda. Tenho uma obsessão pelos heirloom, ela me disse outro dia, apontando um vidro cheio até a borda com grãos de bico negros e uma cesta cheia de favas rajadas. Foi dela que comprei dois grapefruits gigantes e rosados que pareciam adoçados com mel. E outro dia enchi um saquinho de peras minúsculas, sem falar nos figos deliciosos, que ela sempre tem dos roxos e verdes. Escolhendo os mais lindos pra levar pra casa, levantei um enorme, tão maduro que estava rachado parecendo uma flor, e comentei:
—meu deuso, que figo mais lindo!
—ninguém compra figo assim, pensando que está estragado.
—azar o deles, perdem de provar o melhor!
—se você não fosse comprar esse figo, eu comeria ele eu mesma!
—hahaha! desculpa, mas esse é meu!
Levei um saco cheio dos figos explodindo de maduros, que servi para os meus amigos Bia e LC, num jantar de despedida que fiz para eles. Para consumir um figo desses, less is more, e iria ser exagero emperequetar uma fruta que já estava simplesmente perfeita. Resolvi fazer um sorvete de mel de castanhas para servir com os figos al natural. Misturei 1 xícara de creme de leite fresco, 1 xícara de leite integral [ambos orgânicos da Straus Creamery] e 1/2 xícara de mel espanhol de castanha portuguesa, que é um mel de sabor bem forte. Juntei uma colher de sopa de vodka, coloquei tudo na sorveteira e depois no congelador até a hora de servir. Ficou um sorvete bem cremoso, com um sabor bem forte de mel e fez uma combinação incrível com os figos frescos.
Mas a história dos figos não termina aqui, porque é nessa época que eu sou tomada por uma onda de loucura—the fig season insanity. Passo a curta temporada dessa fruta comprando, pegando e comendo o máximo que puder. Passo por todas as bancas do Farmers Market vendendo figos e compro duas ou três cestinhas e ainda vou numa árvore de ninguém, dentro de um dos campos experimentais da UC Davis, e volto carregada. Os figos que eu mesma colhi, comi metade e fiz a outra metade assada, para acompanhar um clássico sorvete de baunilha. Esses figos verdes são da variedade calimyrna, bons pra fazer figo seco, mas também muito gostosos frescos. Juntei um punhado deles cortados ao meio e ajeitei num refratário. Reguei com um fiozinho de mel e salpiquei com folhinhas tenras de alecrim. Assei em 365ºF/ 185ºC por uns 30 minutos e servi com bolas de sorvete de baunilha.